Livro 1: CASADA COM A MÁFIA'
Livro 2: ALANA INFILTRADA NA MÁFIA
Este livro é a continuação de Casada com a Máfia.
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Vamos a mais este livro.
A mala já estava pronta desde a noite anterior.
Não era pesada. Apenas o essencial: algumas roupas, meu caderno de anotações, uma foto da turma do orfanato e um envelope com o nome Helena Moretti.
Lá tinha o contato dela, pois Helena disse se quando eu estivesse morando na Itália, viesse a precisar dela, ela me ajudaria.
Ela não estava presente naquele dia, mas todo o orfanato carregava sua marca.
As janelas amplas, os corredores iluminados, os brinquedos, os livros… tudo ali existia por causa dela. A mulher que um dia esteve no meu lugar — e que hoje dava a outras meninas como eu a chance de recomeçar.
A diretora entrou no quarto com um sorriso suave e os olhos marejados.
— Alana… eles chegaram.
Sim o casal que iria me adotar, eles vieram me levar com eles para Itália.
Assenti com um nó na garganta. Peguei a mala e desci as escadas com o coração acelerado.
Na sala de visitas estavam Chiara e Vittore Romano, o casal italiano que havia sido aprovado no processo de adoção internacional. Eles pareciam saídos de um livro antigo: elegantes, gentis e com um olhar cheio de serenidade.
— Alana? — disse Chiara, aproximando-se com ternura. — Esta pronta, para iniciar uma nova vida?
— Sim, senhora!
— Por favor, me chame de Chiara. E este é meu marido, Vittore.
Ele estendeu a mão com respeito e um sorriso sincero.
— Sabemos que não é fácil confiar em estranhos, mas viemos para acolher você como filha, se nos permitir.
Eu não disse nada. Apenas assenti com um leve sorriso. Pela primeira vez, senti que não precisava me defender.
A diretora se aproximou e colocou a mão no meu ombro.
— Helena Moretti pediu que eu te entregasse isso. — Ela me entregou um pequeno envelope. Dentro, um cartão simples:
"Alana,
Não é o lugar que define quem você é,
mas o que você escolhe ser onde quer que vá.
Não esqueça de me procurar, se precisar.
Com carinho,
Helena Moretti."
Engoli em seco.
— Obrigada… por tudo! — Eu Disse abraçando a diretora do orfanato que sempre foi muito carinhosa comigo
— Boa sorte Alana!
Quando saímos pelos portões do orfanato, olhei para trás por um instante. Havia meninas acenando das janelas, outras abraçando bichinhos de pelúcia, e o prédio branco com o símbolo do abrigo estampado no alto, como um farol.
Fechei os olhos e respirei fundo.
Naquele dia, deixei o Brasil…
Mas levei comigo o coração inteiro.
Porque sabia que meu destino estava apenas começando.
O voo foi longo, mas não cansativo. Meus olhos estavam grudados na janela o tempo todo, como se precisassem registrar cada nuvem, cada oceano, cada pedaço do mundo que eu deixava para trás.
Aterrissamos em Florença numa manhã fria e clara. O céu era de um azul que eu nunca tinha visto antes, como se fosse pintado à mão.
Chiara me ajudou a vestir um casaco grosso ainda dentro do avião.
— Vai sentir um ventinho gelado, mia cara.
E sentia mesmo. Um arrepio que não vinha só do clima, mas da novidade. Do desconhecido. Do futuro.
No caminho para a casa deles, fui olhando tudo pela janela do carro. As ruas de pedra, as construções antigas, as janelas com vasos de flores, os cafés elegantes... era tudo tão diferente do bairro simples onde cresci.
— Aqui é seu lar agora, Alana — disse Vittore, ao apontar para uma casa de dois andares com muros baixos cobertos por heras verdes. Era linda. Acolhedora. Tinha até uma bicicleta encostada na varanda e cortinas brancas que balançavam com o vento.
Chiara me mostrou o quarto. Era o mais iluminado da casa, com janelas largas, uma escrivaninha perto da estante cheia de livros em italiano e inglês, e uma colcha lilás com flores bordadas.
— Esperamos que você se sinta confortável. Montamos tudo com muito carinho.
— É… lindo. — minha voz saiu num sussurro.
Pousei a mala no chão, mas não tive coragem de abrir. Me sentei na beira da cama e fiquei olhando o ambiente. Por dentro, tudo era silêncio. Mas não o silêncio do medo, e sim o da paz. Do recomeço.
