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Viciada neles

Personagens + Capítulo 1

Olá, queridos leitores!

Gostaria de conversar com vocês sobre algo essencial no mundo da literatura: o respeito às histórias e ao trabalho dos autores.

Cada livro é uma obra de ficção, um universo criado para explorar emoções, desafios, redenção e diferentes formas de amor. Nem todas as histórias seguirão o que esperamos ou gostaríamos de ver, e isso faz parte da magia da literatura. Os personagens erram, crescem, se transformam, assim como na vida real – mas o mais importante é lembrar que tudo isso faz parte de um enredo fictício e não da realidade.

Infelizmente, tenho visto alguns comentários desnecessários em minhas obras. A crítica sempre será bem-vinda quando feita de maneira respeitosa e construtiva, mas ataques pessoais ou julgamentos agressivos sobre personagens ou situações fictícias não contribuem para um ambiente saudável para os leitores e escritores.

Se uma história não é do seu gosto, há milhares de outras esperando por você. A literatura é vasta e há espaço para todos os tipos de narrativas. O que não podemos permitir é que a intolerância e a falta de respeito desmotivem os escritores que se dedicam a criar enredos envolventes e apaixonantes para o público.

Lembre-se: um livro não impõe verdades, ele apenas conta uma história. Não tire conclusões precipitadas, não confunda ficção com realidade e, acima de tudo, mantenha o respeito por quem dedica tempo e criatividade para trazer novas histórias para vocês.

Agradeço a cada um que acompanha e apoia minhas histórias com carinho. O respeito e a empatia fazem toda a diferença para que possamos continuar criando e compartilhando momentos inesquecíveis com vocês!

...Deise Monteiro...

Idade: 28 anos

Profissão: Vendedora em uma loja de roupas femininas.

Personalidade: Deise é atrevida, intensa e decidida. Apesar da rotina simples, tem uma alma ousada e um lado sexual muito bem resolvido.

História: Veio de uma família humilde e batalhou desde nova para se sustentar.

...Renald Duarte...

Idade: 34 anos

Profissão: Gogoboy e ator pornô renomado.

Personalidade: Ciumento, protetor e extremamente apaixonado por Deise. Ele é o mais sério dos dois, mais reservado emocionalmente, mas completamente entregue na cama. Tem uma pegada forte e um jeito possessivo de amar.

História: Começou na noite como gogoboy e logo chamou atenção no meio pornô. Se tornou um dos nomes mais desejados do meio adulto, mas foi Deise quem conseguiu tocar o lado humano e vulnerável dele.

...Lyan Costa...

Idade: 30 anos

Profissão: Gogoboy, stripper profissional e ator pornô.

Personalidade: Sedutor, irreverente e cheio de charme. Lyan é do tipo que entra num ambiente e rouba todas as atenções. Gosta de brincar, provocar e desafiar, mas por trás do jeito safado existe um homem carinhoso e leal. É mais solto que Renald, mais emocional também, e sabe usar o toque e as palavras como armas de prazer.

História: Começou a trabalhar como stripper em festas privadas, mas logo chamou atenção por sua performance ousada e natural diante das câmeras. Foi convidado para atuar no meio pornô, onde se destacou pela química com outros atores e sua entrega em cena. Conheceu Renald nos bastidores e a conexão foi forte. Quando Deise entrou na vida dos dois, Lyan foi o primeiro a aceitar dividir — e se apaixonou de verdade.

...Maya Rangel...

Idade: 29 anos

Profissão: Gerente, empresária e produtora de conteúdo adulto.

Personalidade: Ambiciosa, inteligente e estrategista. Maya é fria nos negócios, calculista nas atitudes e extremamente controladora. Não aceita ser colocada de lado, ainda mais por outra mulher. Usa o poder que tem sobre os bastidores pra manter os meninos sob rédea curta — especialmente Lyan.

História: Maya construiu sua carreira debaixo de muito esforço e sacrifícios no mundo adulto. Hoje, é dona da própria agência que gerencia shows, contratos e gravações de atores pornôs e gogoboys. Lyan foi seu maior investimento... e sua maior fraqueza. Sempre nutriu sentimentos por ele, mas ele nunca retribuiu do jeito que ela queria. Quando Deise apareceu, sentiu que estava sendo substituída e isso a desequilibrou.

