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Obsessão à Meia-Luz

A Luz Vermelha

A boate estava cheia, envolta por luzes pulsantes e batidas eletrônicas que faziam o chão tremer. Aurora, cansada da rotina e das decepções, resolveu sair com as amigas para espairecer. Era sexta-feira, e o lugar fervilhava com corpos dançando, sorrisos exagerados e um cheiro agridoce de perfume barato e suor. Vestia um vestido preto colado, simples, mas que realçava suas curvas e a fazia sentir-se mais confiante. Os cabelos soltos caíam como uma cortina sobre os ombros, escondendo em parte o olhar desconfiado, sempre atento.

Enquanto suas amigas se perdiam na pista de dança, Aurora preferiu se aproximar do bar. Pediu um drink e observava o ambiente, quando sentiu um olhar queimando em sua direção. Virou-se, tentando identificar a origem, e o viu. Um homem parado próximo à parede de fundo, onde a luz vermelha era mais densa, quase como um palco silencioso para vultos sombrios. Alto, terno escuro ajustado ao corpo, barba bem feita e um copo de uísque nas mãos. Mas o que mais a marcou foram os olhos: intensos, escuros, predadores. Ele não desviava o olhar. Não parecia constrangido. Ele a observava como se já a conhecesse, como se estivesse esperando por ela.

Aurora desviou o olhar rapidamente, tentando disfarçar o calafrio que subiu por sua espinha. Havia algo de errado na forma como ele a olhava, como se a conhecesse, como se já soubesse o que ela faria a seguir. Mesmo assim, algo dentro dela se acendeu. Um misto de medo e curiosidade. Ela virou-se de volta para o bar, levou o copo à boca com mãos trêmulas. Seu coração estava acelerado. Uma voz interna dizia para ir embora, mas outra, mais baixa e perigosa, sussurrava: "Fique. Descubra."

O barman tentou puxar conversa, mas ela mal escutava. A presença dele ainda pulsava no canto de sua visão. Quando finalmente criou coragem para encarar novamente, o homem já não estava mais lá. Ela procurou ao redor, entre os rostos na pista, nas laterais da boate, mas ele havia desaparecido. Como se nunca tivesse existido. Sentiu um vazio inexplicável. Algo nela havia sido arrancado e deixado suspenso no ar.

Aurora engoliu o resto do drink, o gosto amargo se misturando com a sensação de inquietação. Já não queria dançar. Algo nela havia mudado. Algo havia sido tocado. Seu instinto gritava que aquela noite não terminaria ali, mesmo que tudo parecesse normal. Era como se tivesse cruzado uma linha invisível, um portal que separava o comum do inexplicável.

Saiu da boate mais cedo do que o habitual. As amigas, embriagadas de diversão, mal notaram. Caminhou pelas calçadas molhadas da madrugada, ouvindo seus próprios passos ecoando alto demais. A cada esquina, olhava para trás. Nada. Ninguém. E mesmo assim, não conseguia se livrar da sensação de que estava sendo seguida.

Em casa, largou os sapatos na entrada e foi direto ao banheiro. Lavou o rosto, olhou-se no espelho. Seus olhos ainda refletiam a luz vermelha da boate, mesmo no silêncio da madrugada. Deitou-se, mas demorou a dormir. A imagem do homem voltava sempre que fechava os olhos. E na escuridão do seu quarto, algo a observava. Não havia som, mas havia uma presença.

Aurora tentou esquecer, mas aquela figura misteriosa já havia deixado sua marca. E na escuridão daquela noite, sem saber, ela havia sido escolhida.

Silêncio nas Sombras

Nos dias seguintes, Aurora começou a perceber pequenas mudanças em sua rotina. Primeiro, coisas banais: a sensação de que não estava sozinha, mesmo quando seu apartamento estava trancado. Um som leve de passos quando estava no banho. Uma sombra no espelho que desaparecia quando ela virava.

