**Gabriel Martinéz**
Ela me enganou.
Com aquele maldito sorriso calmo, com os olhos grandes e brilhantes, como se o mundo fosse algo bonito de se ver.
Mentiu com o corpo, com o toque, com a porra da voz suave que embalava minha filha para dormir, como se tivesse nascido para isso.
E agora ela estava ali.
Amarrada numa cadeira de ferro, coberta de sangue, os pulsos cortados pelas cordas, os lábios partidos.
E mesmo assim... sorriu.
— Hija de puta… — murmurei entre os dentes, a Glock pesando na minha mão.
Ela não piscou. Não se encolheu. Não pediu perdão.
— Vai me matar, Gabriel? — sussurrou, com aquele tom quase doce. — Vai me executar como os outros? Frio, limpo, eficiente?
— Não me tenta, carajo (caramba) — rosnei, a arma apontada direto entre seus olhos. — Porque eu juro por Dios que a única coisa que me segura é o fato de eu ainda não ter entendido essa porra toda.
Mentira. Eu não atirava porque parte de mim ainda queria entender. Parte de mim ainda acreditava que algo ali tinha sido real.
E era isso que me corroía por dentro.
Ela brincou com minha filha. Comigo. Entrou na minha casa como se pertencesse ali. Me fez acreditar naquela merda de segunda chance. De paz.
Virou o rosto, cuspiu sangue no chão. Ainda sorrindo.
— Você acreditou porque quis. Queria tanto uma saída que aceitou a primeira que apareceu com um par de olhos bonitos e uma história bem contada.
— Você é só mais uma filha da puta disfarçada de anjo.
A parede atrás dela estava marcada por meus punhos.
Já perdi a conta de quantas vezes esmurrei o concreto, tentando não esmagar seu rosto.
Ela era rápida com palavras, mais ainda com silêncio. E aquele silêncio me destruía.
A cada segundo que ela calava, eu lembrava de tudo.
Do inferno de ADX Florence, da cela sem janelas, da comida fria, dos gritos na madrugada, das brigas que me deixaram cicatrizes que ainda coçavam quando chovia.
Eu matei naquele buraco.
Matei para viver mais um dia.
Para não ser o próximo corpo jogado na ala isolada.
E no meio do caos, consegui mais que sobrevivência.
Consegui informações. Coisas que não deviam sair de lá. Coisas que colocavam chefes de Estado de joelhos.
Chantageei. Manipulei. Fiz o que um Martinéz faz: Mandar no medo.
E por isso ela veio.
Para me destruir por dentro.
E quase conseguiu.
— Por que você fez isso? — perguntei de novo, e dessa vez minha voz não saiu como um grito. Saiu como um lamento. Quase um sussurro. — Por quê?
— Me conta uma mentira bonita. Uma daquelas que você sabe contar tão bem…
Ela levantou os olhos, encarando os meus. Pela primeira vez, vi rachaduras naquele gelo. Uma dor escondida entre o orgulho e o veneno.
— Porque precisava entrar. Porque me deram um motivo que você nunca vai entender, Gabriel.
Aproximei-me. Devagar. O cano da Glock agora roçava sua testa.
— Eu mato por menos, lo sabes (sabia)?
Ela fechou os olhos. Respirou. Quando falou, a voz saiu baixa, ferida, mas firme:
— Então mata logo. Mas olha nos meus olhos quando fizer. Porque, por mais que você pense que tudo foi mentira… teve uma parte que não foi.
Silêncio.
Puta merda.
Um silêncio que pesava mais que qualquer grito.
Um silêncio que afundava no peito, que cortava como navalha.
Eu devia puxar o gatilho.
Devia acabar com aquilo.
Mas tudo em mim gritava. Tudo em mim se negava.
Ela me enganou. Mas, carajo… também me salvou de mim mesmo.
E esse era o maior veneno.
— Um dia… você vai entender. — ela disse, quase sem força. — E vai me odiar ainda mais por isso.
TRILOGIA "SENHORES DO SUBMUNDO"
LIVRO I: Senhores do Submundo: O Rei
LIVRO II: Senhores do Submundo: O Príncipe do Pecado
LIVRO III: Senhores do Submundo: O Carrasco
Dedicatória
Para aqueles que sabem que o perigo pode ser tão viciante quanto um beijo proibido.
Este livro é para os que não temem a escuridão, que se rendem à sedução do perigo e que entendem que até o coração mais frio pode queimar em chamas quando provocado.
Aqui, o amor não é doce, é ardente, é cruel, é implacável.
