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Lágrimas de Inverno

Personagens

PERSONAGENS PRINCIPAIS

CLARA (vivendo como Isadora)

25 anos. A verdadeira Clara. Após um acidente de carro com a irmã gêmea, acorda sem memória. Acredita ser Isadora porque essa foi a identidade que lhe disseram. Vive com um homem rude que pensa ser seu pai adotivo, sem saber que ele foi pago para manter essa farsa.

Sensível, calada, carrega dentro de si uma dor inexplicável — e flashes de um passado que não consegue compreender. Ao começar a trabalhar no escritório de Rafael, um sentimento estranho desperta. Ela não sabe, mas está reencontrando seu marido.O acidente desfigurou parcialmente o rosto de Clara

Clara ficou desacordada e teve traumas no rosto, o que justifica uma cirurgia reconstrutiva. Ela acorda sem memória, com um rosto "ligeiramente diferente", e por isso ninguém a reconhece como a Clara original — especialmente porque Isadora cuidou de tirar todos os vestígios. Seu rosto está diferente, não parece ser gêmea de Isadora ( a falsa clara)

ISADORA (vivendo como Clara)

25 anos. Irmã gêmea de Clara. Fria, manipuladora, ambiciosa. Ao ver a irmã desacordada após o acidente, decide forjar sua morte. Assume a identidade de Clara e ocupa seu lugar ao lado de Rafael, o marido da irmã.

Para todos, Isadora está morta. Apenas ela sabe a verdade — e está disposta a tudo para mantê-la enterrada. Vive como Clara sem culpa, mas a presença da "nova funcionária" começa a abalar sua segurança.

RAFAEL SALAZAR

28 anos. Advogado sério, reservado, ainda lidando com traumas do passado. Acredita estar casado com Clara (que, na verdade, é Isadora). Quando contrata Isadora (que é, de fato, Clara) como nova auxiliar, algo o inquieta.

Há gestos, olhares, frases… pequenos detalhes que o fazem duvidar da realidade. A conexão com a nova funcionária é forte demais para ser coincidência.

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PERSONAGENS SECUNDÁRIOS

SR. ADEMAR

Homem simples e mal-humorado. Foi pago por Isadora para fingir ser o pai de Clara após o acidente. Acolheu a jovem sem memória apenas por dinheiro, e mantém a mentira sem qualquer afeto.

Carrega segredos que, se revelados, podem desmontar toda a farsa construída por Isadora.

DONA MÁRCIA

Vizinha fofoqueira, observadora e solitária. Não sabe exatamente o que está acontecendo, mas desconfia que há algo estranho na jovem que vive com o Sr. Ademar. Pode ser a primeira peça fora do lugar.

DANIELA

Secretária de Rafael. Leal, atenta, e profundamente desconfiada da "Clara" com quem ele é casado. Não gosta de Isadora e sente que algo está errado. Vê com bons olhos a nova auxiliar e se torna uma aliada inesperada para Clara.

DOUTORA EUN-JI

Psicóloga do hospital onde Clara foi levada após o acidente. Tentou buscar familiares, mas foi rapidamente afastada do caso por “ordens superiores” (Isadora agindo nos bastidores). Pode reaparecer mais adiante, desconfiando da identidade de Clara.

VICENTE SALAZAR

Pai de Rafael. Aposentado, ex-juiz, extremamente observador. Não confia em “Clara” (Isadora) desde o início, mas guarda suas suspeitas. Quando conhece a nova auxiliar (Clara), sente uma familiaridade estranha e começa a investigar discretamente.

LÚCIA

Amiga de infância das gêmeas. Mora em outra cidade e perdeu o contato após o acidente. Pode retornar ao descobrir uma notícia e se confundir ao ver "Clara viva" — a faísca que começa a desmascarar tudo.

HYEON-WOO

Colega de trabalho de Isadora (Clara Verdadeira) no escritório. Gentil e intuitivo, começa a se aproximar dela. Percebe que ela sofre de alguma lacuna emocional e se torna seu apoio. Também pode se tornar rival de Rafael no afeto dela.