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Capítulo 1

"Começou com um par de binóculos.

...Terminou com dois homens e um vício.”...

🌼 Deise,

Eu sei que parece loucura, mas a verdade é que sou uma espiã amadora. Deise, 28 anos, moradora do décimo andar, possuidora de um par de binóculos de longo alcance e uma curiosidade que nem eu consigo domar.

Tenho uma mania incontrolável de observar meus vizinhos. Não sou um perigo público, nem uma ameaça para ninguém. Apenas uma mulher com um passatempo incomum e um gosto, digamos, peculiar por cenas cotidianas alheias.

O motivo? Talvez seja o tédio de uma vida previsível, talvez um desejo reprimido de estar mais próxima da excitação de outras pessoas. Sei que não há justificativas nobres para o que faço. Mas não consigo evitar. Existe uma espécie de fascínio em assistir pessoas sem ser vista. Uma sensação de controle, como se eu estivesse em algum tipo de jogo, onde ninguém sabia que estava participando. Era excitante. No entanto, amo observar homens, apenas homens.

Sempre me senti assim, mas nos últimos meses a tentação cresceu.

No apartamento da frente ao meu, no prédio A, chegaram novos vizinhos. Dois homens. Eles não são apenas atraentes; são fascinantes. Algo sobre eles exala uma confiança que quase nunca encontro nos outros moradores do prédio. Obviamente, eu não podia perder a oportunidade de conhecer, ainda que de longe, esses novos habitantes do meu cotidiano.

Eu lembro da primeira vez que os vi. Foi uma manhã ensolarada. Eu estava na minha rotina: uma xícara de café na mão direita, binóculos na esquerda. Um bom dia começava assim. De longe, vislumbrei um deles saindo para a varanda, sem camisa, alongando o corpo e respirando fundo o ar fresco da manhã. Ele era alto, atraente, e tinha o corpo de quem passava horas na academia. Talvez eu tenha passado alguns minutos a mais do que deveria olhando. E sim, senti um calor subindo por dentro de mim, mas ignorei por um momento. Depois, me recompus, porque sabia que precisava ser discreta.

O segundo deles era diferente, mas igualmente interessante. Tinha olhos claros e um jeito sério, mas não era de um tipo inatingível. Ele passava boa parte do tempo na varanda lendo ou escrevendo algo, e eu, é claro, fazia questão de tentar decifrar sua expressão sempre que possível. Talvez eu fosse um pouco obcecada, mas não conseguia resistir.

Eu tinha meus hábitos e uma certa disciplina em minha curiosidade. Durante semanas, observei os novos vizinhos em sua rotina. Havia algo sobre a presença deles que mexia comigo. O primeiro que gostava de se alongar na varanda todas as manhãs, era mais robusto, tinha um jeito despojado e seguro de se movimentar, enquanto o outro, com ar intelectual, exalava uma calma que eu não conseguia ignorar. Era um contraste hipnotizante, como se cada um deles oferecesse uma parte daquilo que faltava na minha vida.

Foi por isso que comecei a observar ainda mais de perto. Eu queria entender como era a vida deles, quem eram e o que faziam. Não era apenas um desejo físico, embora eu não pudesse negar o impacto que ver aquele corpo suado e definido causava em mim. Havia uma curiosidade mais profunda sobre suas vidas. Algo que despertava um instinto de explorar, de descobrir.

Uma noite, ao voltar do trabalho, decidi dar uma espiada rápida, sem muitas pretensões. Já estava tornando um hábito diário. Liguei uma música, como se fosse uma trilha sonora para o que quer que acontecesse do outro lado da janela. Eles estavam na sala, sentados no sofá, assistindo algo que parecia ser uma partida de futebol. Ouvi suas risadas abafadas através da janela entreaberta, e uma pontada de inveja me atravessou o peito. Eu desejava estar lá, fazendo parte daquele momento descontraído, ouvindo suas piadas e, quem sabe, até compartilhando um copo de vinho, ou algo a mais.

Os dias foram passando, e minha rotina de espionagem se consolidava. Eu não sabia ao certo onde isso ia dar, mas não conseguia me afastar. Era como se uma linha invisível me puxasse de volta, um fio de desejo e curiosidade que eu não conseguia cortar.

