Fases Constantes: Entre o Amor e a Dor
Capítulo 1.
Lia Castely
Sou Lia Castelly, tenho 24 anos e sou formada em Administração Empresarial. Levo meu trabalho com seriedade e dedicação, a ponto de quase não me sobrar tempo para envolvimentos amorosos.
Lia Castely
Divido minha casa com meus dois melhores amigos, Ysa e Tom, que para mim são como irmãos de alma. A convivência com eles é leve, verdadeira… uma família escolhida.
Lia Castely
Cresci em um lar onde o amor sempre foi palpável, meus pais são a prova viva de que o amor verdadeiro existe. Irônico, talvez, que eu mesma tenha deixado de acreditar nele.
Lia Castely
Tenho um irmão mais novo, ele tem 16 anos. Sempre fomos muito próximos, mas… depois do que aconteceu comigo, me vi obrigada a me afastar da minha família.
Lia Castely
Nem sempre é fácil carregar cicatrizes que não se veem, mas essa é a minha história. E, talvez, o início de uma nova.
Lia Castely
Sempre fui muito dedicada aos estudos, daquelas que trocavam festas por livros sem pensar duas vezes. Conquistei, com esforço, uma bolsa na universidade dos meus sonhos.
Lia Castely
Meus pais, que haviam se preparado financeiramente para custear minha faculdade, decidiram usar o valor economizado para realizar outro sonho: compraram um apartamento para mim.
Lia Castely
Hoje, divido esse lar com meus dois grandes amigos, Ysa e Tom. Entre risos, confidências e noites de silêncio confortável, transformamos esse espaço em um verdadeiro refúgio.
Lia Castely
O amor… não é uma meta na minha vida.
Lia Castely
Eu não pretendo me apaixonar. Nunca.
Lia Castely
Amar, para mim, é sinônimo de sofrer. É se entregar de olhos fechados e, sem perceber, mergulhar no escuro. É perder a razão, ignorar os sinais, e só enxergar o monstro quando já é tarde demais.
Lia Castely
E eu… não posso me permitir isso de novo.
Sigamos, então, para onde as palavras nos levam… Que a história comece.
Lia Castely
O despertador do celular toca às 6h30. Ainda com os olhos pesados, me levanto, mais um dia de trabalho me espera.
Lia Castely
Vou direto para o banho, tentando espantar o cansaço com a água morna que escorre pelo corpo. Em seguida, escovo os dentes, me arrumo com calma e desço as escadas.
Lia Castely
Na cozinha, encontro meus amigos já preparando o café da manhã. O aroma fresco do café recém-passado e o som leve das conversas preenchem o ambiente com uma familiaridade reconfortante.
Tom (AMIGO GAY)
Bom dia, linda!
Com um sorriso no rosto, Tom se aproxima da mesa carregando um prato fumegante.
Tom (AMIGO GAY)
Aqui estão as panquecas, feitas com todo o meu talento matinal.
Ele coloca o prato sobre a mesa com um gesto exageradamente elegante, como se estivesse servindo um banquete digno de reis. O aroma doce se espalha pelo ambiente, trazendo um certo conforto para a manhã de segunda-feira.
Ysa (AMIGA)
Odeio segundas-feiras.
Tom (AMIGO GAY)
Quem não odeia?
Lia olhou o relógio discretamente, pegou a bolsa e se levantou.
Lia Castely
Eu preciso ir.
Ysa (AMIGA)
Vamos sair no fim de semana?
Tom lançou um olhar divertido enquanto tomava um gole de café.
Tom (AMIGO GAY)
Ah, qual é, linda… Vai com a gente.
Lia Castely
Eu realmente tenho que ir.
Sem esperar mais, ela se despediu com um aceno rápido e saiu, deixando para trás o cheiro de café, panquecas e a leve insistência dos amigos. O dia já começava, e com ele, a rotina que ela conhecia tão bem.
Capítulo 2.
Lia chega ao escritório pontualmente e segue direto para sua sala. Pouco depois, a secretária entra com um leve bater à porta.
Laura (Secretaria)
Com licença, Lia… a reunião está prestes a começar.
Lia Castely
Obrigada, já estou indo.
Ela se ajeita com discrição: retoca os cabelos, confere os documentos e caminha até a sala de reuniões. Assim que entra, se senta ao lado dos demais acionistas, mantendo a postura sóbria que lhe é característica.
