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Cicatrizes do Destino

Marcas do Passado

Alice observava a cidade iluminada do alto do prédio onde trabalhava. A paisagem era um mosaico de luzes e sombras, uma metáfora perfeita para sua própria vida. Há anos, ela aprendera a esconder suas cicatrizes sob um sorriso profissional e uma postura impecável. Mas quando a noite caía, as lembranças vinham assombrá-la como fantasmas indesejados.

A vida nunca lhe dera escolhas fáceis. Depois do acidente que levara seus pais, Alice teve que se reinventar. Lutou, estudou, e agora era uma advogada renomada, respeitada e temida nos tribunais. No entanto, por mais que tentasse deixar o passado para trás, ele a perseguia em forma de pesadelos e cicatrizes invisíveis. Todas as noites, acordava sobressaltada, o coração martelando no peito, como se estivesse revivendo cada perda, cada momento de desespero que a transformou na mulher que era hoje.

Do outro lado da cidade, Davi sentia o peso das decisões que precisou tomar. Como CEO de um império empresarial, seu nome estava sempre nas capas das revistas de negócios, mas a verdade era que ele pouco se importava com isso. O dinheiro e o poder nunca foram capazes de apagar os erros que cometeu no passado. Por trás da fachada de homem implacável e bem-sucedido, escondia-se um homem quebrado por dentro.

Davi era um homem de poucas palavras e olhares intensos. Cada passo que dava era meticulosamente calculado, pois sabia que, no mundo dos grandes negócios, qualquer deslize poderia ser fatal. Mas o que poucos sabiam era que suas noites eram povoadas por insônias e arrependimentos. A culpa era sua companheira constante, e, por mais que tentasse, nunca conseguira se perdoar. Ele já havia perdido algo precioso uma vez e jurara nunca mais permitir que suas emoções interferissem em sua vida.

O destino, no entanto, parecia decidido a cruzar seus caminhos.

Naquela noite, Alice foi a um evento corporativo a contragosto. Precisava fortalecer contatos e manter as aparências, mas o ambiente superficial e as conversas vazias a deixavam entediada. Com um drinque em mãos, afastou-se para um canto mais tranquilo, tentando encontrar um momento de paz. Mas não conseguia evitar a sensação de que não pertencia àquele mundo. Pessoas riam, brindavam e trocavam elogios falsos, enquanto ela se perguntava o que realmente significava estar ali.

Foi quando sentiu um olhar sobre si. Forte, penetrante. Ela se virou e encontrou Davi a observá-la do outro lado do salão. Seus olhos carregavam algo familiar: dor. Uma dor que ela conhecia bem.

Eles nunca haviam se visto antes, mas algo naquela troca silenciosa de olhares foi suficiente para despertar uma conexão inexplicável. Alice sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O salão parecia ter desaparecido, e tudo o que restava era a intensidade daquele olhar.

Por um instante, Alice sentiu como se estivesse desnuda diante daquele homem. Não por sua aparência impecável, mas porque, de alguma forma, ele parecia enxergar além de suas muralhas. Era como se ele pudesse ver tudo o que ela escondia, tudo o que tentava ignorar.

Davi, por sua vez, ficou intrigado. Ele não era um homem de acreditar em coincidências, mas algo o impedia de desviar o olhar. A presença dela parecia ecoar algo dentro dele, algo que ele não ousava nomear. Alice não era como as outras pessoas que frequentavam aquele tipo de evento. Havia uma aura nela, algo que gritava silênciosamente por liberdade, por compreensão.

Alice sustentou o olhar por alguns segundos antes de se virar e sair do salão. O coração acelerado, as mãos tremendo levemente. Não entendia o que acabara de acontecer, mas sabia que aquilo não terminaria ali.

Davi, por outro lado, apenas sorriu de canto. Ele também sabia.

Era apenas o começo!

