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...Nas vielas apertadas de uma favela que nunca dorme, onde o som dos tiros às vezes fala mais alto que os sorrisos, nasceu essa história. Não é conto de fadas, nem fantasia de amor impossível. É vida real, crua, cheia de dor, escolhas fodidas e, no meio disso tudo, uma faísca de esperança....
...Essa é a história da Laura, uma mina cheia de sonho no peito e coragem no olhar. E do Caio, o cara que já viu o inferno de perto e aprendeu a mandar nele. Dois mundos que, teoricamente, nunca deveriam se tocar. Mas que se trombam numa esquina qualquer e, dali pra frente, nada mais é seguro....
...Não se engane: aqui o amor não vem com flores, vem com sangue, suor e dilemas que esmagam a alma. Aqui, amar é resistência. É lutar contra o destino, contra as regras do morro, contra tudo que diz que eles não podem - ou não devem - ficar juntos....
...Combinação Perfeita não é sobre finais felizes. É sobre a guerra diária de quem nasce com menos e ainda assim sonha com mais. Sobre os laços que a gente cria no meio do caos. E sobre como, às vezes, o que parecia ser só mais uma história, vira a mais intensa de todas....
...Se prepare pra sentir, se revoltar, se emocionar e, acima de tudo, se apaixonar. Porque nessa favela, amor e perigo andam de mãos dadas. E uma vez que você entra, não tem mais volta....
...Bem-vindo(a) à quebrada😉...
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...Para os que nasceram no caos, mas nunca deixaram de sonhar com a paz....
...Para cada Laura que carrega esperança no peito mesmo quando tudo ao redor grita pra desistir....
...E para cada Caio que teve o coração calejado pela vida, mas ainda assim, em silêncio, grita por redenção....
...Essa história é pra vocês....
...Pra quem sobrevive com garra, ama com medo e vive com coragem....
...Pra quem sabe que o amor, na quebrada, é resistência....
...E se o mundo disser que vocês não combinam…...
...Gritem de volta:...
...“A gente é a combinação perfeita.”...
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...LAURA NARRANDO......
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Sabe aquele silêncio estranho que vem antes do caos? Aqui no morro, ele é como um aviso. Um sussurro no pé do ouvido dizendo: “te prepara, que o bicho vai pegar”.
E hoje, esse silêncio apareceu logo cedo, cortando o som das crianças brincando e das panelas batendo lá da tia Zuleide. Eu senti. No fundo do peito. E quando a favela cala... é porque o perigo tá batendo na porta.
— Laura, leva esse pão lá pra dona Marlene, que eu tô enrolada com essa roupa aqui! — gritou minha mãe, da área de serviço, como se o mundo não estivesse prestes a virar de cabeça pra baixo.
— Já vou, mãe! — respondi, amassando o saco de pão de padaria e saindo no sapatinho.
Desci as escadas do barraco, os chinelos fazendo aquele barulhinho de sempre, e olhei pros lados. Tudo parecia parado demais.
Nem os moleque da laje tavam zoando hoje. Isso já era estranho. Na esquina, vi o Digão de toca preta, sentado no degrau da vendinha, com a mão no radinho.
— E aí, Digão... tudo certo? — perguntei, meio desconfiada.
Ele só levantou o queixo. Olhar frio, seco.
— Fica na moral hoje, Laurinha. Melhor tu voltar pra casa — ele disse, e voltou a encarar a viela lá de baixo.
Aquilo me gelou. Quando os soldados do morro avisam, é bom ouvir. Só que eu sou teimosa. E dona Marlene já tinha reclamado semana passada que minha mãe esqueceu o pão.
Fui assim mesmo, tentando andar rápido, sem chamar atenção. Só que mal dobrei a esquina, ouvi o primeiro pipoco. PÁ! A bala cantou alto. Depois veio outro. E outro. E o silêncio virou grito.
— CORREEEEE!
— TODO MUNDO PRA DENTRO!
Vi uma senhora cair no chão, de joelhos. Um molequinho chorava, agarrado na perna da mãe. Eu me abaixei, tremendo, me escondendo atrás do muro de tijolo mal rebocado. O pão já tinha voado longe.
O som dos tiros ecoava como tambor no meu peito. E no meio disso tudo, vi os caras do morro descendo armados, com os olhos cheios de ódio.
Entre eles, um que eu nunca tinha visto de perto, mas já ouvira falar muito: Caio. Chamavam ele de “olho de gelo”. Ele era amigo do Hugo dono do morro, mas pelo que eu sabia ele estava preso. Ele logo meteu bala em três rivais e não tremeu nem um segundo.
Ele passou correndo, fuzil em punho, gritando:
— É do morro, porra! Vão deixar os vermes entrar aqui, não!
E eu, ali, abaixada, só conseguia olhar pra ele. Não sei explicar o que foi. Não era medo. Era... curiosidade. Ele era bonito, no meio daquela guerra toda. Parecia que não pertencia ali, mesmo sendo parte do pior.
A troca de tiros durou uns cinco minutos. Mas pareceu uma eternidade. Quando tudo parou, o silêncio voltou. Só que dessa vez era pesado. Dava pra ouvir o choro da favela.
Levantei devagar, com as pernas tremendo. Vi que o menino que chorava antes tava ferido na perna. Sangue escorrendo.
— Moça, ajuda ele! — gritou a mãe, desesperada.
Me aproximei, rasguei a barra da minha blusa e tentei estancar o sangue. Foi nessa hora que ele apareceu de novo. Caio. Com a arma ainda na mão e os olhos grudados na gente.
— Moleque foi atingido? — ele perguntou, seco.
— Foi. Precisa de ajuda! Tem que levar no posto! — respondi, tentando manter a calma.
Ele olhou pro céu, respirou fundo e tirou o celular do bolso.
— Tem um moto táxi meu aqui perto. Vou mandar subir. Mas se alguém perguntar, tu não viu nada, entendeu?
Assenti com a cabeça, e ele ficou me encarando por uns segundos. Me senti exposta, como se ele lesse tudo que eu escondia. Depois virou as costas e sumiu no beco.
O moto táxi chegou, levou o menino e a mãe. Eu fiquei ali, sentada na calçada, coração batendo forte. Pensei na minha mãe, na bronca que ia levar por causa do pão. Mas o pior mesmo era pensar que aquilo ali, aquele cenário de sangue e medo, era a minha casa. E que eu tava cansada disso.
Quando voltei pro barraco, minha mãe tava com os olhos marejados.
— Eu pedi pra você não descer, Laura quando tem invasão. Eu pedi!
— Tinha gente precisando, mãe... o menino tava sangrando. Eu não ia virar as costas.
Ela me abraçou forte, com aquele cheiro de sabão em pó que só mãe tem.
— Você é diferente, filha. Mas esse lugar... esse lugar mata os diferentes.
Fiquei em silêncio, sentindo o peso daquelas palavras. E enquanto olhava pela janela, lá no alto do morro, vi a silhueta dele. De Caio. Parado, de costas, encarando o horizonte.
E naquele instante, sem entender o porquê, eu soube: minha vida ia mudar. Talvez não do jeito certo. Talvez não do jeito fácil. Mas ia.
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