Capítulo 1

Clara e Isadora eram irmãs gêmeas idênticas. Mesmo rosto, mesma voz — mas corações completamente diferentes.

Clara era doce, tranquila, e casada com Rafael Salazar, um advogado sério, mas apaixonado. Já Isadora era impulsiva, invejosa e sempre viveu à sombra da irmã.

Naquela noite, as duas discutiam no carro. Isadora estava furiosa porque Rafael nunca olhou para ela como olhava para Clara.

— Ele nunca vai te amar como me ama! — Clara gritou.

— É isso que você acha? — Isadora respondeu, amargurada.

Então veio o acidente. O carro derrapou na pista molhada e bateu com força. Tudo ficou em silêncio.

Quando Isadora acordou, percebeu que Clara estava desacordada. Ela olhou em volta e teve uma ideia cruel.

Trocou os documentos de lugar, colocando os de Clara com ela mesma. Assim, quando fossem encontradas, todos pensariam que Isadora tinha morrido... e que Clara havia sobrevivido.

Mas o plano foi além.

No hospital, Clara acordou com amnésia. Não lembrava de nada — nem do próprio nome. Quando perguntaram quem ela era, respondeu com a única coisa que ouviu alguém dizer:

— Isadora...

E assim, Clara passou a viver como Isadora... sem saber a verdade.

Já a verdadeira Isadora, viva e sem ferimentos graves, pagou um homem para “adotar” a irmã em segredo. Depois, tomou a identidade de Clara e assumiu a vida dela — inclusive o casamento com Rafael.

Rafael nunca soube da troca.

Acreditou que sua esposa, Clara, havia sobrevivido ao acidente. Mal sabia ele que agora vivia com a irmã errada.

Enquanto isso, Clara, com outro nome e sem memória, seguia sozinha... até que o destino resolvesse juntar todos de novo.

Meses se passaram desde o acidente. Clara — agora vivendo como Isadora — levava uma vida simples, adotada por um homem distante e silencioso, o tal "pai adotivo" que a verdadeira Isadora havia contratado para completar o teatro da mentira.

Ela não fazia ideia de nada.

A amnésia deixara um vazio onde sua vida costumava estar. Tudo que sabia era o nome que todos usavam com ela: Isadora.

Não havia fotografias, nem visitas, nem lembranças. Apenas aquele nome e a sensação constante de que algo estava errado.

Naquela manhã chuvosa, o homem que a chamava de filha entregou-lhe uma folha de jornal. Um anúncio circulado em vermelho.

> "Precisa-se de auxiliar de escritório. Meio período. Escritório Salazar & Associados."

— Vai começar a trabalhar — disse ele, seco como sempre. — Já tem tempo demais sem fazer nada.

Ela assentiu. Não porque queria obedecer, mas porque, no fundo, sentia que precisava sair daquele lugar. Precisava encontrar respostas — mesmo sem saber as perguntas.

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O sobrado antigo tinha um ar melancólico. Pintura desgastada, janelas empoeiradas. A placa da fachada carregava um nome que ecoava dentro dela, sem motivo aparente:

> Salazar & Associados.

Ela respirou fundo e empurrou a porta. A secretária a recebeu com um olhar cansado.

— Isadora, certo? Sente-se. Ele já vai te chamar.

Ela esperou em silêncio. O som do relógio na parede marcava os segundos com uma precisão irritante. As mãos dela tremiam.

Quando a porta do escritório se abriu, ela entrou devagar. E então o viu.

Rafael.

Ele estava ali, como uma lembrança viva.

Cabelos escuros, um pouco mais longos do que nas fotos que um dia estiveram em um porta-retratos esquecido. Olhos castanhos intensos, profundos, que pareciam buscar algo — ou alguém.

— Você deve ser a nova auxiliar — disse ele, sem saber que estava diante da mulher que amou.

Ela engoliu em seco. Algo dentro dela vibrou, como se sua alma o reconhecesse, mesmo que sua mente não conseguisse explicar.

— Sente-se, Isadora.