Chiara apareceu na porta e disse com delicadeza:
— Você tem tempo. Ninguém espera que se sinta em casa de um dia para o outro. Mas saiba que… o que for difícil, enfrentaremos juntas.
Assenti, sentindo meus olhos se encherem.
— Eu… só quero uma chance de provar que posso dar certo.
Vittore se aproximou e disse com firmeza:
— Você não precisa provar nada, Alana. Só viver. E deixar que a gente aprenda a te amar do jeito certo.
Saí do quarto pouco depois. Chiara preparava chá. Vittore lia o jornal. Era tudo simples… e tudo o que eu precisava.
E ali, naquela sala com cheiro de bolo recém-saído do forno e som de chaleira no fogão, percebi:
Minha história na Itália havia começado.
E dessa vez, quem ia escrever cada linha… era eu.
Está é Alana, um rosto angelical, depois de acolhida no orfanato, ela conseguiu buscar forças, para esquecer o triste passado, junto com sua família Biológica.
Sua mãe vivia embriagada, passava dias na rua, usando drogas. E seu pai, batia muito nela, e por várias vezes tentou abusar da própria filha.
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No segundo dia na Itália, acordei com o som de risadas vindo da cozinha. O cheiro de café fresco e pão com manteiga invadia o corredor. Vesti o casaco e desci as escadas devagar.
Quando virei o corredor, dei de cara com dois rostos que eu ainda não conhecia.
— Alana! — exclamou Chiara, com um sorriso acolhedor. — Estes são nossos filhos: André e Bianca.
André foi o primeiro a se levantar. Tinha um sorriso fácil, olhos cor de mel e uma postura que transmitia calma.
— Seja bem vinda irmãzinha! — Disse André.
Sorri, sentindo um calor bom no peito.
— Obrigada… é muito bom conhecer você.
Ele se aproximou e me deu um abraço rápido, sincero. E então se afastou para dar espaço a Bianca.
Ela permaneceu sentada, mexendo distraidamente na xícara de chá. Seus cabelos loiros estavam presos num coque impecável, a maquiagem era sutil, mas presente. Seu olhar pousou em mim como quem analisa uma peça nova numa vitrine.
— Prazer — disse ela, com um sorriso forçado. — Espero que esteja gostando da casa.
— Estou sim, é tudo muito… bonito — respondi, tentando manter o tom calma.
Bianca assentiu, levantou-se com elegância, deu dois passos até mim e me cumprimentou com um beijo no rosto rápido, mecânico.
— Meus pais falaram muito sobre você — disse ela, olhando rapidamente para Chiara. — E sobre a sua… história.
— Bianca — disse Vittore com delicadeza, mas firmeza — isso não é necessário agora.
— Claro, papai.Só estou sendo gentil — respondeu ela, mas sua voz soou afiada, quase fria.
André soltou uma risadinha desconfortável e tentou aliviar o clima:
— Alana, se precisar de ajuda com o italiano ou com os lugares da cidade, pode contar comigo. Sou seu guia oficial agora.
— Obrigada, André. Vai ser bom ter alguém pra me ajudar.
Chiara segurou minha mão e me olhou nos olhos.
— A adaptação leva tempo, Alana. Cada um vai encontrar seu ritmo… inclusive Bianca, tenho certeza de que vocês duas serão ótimas amigas.
Olhei para Bianca, que já voltava a sentar-se à mesa, agora com o celular em mãos, como se o assunto estivesse encerrado.
Era claro: nem todos estavam prontos para me aceitar ali.
Mas tudo bem. Eu conhecia bem o sabor da resistência. E também sabia que, muitas vezes, os laços mais fortes são os que nascem depois da dor.
E naquele momento, decidi:
eu não precisava que Bianca me amasse.
Apenas que me respeitasse.
E eu conquistaria isso com o tempo.
O fim de semana chegou, e Chiara me chamou para um passeio especial.
— Queremos te mostrar um pouco mais da nossa cidade, Alana. Um dia só nosso, em família. O que acha?
Sorri, um pouco tímida.
— Eu adoraria.
No entanto, quando subi para me arrumar, meu coração apertou. Abri minha mala e fiquei ali parada por longos minutos.
Tinha poucas roupas. Nada muito bonito. Nada que parecesse adequado para sair com uma família tão elegante quanto os Romanos.
Escolhi minha melhor blusa — uma camisa simples, branca, já um pouco gasta — e uma calça jeans escura. Prendi o cabelo com um elástico simples e desci.