Poucos minutos depois, seu chefe adentra a sala. Há um silêncio breve até que ele se pronuncia, com seu tom sempre equilibrado.
Lia Castely
Lia Narrando: Esse é meu chefe, Téo Álvares. Gentil e educado, mas também exigente e atento aos mínimos detalhes. Apesar da rigidez, é alguém justo… e, de certo modo, admirável.
Todos respondem: Bom dia.
Téo Álvres
Então, senhorita Lia… teve tempo de revisar o contrato?
Lia Castely
Lia Narrando: Deixa eu explicar um pouco do meu trabalho: a empresa G.A. é uma das líderes globais em exportações e importações de tecnologia. Também atua em grandes projetos de construção, hotéis, ilhas artificiais, monumentos ao redor do mundo.
Lia Castely
Nosso principal concorrente é o Grupo BINYAP, que agora nos propõe uma parceria. Minha função? Analisar os dados com precisão e decidir se essa união traria benefícios reais à G.A.
Lia Castely
Sim, senhor. Analisei tudo com atenção. A proposta, ao que tudo indica, parece vantajosa.
A reunião segue com a discussão dos termos e valores, quando a porta se abre suavemente.
Lia Castely
Lia Narrando: Essa é Kim. Linda, elegante, e aparentemente perfeita. Kim Smith. Namorada do senhor Téo.
Kim Smith
Desculpem o atraso, o trânsito estava um caos.
Kim Smith
Bom dia a todos.
Todos respondem: Bom dia.
Téo Álvres
Bom, acredito que por hoje é só. Estão todos liberados.
Os participantes começam a se dispersar. Téo e Kim permanecem na sala. Lia, por sua vez, retorna para sua sala e cruza com Laura no caminho.
Lia Castely
Vamos almoçar juntas?
Laura (Secretaria)
Claro! Que tal o restaurante mexicano?
Lia Castely
Perfeito. Até daqui a pouco.
Laura (Secretaria)
Até, Lia.
De volta à sua sala, Lia mergulha em relatórios até notar o relógio marcando meio-dia. Pega a bolsa, ajeita os papéis e caminha até a mesa de Laura.
No restaurante, entre garfadas e risadas contidas, a conversa se desenrola.
Laura (Secretaria)
A chefe chegou atrasada hoje… será que teve crise no paraíso? Eles sempre chegam juntos.
Lia Castely
Não faço ideia.
Laura (Secretaria)
Ah, qual é, Lia… você é a mais próxima do casal sensação.
Lia Castely
Não sou, Laura. Eles são meus chefes. Só isso.
Lia Castely
Lia Narrando: Laura é uma fofoqueira assumida. Quando entrei na empresa, tive alguns atritos com Kim. Ela implicava comigo, tinha ciúmes da minha relação profissional com o Téo. Chegou ao ponto de pedir que Laura me vigiasse. Mas Laura com sua língua solta e certo senso de justiça acabou me contando tudo.
Lia Castely
Fiquei surpresa. Se ela soubesse que eu não tenho o menor interesse em homens, teria poupado energia. Vocês devem estar se perguntando se eu não gosto de homens… mas não é isso. Eu apenas não consigo mais me envolver. O trauma que vivi… deixou marcas profundas.
Lia Castely
O homem que destruiu minha confiança levou também a minha fé no amor. Às vezes penso se fui injusta comigo mesma. Mas como negar? Fui eu quem se apaixonou. Fui eu quem escolheu fechar os olhos para a verdade. Todos os dias, carrego essa culpa como se ela fosse minha.
Laura (Secretaria)
Lia? Lia?
Laura (Secretaria)
Eu tava falando sobre o dono da BINYAP… dizem que ele é lindo, mas insuportavelmente arrogante. Acha que nenhuma mulher é boa o suficiente pra casar com ele.
Lia Castely
Não me surpreende. A maioria dos homens pensa assim.
Laura (Secretaria)
Ei, nem todos! O senhor Téo, por exemplo. Fiel, carinhoso com a Kim… ele é um sonho!
Lia Castely
Sonho? Sonhos têm o hábito de virar pesadelos… mesmo quando a gente finge que não vê.
Laura (Secretaria)
Nossa, Lia. Falando assim parece que você não acredita no amor.
Lia Castely
Deixa pra lá. Vamos logo, ou vamos acabar voltando atrasadas.
