O som do despertador ecoou pelo apartamento escuro, pontualmente às 5h30. Sophia Carter abriu os olhos devagar, sentindo a mente despertar de imediato, treinada para reagir rápido mesmo quando o corpo ainda desejava permanecer na cama por mais alguns minutos. Ela se espreguiçou, empurrando as cobertas para o lado, e logo seus pés tocaram o chão frio de madeira.
Washington, D.C., ainda dormia. O céu alaranjado do amanhecer pintava as janelas do seu apartamento, e a cidade parecia respirar em um ritmo lento antes do frenesi do dia começar. Sophia não tinha esse luxo. Seu dia começava com disciplina, e cada minuto era planejado.
Depois de um banho rápido e revigorante, vestiu sua roupa de treino: leggings pretas e uma camiseta justa. Amarrou os cabelos castanhos escuros em um rabo de cavalo e calçou os tênis. A primeira tarefa do dia era sempre a mesma: uma corrida matinal ao redor do National Mall. A brisa fria da manhã acariciava seu rosto enquanto ela corria, concentrada no ritmo da respiração e nos passos firmes contra o asfalto. Washington despertava lentamente ao seu redor, com alguns carros cruzando as ruas e trabalhadores iniciando suas rotinas.
Quando voltou para casa, preparou um café forte e revisou as notícias do dia. Era um hábito que aprendera com o tempo; sempre estar informada, mesmo que sua verdadeira fonte de dados viesse de dentro da CIA. O mundo podia mudar em questão de minutos, e ela precisava estar preparada.
“Hora de ir”, murmurou para si mesma ao conferir o relógio. Sete em ponto.
Vestiu um blazer preto sobre a camisa branca, combinando com a calça social e os saltos discretos. O visual era profissional e discreto, como deveria ser. Pegou sua bolsa, onde carregava o essencial, e saiu para mais um dia na Agência Central de Inteligência.
O trajeto até a sede da CIA era tranquilo, e ao chegar ao imponente prédio em Langley, sentiu aquele frio familiar na espinha. Não era medo, mas a antecipação de algo novo. Ela atravessou os corredores impecáveis até seu andar, cumprimentando colegas pelo caminho.
“Bom dia, Carter”, disse um agente ao passar por ela.
Ela acenou com a cabeça, mantendo o passo firme. Ao entrar na sala de reuniões, encontrou Mark Sullivan, seu parceiro de trabalho, já sentado na mesa, folheando um arquivo. Ele ergueu os olhos e sorriu de leve.
“Pontual como sempre”, comentou.
“Alguém tem que manter essa equipe na linha”, ela respondeu, puxando uma cadeira para se sentar.
Mark era alto, de cabelo castanho claro e olhar sempre atento. Ele tinha um jeito mais descontraído, mas não menos letal no campo. Formavam uma dupla eficiente, cada um equilibrando as falhas do outro.
Antes que o Diretor entrasse, Mark inclinou-se na cadeira e olhou para Sophia com um sorriso de canto.
"Já parou para pensar que, pelo menos dessa vez, não estamos correndo em vielas escuras no meio da noite?"
Sophia riu baixinho, cruzando os braços. "Ainda me lembro da última missão. Aquela perseguição em Praga foi um verdadeiro desastre."
"Você quer dizer a parte em que quase fomos atropelados por um bonde ou quando eu tive que pular de um telhado para outro porque você decidiu que aquele era o melhor caminho?"
Ela ergueu uma sobrancelha. "Eu tomei a decisão certa. Você só precisava ser mais ágil."
"Mais ágil? Eu caí em uma barraca de frutas! Passei o resto da noite cheirando a maçãs esmagadas."
Sophia conteve o riso. "Mas conseguimos pegar o alvo, não conseguimos? No final, é isso que importa."
Mark balançou a cabeça, ainda sorrindo. "Sim, mas eu ainda tenho uma cicatriz daquela noite. Espero que dessa vez não envolva saltos mortais ou barracas de comida."
