O morro pertencia a ele. Todos sabiam. Seu nome era Murilo, mas ninguém o chamava assim. No morro e fora dele, ele era conhecido apenas como Rei. Conquistou aquele território com sangue e estratégia, e agora, qualquer um que ousasse desafiar sua autoridade acabava no chão, sem direito a segunda chance.
Naquela noite, do alto do terraço de sua casa, ele observava a cidade lá embaixo, o brilho das luzes contrastando com a escuridão das vielas. Foi quando recebeu a mensagem.
"Tem visita pra você, chefe. E não é qualquer uma."
Murilo arqueou a sobrancelha. Quem ousaria subir até ali sem aviso? Desceu as escadas com calma, a Glock presa na cintura, e parou ao ver quem o esperava na sala.
Uma mulher. Mas não qualquer mulher.
Isabella Leone.
Atriz renomada, rosto de capas de revistas, estrela de novelas de horário nobre. Mas Murilo sabia que, por trás dos holofotes, ela era bem mais do que apenas uma estrela.
Ela era mafiosa. Filha de um dos maiores chefões do tráfico internacional. Uma mulher perigosa, que sabia jogar o jogo melhor do que muito homem.
— Fiquei surpresa que você me recebeu tão rápido, Rei — ela disse, com um sorriso afiado.
Murilo puxou um cigarro, acendeu sem pressa e soprou a fumaça, analisando-a. Isabella era linda, mas era seu olhar que chamava atenção: um olhar de predadora.
— E eu tô surpreso que você teve coragem de pisar aqui — ele rebateu. — O que você quer?
Ela se aproximou, parando perto o suficiente para ele sentir seu perfume, uma mistura de jasmim e perigo.
— Uma proposta — Isabella murmurou. — Seu morro tem algo que eu quero. E eu tenho algo que você precisa.
Murilo riu, descrente. Ele sabia que entrar no jogo daquela mulher significava se meter em problemas que nem mesmo a polícia ou seus inimigos no tráfico tinham conseguido trazer para ele. Mas quando seus olhos encontraram os dela, soube de uma coisa.
A partir dali, não haveria mais volta.Murilo segurou o cigarro entre os dedos, observando Isabella com cautela. Ele não confiava em ninguém, muito menos em uma mulher como ela, acostumada a se mover entre o luxo e o submundo sem perder a pose.
— E o que você acha que eu preciso? — ele perguntou, estreitando os olhos.
Isabella sorriu de lado, puxando uma cadeira para se sentar. Cruzou as pernas devagar, como se tivesse todo o tempo do mundo.
— Informação.
Murilo não demonstrou surpresa, mas por dentro ficou alerta. Informação era a coisa mais valiosa no jogo deles.
— Continua — ele pediu, jogando a cinza do cigarro no chão.
— Meu pai sempre soube que você é inteligente. Subiu rápido, soube fazer aliados e eliminou quem precisava. Mas tem um problema no seu caminho.
Murilo manteve a expressão fechada, mas agora prestava atenção de verdade.
— A polícia? Meus rivais? Isso não é novidade.
— Não — Isabella negou. — O problema se chama Carlos Medina.
Murilo ficou em silêncio. Carlos Medina era um figurão da política, candidato forte a governador e, nos bastidores, um dos maiores financiadores do crime organizado. Só que ultimamente, ele estava mudando as regras. Fechando negócios, traindo acordos antigos.
— Você quer ele fora do jogo — Murilo concluiu.
— Quero — Isabella confirmou. — E sei que você também quer.
Ela se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.
— Eu tenho provas que podem acabar com ele. Mas preciso da sua rede pra fazer isso sem que meu nome apareça.
Murilo soltou uma risada baixa.
— E o que eu ganho com isso?
Isabella sorriu de um jeito perigoso.
— Medina tá financiando um dos seus maiores rivais. Se ele cair, você toma o controle total da zona sul.
Murilo encarou Isabella por alguns segundos. Ele não gostava de se envolver com políticos, mas se isso significava se livrar de uma ameaça e expandir seu território, talvez valesse a pena.
— E se eu disser não?
O sorriso de Isabella se alargou.
— Então eu subo esse morro de novo, mas da próxima vez, não pra conversar.
O silêncio se instalou entre os dois. Murilo então riu baixo e apagou o cigarro no cinzeiro de vidro.
— Você tem coragem, Leone.
Ela piscou, provocante.
— Eu sou o perigo, Rei.
Murilo se levantou, pegando um copo de whisky sobre a mesa. Ele tomou um gole e então estendeu a mão para Isabella.
— Negócio fechado.