Elas pagam a conta e saem. De volta à empresa, Lia segue direto para sua sala. O resto do dia passa em silêncio. Quando o expediente enfim chega ao fim, ela recolhe suas coisas, despede-se com um aceno discreto e vai para casa onde o silêncio e seus próprios pensamentos já a esperavam.
Capítulo 3.
Lia chegou em casa no início da noite, com os ombros pesados pelo dia longo. Tirou os sapatos na entrada, soltou a bolsa sobre o aparador e seguiu em direção à cozinha, guiada pelo aroma acolhedor que preenchia o ar.
Ao entrar, encontrou Tom e Ysa rindo baixinho enquanto preparavam o jantar.
Tom cortava legumes com uma habilidade quase teatral, enquanto Ysa mexia algo em uma panela, cantarolando distraída.
Lia Castely
O que vocês estão aprontando aí?
Tom (AMIGO GAY)
(Sem olhar diz): Magia culinária, minha cara. Hoje o cardápio é especial.
Ysa (AMIGA)
E antes que você pergunte, sim, tem seu prato preferido.
Lia sorriu, sentindo o calor familiar daqueles dois que, mais do que amigos, eram seu abrigo no mundo.
Ela se recostou no batente da porta, observando a cena simples e bonita diante dela. Pela primeira vez no dia, relaxou os ombros e respirou fundo, sentindo-se em paz.
Segunda-feira parecia concentrar todos os pesos da semana. Lia saiu do escritório já com o corpo exausto e a mente pedindo silêncio. O restante da semana era mais leve, mas as segundas sempre testavam sua paciência. Às terças e quintas, ela frequentava suas aulas de defesa pessoal, uma rotina que mantinha há três anos, desde que a vida lhe ensinou da pior forma que saber se defender não era opção, era necessidade. Ela sabia que, fisicamente, uma mulher quase nunca vence um homem. Mas era um começo. Um ato de resistência.
Ao chegar em casa, ouviu vozes vindas da cozinha.
Tom mexia distraído em uma panela, enquanto Ysa arrumava a mesa com um sorriso satisfeito.
Tom (AMIGO GAY)
Oi, linda. Como foi o seu dia?
Lia Castely
Como toda segunda-feira… denso.
Ysa (AMIGA)
Estamos fazendo lasanha. Não são como as suas, mas acho que engana bem.
Lia Castely
Tenho certeza que estão uma delícia. E o dia de vocês?
Ysa (AMIGA)
O mesmo de sempre: chefe insuportável e trabalho até o pescoço.
Tom (AMIGO GAY)
Eu só queria um chefe bonito como o seu, Lia. Aquele homem… ai, só de lembrar já me dá calor.
Ysa e Lia não resistiram e caíram na risada.
Lia Castely
(Entre risos): Tom, você é um pervertido!
Ysa (AMIGA)
Ele só disse o que todas nós pensamos.
Lia Castely
Não acho ele tudo isso, além do mais, ele tem namorada. Viu, dona Ysa?
Ysa (AMIGA)
E eu também tenho namorado, mas olhar não arranca pedaço.
Tom (AMIGO GAY)
Eu não queria só um pedaço… queria ele inteiro!
Lia Castely
(Sorrindo): Vocês não prestam. Vou tomar um banho.
Lia subiu, tirou a roupa com o cansaço nos ombros, tomou um banho quente e vestiu uma roupa confortável antes de voltar para a cozinha.
Ysa (AMIGA)
Está pronto. Vamos comer.
Jantaram juntos, entre conversas leves e risos abafados por garfadas. Depois assistiram a um filme qualquer, daqueles que servem só de trilha para o aconchego da noite. Quando o sono venceu, foram todos dormir.
Na manhã seguinte, o despertador tocou às 6h30. Lia se levantou, desceu ainda sonolenta e preparou torradas com ovos e bacon. Logo, Tom desceu ajeitando a gravata, e Ysa veio atrás com cara de poucos amigos.
Ysa (AMIGA)
Só se for pra você.
Tom (AMIGO GAY)
Bom dia, linda.
Tom se aproximou para beijar a testa de Lia, mas ela se esquivou delicadamente. Ainda era difícil lidar com toques inesperados.
Lia Castely
(Tentando suavizar): Bom dia, Tom.
Lia Castely
Ysa, você já deveria estar acostumada a acordar cedo.
