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A Última Estrela de Lysvar

A Marca da Profecia

Capítulo 1 – A Marca da Profecia

O céu sobre Lysvar ardia em tons de dourado e carmesim quando Elara sentiu a queimadura pela primeira vez. O calor surgiu do nada, pulsando em sua clavícula como se algo antigo despertasse sob sua pele.

Ela caiu de joelhos entre as ervas medicinais, ofegante.

— Pelo amor dos Deuses... o que está acontecendo comigo?

A dor era estranha, quase sedutora, como se não fosse apenas física, mas chamasse por algo... ou alguém.

— Elara? — A voz de Lysandor, o velho sacerdote, soou atrás dela. — Você está bem?

Ela tentou se levantar, escondendo o rubor em suas bochechas e a marca que agora brilhava em dourado sob a pele.

— Estou... é só o calor — mentiu, apertando a capa contra o peito. — Deve ser o sol.

Mas não era o sol. E ela sabia disso.

Lysandor se aproximou com o cenho franzido, seus olhos opacos lendo algo além do visível.

— Você sentiu, não é?

Elara congelou.

— Sentir o quê?

— A marca da profecia. Ela escolheu você.

Ela se virou bruscamente.

— Isso é só uma lenda. Uma história para assustar crianças.

Lysandor segurou o queixo dela com delicadeza, inclinando sua cabeça para que a luz revelasse a marca — um círculo envolto em chamas douradas, exatamente como nos antigos textos.

— Nem todas as lendas são mentira, minha menina.

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Mais tarde naquela noite, Elara fugiu do templo. Precisava respirar, precisava pensar. O frio da floresta trazia algum alívio, mas seu corpo ainda queimava com o traço mágico que agora latejava, quase como um segundo coração.

Ela caminhou até o riacho e se ajoelhou na margem. Tirou a capa e puxou o colarinho da túnica, expondo a marca ao luar.

— Você vai me destruir... ou me libertar? — murmurou para o reflexo trêmulo na água.

— Eu diria as duas coisas — respondeu uma voz masculina logo atrás dela.

Elara girou de imediato, os olhos arregalados. Um homem de cabelos escuros e olhos prateados a observava da sombra das árvores. Ele usava um manto negro, mas a luz da lua revelava uma armadura de couro desgastado e uma lâmina presa à cintura.

— Quem é você? — ela exigiu, recuando.

Ele deu um passo adiante, mas manteve as mãos visíveis.

— Kael. Exilado, traidor, monstro... escolha o título que preferir.

Ela estreitou os olhos.

— E por que está me seguindo?

— Porque você brilhou, Elara. Como uma estrela em chamas. É impossível não ver... impossível não sentir.

Ela se arrepiou. Não apenas pela forma como ele a olhava, mas pela verdade em suas palavras.

— Como sabe meu nome?

— O mesmo jeito que você sabe que a marca não é só uma queimadura. Está em nós, agora. Conectados.

Elara se ergueu lentamente.

— Você tem uma também?

Ele puxou a gola da camisa e mostrou a marca idêntica, mais escura, quase como fogo negro. E por um momento, o mundo pareceu parar de girar.

— Isso é impossível...

Kael se aproximou mais um passo.

— Nada é impossível para os escolhidos pela profecia.

— Eu não pedi isso.

— Nem eu. Mas aqui estamos.

O silêncio entre eles ficou denso, carregado. Elara sentia o coração martelar. O jeito como ele a olhava... como se pudesse vê-la por dentro.

— Você está com medo de mim? — ele perguntou, com um meio sorriso.

— Estou com medo de tudo isso — ela admitiu. — De você... da marca... de mim mesma.

Kael inclinou a cabeça, a voz agora mais baixa, mais rouca.

— Talvez devesse estar. Eu não sou um herói, Elara.

Ela deu um passo em sua direção, mesmo sem entender por quê.

— E por que está aqui, então?

— Porque, desde que senti sua marca, não consigo pensar em mais nada. Porque há algo em você que grita dentro de mim... e porque se a profecia nos uniu, talvez seja por um motivo maior do que eu quero admitir.

Elara prendeu a respiração. Havia algo naquele homem que chamava por ela, como o eco de uma lembrança que nunca viveu. E, mesmo sabendo que aquilo era insano, que era perigoso...

— Você devia ir embora — ela disse, com a voz trêmula.

Kael sorriu de lado.

— Você quer que eu vá?

Ela hesitou. E essa hesitação era sua resposta.

Ele se aproximou até ficar a apenas alguns centímetros dela. A respiração de ambos se misturava no ar gelado.

— Se me disser para ir, eu vou — disse ele, com firmeza. — Mas diga de verdade.

