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Quando a Luz Me Encontrou

Capítulo 1: O Começo de Tudo

Era uma manhã de primavera quando Clara, com seus 28 anos, descobriu que estava grávida de Sophie. O exame de farmácia confirmou a notícia de uma forma simples, mas carregada de um peso imenso. Ela tinha a vida pela frente e uma carreira promissora. Clara sempre sonhou em ser uma grande artista, pintar o mundo com sua visão, mas a descoberta da gravidez alteraria tudo. Ela sabia que a vida mudaria drasticamente, mas, ao olhar para o teste positivo, a incerteza e o amor pela criança que carregava logo tomaram conta de seu coração.

O pai da criança, James, era um homem charmoso e com um sorriso que encantava qualquer um. Ele tinha 35 anos, mais velho que Clara, e uma presença que facilmente dominava qualquer ambiente. James era um caminhoneiro de origem humilde, mas que se orgulhava de ter conquistado, com muito esforço, sua estabilidade financeira. Quando conheceu Clara, estava em busca de algo mais do que uma vida simples de estrada. Ele queria estabilidade, algo para chamar de seu, e com Clara, encontrou uma pessoa que compartilhava de seus ideais. O namoro deles se desenvolveu rapidamente, com a promessa de um futuro juntos.

Com a chegada de Sophie, a vida dos dois mudou. Clara, ainda jovem e em sua plenitude, estava disposta a dar o melhor para sua filha. James, por outro lado, já era mais maduro e disposto a assumir o papel de um pai presente. Foi ele quem sugeriu a mudança para Nova York. Ela, com seus ideais artísticos e uma vontade imensa de crescer como pessoa, aceitou a proposta de mudar para uma casa simples nos subúrbios da cidade. Ela tinha esperanças de que, com essa mudança, poderia começar uma nova vida.

A casa, na verdade, era modesta e ficava em um bairro de classe média. Clara e James trabalharam arduamente para pagar as contas, mas a dedicação deles à filha era inquestionável. Cada passo que Sophie dava na vida era acompanhado por eles, com os olhos orgulhosos dos pais e um amor incondicional.

James se tornou uma figura constante na vida de Sophie, uma presença protetora, mas também um reflexo de um passado que a menina, ainda muito nova, não conseguia compreender completamente. Ela via James como o homem forte, sempre trabalhando em sua rotina, mas ao mesmo tempo, ele mostrava um lado vulnerável nas horas que passava com ela, ensinando-a a andar de bicicleta, brincando no parque e mostrando-lhe a dureza da vida através de suas histórias.

A vida seguiu sua trajetória, e Sophie cresceu em um lar onde o amor de seus pais, embora marcado por dificuldades, parecia inabalável. Mas como tudo na vida, nem tudo era perfeito. Clara, aos poucos, começou a perceber que algo em James estava mudando. Ele se tornava mais distante, mais frio em suas atitudes, como se o peso da responsabilidade de ser o provedor da casa estivesse afetando seu espírito.

E então, tudo começou a mudar. Quando Sophie completou 7 anos, Clara começou a perceber olhares e gestos que a incomodavam. James parecia mais agressivo, mais autoritário, algo que não se encaixava com o homem com quem ela havia se apaixonado. À medida que Sophie crescia, a mãe se via cada vez mais dividida entre proteger sua filha e manter sua relação com o marido. A convivência começou a ser marcada por silêncios constrangedores, discussões de noite e uma tensão palpável no ar.

Mas Sophie, na sua inocência, não entendia muito bem o que estava acontecendo. Ela via a mãe triste, e James cada vez mais nervoso, mas não sabia explicar. O que ela não sabia era que a vida que ela tinha conhecido até então estava prestes a ser dilacerada de uma forma irreversível.

Capítulo 2: O Desconforto da Rotina

Os dias pareciam passar com a suavidade de uma brisa suave que invade o campo no amanhecer. A rotina na casa de Clara e James era simples, mas tinha uma harmonia que, à primeira vista, poderia enganar qualquer um que a observasse. A casa, modesta e de aparência simples, era um refúgio para os três. Era lá que Sophie passava suas manhãs, com seus livros espalhados pelo chão, seus cadernos de anotações e seu universo de palavras, frases e histórias que ela devorava com avidez. Aos sete anos, Sophie já estava alfabetizada, uma habilidade que sua mãe a ensinou com paciência e amor, se dedicando a uma educação simples, mas significativa.