Ysa (AMIGA)
Nunca estarei.
Lia Castely
Tenho que ir. Beijos.
Lia chegou ao escritório, subiu de elevador e passou pela mesa de Laura.
Laura (Secretaria)
Bom dia. Reunião às 9h.
Às nove em ponto, entrou na sala de reuniões.
Téo Álvres
Bom dia a todos. Segunda que vem o dono da BINYAP estará aqui para assinatura do contrato. Precisamos estar preparados. Senhorita Castelly, tudo sob controle?
Téo Álvres
Ótimo. Estão liberados.
Lia voltou para sua sala e saiu mais cedo naquele dia, era dia de aula. Depois da aula de defesa pessoal, voltou para casa.
Tom e Ysa chegaram pouco depois, e jantaram juntos.
Lia Castely
E o dia de vocês?
Ysa (AMIGA)
Muito trabalho. E o seu?
Lia Castely
Também. Semana que vem vamos conhecer o dono da BINYAP.
Ysa (AMIGA)
(Engasgando levemente): Espera… você está dizendo que o homem mais cobiçado do país vai trabalhar com você?
Lia Castely
(sem entusiasmo): É, parece que sim.
Ysa (AMIGA)
Lia, você tem uma sorte que dá inveja!
Lia Castely
Não vejo dessa forma.
Ysa (AMIGA)
Como assim, Lia? Dois dos homens mais ricos e lindos do país e você não vê nada demais?
Tom (AMIGO GAY)
(sorrindo com malícia): Olha… se ela não quer, eu pego o contrato, a gravata e até a caneta deles. Dá licença.
Ysa e Tom riram, mas Lia se calou, a expressão fechando aos poucos.
Lia Castely
Ysa, por favor, não começa.
Lia levantou-se antes que a amiga terminasse. Subiu em silêncio e se trancou no quarto. Era um daqueles dias em que a tristeza sussurrava mais alto que a razão.
Ysa sempre teve boas intenções, sempre tentou empurrá-la para um novo começo. Mas o problema era que Lia ainda não tinha saído do fim. Tom, por outro lado, era seu porto silencioso, ele não insistia, apenas ficava. E às vezes, só isso bastava.
A noite avançava devagar, como se o tempo tivesse decidido repousar também naquela casa silenciosa. A lua, tímida, espreitava pela janela da sala, traçando contornos suaves nos móveis e nas expressões cansadas de quem ali habitava.
Lia estava deitada no sofá, coberta por uma manta leve, com os olhos fixos no teto, mas a mente distante, vagando entre lembranças e possibilidades. Tom apareceu com uma xícara de chá nas mãos, aproximando-se com cuidado.
Tom (AMIGO GAY)
Fiz aquele chá de camomila que você gosta… Sem açúcar, como sempre.
Lia Castely
(Sorri de canto, quase em sussurro): Obrigada, Tom… Você sempre sabe o que fazer.
Ele se sentou ao lado dela, respeitando o espaço que ela sempre deixava entre si e o mundo, mas ficando perto o suficiente para que ela sentisse sua presença. Um silêncio confortável se instalou entre os dois, o tipo de silêncio que só existe entre almas que se entendem.
Do outro lado da casa, Ysa surgiu no corredor, enrolada em um robe florido, com uma taça de vinho na mão e os cabelos presos em um coque bagunçado.
Ysa (AMIGA)
O clima aqui tá tão denso que eu trouxe vinho… pra ver se derrete essa nuvem em cima de vocês.
Tom (AMIGO GAY)
(Brincando): A nuvem é da Lia. Eu sou só o satélite.
Ysa (AMIGA)
Então vamos fazer um eclipse e apagar essa tristeza, por favor?
Lia riu pela primeira vez naquela noite. Um riso pequeno, mas sincero, como quem permite uma fresta de luz num coração que tem aprendido a se proteger demais.
Lia Castely
Talvez um pouquinho de vinho ajude…
Ysa (AMIGA)
É disso que eu tô falando! Vou buscar mais taças!
A noite então mudou de cor. Entre goles, risadas e músicas baixas tocando ao fundo, Lia sentiu algo raro: pertencimento. Mesmo com as feridas, com as memórias difíceis e os dias cinzentos, ali estava ela, cercada por amor. Não o amor romântico que ela temia, mas o amor real, constante, seguro. Um tipo de amor que, no fundo, também cura.
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