Meu nome é Kiraz Maverick Bianchi, e acabei de completar 16 anos. Diferente da maioria dos meus colegas, estou no último ano do ensino médio porque pulei o segundo ano. Talvez isso explique um pouco sobre mim: gosto de desafios, gosto de aprender. Mas, acima de tudo, gosto de ler e de flores. Minha cor favorita é azul, e se um dia quiserem me envenenar, basta colocar morango na minha comida, pois sou alérgica.
Tenho um irmão gêmeo, Gaziel. Nós brigamos muito, mas no fundo, existe um amor inquebrantável entre nós. Não pegaria um copo d'água para ele, mas se precisasse de um rim, eu daria o meu sem hesitar.
Minha família é grande. Charlotte e Damião são meus irmãos mais velhos, ambos vivendo em Nova York. Damião se tornou um advogado de sucesso, enquanto Charlotte seguiu o caminho da medicina. Meu irmão Matteo é autista e, apesar das dificuldades que enfrentou, se tornou um dos cientistas mais jovens do mundo a ganhar um prêmio internacional. Agora, viaja pelo mundo falando sobre capacitismo e a importância de dar oportunidades a autistas para que possam desenvolver todo seu potencial. Bea, minha outra irmã, mora do outro lado da cidade e estuda Relações Internacionais. Ela volta para casa em alguns fins de semana.
Minhas relações familiares se expandem para os tios e primos. Meu tio Faruck e minha tia Diane são pais do Eliot, que nasceu uma semana antes de mim e do Gaziel. Somos inseparáveis. Ele é incrivelmente inteligente e educado, mas também tem um temperamento explosivo. Meu tio Trace e minha tia Lucy têm um filho, Logan, que nasceu um ano depois de nós. Ele é mais reservado, na dele. Já a tia Camily e o tio Edward são pais do Axel. Ah, Axel...
Axel foi, ou talvez ainda seja, meu melhor amigo. Quando tínhamos 14 anos, nos beijamos pela primeira vez. Desde então, tudo mudou. Nunca falamos sobre isso de novo. Eu sempre achei que ficaríamos juntos, que namoraríamos, casaríamos, construiríamos uma vida... mas foi apenas uma ilusão minha. Axel se tornou o garoto mais popular da escola, o capitão do time. E eu? Apenas uma nerd. Para piorar, meus primos fazem parte do time junto com ele, o que afasta qualquer outro garoto que queira se aproximar de mim.
Por fim, meus pais. Eleonor e Dante. Minha mãe me apoia em tudo, enquanto meu pai é um turrão ciumento, mas não há dúvidas de que ele faria qualquer coisa para me ver feliz. Eu os amo imensamente.
E essa sou eu. Kiraz Maverick Bianchi, no meio de uma vida que parece estar sempre prestes a mudar.
Aqui está a narração da sua história. Caso queira ajustes ou mais detalhes, me avise!
KIRAZ
irmão Gaziel
Primo Eliot (filho de Diane e faruck)
Primo Logan ( filho de trace e Lucy)
Axel ( filho de Camily e Edward)
Axel tem um tipo de sorriso, um sorriso que pode iniciar uma guerra, e eu estaria disposta a lutar ela, mas para ele.. O que eu sou?
Capítulo 01: Segunda-feira
Hoje é segunda-feira. O tipo de dia em que o universo parece fazer questão de te lembrar que você não está no controle de nada. O sol entrou direto nos meus olhos através da cortina, e o despertador soou mais alto do que deveria.
Bati na porta do banheiro com a palma da mão, impaciente.
— Anda, Gaziel! Não quero me atrasar pra aula de literatura!
Lá de dentro, veio a voz arrastada e preguiçosa do meu irmão gêmeo:
— Calma, nerd. Vai dar tempo de escrever um soneto sobre isso.
Revirei os olhos.
— Idiota — murmurei, cruzando os braços enquanto esperava.
Quando finalmente consegui tomar meu banho, descemos juntos para a cozinha. Sentamos lado a lado, mastigando torradas enquanto o rádio antigo da mamãe tocava uma música dos anos 90. Ela falava ao telefone, gesticulando com a mão livre, e papai lia o jornal, como se ainda estivéssemos em 1995.
— Vai querer que eu te leve hoje? — perguntou meu pai sem tirar os olhos da manchete.
— Não, pai. Vou com o meu irmão — respondi, engolindo um gole de suco.
Na escola, os corredores estavam do jeito que sempre ficam em uma segunda-feira: barulhentos, cheios de gente correndo, armários batendo e risadas altas. Meus passos ecoavam com uma mistura de ansiedade e rotina.