Elara o encarou. Seus olhos prateados eram como espelhos que refletiam partes dela que ela nem sabia existir. Partes famintas. Perdidas.

Ela engoliu em seco.

— Fique.

Kael ergueu a mão lentamente e tocou o contorno da marca em sua clavícula. O toque dele era quente, quase reverente.

— Isso vai mudar tudo, Elara.

Ela fechou os olhos por um instante, sentindo o calor se espalhar por dentro, como um fogo calmo.

— Então queime comigo.

E ali, sob a luz da lua e os murmúrios do destino, o primeiro elo entre luz e sombra foi selado.

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O Guerreiro Exilado

Capítulo 2 – O Guerreiro Exilado

A floresta parecia diferente naquela manhã. As árvores sussurravam em uma língua esquecida, e a luz que filtrava pelas copas oscilava como se o mundo não tivesse certeza de que dia era. Elara caminhava ao lado de Kael, mas cada passo ao lado dele era um lembrete do quanto sua vida mudara em apenas uma noite.

— Você sempre aparece no escuro? — ela perguntou, tentando quebrar o silêncio tenso.

Kael arqueou uma sobrancelha.

— Eu sou das Terras Sombrias. É natural.

— Isso não é exatamente reconfortante.

— Não estou aqui para te confortar, Elara — ele respondeu, sem olhar para ela.

Ela parou no meio da trilha.

— Então por que está aqui? Por que não fugiu para a floresta e deixou tudo para trás?

Ele parou também, os olhos prateados fixos nos dela.

— Porque a profecia nos uniu. Porque a marca pulsa toda vez que você respira. Porque, por algum motivo, o destino decidiu brincar com um guerreiro quebrado e uma curandeira cheia de luz.

— Não sou feita de luz — ela murmurou.

— Não? Então por que me cega quando me olha assim?

O silêncio caiu entre eles de novo, denso, carregado. Elara sentia as palavras de Kael como faíscas na pele. Não era apenas o que ele dizia, mas como dizia — como se ela fosse uma força da natureza que ele mal conseguia controlar.

Eles continuaram a caminhada até chegarem a uma clareira esquecida, onde as pedras formavam um círculo antigo. Símbolos estavam gravados nas rochas — a mesma espiral de chamas que marcava suas peles.

— Este é o Círculo dos Selados — Kael disse, olhando ao redor. — Foi aqui que os portadores da marca se encontraram pela última vez, há mais de mil anos.

Elara se aproximou das pedras, sentindo uma vibração estranha sob os pés.

— E o que aconteceu com eles?

— Morreram. Uns pelas mãos dos próprios reinos. Outros... um pelo outro.

Ela se virou devagar.

— Você diz isso como se estivesse acostumado a perder.

Kael caminhou até ela, sem pressa. Seus dedos tocaram levemente a marca na clavícula dela, como na noite anterior.

— Eu sou. Mas não quero perder isso.

Elara quase recuou — quase. Mas havia algo na presença dele que a ancorava, que a puxava como correnteza. Ela não sabia o que era mais perigoso: o destino... ou Kael.

— E o que exatamente é isso? — ela sussurrou.

Ele a olhou como se ela fosse feita de estrelas.

— É a única coisa que me faz sentir vivo desde que fui exilado.

Ela prendeu a respiração. Os olhos dele não vacilavam, e Elara podia sentir o calor entre eles, denso, eletrizante.

— Kael... eu não sei se posso confiar em você.

— Então me teste.

— Como?

— Fique perto. E escute o que seu corpo diz.

Elara sentiu o rosto corar. As palavras dele não eram vulgares — eram cruas, intensas, sinceras. E, mesmo que quisesse negar, havia uma parte dela que já estava ouvindo.

— Isso é loucura — ela disse.

Kael sorriu, lento, perigoso.

— Tudo o que vale a pena é.

Ela se afastou um passo, tentando manter a sanidade. Precisava de clareza. Precisava de ar.

— Preciso... pensar.

— Pensar pode ser traiçoeiro. Sentir é mais honesto.

Elara virou-se e caminhou até uma das pedras, sentando-se com as mãos no colo. O mundo estava mudando rápido demais, e ela estava no centro de algo que não compreendia completamente.

Kael sentou-se a alguns passos dela, mantendo a distância, mas não o olhar.

— Você quer saber por que fui exilado?

Ela o encarou.

— Se quiser me contar.

Ele apoiou os cotovelos nos joelhos e olhou para o chão.

— Porque amei uma princesa. E matei o irmão dela para protegê-la.

Elara ficou em silêncio. Não esperava algo assim.

— E ela?