Certo dia, enquanto eles conversavam na varanda, observei algo que me chamou a atenção. O primeiro homem, que eu apelidei mentalmente de "Alongador matinal", mencionou uma festa que queria fazer no fim de semana. Seus planos envolviam bebida, música e alguns amigos. O segundo " Marrento", parecia mais relutante, mas acabou concordando. Mesmo sem saber os nomes deles, criei esses apelidos na minha cabeça para tornar minhas fantasias mais reais.

No sábado à noite, voltei a pegar meu binóculo, como de costume, e fui para a varanda. A festa já estava acontecendo. Pude ouvir a música, as conversas e, ocasionalmente, as risadas vindas do apartamento deles. Minhas mãos estavam suadas de nervosismo. Não sabia se seria capaz de tomar qualquer atitude, mas apenas observar aquela celebração à distância já me fazia sentir algo diferente.

Eu vi quando eles abriram a porta para receber uma mulher. Ela era linda, com um sorriso confiante e um vestido preto que parecia moldado ao seu corpo. O " Alongador matinal" a cumprimentou com um abraço amigável, enquanto o "Marrento", mais reservado, deu um beijo no rosto dela. Meu coração bateu forte, e me perguntei quem ela era. Uma amiga? Uma namorada? O que ela representava na vida deles?

A cena foi se desenrolando diante de mim. Eles a levaram para a sala, serviram uma bebida e começaram a conversar e rir. Era como assistir a um filme no qual eu não fazia parte, mas desejava ser uma personagem. E então, em meio àquele cenário, algo inesperado aconteceu. O primeiro pegou a mão dela e a puxou para o meio da sala, onde começaram a dançar. O outro os observava, com um meio sorriso, como se aquilo fosse algo comum entre eles.

Minha mente fervilhava de perguntas, e uma pontada de ciúmes me atingiu de uma maneira que eu não esperava. Por que eu me importava tanto? Eu mal os conhecia, mas, de alguma forma, me sentia conectada àquela situação. Era como se eu fosse um fantasma flutuando pela vida deles, invisível e, ainda assim, intimamente ligada a cada movimento.

Naquela noite, fui para a cama com a cabeça cheia de imagens e pensamentos confusos. Quem eram eles de verdade? E quem era aquela mulher que parecia tão à vontade na companhia deles? Eu não sabia, mas uma coisa era certa: precisava descobrir.

Os dias seguintes foram uma luta interna entre minha curiosidade e o medo de ultrapassar uma linha que eu sabia ser impossível. No entanto, minha mente não parava de projetar cenários, de criar histórias nas quais eu era mais do que apenas uma espectadora. Eu era parte da narrativa, uma personagem principal em uma história de desejo e mistério que ainda estava para acontecer.

Capítulo 2

...Lyan ( Alongador matinal )...

Mudar para o novo apartamento foi como um novo começo, uma chance de redescobrir nossa liberdade e explorar novos territórios. Eu sempre achei que mudanças trazem possibilidades, novas histórias, novas aventuras. Renald, por outro lado, sempre vê como um risco. Ele é mais cauteloso, metódico, gosta de manter tudo sob controle. Talvez seja por isso que funcionamos tão bem juntos.

A festa no sábado era nossa forma de marcar território, de mostrar aos novos vizinhos quem éramos. Convidamos alguns amigos próximos e clientes regulares. A ideia era manter um ambiente descontraído e, ao mesmo tempo, usar a ocasião para expandir um pouco nosso círculo de contatos. Em nosso ramo, a linha entre trabalho e lazer é fina, e festas como aquela são sempre oportunidades para consolidar parcerias e quem sabe, criar novas.

Renald é um planejador. Eu sou o agitador. Enquanto ele organizava a logística da festa, eu cuidava da parte criativa, escolhendo a playlist e pensando em como deixar a noite mais memorável. Eu o vi andando de um lado para o outro, checando detalhes e revisando mensagens no celular.

— Relaxa Renald, a festa já está em andamento. Só precisamos curtir. — brinquei, tentando aliviar a situação.

Ele parou por um segundo, olhando para mim, e balançou a cabeça, sorrindo de leve.

— É fácil para você dizer isso, Lyan. Temos um contrato importante em andamento e não quero que nada saia do controle. — Ele ajustou o óculos e me deu aquele olhar sério de sempre.

