A luz do monitor piscava suavemente enquanto Aria virava a última página do mangá "Coração do Imperador".
— Que final mais sem noção… — murmurou, franzindo o cenho. — Essa personagem mal apareceu e de repente... puff, prometida ao imperador? Só pode ser piada.
Bocejando, ela deixou o celular escorregar para o lado da cama, puxou o cobertor até o queixo e fechou os olhos.
Mas quando os abriu novamente, o teto branco de seu quarto havia desaparecido.
No lugar, um lustre de cristal reluzia como mil estrelas presas em vidro. Cortinas de veludo balançavam ao vento, e o cheiro… não era familiar. Era doce, floral, denso.
Aria se sentou de supetão.
— Hã…? Onde…? — seus olhos vasculharam o quarto enorme — algo entre realeza e conto de fadas sombrio.
Ela se levantou cambaleando e correu até o espelho da penteadeira. E então, congelou.
— NÃO! NÃO! NÃO! Isso não é real! — exclamou, tocando o reflexo. Cabelos longos e prateados, olhos cor de ametista e um vestido que parecia ter saído de um baile imperial.
Ela conhecia aquele rosto.
Era Aria Valen, a personagem figurante que mal durava três capítulos. Aquela que era prometida ao cruel e gélido Imperador Ryker… antes de ser misteriosamente silenciada pela trama.
— Ok. Isso é um sonho. Um sonho bem esquisito. — Ela beliscou o braço. Forte.
Ai!
— Isso não é um sonho… — murmurou, sentando-se no chão, ainda em choque. — Eu tô… dentro do mangá?
A porta se abriu com um baque seco. Um homem de armadura escura entrou, ajoelhou-se e falou com voz grave:
— Lady Aria, o Imperador Ryker exige sua presença no Salão de Prata.
O coração dela deu um pulo.
— O quê?! Agora?! Mas eu acabei de…
O guarda a encarou com olhos duros. Sem espaço para protestos.
Aria engoliu seco.
Tá bom… beleza. Só preciso fingir, achar um jeito de sair desse pesadelo e não morrer antes do capítulo três…
Mal sabia ela que sua presença havia mudado o curso da história.
E que o destino do império — e do próprio Ryker — jamais seria o mesmo.
O corredor parecia infinito. Cada passo de Aria fazia eco nas paredes de pedra polida, como se o próprio castelo estivesse observando.
Ela andava com rigidez, tentando parecer nobre e composta. Por dentro? Um colapso completo.
— Ok, ok, pensa… — murmurava entre os dentes. — Você leu esse mangá! Sabe quem é o Ryker. Frio, calculista, assassino de reinos inteiros. E agora você é a noiva dele. Parabéns, Aria. Mandou bem.
O guarda à sua frente parou diante de uma porta alta de prata.
— O Imperador espera.
Antes que pudesse responder, as portas se abriram sozinhas, com um rangido lento e pesado. Aria engoliu em seco e entrou.
O salão era imenso. Cortinas negras, brasões dourados e um trono elevado. Sentado nele, estava ele.
O Imperador Ryker.
Alto, cabelos negros como a noite e olhos... olhos de puro gelo. O tipo de olhar que poderia atravessar aço.
Aria travou.
Ele a analisava em silêncio, como se tentasse decifrar algo. Ou julgar. Talvez ambos.
— Então… — sua voz cortou o ar como uma lâmina afiada. — Você finalmente acordou.
Ela tentou abrir a boca, mas tudo que saiu foi um som engasgado.
— Não finja surpresa — continuou. — O selo do pacto foi feito. Você me pertence agora.
— Pertencer?! Eu sou uma pessoa, não uma cadeira! — o pensamento gritou dentro dela, mas tudo que conseguiu foi murmurar:
— Deve haver um engano…
Ryker desceu os degraus lentamente, cada passo pesado como um presságio.