— Me denunciou. Disse que eu era perigoso. Que eu... a enfeitiçara.

— E você?

Ele a olhou nos olhos.

— Eu só queria que ela fosse livre. Mesmo que isso significasse ser preso pelas correntes que eu mesmo criei.

Elara sentiu algo apertar no peito. Havia verdade demais naquela voz. Dor demais.

— E agora?

Kael se aproximou um pouco mais.

— Agora vejo você. Com sua luz, sua força. E quero acreditar que talvez, só talvez, eu tenha outra chance de fazer certo.

Ela não recuou quando ele encurtou a distância. Não protestou quando ele ergueu a mão e acariciou de leve uma mecha do cabelo dela.

— Você me assusta, Kael.

— Porque vê algo em mim... ou porque sente algo?

Ela engoliu em seco.

— Ambos.

Ele se inclinou levemente, a respiração quente roçando o rosto dela.

— Então estamos empatados.

Por um segundo, Elara achou que ele fosse beijá-la. O mundo parou. O som da floresta desapareceu. Apenas o coração dela martelava no peito, e a marca queimava como fogo líquido.

Mas Kael se afastou.

— Ainda não — disse, com um sorriso leve e um olhar faminto. — Quando você me beijar, Elara... vai ser porque quer. Não porque o destino mandou.

E, com isso, ele se levantou, deixando-a ali, no meio das pedras antigas e da confusão em seu peito.

Elara passou a mão sobre a marca e sussurrou para si mesma:

— O que eu estou

Luz e Sombra

Capítulo 3 – Luz e Sombra

O silêncio da noite era cortado apenas pelo farfalhar das folhas sob os pés de Elara. A escuridão parecia mais densa do que de costume, como se o próprio mundo prendesse a respiração à espera do inevitável. Ao seu lado, Kael caminhava em silêncio, mas sua presença era tudo menos tranquila.

Desde o momento em que se afastara dela no Círculo dos Selados, algo entre eles havia mudado. Havia mais que tensão ali; havia um desejo contido, faminto, que crescia a cada olhar trocado, a cada silêncio carregado de significado.

— Para onde estamos indo? — ela perguntou, quebrando o som do vento.

— Para a fronteira. — A voz dele era baixa, grave. — Preciso te mostrar o que separa nossos mundos... o que a profecia exige de nós.

— E você acha que estou pronta?

Kael parou e virou-se para ela. Seus olhos prateados a fitaram com intensidade.

— Ninguém está pronto, Elara. Mas você é necessária. E isso... isso não espera ninguém.

Ela segurou o olhar dele por um instante. Queria desafiá-lo, mas parte dela já havia se rendido. A marca ainda queimava suavemente em sua clavícula, pulsando no mesmo ritmo do coração.

— Mostre-me, então — ela disse. — Mas não esconda nada de mim.

Um leve sorriso curvou os lábios de Kael.

— Nunca conseguiria.

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Horas depois, chegaram a um desfiladeiro escondido pela névoa. Do outro lado, uma muralha natural de pedras negras se erguia como garras contra o céu. Entre os dois mundos, uma ponte antiga feita de cipós encantados os separava — fina, trêmula, e claramente instável.

— Essa é a Fronteira? — Elara perguntou, espantada. — É isso que divide Lysvar das Terras Sombrias?

Kael assentiu, os olhos fixos na ponte.

— A ponte só se mantém de pé para quem tem sangue de ambos os lados. E agora... você também carrega isso.

Ela arregalou os olhos.

— Eu não...

— A marca fez isso. Ela nos conecta. Parte de mim... agora vive em você. E o contrário também é verdade.

Elara sentiu um arrepio na nuca. Era como se uma onda mágica passasse por sua pele.

— O que tem do outro lado?

— Verdades. Memórias. E perigos que fariam você questionar o que acredita ser bom ou mau.

— E você? Já cruzou?

Kael desviou o olhar.

— Só uma vez. E nunca voltei o mesmo.

Elara deu um passo à frente, mas ele segurou seu pulso.

— Não vá ainda. Quero que esteja preparada.

Ela olhou para ele, tão perto que podia sentir o calor do corpo dele.

— Então me prepare — sussurrou.

Kael a puxou suavemente para mais perto. Suas mãos repousaram em sua cintura com firmeza, mas sem pressa. O toque era respeitoso... e cheio de desejo contido.

— Você sabe o que está dizendo? — ele murmurou, o rosto a centímetros do dela.

— Sei que nunca senti isso com ninguém — ela respondeu. — E sei que isso aqui... seja o que for... é real.

Kael roçou a ponta dos dedos pela linha do maxilar dela.

— Você me desmonta com palavras, Elara.