Antes que pudessem continuar, o Diretor entrou na sala. Todos se ajeitaram em suas cadeiras enquanto ele colocava uma pasta sobre a mesa. O silêncio caiu no ambiente.
“Temos um novo trabalho para vocês”, disse ele sem rodeios. “A situação é sensível e requer discrição absoluta.”
Sophia e Mark trocaram um olhar rápido antes de voltarem a atenção para os documentos. O nome de um homem estava em destaque: Nicolai Petrov.
“Russo”, Mark murmurou, analisando a foto do dossiê. “O que ele fez para chamar nossa atenção?”
O Diretor cruzou os braços. “Ele é um empresário com conexões suspeitas. Nós acreditamos que ele pode estar envolvido em um esquema de transferência de informações confidenciais para o governo russo. Atualmente, ele está em Los Angeles a negócios, mas nossas fontes indicam que isso pode ser apenas uma fachada.”
Sophia folheou os documentos, absorvendo cada detalhe. Nicolai Petrov não era apenas um nome na lista de suspeitos. Ele era um alvo de alto nível.
“Qual o nosso objetivo?”, perguntou ela.
“Vocês vão para Los Angeles. A missão é se aproximar dele, descobrir o que ele realmente está fazendo e, se necessário, neutralizar qualquer ameaça.”
Mark soltou um suspiro e se recostou na cadeira. “Isso significa infiltração. Como exatamente queremos que Sophia se aproxime?”
O Diretor pousou um olhar firme sobre Sophia. “Ele tem um ponto fraco. Gosta de mulheres inteligentes, sofisticadas, que sabem jogar. E, Carter, você tem o perfil exato para chamar a atenção dele.”
Ela permaneceu em silêncio por um instante, processando a informação. Missões de infiltração não eram novidade para ela, mas isso significava que teria que entrar no mundo de Nicolai Petrov, ganhar sua confiança e extrair informações sem levantar suspeitas. Um jogo perigoso.
“Entendido”, disse enfim. “Quando partimos?”
O Diretor entregou a ela uma passagem de avião. “Vocês embarcam hoje à noite. Têm algumas horas para se prepararem.”
Mark pegou os documentos e se levantou. “Parece que vai ser divertido”, disse, ironicamente.
Sophia suspirou e pegou sua bolsa. A partir daquele momento, sua vida passaria a girar em torno de Nicolai Petrov. Um nome que, de alguma forma, já parecia perigoso demais.
Horas depois, já devidamente preparados, Sophia e Mark seguiram para o aeroporto em um carro discreto fornecido pela agência. O clima dentro do veículo era de concentração, mas Mark quebrou o silêncio.
“Você já tem um plano para abordar Petrov?”
Sophia olhou pela janela, observando a cidade passar rapidamente. “Vou avaliar o ambiente primeiro. Ele parece gostar de mulheres sofisticadas e misteriosas. Não posso simplesmente me jogar na frente dele.”
Mark assentiu. “Vamos precisar de um bom disfarce para você.”
O trânsito fluía sem complicações, e em pouco tempo chegaram ao Aeroporto Internacional Dulles. Passaram discretamente pela segurança e seguiram para a área VIP, onde receberam suas passagens e documentos falsos. Dessa vez, Sophia era Elena Morgan, uma consultora financeira de Nova York. Mark assumiria o papel de um colega de trabalho, apenas para garantir que tudo corresse bem.
Ao embarcarem no avião, Sophia se acomodou ao lado da janela, observando a movimentação na pista enquanto o avião se preparava para a decolagem.
“Pronta para jogar?” Mark perguntou, afivelando o cinto.
Ela suspirou, sentindo a tensão crescer. “Sempre.”
Enquanto o avião ganhava altitude, Sophia fechou os olhos por um instante. Em algumas horas, estaria cara a cara com Nicolai Petrov. E o jogo começaria.