Clara, apesar de se sentir sobrecarregada com o trabalho e a responsabilidade de ser a cuidadora principal, sempre se orgulhou da inteligência de sua filha. Sophie gostava de ler livros sobre aventuras, mitologia, e até assuntos mais complicados para sua idade, mas sempre com uma curiosidade imensa que encantava sua mãe. Ela adorava ver a filha mergulhada nos livros, sem perceber que o mundo ao seu redor começava a mudar de uma forma que ela ainda não compreendia.

James, por sua vez, estava começando a mudar. Ele ainda era o homem protetor e atencioso que Clara conheceu, mas havia algo diferente em sua maneira de agir. Nos primeiros meses, a vida parecia estar se encaixando, mas logo as coisas começaram a se distorcer. Durante a manhã, enquanto Clara preparava o café e cuidava das tarefas da casa, James se sentava na mesa, lendo o jornal ou assistindo TV. Mas seu olhar, frequentemente, se voltava para Sophie, que estava absorta em seus livros ou brincando em algum canto.

Era algo sutil, quase imperceptível, mas Clara começava a notar. Os comentários de James sobre o crescimento de Sophie, sobre seu “corpo que já estava começando a ficar bonito” ou “como ela ia ser uma mulher linda quando crescesse”, começaram a deixá-la inquieta. Ela tentava se convencer de que eram apenas palavras ditas sem malícia, talvez apenas um homem que olhava a filha de forma natural, mas a sensação estranha não a deixava.

— "Sophie vai ser uma mulher bonita, Clara. Você viu o jeito que ela se comporta? Ela tem algo nela, uma elegância natural." — James disse certa vez, com um sorriso que Clara não soubera explicar.

Clara sorriu timidamente, mas no fundo, algo a incomodou. Ela tentava ignorar, pensando que poderia ser apenas a sua mente exagerando. Afinal, ele era o pai da criança agora, e deveria olhar para ela como qualquer pai olha para a filha.

Mas com o passar dos meses, os comportamentos de James começaram a se intensificar. Ele frequentemente dizia coisas como: "Sophie precisa começar a usar roupas mais bonitas. Ela está crescendo, e um dia vai precisar aprender a se comportar com os meninos." E quando ele falava sobre ela "crescer", seu tom de voz carregava algo mais. Era uma mistura de orgulho e... não se sabia bem o que mais.

Sophie, com seus olhos curiosos e inteligência aguçada, começava a perceber o que estava acontecendo. Ela não entendia completamente o que os adultos falavam entre si, mas sentia o desconforto no ar. Um olhar mais demorado de James para ela, uma palavra que ela não compreendia muito bem. E a mãe dela? Clara parecia cada vez mais distante, mas Sophie sabia que, no fundo, ela confiava em James. O padrasto sempre fora atencioso com ela, mas algo agora parecia estar fora do lugar.

Sophie adorava estudar. Ela gostava de aprender, de explorar o mundo que os livros lhe ofereciam. E, de alguma forma, isso fazia ela se sentir diferente. Ela percebia que, na escola, as outras crianças não tinham o mesmo interesse que ela pelos livros. Algumas vezes, suas amigas a chamavam de “nerd”, mas Sophie não ligava. Ela sabia que a inteligência era uma coisa que ninguém podia tirar dela. Sua mãe sempre lhe dizia: “Você tem um talento, Sophie. Nunca deixe ninguém te fazer pensar o contrário.”

Mas o que Sophie não sabia era que aquele “talento” seria o que a faria se distanciar de seu lar e até do próprio padrasto, que, aos poucos, começava a mostrar uma face que ela nunca imaginou.

Certa tarde, depois da escola, Sophie estava lendo em sua cama quando ouviu o som da porta da cozinha se fechando. James estava em casa. Ele sempre chegava mais cedo que Clara, que ainda estava no trabalho. Sophie não pensou duas vezes, guardou o livro e desceu para a sala. Quando entrou, encontrou James deitado no sofá, a TV ligada, mas sem realmente prestar atenção na tela.

— "O que você está lendo, Sophie?" — ele perguntou, virando a cabeça e a observando com um sorriso estranho.

— "Uma história sobre mitologia grega. Sabia que os deuses tinham muita inveja dos mortais?" — Sophie respondeu, orgulhosa de compartilhar o que havia aprendido.

James riu. Não era uma risada engraçada, mas uma risada que parecia vir de um lugar mais sombrio.

— "Eu aposto que você vai saber tudo sobre deuses e mortais, Sophie. Vai saber muito mais do que eu um dia. Você é esperta, menina." — James disse, com os olhos fixos nela de forma intensa.