Aquele nome. Aquela voz.

Ela sentou-se devagar, sem saber que aquele homem, que agora lhe dava ordens, era seu marido. Que aquele sobrenome na porta era, na verdade, o dela. Que aquele escritório era o último lugar onde deveria estar — e o único onde talvez reencontrasse a si mesma.

E assim começou tudo de novo. Como um fio solto sendo puxado.

E mais cedo ou mais tarde... a verdade viria à tona.

O dia no escritório passou como uma neblina espessa.

Isadora — ou melhor, Clara, ainda sem saber disso — passava de mesa em mesa com uma prancheta nas mãos e uma confusão crescente na cabeça. Era como viver num lugar que, ao mesmo tempo, lhe era novo e absurdamente familiar.

Rafael falava pouco, mas a observava demais. Cada vez que ela entrava na sala, ele parecia vacilar por um segundo antes de voltar a ser o chefe distante e profissional. Como se algo nele gritasse que já a conhecia — mas fosse incapaz de entender de onde.

— Você lembra se já trabalhou com documentos jurídicos? — ele perguntou em certo momento, os olhos fixos nos dela.

Ela hesitou.

— Acho que não. Mas algumas coisas parecem... intuitivas.

Rafael apenas assentiu, mas a dúvida crescia silenciosa em seu olhar. Ele conhecia aqueles trejeitos. Aquela forma de segurar a caneta, de franzir a testa quando concentrada. Era como ver um fantasma.

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No fim do expediente, a chuva fina voltava a cair sobre a cidade. Isadora caminhou de volta para casa envolta no próprio silêncio. A voz de Rafael ainda ecoava em sua mente, assim como o olhar dele — como se ele enxergasse algo que nem ela conseguia ver.

Ao chegar, o pai adotivo já estava dormindo. A casa estava escura, fria e silenciosa, como sempre.

Ela se enfiou no banheiro e acendeu a luz fluorescente. O espelho a recebeu com a mesma expressão confusa de sempre.

Encostou os dedos no próprio rosto.

— Quem é você? — sussurrou.

Não era só uma sensação. Era um vazio real. Como se aquele rosto não fosse exatamente o seu. Como se as feições tivessem sido rearranjadas, curadas por uma cirurgia que ela não lembrava de ter feito.

Uma cicatriz fina ainda cruzava a linha do couro cabeludo. E sob os olhos, a sombra do que poderia ter sido um trauma. Mas o que mais incomodava era a sensação de que sua memória — seu reflexo — estava mentindo.

Ela passou a mão no vidro, como se pudesse limpar a imagem e ver além.

> "Será que esse sempre foi o meu rosto?"

> "E se não for?

[..]

Naquele instante, Rafael estava chegando em casa. Tirou os sapatos, pendurou o casaco e olhou em direção à cozinha, onde ela — a mulher que ele conhecia como Clara — preparava o jantar, com aquele jeito distraído de sempre.

Ele sorriu, como se tudo estivesse bem. Como se não houvesse nada errado.

Mas havia.

Ele só não sabia ainda.

Capítulo 2

Vicente Salazar estava sentado na poltrona da sala do filho, observando o ambiente com aquela atenção silenciosa de quem já julgou muita gente pelo olhar. Rafael falava sobre reformas no escritório, mas Vicente ouvia apenas em partes. Desde que chegara, algo incomodava seus instintos aguçados.

A porta se abriu com uma leve batida.

— Com licença — disse a jovem, entrando com uma pasta nas mãos. — Os relatórios que o senhor pediu, doutor Rafael.

Rafael agradeceu com um aceno e apontou para a mesa.

— Pode deixar aí, Isadora. Obrigado.

Vicente levantou os olhos. Viu a moça atravessar a sala com passos contidos, um pouco curvada, como quem ainda não se acostumou a ocupar espaço. Havia algo nela... um traço familiar, uma expressão fugidia. Não conseguia definir. Era como um eco do passado.

Assim que ela saiu da sala, Vicente quebrou o silêncio:

— Nova auxiliar?