Na segunda-feira, ao sair para o trabalho, notou que sua planta na varanda havia sido regada. Ela não fazia isso há uma semana. Pensou ter esquecido, mas algo parecia... errado. Ao voltar para casa naquela noite, percebeu que a colcha da cama estava arrumada de forma diferente. E ela tinha certeza de que havia deixado desarrumada.

O telefone tocou de madrugada. Quando atendeu, do outro lado só havia silêncio. Nenhuma respiração, nenhum ruído. Apenas um silêncio opressor. Aurora desligou e tentou ignorar, mas seu coração batia acelerado. Foi apenas um trote? Ou havia algo a mais por trás disso?

A sensação de estar sendo observada se intensificava. Ela começou a notar padrões. Sempre que saía do prédio, um carro preto estacionado na esquina parecia estar lá, desligado, com os vidros escuros. Quando entrava em um café, às vezes sentia um movimento estranho no canto do olho, como se alguém tivesse acabado de virar a cabeça rápido demais, evitando que ela o visse.

Na quarta-feira, um envelope apareceu sob sua porta. Dentro, havia apenas uma única rosa vermelha e um bilhete escrito à mão:

"Você fica linda sob a luz vermelha."

O medo de Aurora explodiu em seu peito como uma labareda. Não era mais paranoia. Alguém estava ali. Alguém sabia onde ela morava. Seu primeiro instinto foi ligar para a polícia, mas ela hesitou. O que diria? Que um homem misterioso a olhou fixamente numa boate e agora ela estava recebendo rosas? Eles ririam. Chamariam de coincidência, de exagero.

Na sexta-feira, exatamente uma semana depois da noite na boate, Aurora recebeu outra mensagem. Desta vez, diretamente em seu celular. Um número desconhecido.

"Saudade de mim? Nos vemos em breve."

Ela soltou o telefone, que caiu no chão com um som seco. O jogo estava apenas começando. E agora, não havia mais volta.

As noites seguintes foram insones. Aurora passou a dormir com uma faca ao lado da cama. Seus sonhos eram entrecortados por imagens do homem da boate. Em alguns, ele apenas a observava de longe. Em outros, ele estava mais perto, falando seu nome em um tom rouco e hipnótico. E em um sonho, ele estava dentro do seu quarto, debruçado sobre ela, seus dedos traçando lentamente sua clavícula.

A realidade e a fantasia começaram a se confundir. Aurora sentia-se presa em uma teia invisível, uma dança em que cada passo já estava ensaiado. A questão não era mais "se" ele apareceria, mas "quando". E, mais aterrorizante ainda, ela não sabia se queria fugir ou ser encontrada.

Na noite de sábado, ela ouviu um ruído na porta de seu apartamento. Como se alguém estivesse deslizando um dedo pela madeira. Ela prendeu a respiração e se aproximou, sentindo o coração martelar dentro do peito. Ao olhar pelo olho mágico, não havia ninguém. Mas, ao abrir a porta, encontrou um novo envelope no chão. Dentro, um bilhete: "Já estou mais perto do que imagina."

Ela gritou. Mas ninguém respondeu. O silêncio era absoluto.

À Beira do Abismo

O tempo parecia brincar com Aurora. Cada novo dia trazia mais incerteza, e cada noite carregava o peso da dúvida e do medo. Seu perseguidor não se escondia mais nos cantos escuros de sua mente; ele se fazia presente em cada detalhe de sua vida. Não era mais apenas a sensação de estar sendo observada — era um fato. Ele estava ali. Sempre.

Os dias se tornaram um tormento silencioso. Aurora passou a evitar espelhos, vitrines, superfícies reflexivas. Tinha medo do que poderia encontrar neles — não seu reflexo, mas os olhos dele. Aqueles olhos. Frios. Famintos.

Seu telefone tocava em horários aleatórios. Sempre silencioso. Às vezes, durava segundos. Em outras, ela ouvia um leve ruído, como se alguém respirasse do outro lado, muito próximo. Começou a usar fones de ouvido no trabalho, para isolar a realidade, para fingir que o mundo ainda era seguro. Mas mesmo no escritório, sentia-se vigiada.