Logan me esperava no lugar de sempre, encostado no bebedouro, com os fones de ouvido pendurados no pescoço e um sorriso contido.
— E a poeta da família chegou — disse ele, estendendo uma barrinha de cereais. — Preparada pra mais um dia sendo a mais inteligente da sala?
Sorri ao pegar o lanche.
— Preparada pra sobreviver. Já é alguma coisa.
Foi quando ele passou. Axel.
Caminhava entre os colegas do time, rindo de algo que alguém disse. Mas, por um instante, seu olhar encontrou o meu. Um segundo. E ele sorriu. Rápido, quase imperceptível, mas o suficiente para bagunçar tudo por dentro.
Desviei o olhar imediatamente, tentando fingir que meu coração não tinha acelerado.
— Dois anos... — Logan murmurou, tomando um gole de água. — Faz dois anos que vocês estão nessa. Vai falar com ele quando? Em 2050?
— Tchau, Logan. Te amo. — O abracei e me apressei até a sala de literatura, ignorando o calor no rosto.
Era a sala dele. Axel. Pulando um ano, acabei na mesma turma. Como se o universo tivesse um senso de humor particularmente cruel.
Dona Cláudia, nossa professora de literatura, era intensa. Daquelas que recitam sonetos como se estivessem declamando no teatro.
— Hoje, vamos escrever poesia. Inspirem-se em sentimentos reais: amor, raiva, saudade, frustração... o que quiserem. Mas quero verdade. Quero alma no papel!
Suspirei, encarando a folha em branco. Minha caneta pousou no papel com hesitação. Então, as palavras começaram a sair.
Poema
Não gosto do jeito como você finge Que tudo é simples, leve, passageiro. Como se a lembrança de nós Fosse apenas um eco sem importância.
Não gosto quando você sorri desse jeito, Como se nada tivesse mudado, Como se o mundo não tivesse parado Naquele verão.
Me irrita que você me entenda Mesmo quando não digo uma palavra. E que conheça meus silêncios Melhor do que eu mesma.
Mas o que mais me confunde É essa ausência que você deixa Mesmo quando está bem ali, A dois passos de distância.
Quando terminei, não consegui reler. Dobrei a folha e escondi entre as páginas do caderno. Axel estava duas carteiras à frente, rindo com alguém. Talvez ele não tivesse notado. Talvez tivesse.
A verdade é que aquele poema era um grito. Um que eu nunca teria coragem de dizer em voz alta.
Mas estava ali. No papel. E, de certo modo, me senti mais leve.
— Semana que vem tem teste — anunciou Dona Cláudia, ajeitando os óculos. — E será em duplas. Escolham com sabedoria.
O burburinho começou. Senti alguns olhares me analisando. Ser "a nerd da turma" significava que todos queriam me ter como dupla. Mas, como sempre, preferi fazer sozinha.
O sinal tocou. Recolhi minhas coisas rapidamente e saí da sala, com passos mais leves. Não porque estivesse atrasada, mas porque a próxima aula era no meu lugar favorito: o laboratório.
O cheiro familiar de álcool e papel queimado me acolheu assim que entrei. O professor Augusto, um senhor de cabelos brancos e óculos escorregando no nariz, organizava frascos na bancada.
— Senhorita Maverick — ele disse sem nem olhar, reconhecendo meus passos.
— Oi, professor. Será que podemos conversar?
— Claro, claro. Mas antes, me ajude com essa mistura. Confio mais nas suas mãos do que nas minhas — respondeu, empurrando um frasco âmbar na minha direção.
Passei a próxima hora com ele, misturando substâncias, anotando fórmulas e trocando ideias. Falamos sobre física quântica, química molecular, e, como sempre, sobre música.
— Ainda ouvindo aqueles rapazes que dançam e cantam juntos? — ele provocou.
— Backstreet Boys, professor. Ícones. O senhor só não admite porque sabe que eles são bons.
— Hm... Prefiro Beatles. Mas admito que aquela música... como é mesmo? "I Want It That Way"? Não é tão ruim.
Rimos juntos. Era ali que eu me sentia à vontade. Com alguém que entendia meu mundo.
Logo os alunos começaram a entrar, um por um. Axel entrou com o time, rindo alto. As líderes de torcida vieram logo atrás.
Estranhei quando Jayson Frittz, conhecido por ser o engraçadinho da turma, se sentou ao meu lado.
— Tudo bem se eu ficar aqui? — perguntou, meio sem jeito.