— Não há enganos aqui, Lady Aria. Você foi chamada por um antigo feitiço do sangue imperial. É sua alma que responde à linhagem do trono. Sua presença aqui… não é por acaso.
Ela recuou um passo.
— Escuta, eu não sei que tipo de cosplay macabro é esse, mas eu não faço parte dessa história! Eu quero ir pra casa!
Ryker parou diante dela. Estava perto. Muito perto.
— E onde exatamente é… casa?
Aria abriu a boca… mas a resposta sumiu. Porque naquele instante, uma pulseira dourada em seu pulso brilhou suavemente.
Ela não lembrava de colocá-la ali.
— Seu coração… ainda não escolheu — Ryker murmurou, como se falasse para si mesmo. — Interessante.
Antes que ela pudesse perguntar qualquer coisa, ele se virou.
— Preparem os aposentos dela. E reforcem a guarda. — Sua voz soou como ordem e sentença. — Se tentar fugir, cortem as rotas. Mas não toquem nela sem minha permissão.
Aria foi puxada para fora pelos guardas, ainda atordoada.
Enquanto era levada para seus “aposentos”, só uma coisa passava pela sua cabeça:
Isso é sério demais para ser só uma história… e eu tô no centro dela.
Os aposentos de Aria pareciam ter saído de um palácio de conto de fadas... com uma leve pitada de prisão de luxo.
Colunas de mármore, janelas altas com vista para jardins impecáveis, e uma cama digna de uma rainha. Mas havia dois guardas do lado de fora e, ao que tudo indicava, nenhuma porta funcionava por dentro sem autorização.
— Isso aqui não é um quarto — disse, chutando uma almofada. — É uma cela disfarçada de suíte.
Ela se jogou na cama e cobriu o rosto com as mãos.
— Eu só queria dormir lendo um mangá. Agora tenho um imperador assassino me chamando de “minha prometida” e um bracelete amaldiçoado que brilha sozinho…
Como se para zombá-la, a pulseira brilhou novamente. Breve. Como um pulso de energia.
— Que que você quer de mim?! — gritou para o bracelete, como se fosse um ser vivo.
Nesse momento, a porta se abriu. Uma criada baixinha e de expressão animada entrou com uma bandeja de comida.
— Lady Aria! Que bom que está acordada! Eu sou Lyna, sua nova criada pessoal. O Imperador disse pra garantir que você esteja... confortável.
Aria arregalou os olhos.
— Espera… você disse Imperador?
— Claro! Ele está tão aliviado com seu retorno. Já estavam achando que você não sobreviveria à invocação.
— Invocação? Como assim, invocação?
Lyna piscou, como se Aria estivesse brincando.
— Ué, o feitiço antigo da Linhagem Carmesim? Que conecta o sangue real à alma de seu elo? Você é a prometida do Imperador Ryker. Ele é o herdeiro do pacto, e você... é a escolhida.
Aria engasgou.
— Não. Nananão. Eu sou só uma leitora! Eu nem gosto tanto assim desse cara! Ele é literalmente o personagem mais frio da história!
— Frio? — Lyna riu baixinho. — O Imperador só tem dificuldade em... demonstrar. Mas dizem que ele nunca olhou duas vezes para nenhuma pretendente. Até agora.
Aria caiu sentada na cama, em choque.
— Eu preciso sair daqui. Preciso descobrir como voltar pro meu mundo.
Lyna se aproximou, abaixando o tom.
— Se você quer respostas... talvez a bibliotecária real possa te ajudar. Dizem que ela entende de magia antiga e contratos proibidos. Mas cuidado… a biblioteca é território vigiado.
Aria apertou os punhos.
Ok. Novo plano: sobreviver, descobrir esse feitiço idiota e dar o fora daqui. Antes que vire uma estatística nesse mundo louco.
Mas do lado de fora, em uma varanda sombreada, Ryker observava a janela de Aria com olhos pensativos.
— Ela não se lembra de nada… — murmurou para si mesmo. — Então por que... a pulseira reagiu?
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