Eu ri. Era sempre assim. Ele cuidava dos contratos, dos números, das precauções. E eu? Bem, eu fazia a minha parte: garantia que tudo fosse interessante.

Naquela noite, nossa sala estava cheia de vozes, risadas e música. Amigos, colegas e alguns convidados especiais que conhecíamos do circuito de festas privadas. O ambiente estava leve, descontraído, mas eu sabia que Renald estava observando cada detalhe, avaliando cada pessoa como uma possível oportunidade de negócio.

Nós dois temos um perfil forte nas redes sociais, e nossa presença online é cuidadosamente construída. Não somos apenas gogo boys ou strippers; também somos atores contratados para filmes adultos. Nosso trabalho vai além das aparências e envolve uma estratégia meticulosa para manter nossa marca viva e crescendo. Renald é o cérebro por trás de tudo isso, enquanto eu cuido da interação com nossos seguidores e da criação de conteúdo. Claro, às vezes ele também participa de vídeos comigo, quando o chefe precisa de um trisal. Mas ele tem a vida dele, fora os bastidores da pornografia.

No meio da festa, uma mulher com quem costumamos trabalhar, Maya, se aproximou de nós. Ela era uma das organizadoras de eventos que nos contratava regularmente para festas exclusivas e projetos em clubes noturnos.

— Vocês estão se saindo muito bem, como sempre. Estou com uma proposta para vocês dois. É uma festa temática em um clube novo na cidade. Algo mais intimista, com uma atmosfera de luxo. — Maya comentou, com aquele sorriso profissional que eu já conhecia.

Eu dei uma olhada rápida para Renald. Ele manteve a compostura, mas eu sabia que ele estava analisando cada palavra dela.

— Soa interessante. Mas o que exatamente você está pensando? — Indaguei.

— Algo diferenciado — ela continuou. — Vocês já têm um público fiel, mas estou tentando criar uma experiência nova. Quero que façam um show juntos, algo mais ousado e cativante, e que para agradar suas fãs, vocês dois poderiam tirar uma delas para ter uma noite com vocês, o que acham? Claro, não vai faltar mulheres que vão brigar por essa oportunidade e querer comprar um bilhete vip para realizar esse desejo. E além de tudo isso, vocês serão mais conhecidos e ganharemos mais dinheiro, bastante dinheiro.

Renald não era o tipo de pular em novas oportunidades sem entender completamente o que estava em jogo. Ele se inclinou para frente, cruzando os braços.

— Precisamos de mais detalhes antes de dar uma resposta — ele disse, sua voz calma e controlada.

Maya assentiu e sorriu.

— Claro. Podemos conversar sobre isso em outro momento. Só queria sondar se vocês estão abertos a isso.

Enquanto ela se afastava, Renald virou para mim com aquele olhar inquisitivo.

— Não estou convencido de que isso seja uma boa ideia, Lyan. Essas festas mais exclusivas podem trazer problemas. E tirar uma fã para tal coisa, não me desce. Nunca esqueci daquele episódio, que uma fã quase mata a outra, só por causa de uma oportunidade que não teve com nós dois.

— É claro que você não está convencido. Mas pense na visibilidade, na chance de fazer algo novo, no dinheiro. Precisamos disso, é nosso trabalho. Enquanto ao passado, esqueça, já passou. E além disso, não somos culpados. — brinquei, colocando uma mão em seu ombro.

Ele suspirou, pensativo, mas não respondeu. Eu sabia que a decisão viria mais tarde, quando ele tivesse analisado todos os detalhes.

Depois que a festa terminou, ficamos sozinhos na sala. A maioria dos convidados já tinha ido embora, e o silêncio era quase estranho após tantas horas de música e conversa. Renald estava recolhendo algumas taças e limpando a mesa, enquanto eu me jogava no sofá, exausto, mas satisfeito.

— Então, o que você achou da noite? — perguntei, tentando quebrar o silêncio.

Renald continuou sua tarefa por alguns segundos antes de me responder.

— A festa foi um sucesso. Mas ainda precisamos discutir algumas coisas sobre os contratos e as propostas que surgiram hoje.

Eu ri e rolei os olhos.

— Sempre o lado profissional, não é?

Ele parou o que estava fazendo e me olhou seriamente.

— Alguém precisa ser.

Pela primeira vez naquela noite, Renald sorriu de verdade. Não aquele sorriso educado e contido, mas algo mais genuíno.