A viagem de Washington, D.C., a Los Angeles transcorreu sem incidentes. O jato comercial cortava o céu noturno enquanto Sophia observava as luzes abaixo se aproximando. A cidade dos anjos brilhava como um tapete de estrelas refletindo na escuridão do oceano. Ao seu lado, Mark revisava um arquivo no tablet, concentrado.
"Aterrissamos em vinte minutos", ele murmurou sem desviar os olhos da tela. "Temos uma reserva em um hotel discreto no centro. O ponto de encontro para a primeira observação é em um restaurante sofisticado de Beverly Hills."
Sophia assentiu, absorvendo as informações. "Temos certeza de que ele estará lá?"
"Nossas fontes indicam que Petrov tem um hábito de jantar nesse local sempre que visita a cidade. Ele gosta de se exibir, ainda que discretamente."
Assim que o avião tocou a pista, Sophia sentiu a adrenalina começar a circular. Ela nunca subestimava uma missão, e essa, em particular, parecia carregada de riscos. Petrov não era um amador.
No aeroporto, passaram sem problemas pelo controle com os documentos falsos. Sophia agora era Elena Morgan, uma consultora financeira de Nova York, e Mark era seu colega de trabalho, David Russell. Carregavam apenas bagagens de mão, parte da estratégia para facilitar movimentações rápidas.
"Nosso carro está esperando", Mark informou, conduzindo Sophia até um sedã preto de vidros escuros. O motorista, um contato local da CIA, apenas os cumprimentou com um aceno antes de arrancar em direção ao centro da cidade.
O hotel era um edifício de arquitetura clássica, imponente, mas sem ostentação exagerada. Uma segurança discreta, funcionários bem treinados e um saguão iluminado por um enorme lustre de cristal davam o tom do lugar. O tapete felpudo absorvia os passos de Sophia e Mark enquanto caminhavam até o balcão de check-in.
A recepcionista, uma mulher de sorriso profissional, entregou as chaves dos quartos. “Bem-vindos, senhor e senhora Morgan. Seu quarto está no décimo andar, com vista para a cidade.”
Sophia pegou a chave e seguiu para o elevador. O corredor do andar era silencioso, e o quarto, espaçoso, com uma grande cama de dossel, uma varanda de vidro e um banheiro luxuoso. Largou a mala na poltrona e caminhou até a janela. Lá fora, Los Angeles brilhava com seus letreiros de neon e o tráfego incessante. Era uma cidade vibrante, cheia de possibilidades e perigos.
Respirando fundo, virou-se para o espelho e analisou seu reflexo. Ainda tinha algumas horas até o encontro, mas precisava estar impecável.
No banheiro, ligou o chuveiro e deixou a água quente relaxar seus músculos. O vapor preencheu o ambiente enquanto ela passava os dedos pelos cabelos, sentindo a tensão da viagem se dissipar aos poucos. Ao sair do banho, enrolou-se em um roupão macio e sentou-se diante da penteadeira. Cada detalhe precisava ser pensado com precisão.
Optou por um vestido preto de seda que abraçava suas curvas de forma elegante, sem exageros. O tecido era suave contra sua pele, deslizando perfeitamente ao longo de seu corpo. Os saltos pretos complementavam o visual, alongando sua silhueta sem perder a discrição necessária para a missão.
Os cabelos castanhos escuros foram presos em um coque baixo, com algumas mechas soltas para suavizar o rosto. A maquiagem foi aplicada com precisão: olhos levemente esfumados, lábios em um tom suave de vermelho, apenas o suficiente para chamar atenção sem parecer forçado. O perfume escolhido tinha notas sutis de jasmim e âmbar, um toque de mistério e sofisticação.
Quando terminou, deu uma última olhada no espelho. Estava pronta para entrar no jogo.
Uma batida na porta interrompeu seus pensamentos. Ela abriu e encontrou Mark, que já estava vestido com um terno escuro, a postura casual, mas o olhar atento. Assim que a viu, arqueou as sobrancelhas, impressionado.