— Claro... — respondi, surpresa.
O professor começou a aula, explicando que a atividade seria em dupla. Acabei ficando com Jayson.
Ele parecia perdido diante dos tubos de ensaio e fórmulas escritas no quadro.
— Tá parecendo grego isso aí — confessou.
— Quer que eu te explique?
— Se não for incômodo...
Peguei um papel e desenhei uma molécula, explicando de forma mais leve, com exemplos do dia a dia.
— Pense nessa ligação aqui como... dois amigos segurando uma corda. Se um larga, o outro perde o equilíbrio. Química é assim também.
Ele riu.
— Nunca pensei que ia entender química com uma metáfora de corda. Obrigado, Kiraz.
Sorri. Talvez aquela segunda-feira não estivesse tão ruim, afinal.
O professor Augusto sorriu, satisfeito ao ver o resultado da mistura.
— Perfeito, Kiraz. — Ele passou a mão carinhosamente na minha cabeça, com aquele jeito de avô orgulhoso. — Você tem mãos precisas e uma mente ainda mais afiada.
Sorri, meio sem graça, e fechei o caderno de anotações. Foi então que percebi Jayson Frittz me observando com aquele olhar curioso que ele sempre parece ter, mesmo quando não está dizendo nada.
— Você fica sempre aqui com ele, né? — ele perguntou, ajeitando o jaleco e se aproximando da bancada.
Ergui uma sobrancelha, surpresa com a pergunta.
— Como sabe?
— Fica no caminho do vestiário... dá pra ver vocês dois pela janela. Sempre conversando, misturando coisas. Quase como uma cena de filme antigo.
— Está me espionando, Frittz? — brinquei, cruzando os braços e tentando esconder o sorriso.
Ele levantou as mãos, rindo.
— Não é isso, juro. Só... reparo nas coisas.
— Hm... — murmurei, tentando não parecer interessada demais. — Bom, o laboratório é meio que meu segundo lar. O professor Augusto me deixa fazer experimentos depois das aulas, e a gente sempre acaba falando de química... e de música também.
— Músicas antigas, né? — Jayson provocou. — Tipo Backstreet Boys?
— Tipo clássicos — respondi com um sorriso defensivo. — Eles são atemporais, ok?
— Se você diz... — ele deu um passo para o lado, pegando o frasco com a mistura que havíamos feito. — Mas admito, é legal ver alguém gostar tanto de aprender assim. Não vejo isso todo dia por aqui.
— Acho que é mais fácil gostar quando você não sente que precisa provar nada pra ninguém — falei, sem pensar muito. E por um momento, ele ficou em silêncio.
O professor Augusto apenas observava com aquele olhar de quem entendia mais do que dizia. .
Axel se virou como uma tempestade, a expressão fechada e o andar firme. Olhou em volta, como se procurasse algo — ou alguém. Quando viu Jayson ao meu lado, sua testa franziu mais ainda.
— Jayson, vai treinar ou vai ficar jogando conversa fora?
A forma como ele disse aquilo me pegou de surpresa. Axel nunca havia sido tão... direto. Tão frio.
Jayson arqueou uma sobrancelha, lançando um olhar breve a mim antes de responder com um sorriso debochado.
— Preciso ir. O capitão está chamando.
Ele usou a palavra capitão com uma ironia leve, mas afiada. Como se dissesse “relaxa, não sou seu soldado”.
— Até... — murmurei, sem saber bem para quem.
Jayson me lançou um último sorriso e acenou antes de desaparecer pela porta com a mesma calma com que havia chegado.
Axel nem olhou pra mim. Saiu logo em seguida, a expressão dura ainda estampada no rosto. Quando a porta se fechou, o silêncio pareceu pesar.
Fiquei ali, parada por um segundo, sentindo o ar voltar ao normal. Comecei a guardar os frascos e materiais com mais calma. O professor Augusto me observava do outro lado da bancada.
— Então... — ele começou, com um sorriso gentil nos lábios. — Decidiu se vai entrar na equipe de exatas?
— Com certeza! — respondi, sem hesitar.
O sorriso dele se alargou, e seus olhos brilharam de um jeito que me aqueceu por dentro.
Todos sabiam da história dele. De como havia perdido a filha e a neta em um acidente anos atrás. Desde então, vivia sozinho, mergulhado nos livros, nas fórmulas e nos experimentos. Mas era um dos professores mais brilhantes — e bondosos — que eu já conheci. E eu gostava de vê-lo sorrir. Mesmo que só de vez em quando.