No dia seguinte, começamos a revisar as propostas e os contratos. Nosso perfil online estava crescendo rapidamente, e isso significava mais oportunidades, mas também mais riscos. Renald sempre estava à frente na gestão de crises, e eu confiava nele para lidar com as negociações.

— Precisamos ser mais seletivos com os convites para festas privadas — ele comentou, concentrado na tela do laptop. — Não quero nos envolver em situações que comprometam nossa imagem ou segurança.

Eu assenti. Apesar do meu espírito mais aventureiro, sabia que Renald estava certo. Nossos seguidores e produtores confiavam na nossa imagem de dupla profissional e envolvente, e qualquer passo em falso poderia prejudicar isso.

Ao final da tarde, enquanto estávamos na varanda do apartamento, aproveitando o silêncio, Renald quebrou o gelo.

— Sabe, Lyan, às vezes acho que nos deixamos levar demais pelas oportunidades que aparecem. — Ele olhou para mim, tentando medir minha reação.

— É por isso que você está aqui, para me lembrar de não pular de cabeça sem antes medir a profundidade — respondi, rindo.

Ele sorriu e assentiu.

— Acho que somos uma boa equipe, afinal.

Eu sabia que ele estava se referindo ao equilíbrio que mantínhamos. Cada um com suas responsabilidades, seus medos e suas ambições. E, apesar das diferenças, nossa parceria nos levou longe, nos trouxe até aqui.

Ainda havia muita coisa a ser decidida, novos contratos, novas oportunidades e, é claro, novos desafios. Mas, por enquanto, estávamos focados no momento, deixando que a cidade à nossa volta respirasse conosco. E claro, se você está se perguntando se somos irmãos, não. Não somos. Mas é como se fossemos.

Capítulo 3

...Deise...

Acordei naquela manhã de domingo, como sempre. O dia estava claro, e a luz do sol parecia ser gentil o suficiente para não agredir meus olhos cansados. Não era dia de trabalho, o que significava uma folga da rotina de sempre. Isso deveria ser algo positivo, mas, em vez de relaxar, havia algo em mim que permanecia inquieto, como se uma parte de mim soubesse que aquele dia seria diferente.

Eu queria afastar essa sensação estranha e decidi que seria um dia para me animar. Fui direto para a cozinha e fiz um café forte, daqueles que me deixam elétrica e um pouco mais viva. Tomei um gole enquanto olhava para o céu azul através da porta de vidro. Que droga, eu tinha que parar de pensar demais.

— É só um domingo — disse para mim mesma.

Para espantar de vez aquele clima meio pesado, decidi colocar música. Não qualquer música, claro, mas algo animado e dançante. Escolhi uma playlist antiga que sempre me fazia rir e me deixava mais leve.

A música encheu o apartamento e, sem perceber, eu estava dançando. Era meu pequeno ritual particular: movimentos desajeitados, passos improvisados e risadas solitárias. Eu ria de mim mesma, sem me importar se alguém pudesse ver ou ouvir. Naquele momento, era só eu e a música. Com a batida pulsante, deixei a melodia me guiar até a porta da sacada. Ainda balançando os quadris, abri as cortinas sem pensar muito e saí para a varanda.

Eu estava despreocupada, agitando os braços e cantarolando, quando algo me fez parar. Um sexto sentido, talvez, ou o desconforto de perceber que não estava sozinha. Virei o rosto e, para meu total desespero, lá estava ele.

O Alongador matinal, estava na sacada do outro lado observando. Ele estava sem camisa, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Seus braços estavam apoiados na grade, e havia um cigarro pendurado entre seus dedos, queimando lentamente. Ele tinha um meio sorriso no rosto, um daqueles que parecem dizer "Eu vi tudo, está indo bem, só continue".

Senti meu rosto esquentar como uma lâmpada acesa.

— Que visão do inferno, logo de manhã — murmurei para mim mesma, ainda atordoada.

Tentei manter a calma, mas era impossível. Ele não desviava o olhar, e agora eu estava consciente de cada movimento, cada respiração. Meus pés começaram a recuar, mas parecia que ele podia sentir minha hesitação. Seu sorriso se alargou um pouco, como se estivesse achando graça da situação. Foi aí que eu percebi que minha tentativa de fuga estava lenta demais.