“Uau.” Ele soltou um assobio baixo. “Definitivamente, Petrov vai notar você. Na verdade, metade do restaurante vai.”
Sophia cruzou os braços, um sorriso de canto brincando nos lábios. “Essa era a intenção.”
Mark balançou a cabeça com um meio sorriso. “Bem, se eu não te conhecesse, diria que você é uma socialite que vive em jantares de gala. Você está... impecável.”
Ela pegou a bolsa e lançou um olhar provocador. “Você também não está nada mal, Russell. Mas vamos ao que interessa. Temos um russo para observar.”
O trajeto até o restaurante foi silencioso. O carro deslizou pelas ruas iluminadas de Los Angeles, onde letreiros de neon piscavam incessantemente, refletindo nas janelas dos prédios altos. O brilho da cidade contrastava com a tensão silenciosa que crescia dentro dela. O que a aguardava naquela noite? Seria fácil ganhar a atenção de Nicolai? Ou ele já teria seus próprios instintos aguçados para perceber que ela era mais do que uma mulher bonita buscando uma conversa casual?
Ao chegarem ao restaurante, Mark saiu primeiro, analisando discretamente o ambiente antes de abrir a porta para Sophia. O local exalava sofisticação – lustres de cristal pendiam do teto alto, e as paredes eram decoradas com obras de arte minimalistas. Os convidados, todos trajando roupas impecáveis, conversavam em tom baixo, como se cada palavra trocada carregasse um significado maior.
O maître os recebeu com um sorriso profissional e os conduziu a uma mesa estrategicamente posicionada com vista para o salão principal. Sophia sentou-se de costas para a parede, garantindo uma visão ampla do local. O perfume amadeirado de Mark misturava-se ao aroma delicado dos pratos servidos ao redor.
“Ele já chegou?”, Mark perguntou, ajeitando o guardanapo sobre as pernas.
Sophia varreu o ambiente com os olhos experientes. Seu coração acelerou um pouco ao ver a figura alta e imponente de Nicolai Petrov ao fundo do salão. Ele estava acompanhado por dois homens, evidentemente seguranças, e uma mulher loira deslumbrante, que ria discretamente ao seu lado.
Seus olhos percorreram cada detalhe do russo. O cabelo negro, preso em um meio coque, o terno impecável, a postura relaxada, mas ao mesmo tempo calculada. Ele exalava controle e confiança, um homem acostumado a estar no comando. Mesmo sem olhar diretamente para ela, Sophia sentiu o peso da presença dele no ambiente.
Uma mistura de emoções tomou conta dela – adrenalina, cautela e, para sua surpresa, um leve fascínio. Era raro encontrar um alvo que emanasse tanto magnetismo. Era como se cada movimento dele fosse ensaiado para atrair a atenção sem precisar de esforço. Ela precisava lembrar-se de que ele era seu objetivo, não alguém que deveria admirar.
Respirando fundo, Sophia tomou um gole do vinho que o garçom acabara de servir e olhou discretamente para Mark. “Agora começa o jogo.”
Sophia mantinha uma expressão tranquila enquanto fingia observar o cardápio, mas sua atenção estava totalmente voltada para Nicolai Petrov. Ele estava a poucos metros de distância, e a simples presença dele alterava a atmosfera ao redor.
A postura dele era impecável. Sentado com uma confiança relaxada, um dos braços apoiado na mesa, o outro segurando casualmente uma taça de vinho tinto, como se fosse parte de uma pintura meticulosamente elaborada. Seus olhos se moviam pelo ambiente, atentos, mas sem pressa. Como se estivesse sempre no controle da situação.
Não olhe demais. Não pareça ansiosa, pensou Sophia, controlando o ritmo de sua respiração. Fique calma, observe e espere o momento certo.