Quando Chiara me viu parada na porta, com as mãos entrelaçadas e os olhos hesitantes, ela percebeu tudo.
Seu olhar percorreu meu corpo com delicadeza e logo seu sorriso se suavizou.
— Está linda, Alana. Mas antes de conhecermos os pontos turísticos, acho que temos uma paradinha pra fazer.
Bianca apareceu pouco depois, impecável como sempre: vestido bege justo, bolsa de grife, maquiagem discreta. Ela lançou um olhar rápido pra mim e logo virou os olhos.
— Vamos sair mesmo assim? — murmurou, mas Chiara ignorou o comentário.
Este é André Vinte anos.
Já no carro, André tentou quebrar o clima:
— Prepare-se para ver uma das cidades mais bonitas do mundo. E sim, isso inclui uma parada estratégica no shopping.
— Shopping? — perguntei, surpresa.
— Roupa nova, minha filha— disse Chiara. — Toda nova fase merece novos símbolos. E você merece se sentir confortável com quem você está se tornando.
Meus olhos se encheram. Pela primeira vez, alguém percebia meu constrangimento sem que eu precisasse explicar. Era acolhimento puro.
No shopping, Chiara me guiou com doçura entre as vitrines. Escolhemos vestidos leves, calças confortáveis, blusas com cores suaves, casacos elegantes. Ela me incentivava a experimentar, me elogiava com sinceridade e me fazia sentir… bonita.
— Você tem bom gosto — comentou André, rindo ao me ver com um blazer azul-claro. — Aposto que vai ditar moda na escola.
Bianca, do outro lado da loja, cruzou os braços, incomodada.
— Mamãe, essa blusa é da nova coleção. Eu pedi uma dessas mês passado e você disse que era cara.
Esta é Bianca, Vinte e dois anos.
Chiara respondeu com firmeza, mas sem perder a elegância:
— Porque você já tem dezessete blusas parecidas, querida. Alana não tem quase nenhuma.
Bianca bufou e saiu andando em direção aos sapatos. Vittore, por sua vez, apenas observava, mas era visível o orgulho silencioso em seu olhar. Ele se aproximou de mim e disse, com sua voz calma:
— Não é o valor da roupa que importa, Alana. É o valor da pessoa que a veste. E você vale muito.
Ao final do dia, saímos com várias sacolas e um novo brilho nos olhos. Bianca continuava distante, tentando chamar atenção com pequenos comentários, mas naquele dia… ela não era o centro.
E talvez isso a incomodasse mais do que gostaria de admitir.
Naquela noite, enquanto dobrava cuidadosamente minhas novas roupas, percebi que não era só o meu guarda-roupa que estava mudando.
Era minha vida inteira que estava ganhando novas cores.
Depois de sair do shopping com sacolas nas mãos e um novo brilho no olhar, seguimos o passeio pelas ruas antigas da cidade. Chiara e Vittore fizeram questão de me mostrar cada cantinho, como se estivessem revelando segredos de um lugar que agora também era meu.
— Esta é a Piazza della Signoria — explicou Vittore com orgulho. — Cada pedra aqui carrega séculos de história.
— E ali tem uma sorveteria que existe há mais de oitenta anos — completou Chiara, sorrindo para mim. — Você vai provar o melhor gelato da sua vida!
André caminhava ao meu lado, me explicando curiosidades sobre a cidade, traduzindo frases e me ensinando palavras novas com paciência e bom humor.
— "Passeggiata" significa passeio. Tipo o que estamos fazendo agora — disse ele.
— Passeggiata — repeti, meio envergonhada com o sotaque.
— Muito bem! Você já fala melhor que a Bianca no primeiro mês de aula de francês! — brincou ele.
Bianca, que vinha alguns passos atrás mexendo no celular, ergueu os olhos com desdém.
— Pelo menos eu aprendi francês em Paris, não com frases de aplicativo — disparou com um sorriso frio.
Chiara fingiu não ouvir, mas eu vi como ela apertou os lábios em silêncio.
— Alana, quer tirar uma foto ali com a fonte ao fundo? — sugeriu Chiara, animada.
— Claro! — respondi.
André se prontificou a tirar a foto. Ficamos eu, Chiara e Vittore juntos, todos sorrindo. Quando a foto foi tirada, Bianca se aproximou, irritada.
— Ué, não era um passeio em família? Acho que esqueceram da filha legítima.
— Bianca… — começou Vittore, com tom de repreensão.