Ela sorriu, os lábios quase tocando os dele.

— Então me reconstrua.

E, naquele instante, ele a beijou.

Não havia hesitação. O beijo era faminto, urgente, como se ambos tivessem esperado a vida inteira por aquele momento. Os dedos de Kael se entrelaçaram nos cabelos dela enquanto ela se apertava contra ele, sentindo cada batida do coração, cada centímetro de calor.

O mundo sumiu. Só existiam os dois — luz e sombra entrelaçadas, ardendo como chamas em meio à névoa.

Quando se separaram, ofegantes, os olhos de Kael estavam diferentes. Mais escuros. Mais intensos.

— Você é perigosa — ele disse, a voz rouca. — Vai me fazer quebrar todas as promessas que fiz a mim mesmo.

Elara deslizou os dedos pelo peito dele.

— Então quebre. Por mim.

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Atravessar a ponte foi como mergulhar em um sonho estranho. A névoa parecia sussurrar em línguas antigas, e a magia vibrava nos ossos de Elara. Do outro lado, o cenário era completamente diferente — o céu era mais escuro, mas as estrelas brilhavam como nunca. As árvores tinham folhas negras com veios dourados, e um lago cintilava ao longe, pulsando com energia.

— Bem-vinda às Terras Sombrias — Kael disse, observando cada reação dela.

Elara andou alguns passos e se abaixou para tocar o solo. A terra parecia viva. Pulsante. Quente.

— Isso aqui é lindo — ela murmurou. — Mas... há algo errado.

Kael assentiu.

— Esta terra foi amaldiçoada. Uma guerra antiga dividiu os reinos. E os que aqui vivem... pagam o preço até hoje.

Eles caminharam até uma pequena cabana escondida entre as árvores. Kael abriu a porta com cuidado, como se estivesse retornando a um lugar que doía.

— Aqui era onde eu morava antes de... tudo.

Elara entrou. A casa era simples, mas aconchegante. Havia peles sobre a cama, livros antigos sobre uma mesa, e uma lareira apagada. Ela se virou para ele, os olhos mais suaves agora.

— Kael... como foi crescer aqui?

Ele suspirou e sentou-se na borda da cama.

— Solitário. Sempre senti que algo me chamava além das montanhas. Algo que não pertencia a este mundo. E agora sei... era você.

Elara se aproximou e sentou ao lado dele.

— Eu também sentia isso. Como se algo estivesse faltando.

Kael olhou para ela, e o mundo parou de novo.

— Talvez... nós sejamos a peça perdida um do outro.

Ela o beijou novamente, com mais doçura dessa vez. Não havia pressa, só certeza. As mãos de Kael deslizaram para sua cintura, puxando-a com delicadeza para mais perto. Elara sentou-se em seu colo, e os dois se entrelaçaram como raízes antigas reencontrando o chão.

Os beijos ficaram mais profundos, as mãos mais ousadas, mas sempre com uma reverência estranha — como se tocassem algo sagrado.

Kael a deitou entre as peles, o corpo acima do dela, mas não avançou além do que ela permitia. Seus olhos ardiam com desejo, mas ele esperava. Honrava cada suspiro, cada sinal.

— Se quiser que eu pare... — ele sussurrou.

— Não quero — ela respondeu, puxando-o para mais perto.

O calor entre eles se tornou um fogo antigo. E quando, enfim, se entregaram um ao outro, foi como se o próprio destino sussurrasse em aprovação.

Luz e sombra, unidos.

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Horas depois, Elara repousava sobre o peito de Kael, ouvindo o ritmo do coração dele.

— O que acontece agora? — ela perguntou.

— Agora? Esperamos o mundo nos caçar — ele disse com um sorriso triste.

— Eles vão tentar nos separar?

— Eles sempre tentam. Mas desta vez... eu não vou permitir.

Ela ergueu o rosto e o beijou suavemente.

— Nem eu.

Do lado de fora, a floresta escurecia. Algo se aproximava. As sombras dançavam entre as árvores com mais pressa, e a marca em suas peles começou a pulsar em alerta.

Kael se levantou rapidamente, vestindo a armadura com movimentos hábeis.

— Temos que sair daqui. Eles nos encontraram.

— Quem? — Elara perguntou, já se vestindo.

— Os Caçadores da Luz. Eles acham que você deve morrer para que o equilíbrio se mantenha.

Ela empalideceu.

— E o que fazemos?

Kael segurou sua mão.

— Corremos. Lutamos. Sobrevivemos. Juntos.

E assim, entre beijos roubados e juras sussurradas, Elara e Kael fugiram pela escuridão, com as estrelas como guia e a profecia queimando viva entre seus corações.

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