Ela sabia que não podia simplesmente se aproximar e começar uma conversa. Precisava fazer parecer natural, criar uma interação que parecesse um acaso, sem parecer planejada. A estratégia era criar um momento de interseção, algo que despertasse o interesse dele sem levantar suspeitas.
Mark percebeu sua concentração e, sem desviar os olhos do próprio prato, murmurou:
— Ele já te notou.
Sophia ergueu levemente a sobrancelha, sem demonstrar surpresa.
— Como tem tanta certeza?
— Porque um homem como ele nunca ignora uma mulher como você.
Ela esboçou um sorriso discreto, mas manteve o foco. Olhando de relance, percebeu que Nicolai desviou o olhar na mesma hora. Aquele pequeno detalhe confirmou a suspeita de Mark. Ele a havia notado.
E agora? Ela sentiu uma leve aceleração do coração, mas controlou a respiração. Isso é só o começo. Mantenha a calma.
— Tem certeza que quer seguir com isso? — Mark perguntou, cruzando os braços.
Sophia tomou um gole de vinho antes de responder.
— Esse é o plano, não é?
— Sim, mas eu conheço esse tipo de homem. Ele é perigoso. E se ele perceber que você não é quem diz ser?
Sophia pousou a taça sobre a mesa com delicadeza e olhou Mark com firmeza.
— Eu não erro, Mark.
Ele suspirou, ainda parecendo preocupado, mas assentiu sem dizer mais nada.
Os minutos passaram e os pratos vieram e foram, mas Sophia sabia que ainda não era o momento certo para se aproximar. Até que, finalmente, o destino lhe ofereceu uma oportunidade.
Ao se levantar para ir ao bar, ela fingiu um descuido calculado e esbarrou levemente em um garçom que carregava uma bandeja com taças de vinho. O gesto foi sutil, mas o suficiente para que uma das taças perdesse o equilíbrio. O líquido vermelho escorreu pelo vidro antes de tombar… diretamente sobre a manga impecável do paletó de Nicolai.
O tempo parecia desacelerar.
O garçom congelou em choque, a boca entreaberta, prestes a se desculpar. Mas Sophia foi mais rápida.
— Oh, meu Deus… me perdoe! — exclamou, sua voz carregada de surpresa genuína. Seus olhos se arregalaram com a intenção de parecer o mais apologética possível. Ela pegou o guardanapo e tocou levemente a manga do paletó de Nicolai, tentando minimizar o estrago. — Foi um acidente, eu… eu realmente sinto muito.
Ela levantou os olhos e, pela primeira vez, encarou diretamente Nicolai Petrov.
Foi um instante que pareceu eterno.
Os olhos azuis dele encontraram os dela, analisando-a de forma minuciosa, como se estivesse tentando decifrar cada aspecto da sua existência em um único olhar. Não havia irritação em sua expressão, apenas um interesse velado, uma curiosidade silenciosa.
Ele está me observando com atenção. Como se soubesse exatamente o que está acontecendo… pensou Sophia, sentindo um nervosismo crescente, mas mantendo uma expressão de calma total.
— Nenhum problema — Nicolai respondeu com um sorriso pequeno, enigmático, enquanto pegava o guardanapo das mãos dela e começava a limpar a mancha. Sua voz era grave, com o leve sotaque russo que a fazia se concentrar ainda mais em cada palavra. — Suponho que agora eu tenha um motivo para lembrar dessa noite.
Sophia riu suavemente, mas a tensão em seu peito não desapareceu. Ela precisava controlar a situação, mostrar que estava no comando. Não podia deixar que isso fugisse de seu controle.
— Espero que não me veja como uma desastrada. — Ela sorriu de maneira descontraída, tentando aliviar a situação.
Nicolai, ainda com os olhos focados nela, ergueu uma sobrancelha, como se estivesse considerando algo. Seu sorriso se ampliou ligeiramente.
— Acho que você está longe disso — respondeu ele, finalmente tirando o último vestígio do vinho de sua manga com um movimento fluido. Ele inclinou-se para trás e fez uma pausa antes de continuar, os olhos agora mais intensos, como se visse além da superfície. — Mas me parece que você está tentando se redimir, não é?