Ela apertou a mão dele sem hesitar.
Naquele momento, uma aliança perigosa foi selada.
E ninguém sairia ileso.
Murilo passou a mão na barba, pensativo. Fechar um acordo com Isabella Leone era como assinar um pacto com o próprio diabo. Mas ele gostava do jogo. Gostava do risco.
— Preciso ver essas provas — ele disse, servindo mais whisky.
Isabella pegou o celular e deslizou o dedo pela tela. Depois, estendeu o aparelho para ele. Murilo pegou e olhou atentamente.
E então, estreitou os olhos.
Nas fotos, Carlos Medina aparecia em reuniões com um velho conhecido: Rubens Andrade, um dos chefões do tráfico rival, que há anos tentava derrubar Murilo e assumir o controle do morro.
Mas não era só isso.
Entre as imagens, um rosto conhecido fez o sangue de Murilo ferver.
Fernando Rocha.
Ex-parceiro. Ex-amigo. Traidor.
Murilo entregou o celular de volta a Isabella, sem mudar a expressão. Mas por dentro, já tomava decisões.
— Isso é bom — ele murmurou.
— É o suficiente pra acabar com Medina — Isabella disse, observando cada movimento dele. — E pra te dar a chance de acabar com seu traidor.
Murilo encarou Isabella.
— Por que você tá fazendo isso?
Ela sorriu de canto.
— Negócios, Rei. Medina tá mexendo com coisas que não devia. Meu pai quer ele fora. E eu também.
Murilo segurou o copo com força.
— Isso aqui vai virar guerra.
Isabella deu de ombros.
— Então que vire. Só quero saber se você tá dentro ou não.
Murilo ficou em silêncio por um instante. Depois, bebeu o whisky de um gole só e jogou o copo sobre a mesa.
— Tô dentro.
Isabella sorriu.
— Ótimo. Porque eu já comecei a mexer as peças.
Murilo franziu a testa.
— Como assim?
Ela se levantou, pegando a bolsa.
— Medina e Rubens têm um carregamento de armas chegando no porto amanhã à noite. Se ele desaparecer, vai ser o primeiro golpe na queda deles.
Murilo riu baixo.
— Você é mais perigosa do que eu imaginava.
Isabella piscou.
— Eu sou uma Leone. A gente nasceu pro jogo.
Murilo gostava daquilo.
E gostava ainda mais da ideia de ver seus inimigos caindo um por um.
Ele pegou o celular e mandou uma mensagem para seus homens.
"Reúnam todo mundo. Amanhã, o porto é nosso."A noite caiu sobre a cidade como um véu de sombras. O porto, iluminado por luzes amareladas, estava movimentado. Caminhões iam e vinham, carregando contêineres, enquanto seguranças armados rondavam o perímetro.
Murilo e seus homens observavam de um ponto alto, escondidos na escuridão. Ao lado dele, Isabella Leone estava impecável, mesmo vestida de preto e com uma pistola na cintura.
— Eles não desconfiam de nada — Murilo comentou, olhando pelo binóculo.
— Medina acha que ninguém ousaria mexer com ele — Isabella respondeu. — Mas hoje a gente muda isso.
Murilo abaixou o binóculo e olhou para seus homens.
— Vocês já sabem o plano. Sem deixar rastro. Pegamos as armas e sumimos antes que a polícia se mova.
Os olhares determinados responderam por eles. Então, Murilo deu o sinal.
A primeira explosão sacudiu o porto. Uma bola de fogo subiu ao céu, espalhando pânico. Os seguranças correram para entender o que estava acontecendo. E foi nesse momento que Murilo e seus homens avançaram.
Tiros cortaram o ar. Gritos ecoaram entre os contêineres. Murilo se movia com precisão, disparando contra qualquer inimigo que se colocasse no caminho.
Isabella não ficou atrás. Ela se protegeu atrás de um caixote e atirou em um dos capangas de Rubens, acertando a cabeça com um único disparo certeiro.
— Você atira bem, Leone — Murilo comentou, recarregando sua Glock.
— Eu nunca erro — ela respondeu com um sorriso frio.
Os minutos seguintes foram um caos. Os capangas de Medina tentaram reagir, mas Murilo e Isabella eram rápidos, letais. Um a um, os inimigos caíam.
Até que um grito chamou a atenção de Murilo.
— Rei! Cuidado!
Murilo se virou a tempo de ver um homem apontando uma arma para ele. O tiro foi disparado.
Mas Isabella foi mais rápida.
Ela puxou Murilo pelo braço, desviando-o da bala, e atirou de volta. O inimigo caiu sem vida.