Ecos do Passado

Alice saiu do evento com o coração acelerado. O ar fresco da noite bateu em seu rosto, mas não foi suficiente para dissipar o calor que subira pelo seu corpo após aquele olhar intenso. Sentiu-se vulnerável, como se Davi tivesse atravessado suas muralhas com apenas um olhar. Isso a incomodava. Ela passou anos construindo uma fortaleza ao redor de si mesma, e agora, em poucos minutos, um desconhecido parecia ter encontrado uma brecha.

Ela entrou no carro e partiu, tentando ignorar a sensação inquietante que se instalara dentro dela. Mas a imagem dele não saia de sua cabeça. Quem era aquele homem? Por que seu olhar parecia carregado de segredos, como se de alguma forma ele entendesse sua dor?

Enquanto isso, Davi permaneceu no salão por mais alguns minutos, mas sua mente estava longe dali. Alice. Seu nome lhe fora sussurrado por algum conhecido durante o evento, e ele o repetia silenciosamente, como se quisesse memorizá-lo. Não deveria estar interessado, não deveria se deixar levar por algo tão irracional. Mas era tarde demais. Algo nela o atraía de uma forma que ele não compreendia completamente.

Aquela noite marcou o início de algo que ambos ainda não podiam nomear. Mas o destino já havia decidido que seus caminhos estavam entrelaçados.

No dia seguinte, Alice tentou ignorar o que acontecera. Mergulhou no trabalho, focando em prazos e audiências, mas sua mente traía seu corpo. Seu subconsciente insistia em repassar aquele momento, aquele olhar, como se estivesse tentando decifrar um código oculto. Para piorar, seu melhor amigo e colega de trabalho, Rafael, percebeu sua distração.

— Terra chamando Alice! — ele brincou, batendo levemente na mesa dela. — Onde você foi parar agora?

— Não estou em lugar nenhum — ela respondeu, sem olhá-lo.

— Hum, já vi essa expressão antes — ele cruzou os braços, analisando-a. — Alguém mexeu com você?

Alice bufou, pegando um processo e folheando as páginas.

— Não faço ideia do que você está falando.

— Ah, você sabe sim. E pela sua cara, não foi um qualquer. Quem é ele?

Ela revirou os olhos.

— Você é insuportável, sabia?

Rafael riu, se acomodando na cadeira à sua frente.

— Esse é meu talento. Agora me conta.

Alice suspirou. Rafael era seu confidente há anos, a única pessoa com quem se permitia ser um pouco mais vulnerável. Mas nem ela mesma entendia o que sentia para colocar aquilo em palavras.

— Eu não sei — admitiu. — Foi um olhar. Mas parecia... diferente.

Rafael arqueou uma sobrancelha.

— Um olhar? Alice, você não é do tipo que se impressiona com olhares.

— Eu sei! — ela exclamou, frustrada. — E é exatamente por isso que isso está me incomodando. Foi como se ele... me enxergasse de verdade.

Rafael ficou em silêncio por um instante, observando-a.

— Parece perigoso.

Ela soltou uma risada sem humor.

— Exatamente o que eu pensei.

O que Alice não sabia era que Davi também estava lidando com a mesma inquietação. Em seu escritório, ele tentava se concentrar em relatórios e reuniões, mas sua mente continuava voltando para ela. Ele nunca fora um homem impulsivo quando se tratava de sentimentos, mas Alice mexera com algo profundo dentro dele.

Então, como se o universo conspirasse para que seus caminhos se cruzassem novamente, o telefone de Davi tocou. Era seu assistente, informando sobre uma nova negociação de contrato. Com quem? Com o escritório de advocacia onde Alice trabalhava.

Ele não acreditava em coincidências. E pela primeira vez em anos, Davi sentiu que talvez estivesse prestes a quebrar suas próprias regras.

Conexão Inevitável

Alice ajustou os óculos sobre o nariz e folheou as páginas do contrato que deveria analisar. Era uma negociação importante para o escritório, e ela precisava estar completamente focada. Porém, ao ler o nome da empresa envolvida, sentiu um frio na espinha: Grupo Vasconcellos.