Sophie não sabia por que, mas algo naquelas palavras fez com que um arrepio percorresse sua espinha. Ela sorriu, tentando ignorar a sensação estranha, e saiu de perto de James, indo para o jardim. O sol estava baixo no horizonte, e ela sentia uma paz momentânea enquanto olhava as flores que sua mãe cuidava com tanto carinho.

Clara, como sempre, estava no trabalho até tarde. E enquanto ela trabalhava para sustentar a família, a dinâmica de casa parecia mudar cada vez mais. Sophie, com seus olhos verdes e inteligentes, sentia que algo não estava certo. Algo estava prestes a acontecer, e ela não sabia como reagir.

Mas a vida seguia, e as verdades estavam começando a se revelar, embora Sophie ainda não estivesse preparada para enfrentá-las.

Capítulo 3: Algo Não Está Certo

Era uma tarde abafada em Pine Plains, e a casa parecia ainda mais silenciosa do que o habitual. Clara havia saído para resolver algumas questões na cidade vizinha e, como de costume, pediu a Sophie que ficasse em casa com James, já que era apenas por algumas horas. Sophie, como sempre, aproveitou o tempo livre para mergulhar nos livros. Ela se deitou de bruços no tapete da sala, o sol filtrava pelas cortinas e criava padrões dourados sobre as páginas amareladas do seu livro preferido.

James estava no sofá, assistindo a um programa qualquer na TV, mas seus olhos não estavam fixos na tela. De vez em quando, desviava o olhar para Sophie, observando-a de forma que ela começava a perceber como algo estranho. Ela usava uma saia simples, comum para dias mais quentes, e estava desatenta, envolvida com a leitura, até que uma sensação incômoda a fez levantar o olhar. Notou James meio inclinado, tentando disfarçar o ângulo de onde a observava.

Sentiu um arrepio na nuca. Sem pensar duas vezes, mudou de posição, agora sentada com as pernas cruzadas, tentando afastar aquela sensação estranha que nem sabia nomear.

— “Você não quer vir aqui um pouquinho?” — James disse, batendo levemente na própria perna, com um sorriso forçado. — “Faz tempo que não senta no colo do seu padrasto…”

Sophie hesitou. Aquilo não soava certo. Desde que era pequena, às vezes sentava no colo dele sem pensar muito, mas agora… agora parecia diferente. Ela não se moveu.

James insistiu, estendendo a mão e tentando tocá-la no ombro. Ela recuou sutilmente. O coração batia mais rápido. Não entendia direito por quê, mas alguma coisa dentro dela gritava.

Antes que ele pudesse se aproximar mais, o barulho de uma chave girando na porta os fez congelar. Clara voltou. Havia esquecido os documentos que precisava levar para a reunião e, como sempre, estava com pressa.

James se afastou rapidamente, ajeitando-se no sofá como se nada tivesse acontecido. Sophie levantou em um pulo e correu para o corredor, ofegante, o livro ainda em mãos.

Clara percebeu o movimento estranho assim que entrou. James parecia nervoso demais, e Sophie... Sophie estava pálida, assustada.

— “Tá tudo bem aqui?” — perguntou, tentando soar natural, mas com o olhar desconfiado.

Sophie hesitou, olhando para James, que agora tinha um olhar mais duro, sombrio.

— “O James... ele ficou querendo que eu sentasse no colo dele. E ficou me olhando esquisito.” — disse, com a voz baixa, mas firme.

James levantou num rompante, furioso.

— “Tá vendo o que essa menina tá fazendo? Inventando coisa! Só porque não deixei ela mexer na televisão! Quer virar a mãe agora?” — ele vociferou, apontando para Sophie.

Clara ficou imóvel por um segundo. O coração apertado. As palavras da filha ecoavam na mente dela como um sino de alerta.

— “James, por que ela ia inventar uma coisa dessas?” — Clara perguntou, tentando manter a calma, mas a tensão era evidente na voz.

— “Porque é mimada. Você que mima demais essa menina. Ela precisa entender quem manda aqui.”

O clima ficou pesado, a casa parecia encolher em silêncio. Clara, que antes pensava estar exagerando com suas desconfianças, agora via um fio de verdade se formar diante de seus olhos.

Sophie, ainda sem entender completamente, sentia apenas medo. Não sabia por que o padrasto ficara tão bravo, nem por que a mãe olhava daquele jeito. Ela só sabia que não queria mais ficar sozinha com ele.

Clara pegou a filha pela mão e disse:

— “Vamos sair um pouco. A reunião pode esperar.”

E sem olhar para trás, saiu com Sophie pela porta da frente, com o coração pesado e uma dúvida crescente. Algo estava errado, e pela primeira vez, Clara não conseguiu ignorar.

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