— Preciso ir — falei, checando o horário no celular. — Mas volto antes do final do dia. Prometo.
— Claro, senhorita Maverick — ele respondeu com um leve aceno, e voltou a limpar os óculos, como sempre fazia quando estava pensativo.
Fechei minha mochila, me despedi e saí do laboratório com passos mais lentos do que gostaria. Não por falta de pressa... mas porque a próxima aula era educação física.
Sinceramente? A pior matéria existente.
Nossa aula de educação física era conjunta. Meninos e meninas, todos no mesmo espaço — supostamente para “integrar” as turmas e, claro, permitir que o time de futebol treinasse junto. A desculpa oficial era o espírito esportivo. A real? Era um desfile.
As líderes de torcida tomavam a arquibancada como se fosse uma passarela, e garotas de outras turmas apareciam do nada só pra “assistir ao treino”. Assistir, nesse caso, era o código para babar por idiotas com uniformes colados e ego inflado.
Idiotas que, por sinal, incluíam meu irmão Gaziel, meu primo Eliot, e... Axel.
Sim, até o Logan — que é meu primo favorito — tava ali. Ele era o único que se salvava. Juro. Porque sim, eu sou imparcial quando quero.
Sentei na arquibancada com meu livro debaixo do braço. Escolhi um cantinho mais afastado, como sempre. O sol estava tão bom, tão quente sobre minha pele, que fechei os olhos por um momento e deixei aquele calor me envolver como um cobertor invisível.
Quando abri os olhos, a primeira coisa que vi foi Jayson. Parado na quadra, segurando a bola, mas não olhando para o jogo. Ele estava olhando... pra mim.
Nossos olhos se encontraram por um segundo. E então, como se fosse coreografado, vi Axel ao lado dele. Também olhando na minha direção.
Que tipo de comédia romântica esquisita era essa?
— Bora jogar, né! — gritou Gaziel, batendo palmas e interrompendo a tensão com seu entusiasmo de sempre.
Axel se virou e disse algo no ouvido dele. Depois, fez o mesmo com Eliot. Por último, se aproximou de Logan e falou alguma coisa que o fez levantar uma sobrancelha e olhar brevemente pra mim.
Engoli em seco. Eles estavam falando de mim? Óbvio que estavam. Ninguém sussurra e olha desse jeito se for sobre, sei lá, física nuclear.
Revirei os olhos e voltei pro meu livro. Mas como toda paz é temporária...
— Nerdzinha... — a voz melosa e irritante me fez suspirar. — Como você pode ser gêmea do meu amor?
Clara. A namorada do Gaziel. Rainha do salto alto na quadra de areia e campeã em me irritar sem precisar de muito esforço.
Fechei o livro devagar e respirei fundo, ativando o modo manter o réu primário limpo. Eu prometi pra mim mesma que não iria bater em ninguém esse semestre.
Ela estava acompanhada de dois garotos que seguiam ela como poodles bem treinados. Um deles segurava algo nas mãos e, antes que eu pudesse pensar, ele soltou um rato — sim, um rato! — aos meus pés.
Houve um grito coletivo da arquibancada. Meninas se afastando, uma até derrubou sua garrafinha de água. Clara cruzou os braços e sorriu como se tivesse ganhado uma medalha de ouro.
Mas a vida nem sempre é generosa com garotas más.
Eu sorri. Agachei calmamente e peguei o bichinho entre as mãos com cuidado.
— Oi, pequeno. Tá assustado? — falei baixinho, fazendo carinho nas costas dele. O rato era branco, de olhos vermelhos. Claramente um animal de estimação, não um selvagem.
Levantei os olhos pra Clara, ainda sorrindo.
— Acho que vai precisar de mais do que isso pra me assustar.
Ela ficou em silêncio por um segundo. Um segundo inteiro. Isso já era uma vitória. As meninas em volta cochichavam e olhavam pra mim como se eu fosse algum tipo de bruxa domadora de ratos. E, sinceramente? Eu amei.
— Vai cuidar de rato agora? — ela tentou, mas a voz dela já não tinha a mesma força.
— Melhor do que cuidar de idiotas — respondi, com doçura.
O silêncio que se seguiu foi mágico.
Clara bufou e saiu rebolando mais do que o necessário. Seus poodles foram atrás. E eu? Voltei a me sentar, com o ratinho ainda no colo.
Lá embaixo, vi Jayson rindo. Logan coçou a nuca e me mandou um sinal de aprovação com o polegar. E Axel...
Bem, Axel estava olhando. De novo.
Mas agora, com uma expressão que eu não consegui decifrar.
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