Corri para dentro, quase tropeçando nos próprios pés, e fechei a porta de vidro de um jeito desajeitado, derrubando a cortina no processo. Senti minhas mãos tremendo enquanto ajustava a cortina de volta no lugar. Meu coração estava disparado, como se eu tivesse acabado de correr uma maratona.

— Droga, ele me viu — praguejei, encostando a testa na porta. — Ainda bem que não saí com o binóculo na mão. Se ele tivesse me pegado assim, eu estaria totalmente ferrada.

Fiquei parada ali por um momento, tentando recuperar o fôlego. O que eu estava pensando? Eu devia ter checado a sacada antes de sair. Meu pequeno ritual de domingo se tornara uma performance acidental para o meu vizinho misterioso, e isso era embaraçoso demais para lidar.

Mas a curiosidade é uma praga, e eu precisava saber se ele ainda estava lá. Com cuidado, abri um pouquinho da cortina e espreitei. Ele ainda estava lá, observando. E agora, ele estava rindo, enquanto balançava a cabeça em negativo. Certamente pensando que sou doida. Eu deveria ficar brava, talvez até ofendida, mas em vez disso, senti um calor estranho no estômago. Algo que não consegui decifrar.

Fechei a cortina rapidamente, o rosto pegando fogo. Meus pensamentos estavam um caos, e tudo o que eu queria era esquecer aquela cena. Precisava de uma distração. Peguei meu laptop e me sentei no sofá, tentando ocupar a mente. Mas abrir e fechar janelas na tela não ajudava muito. Tudo o que eu conseguia pensar era naquele sorriso. Aquele sorriso seguro, provocador. Como ele ousava rir de mim, daquela forma tão provocante?

As horas passaram, e eu não conseguia reunir coragem para sair da sacada de novo. Parecia que aquela área do apartamento tinha virado território inimigo. Eu era quem normalmente observava sem ser vista, mas agora estava do outro lado dessa brincadeira desconfortável. E não era uma sensação que eu estava gostando de experimentar.

No meio da tarde, decidi fazer um chá para me acalmar. A cozinha era meu refúgio, o lugar onde eu podia me esconder de mim mesma. Esperei a água ferver, tentando ignorar aquela sensação de estar sendo observada. Mas, ao voltar para a sala, a curiosidade falou mais alto. Com cuidado, abri a cortina mais uma vez. A sacada estava vazia. Isso deveria me tranquilizar, mas, em vez disso, senti uma pontada de desapontamento.

Meu celular tocou, interrompendo meus devaneios. Era uma amiga, me chamando para sair naquela noite. Considerei por um momento, mas a ideia de sair e tentar agir como se nada estivesse acontecendo parecia impossível. Senti-me vulnerável demais, então inventei uma desculpa qualquer e recusei.

Voltei para o sofá, tentando relaxar com um filme. Mas cada som me fazia saltar, como se eu estivesse esperando que ele aparecesse a qualquer momento, atravessando a porta de vidro com aquele sorriso irritantemente confiante.

Isso é ridículo — pensei, mas o nervosismo não diminuía.

Quando a noite chegou, me forcei a ir para a cama. Talvez dormir ajudasse a esquecer aquele encontro embaraçoso. Mas, ao deitar, tudo o que eu conseguia ver eram aqueles olhos e aquele sorriso meio debochado.

Virei-me na cama inúmeras vezes, sem conseguir relaxar. Por que aquilo me incomodava tanto? Afinal, ele era apenas um vizinho, alguém que eu provavelmente nunca conheceria de verdade. Mas, mesmo assim, a sensação de ter sido vista, de ter sido pega no meu pequeno mundo particular, me deixava inquieta.

Na segunda-feira de manhã, acordei exausta, mas determinada a me recompor. Não podia deixar que uma única troca de olhares me afetasse tanto. Eu precisava de controle, e deixar esses pensamentos tomarem conta só me faria perder a linha. Decidi que não olharia mais para a sacada. Pelo menos por enquanto. Precisava recuperar minha paz de espírito.

Mas, no fundo, eu sabia que não seria tão simples. Aqueles olhos e aquele sorriso haviam deixado uma marca em mim. Algo que não seria fácil de apagar. E enquanto a manhã de segunda-feira passava lentamente, tentei me concentrar em mais um dia de trabalho na loja de roupas em que eu trabalho.

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