Se você já desejou algo que não podia ter, ou alguém que não devia tocar, então esta história é sua.
AVISO:
Este livro é sobre máfia, contém cenas explícitas de violência, sexo, linguagem imprópria e temas sensíveis. É uma história intensa, crua e sem censuras, onde o perigo e a paixão caminham lado a lado.
Se você gosta de um romance intenso, repleto de tensão, desejo e caos… então, seja bem-vindo.
Leia por sua conta e risco.
Boa leitura!
Semanas antes
Meu nome é Gabriel Martinéz. Irmão de Cristian, o Dom da Máfia Espanhola, o homem que faz governos tremerem só de sussurrar seu nome. E irmão de Ramón, o mais novo de nós três, com quem comando o império de entorpecentes que afoga metade da Europa em pó e sangue.
Somos temidos.
Somos impiedosos.
E eu?
Sou o que mais coleciona inimigos como se fossem troféus.
Depois de sobreviver ao inferno de ADX Florence, aquele buraco de concreto onde homens viram animais e cadáveres viram estatísticas, saí de lá com algo mais valioso que minha liberdade: segredos. Segredos que colocam presidentes de joelhos, que fazem generais suarem frio à noite. Informações que mantêm minha cabeça no lugar enquanto outras rolam pelo chão.
Eu vivia no fio da navalha.
Até que... ela apareceu.
Nicole.
Quatro anos. Olhos grandes demais para caberem naquele rostinho, cabelos bagunçados, e um sorriso que, por algum motivo, fazia o cheiro de pólvora e mentira desaparecer por alguns segundos.
Ela era minha filha.
Um caso de uma noite com Vivian, uma mulher que eu pensei ter enterrado no passado. Mas ela mentiu. Escondeu de mim a única coisa que não era só dela.
Quatro anos depois, a morte veio sem bater à porta. “Causas naturais”, disseram.
E então, do além, ou do próprio inferno, Vivian me mandou a última facada:
Uma criança.
Meus olhos.
Meu sangue.
Minha fraqueza.
E agora, lá estava eu. Gabriel Martinéz, o homem que estrangulava traidores com as próprias mãos, comprando uma boneca falante numa loja rosa de shopping.
Se Cristian ou Ramón me vissem naquela cena... eu seria alvo de piadas por uma década.
O SUV preto parou em frente ao shopping. Nicole já batia os pés no banco de trás, eufórica.
— Papai! Chegamos! Vamos! Vamos! — Ela gritou, os olhos brilhando como se estivesse prestes a entrar no paraíso, e não numa loja lotada de plástico e cores berrantes.
— Quieta, pequeña diabinha — murmurei, soltando o cinto dela com um movimento automático. — Se fizer bagunça, eu te carrego como um saco de batatas. Entendido?
Ela riu alto, como se eu fosse o palhaço mais engraçado do mundo, e antes que eu pudesse segurá-la, já tinha disparado em direção à loja.
Mierda.
Fui atrás num passo mais lento, observando enquanto ela se perdia entre prateleiras, tocando tudo como se fosse feito de ouro. Eu nunca entendi essa fascinação por coisas inúteis... mas havia algo no jeito como ela sorria que fazia tudo parecer justificável.
E então, o telefone vibrou no bolso.
Uma ligação.
— Fala — atendi, a voz cortante.
— Señor Martinéz, aqui é Luisa, da Elite Care. Tenho as três melhores candidatas para a vaga de babá. Posso encaminhá-las para a sua residência amanhã?
— Às onze — respondi seco, e desliguei.
Babá. Algo que jamais imaginei precisar.
Mas Nicole não podia ficar sozinha. E eu... não podia ser o único cuidando dela, não com o sangue que escorria pelas minhas mãos todos os dias.
Olhei adiante, esperando vê-la encantada com alguma boneca estranha.
Mas ela não estava lá.
— Nicole? — chamei, num tom baixo.
Nada.
— Nicole! — minha voz subiu, junto com o pânico que gelava meu peito.
Silêncio.
Segundos se arrastaram como lâminas. Meu coração disparou. Não. Não ali. Não assim.
— Nicole, responde! — gritei.
E, pela primeira vez em anos, senti medo de verdade.
Eu comecei a ficar desesperado.
O coração batia tão forte que parecia que ia sair pela maldita garganta. Meus olhos varriam cada canto daquela loja estúpida, cheirando a plástico barato e açúcar. Caminhei entre as prateleiras, empurrando carrinhos, ignorando olhares assustados. Se alguém ousasse me impedir, eu quebrava os dentes do infeliz.
— Joder, Nicole… — rosnei entre os dentes.