— Começou essa semana — disse Rafael, ajeitando papéis. — Calada, eficiente. Tímida, mas parece comprometida.

Vicente apoiou o queixo sobre a mão fechada, pensativo.

— Isadora, hein?

— Uhum.

Vicente não comentou mais. Mas por dentro, a dúvida se instalava. Aquele rosto... havia algo nele. Não era exatamente familiar, mas... próximo. Como se tivesse sido refeito com as peças erradas de um quebra-cabeça antigo.

Mais tarde, na recepção, Isadora sentou-se um instante, esperando a próxima tarefa. Havia um pequeno espelho de bolsa em sua mochila. Abriu, encarou o próprio reflexo.

Os olhos eram os mesmos, mas o contorno do rosto... o nariz, a boca... diferentes. Era como se olhasse para uma estranha com seus próprios olhos.

As lembranças do hospital vinham em fragmentos: as faixas, os tubos, o homem que ela agora chamava de pai dizendo que ela havia sobrevivido. Que seu nome era Isadora. Que a irmã não resistira.

Mas às vezes, à noite... o nome “Clara” pulsava na sua mente como um sussurro esquecido.

Ela fechou o espelho com força.

“Devo estar ficando louca”, pensou. Mas, no fundo, algo lhe dizia que a loucura talvez fosse o único caminho para a verdade.

Vicente permaneceu mais alguns minutos na sala de Rafael, fingindo estar imerso nas anotações que o filho lhe mostrava. Mas seus olhos, vez ou outra, desviavam-se para a porta por onde a moça saíra.

— Você tem o sobrenome dela? — perguntou, casualmente.

Rafael estranhou a pergunta, mas respondeu:

— Ainda não vi a ficha completa. Só sei que o nome dela é Isadora. Foi recomendada por um contato de um amigo, alguém que cuida de um orfanato. Por quê?

Vicente apenas balançou a cabeça, como quem pondera.

— Só curiosidade. Ela me pareceu... conhecida.

Rafael sorriu, descrente.

— Acho difícil, pai. Ela não é muito de aparecer por aí.

Vicente não respondeu. Mas em sua mente, a desconfiança crescia. Ele era um homem de detalhes, e havia algo nos olhos daquela garota que incomodava sua memória. Como se ela carregasse uma história que ainda não sabia contar.

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Mais tarde, já no fim do expediente, Isadora saiu do prédio segurando a bolsa contra o corpo, os ombros curvados como se o peso da própria identidade a esmagasse. A cidade à sua volta seguia no ritmo habitual, indiferente às dores que ela escondia.

No ônibus, sentou-se junto à janela e ficou olhando os reflexos das luzes noturnas no vidro. E ali, naquela distorção líquida, percebeu-se fragmentada.

“Quem eu era antes do acidente?”

A pergunta vinha todos os dias. Mas naquele instante, ela pareceu gritar.

Chegando em casa, foi direto para o pequeno banheiro do quarto onde vivia com o homem que a adotara após o acidente — o “pai” que Isadora acreditava ser verdadeiro, mas que na verdade fora apenas mais uma peça comprada por sua irmã para completar a farsa.

Acendeu a luz amarelada. O espelho sobre a pia tinha uma rachadura discreta, bem no meio da testa de seu reflexo. Encarou-se ali por um tempo que pareceu eterno.

— Quem é você? — sussurrou.

Tocou o rosto com a ponta dos dedos. Ainda não se acostumara com a nova forma. Após o acidente, houvera cirurgias. Reconstruções. "Você foi a única sobrevivente", diziam. "Isadora", repetiam. E ela acreditou. Era mais fácil acreditar.

Mas havia momentos — como aquele — em que algo em seu corpo gritava que não era verdade.

No escuro, deitada, ouviu a porta do apartamento se fechar. O homem chegava. O suposto pai. Seus passos pesados ecoando pelo corredor, tão diferentes do calor de uma lembrança que ela não sabia nomear.

Ela fechou os olhos com força.

E foi ali, no silêncio e na escuridão, que se prometeu: um dia, descobriria quem realmente era.

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