— Tudo bem — disse ela, falsamente sorridente — eu mesma tiro a minha.
Ela posicionou o celular sozinha e fez uma selfie afastada do grupo.
André se aproximou e cochichou para mim:
— Ignore, ela faz isso desde os 12. Ciúme é o idioma preferido dela.
Sorri sem graça, mas por dentro me doía um pouco. Eu não queria tomar o lugar de ninguém — só queria encontrar o meu.
Seguimos até a sorveteria. O balcão tinha dezenas de sabores. André me incentivou a experimentar pistache, enquanto ele pegou chocolate amargo. Chiara optou por limão.
— E você, Bianca? — perguntou Vittore.
— Ah, obrigada, pai. Acho que a nova filha já escolheu meu sabor favorito.
Chiara respirou fundo, se aproximou de mim e disse com carinho:
— Alana, está tudo bem? Não se sinta desconfortável.
— Estou bem — menti, com um sorriso discreto. — Só estou... tentando me acostumar.
André voltou com dois gelatos, um deles para mim.
— Aqui, pistache. Pra sua primeira vez, vai ser inesquecível.
E realmente foi. Mas não apenas pelo sabor.
Foi pelo cuidado.
Pelo contraste entre a atenção silenciosa e o ciúme barulhento.
Pela certeza de que, mesmo sem querer, eu estava mexendo com as estruturas daquela família.
E talvez, pela primeira vez, isso não fosse culpa minha.
Bianca narrando.
A viagem de volta foi silenciosa. Meus pais conversavam entre si, André cochilava encostado na janela, e Alana… bem, ela olhava a paisagem com aquele ar de quem acha tudo bonito demais. Como se a vida tivesse finalmente sorrido para ela.
Quando chegamos à Villa Romano, Alana agradeceu educadamente e subiu com suas sacolas para o quarto. Claro que André foi logo atrás, provavelmente para ver qual roupa nova ela iria usar primeiro. Ele estava encantado. E isso só me irritava mais.
Antes que eu pudesse subir também, a voz de meu pai me cortou no meio da escada:
— Bianca, por favor, venha conosco ao escritório. Agora.
A entonação dele não era de pedido — era ordem.
Respirei fundo, desci lentamente e segui para o escritório. Meus pais já estavam sentados, e a porta foi fechada atrás de mim.
— O que foi agora? — perguntei, cruzando os braços.
Minha mãe me olhou nos olhos, sem sorrir.
— Precisamos conversar seriamente, Bianca. E queremos que você ouça com o coração aberto.
Revirei os olhos.
— Vai ser sobre a nova estrela da família? Alana isso, Alana aquilo...
— Sim — interrompeu Vittore com firmeza. — Sobre Alana. Mas principalmente, sobre você.
Fiquei em silêncio. Não esperava que ele levantasse o tom assim.
— Você tem sido fria, passivo-agressiva e desrespeitosa, Bianca — continuou ele. — E sinceramente… isso não é digno da educação que lhe demos.
— Eu não pedi por uma irmã adotiva! — explodi. — Nunca pedi! Vocês tomaram essa decisão sozinhos, e agora querem que eu abrace isso como se fosse um conto de fadas?
Chiara se aproximou, a voz embargada.
— Não é um conto de fadas, querida. É a vida de uma garota que passou por coisas que você jamais conseguiria imaginar. Alana não quer tomar o seu lugar. Ela só quer ter um lugar onde possa existir com dignidade, com afeto.
— E o nosso amor por você não diminuiu em nada, Bianca — completou Vittore. — Mas o seu comportamento tem ferido não só Alana… tem nos machucado também.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, engolindo a dor que vinha de outro lugar. Não era sobre Alana. Não completamente.
— Vocês acham que é fácil pra mim? Ela é bonita, educada, tímida do jeito que todos acham encantador. Até o André... — minha voz falhou. — Ele nunca teve paciência comigo como tem com ela.
Chiara respirou fundo e se aproximou, segurando minhas mãos.
— Isso é insegurança, minha filha. E insegurança se vence com amor, não com competição. Alana não é sua rival. Ela é sua irmã agora.
— Se você der uma chance, Bianca — disse Vittore — vai perceber que o coração é grande o suficiente pra caber todos que merecem estar nele. E Alana merece.
Eu não respondi. Mas também não resisti. Meus olhos se encheram. Não era fácil admitir.
Mas… talvez eles estivessem certos.
Mais seria difícil para mim, pois Alana me causava náuseas só de chegar perto de mim.
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