Sophia sentiu a onda de nervosismo se misturar com um impulso inesperado de confiança. Era o momento certo para agir, para se mostrar ainda mais digna de sua atenção.
— Eu insisto. — Ela respirou fundo e se aproximou um pouco mais. — Eu realmente sinto muito por estragar seu paletó. Posso pagar pela limpeza ou até mesmo comprar um novo para você, se preferir. É o mínimo que posso fazer.
Nicolai a observou por um momento, os olhos azuis estudando sua expressão, como se ele estivesse analisando a sinceridade em suas palavras. Ele deu um pequeno sorriso, como se estivesse admirando sua coragem.
— Você realmente acha que é assim tão fácil me impressionar? — ele perguntou com um leve sorriso malicioso, sem parecer incomodado. — O que faz você achar que um paletó pode ser substituído tão facilmente?
Sophia franziu a testa, sentindo a tensão aumentar novamente. Ele está testando você, Sophia. Mostre que tem controle sobre a situação.
— Não é uma questão de facilidade, é uma questão de respeito. — Ela falou calmamente, sem perder a compostura. — Eu cometi um erro, e estou disposta a corrigir.
O olhar de Nicolai se suavizou um pouco, como se ele estivesse considerando sua resposta. Por um momento, parecia que ele estava pronto para aceitar a oferta dela, mas ao invés disso, ele recostou-se na cadeira e observou-a com mais intensidade.
— Eu aprecio sua atitude — disse ele, agora com um tom mais sério. — Mas prefiro não tomar algo sem dar algo em troca. Talvez possamos… combinar algo mais interessante.
Sophia sorriu, seus olhos se estreitando enquanto ela tentava ler as entrelinhas de suas palavras.
— Como assim? — ela perguntou, curiosa, tentando manter o jogo de palavras sem parecer excessivamente ansiosa.
Nicolai levantou a taça de vinho, olhando-a de forma desafiadora, mas com uma leveza na atitude.
— Que tal você me dar um motivo para acreditar que as coincidências não existem, Elena? — Ele disse, dando ênfase ao nome falso dela, enquanto a observava atentamente.
Sophia se deu conta daquilo no mesmo instante, mas não demonstrou surpresa. Ele havia a chamado pelo nome falso, algo que ela usara para se proteger.
Mas, mais do que isso, ele havia acabado de se tornar um enigma para ela. E agora, a situação tomava uma direção ainda mais interessante.
Ela se inclinou levemente para frente, encarando-o com mais intensidade, e disse, com um sorriso sutil, quase desafiador:
— Talvez as coincidências realmente não existam, Nicolai. Ou talvez elas sejam apenas o começo de algo mais interessante.
Nicolai ergueu uma sobrancelha, com um sorriso que não se poderia dizer ser completamente amigável. Ele gostava do jogo de palavras.
— Interessante, Elena. Eu realmente estou começando a achar que essa noite será memorável. — Ele ergueu a taça para um brinde. — Ao acaso, então.
Sophia ergueu sua taça de martini, encarando-o nos olhos.
— Ao acaso — repetiu, e o som das taças se uniu, criando uma leve vibração no ar.
Então, como se ainda estivesse ponderando sobre o significado daquilo tudo, Nicolai sorriu novamente e se inclinou ligeiramente para ela.
— E agora que já estamos brindando, acho que podemos nos apresentar de verdade. Sou Nicolai Petrov.
Sophia fez um gesto com a cabeça, seu sorriso mais largo agora.
— Elena Morgan.
E naquele momento, a troca de nomes foi mais do que uma simples formalidade. Era o início de algo mais profundo, mais estratégico.
No fundo, ela sabia que não era apenas o acaso que os havia unido ali. Era algo mais. E, mais uma vez, ela se viu pensando: Isso está apenas começando.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!