Certa tarde, encontrou uma foto presa sob o limpador do vidro do carro. Era uma imagem dela — tirada de cima, em algum prédio próximo. Ela estava caminhando sozinha, com o casaco vermelho, a bolsa atravessada no corpo. Uma imagem cotidiana. Mas ela nunca tinha tirado aquela foto. E no verso, uma única palavra, escrita com uma letra limpa, fria:

"Perfeita."

Ela entrou no carro trêmula, os olhos cheios de lágrimas, os dedos mal conseguindo segurar a chave. Tinha medo de ligar para alguém, medo de envolver outras pessoas. Se ele estava disposto a segui-la, a invadir sua vida com tamanha precisão, do que mais seria capaz?

Naquela noite, decidiu sair. Precisava respirar, fingir que ainda era dona de si. Escolheu um restaurante discreto, uma mesa nos fundos, longe das janelas. Tentava se convencer de que o medo não a dominaria, mas a cada garfada, seu olhar voltava ao reflexo no espelho atrás do balcão. Seu coração acelerou quando viu um vulto.

Ele estava ali.

No reflexo do espelho do bar, entre as garrafas e as luzes amareladas, aqueles olhos a encontraram. Atravessaram-na como lâminas afiadas. O ar lhe faltou. Ele a olhava sem desviar, como se cada gesto seu fosse meticulosamente analisado.

O pânico a dominou. A lógica dizia para ficar, para não demonstrar medo. Mas o instinto foi mais forte. Levantou-se de súbito, o sangue pulsando em seus ouvidos. Não pensou, apenas correu. Para fora do restaurante, para dentro da noite fria.

Os passos atrás dela eram reais. Não eram fruto da sua imaginação.

Aurora virou uma esquina, o coração prestes a explodir. Olhou para trás, mas a rua estava vazia. Seu peito subia e descia descontroladamente. Ela quis acreditar que estava sozinha. Mas então, uma mão firme segurou seu pulso. Forte. Quente. Familiar.

Ela tentou gritar, mas o som morreu em sua garganta quando sentiu a respiração quente perto de sua pele.

— Finalmente sozinha — a voz era baixa, quase um sussurro, mas carregava um peso avassalador.

Aurora congelou. O medo e algo mais profundo – algo que ela se recusava a nomear – a paralisaram.

— Por favor... — conseguiu sussurrar, a voz falha.

Ele sorriu, um sorriso perigoso. Seus dedos subiram até o rosto dela, como se fossem acariciá-la. Mas havia algo errado naquele toque. Era possessivo, invasivo, como se ele já a tivesse tocado antes, em sonhos distorcidos ou pesadelos esquecidos.

— Você não faz ideia do quanto esperei por esse momento — ele murmurou, os olhos fixos nos dela. — Você é exatamente como imaginei.

Aurora reuniu forças e empurrou-o com os dois braços, libertando-se num movimento rápido e instintivo. Correu de volta pela rua, sem olhar para trás. Seu coração batia tão alto que abafava os sons do mundo.

Chegou em casa, trancou todas as portas e janelas. Enfiou uma cadeira debaixo da maçaneta. E chorou. Chorou até não ter mais lágrimas. Sentia-se quebrada, exposta, invadida. A casa, antes seu refúgio, agora parecia uma armadilha. As paredes pareciam observá-la.

Na manhã seguinte, encontrou um presente na porta. Uma pequena caixa preta, com um laço vermelho.

Dentro, havia um colar com um pingente de rubi. Sangue sólido. E um bilhete:

"Eu te vejo mesmo quando você tenta se esconder. Cada parte sua é minha. Ainda vamos rir disso, minha linda. Em breve."

Ela caiu de joelhos. Não havia mais como negar. Ele não era apenas um perseguidor. Era um predador. E ela, a caça.

Aurora estava à beira do abismo. E sentia que, em breve, alguém a empurraria.

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