O pânico me engolia por dentro. Eu, Gabriel Martinéz, o homem que já viu corpos pendurados em ganchos e dormiu com sangue nas mãos, estava à beira de um colapso por causa de uma garotinha de quatro anos.
Minha garotinha.
E então... uma risada.
Alta. Leve.
Minha cabeça virou na direção do som como se tivesse sido puxada por instinto.
— Esta aqui é perfeita, Scarlett... — disse uma vozinha familiar.
Nicole apareceu com as bochechas coradas, um sorriso vitorioso e... uma mulher. Loira. Alta. Postura impecável. E um sorriso que era doce demais pra ser real.
— Mierda... — soltei o ar com força, o alívio me golpeando como um soco no estômago.
Me aproximei, olhos fixos na pequena.
— Nicole! Onde você estava? Eu quase enlouqueci, Pequeña. Você tá bem? — agachei rápido, passando as mãos por ela, como se eu precisasse ter certeza que nenhum filho da puta tinha encostado nela.
Ela sorriu, como se tudo estivesse normal.
— Eu fui procurar a boneca, papai… mas me perdi no meio de tantas coisas. Aí essa moça me encontrou. O nome dela é Scarlett. Ela foi muito legal comigo…
Levantei os olhos, agora encarando a mulher.
Scarlett.
Bonita, intrigante...
— Ela estava assustada — disse a loira, com a voz suave, mas firme. — Eu a ajudei a encontrar a boneca. E agora está tudo certo. Entregue e inteira. — Ela lançou um meio sorriso. — Tenham um bom dia.
Fez menção de sair, mas minha voz a cortou.
— Espera.
Ela parou. Devagar, virou-se para mim com uma sobrancelha arqueada.
— Algum problema? — perguntou, e não era inocência na pergunta. Era desafio.
— Obrigado — disse, com a voz mais grave, tensa. Meu olhar preso no dela. — Por ajudar minha filha.
— Não precisa agradecer — respondeu, estreitando os olhos. — Apenas... preste mais atenção nela. Crianças se perdem rápido demais. E nem todo estranho vai ter boas intenções como eu.
Toma essa.
Senti o tapa invisível na cara.
Ela olhou para Nicole, agora com um sorriso genuíno.
— Tchau, pequena. Foi bom conhecer você.
Nicole riu.
Scarlett virou-se e foi embora como se não tivesse acabado de me jogar na cara que eu sou um desastre como pai.
Respirei fundo, tentando não mandar ela se foder em voz alta.
Voltei-me para Nicole.
— Escuta aqui, pequena diabinha... Nunca mais sai de perto de mim desse jeito, entendeu? Nunca mais. Você não faz ideia do que pode acontecer quando some assim.
Ela encolheu os ombros, apertando a boneca contra o peito.
— Sinto muito, papai... Eu só fiquei empolgada. Queria muito a boneca e... a Scarlett apareceu. Ela foi gentil. Me chamou de princesa...
— Princesa, hein? — murmurei, suspirando. — Ótimo. Agora você confia até em fadas loiras no meio do shopping...
— Ela parecia uma fada mesmo — disse Nicole, com aquele brilho nos olhos que desmontava qualquer muralha que eu erguia.
Scarlett...
Anotei mentalmente o nome. Algo me dizia que aquela mulher não ia sumir da minha cabeça tão fácil...
— Bom… vamos então? Já pegou seu brinquedo, agora é hora de ir pra casa.
Nicole apertou a boneca com força, os olhinhos brilhando.
— Papai… a gente pode tomar sorvete?
Suspirei. Como eu dizia “não” praquela cara?
— Tudo bem… mas vai ser rápido, entendeu? O papai tem trabalho pra resolver. Gente que precisa levar um tiro, contratos pra fechar, corpos pra enterrar... — murmurei a última parte só pra mim, de forma inaudível.
Ela sorriu, pulando no lugar.
— Eu prometo! Vai ser rápido. Um sorvete de morango e eu fico quietinha!
— Mentira descarada, pequeña — falei, pegando-a no colo com uma mão só. — Você fala mais que rádio pirata.
Ela riu, encostando a cabeça no meu ombro.
Mas minha mente ainda estava longe dali.
Scarlett.
A mulher que apareceu do nada, ajudou minha filha e desapareceu como um fantasma.
E eu?
Eu sabia reconhecer quando o destino plantava uma peça no meu caminho. Ela não era qualquer uma.
Ela era um problema, um delicioso problema.
E mierda, como eu adorava um problema com pernas longas, olhos de gelo... e nome de veneno...
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