Seu coração deu um pequeno salto. O nome não era estranho. E não demorou muito para confirmar suas suspeitas. Davi Vasconcellos. O homem do olhar intenso, da presença arrebatadora, agora estava ligado diretamente a ela por vias profissionais.

Ela suspirou e fechou os olhos por um instante. Precisava se recompor. Não poderia permitir que um mero encontro casual interferisse em sua carreira. Pegou a caneta e fez algumas anotações no contrato antes de chamar Rafael.

— Vou precisar de você nessa negociação — disse, entregando os documentos a ele.

Rafael ergueu uma sobrancelha e pegou os papéis.

— Por quê? O que há de tão especial nessa empresa?

Ela hesitou por um instante, mas decidiu contar.

— O CEO, Davi Vasconcellos... eu o conheci no evento de ontem.

O amigo abriu um sorriso malicioso.

— Ah, entendi. Então é por isso que você estava tão perdida hoje cedo.

— Não é nada disso — Alice retrucou, cruzando os braços. — Apenas prefiro manter minha relação profissional livre de complicações pessoais.

— Hum... entendi — Rafael brincou. — Mas já aviso que ele é um tubarão nos negócios. Vai precisar de nervos de aço para lidar com ele.

Alice assentiu. Estava pronta. Ou pelo menos era o que queria acreditar.

No final da tarde, ao entrar na sala de reunião, Alice sentiu seu coração acelerar quando viu Davi sentado à cabeceira da mesa. Ele ergueu os olhos e, ao encontrá-la, sorriu levemente. Um sorriso quase imperceptível, mas que carregava um peso silencioso.

— Dra. Alice — ele cumprimentou com a voz grave. — Uma surpresa encontrar você aqui.

Ela manteve a postura firme e profissional, ignorando a eletricidade que parecia vibrar no ar entre os dois.

— Sr. Vasconcellos, é um prazer. Vamos dar início à negociação.

Os minutos seguintes foram marcados por trocas afiadas de argumentos e contrapropostas. Alice mostrava segurança, enquanto Davi exibia uma paciência calculada, como se estivesse se divertindo ao testá-la. Porém, era inegável que a tensão entre eles ia muito além dos negócios.

Em determinado momento, Rafael percebeu a troca de olhares e pigarreou.

— Acho que podemos fazer um intervalo — sugeriu, levantando-se.

Alice sentiu o rosto esquentar, mas manteve a expressão impassível.

Durante o intervalo, Alice saiu da sala de reuniões para espairecer. Caminhou até a varanda do prédio, sentindo o vento frio da cidade em seu rosto. Mal percebeu quando Davi se aproximou.

— Fiquei impressionado com sua firmeza na negociação — ele disse, apoiando-se no parapeito ao lado dela.

Alice cruzou os braços, mantendo sua postura profissional.

— Apenas faço meu trabalho, Sr. Vasconcellos.

Ele riu baixo.

— Me chame de Davi. "Senhor" me faz sentir velho.

Ela arqueou uma sobrancelha, mas não respondeu. Em vez disso, voltou o olhar para a vista da cidade. Havia algo nele que desestabilizava suas defesas. Sua presença era avassaladora, e o modo como a observava a fazia sentir que ele enxergava além da fachada que ela tentava manter.

— Você parece ser uma mulher de controle absoluto, Alice — ele comentou. — Mas algo me diz que há muito mais por trás dessa postura impecável.

Ela se virou para encará-lo.

— E você parece gostar de provocar as pessoas, Davi.

Ele sorriu, inclinando-se ligeiramente em sua direção.

— Apenas quando encontro alguém que vale a pena.

Alice sentiu um arrepio percorrer sua espinha. No fundo, ela também sabia que ele estava certo. O destino não parecia disposto a deixá-los seguir caminhos separados.

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