Murilo a encarou, surpreso.
— Me salvando, Leone?
Isabella sorriu.
— Eu preciso de você vivo... por enquanto.
Antes que ele respondesse, um dos seus homens apareceu correndo.
— Pegamos as armas, chefe! Tá na hora de sair!
Murilo assentiu.
— Recua! Todo mundo pro ponto de encontro!
Em minutos, os carros saíram do porto a toda velocidade, desaparecendo nas ruas da cidade.
Na madrugada silenciosa, Murilo dirigia, Isabella no banco do passageiro.
— Isso foi só o começo — ela disse, olhando para ele.
Murilo sorriu, ainda sentindo a adrenalina no sangue.
— Então que venha o resto.
E naquele momento, uma coisa ficou clara: juntos, eles eram imparáveis.
O carro cortava as ruas escuras da cidade, indo em direção ao esconderijo de Murilo. Isabella ajeitou a pistola na cintura, ainda sentindo o cheiro de pólvora na pele.
— Você dirige bem — ela comentou, olhando de canto para ele.
Murilo riu baixo, os olhos ainda atentos na estrada.
— E você atira melhor do que muita gente que eu conheço.
Ela sorriu.
— Eu aprendi com os melhores.
O silêncio se instalou por alguns segundos. Mas antes que pudessem chegar ao destino, Isabella percebeu algo pelo retrovisor.
— Tem um carro seguindo a gente.
Murilo olhou rapidamente pelo espelho. Um sedan preto mantinha a mesma velocidade deles, sem ultrapassar.
— São deles — ele murmurou.
Ele acelerou. O carro de trás fez o mesmo.
— Segura — ele avisou.
Em um movimento rápido, Murilo girou o volante, entrando em um beco estreito. O sedan tentou seguir, mas foi bloqueado por um caminhão que passava.
Murilo e Isabella saíram do carro.
— Eles vão tentar dar a volta — Isabella disse. — Precisamos sair daqui.
Murilo pegou a arma e acenou com a cabeça.
— Vem comigo.
Os dois correram pelo beco, subindo por uma escada de incêndio até o topo de um prédio. De lá, puderam ver dois homens descendo do sedan, armados.
— Medina mandou os cães atrás da gente — Isabella murmurou.
Murilo apontou a Glock, mirando no primeiro deles.
— Então vamos ensiná-los a não morder.
Dois tiros ecoaram na noite. Um dos homens caiu na hora. O outro tentou se esconder, mas Isabella já tinha sacado sua arma.
— Vai dormir, querido.
Um único disparo.
Silêncio.
Murilo guardou a arma e olhou para Isabella.
— Você se diverte com isso, né?
Ela sorriu, passando a mão no cabelo.
— E você não?
Murilo riu.
— Acho que a gente vai se dar muito bem, Leone.
Ela piscou.
— Eu não teria tanta certeza, Rei.
Eles desceram do prédio e entraram no carro. Tinham acabado de vencer a primeira batalha.
Mas a guerra estava só começando.O esconderijo de Murilo ficava em uma casa discreta no alto do morro, longe de olhares curiosos. Assim que entraram, ele pegou uma garrafa de whisky e serviu dois copos.
— Precisamos planejar o próximo passo — ele disse, entregando um copo a Isabella.
Ela pegou sem hesitar, bebendo um gole antes de encará-lo.
— Medina já sabe que mexemos com ele. Ele não vai deixar barato.
Murilo assentiu.
— Então temos que agir antes.
Ele pegou um cigarro, acendendo devagar. Isabella o observava com atenção.
— Você já tem um plano, não tem? — ela perguntou.
Murilo soltou a fumaça e sorriu de canto.
— Vamos fazer Medina acreditar que tem um traidor entre os próprios homens.
Isabella arqueou a sobrancelha.
— Intrigante. Como pretende fazer isso?
Murilo pegou o celular e abriu uma foto.
— Esse é o Rodolfo Ventura, segurança pessoal de Medina. Ele já andou reclamando do salário baixo e da falta de reconhecimento.
Isabella entendeu na hora.
— Vamos plantar provas contra ele.
Murilo sorriu.
— Exatamente. Quando Medina começar a desconfiar dos próprios aliados, ele vai baixar a guarda. E é aí que acabamos com ele.
Isabella pegou o copo de whisky e brindou com ele.
— Você realmente pensa como um rei.
Murilo bebeu, olhando para ela.
— E você, como uma rainha.
A tensão no ar era palpável. Mas naquele momento, o que importava era o jogo que estavam prestes a ganhar.
A guerra estava esquentando.
E eles estavam prontos para queimar tudo.
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