NovelToon NovelToon

SCRIPT CONTRATADO

A SURPRESA DO AMANHÃ

Eu mal conseguia acreditar em tudo o que estava acontecendo. Depois de toda aquela espera, ali estava eu, em um escritório chique e frio, com as paredes forradas de vidro que me davam uma vista espetacular da cidade.

 O lugar era grande, moderno e impessoal, decorado com móveis de design contemporâneo, e uma energia de ocupação intensa que parecia preencher cada canto. O cheiro de café misturado com o perfume forte do ambiente corporativo estava no ar.

Sentei-me em uma das cadeiras de couro negro, que combinavam com o tom sério de todo o espaço. A sala estava silenciosa, exceto pelo som das conversas abafadas vindas das outras salas.

Eu me sentia deslocada ali, como se fosse um peixe fora d'água, mas não conseguia parar de sorrir. Era um sorriso nervoso, misturado com uma ansiedade que me consumia por dentro.

Meu olhar percorreu o ambiente e vi as pessoas que passavam apressadas, todas com uma expressão de seriedade no rosto. Ninguém parecia notar minha presença. Eu não era ninguém ali, uma simples visitante, mas não podia deixar de me sentir pequena em meio a tantos rostos de poder. Tentava manter a calma, mas meu coração batia descompassado.

E ele, Heitor, ainda não havia aparecido. Ele tinha dito que me chamaria, mas nada. A ansiedade começou a crescer, e minha mente corria a mil por hora. E se ele se esquecesse de mim? E se não fosse tão bom quanto eu imaginava? Eu o via tão inatingível, tão distante, que às vezes me perguntava se ele realmente tinha percebido algo de especial em mim, ou se estava só cumprindo uma formalidade.

Olhei para o relógio. Quanto tempo mais teria que esperar? Eu não sabia se aguentava mais.

Foi quando a porta da sala se abriu. Ele estava ali. Heitor. Alto, imponente, com seu terno perfeitamente ajustado. Seus olhos azuis me encontraram instantaneamente, e eu senti uma onda de nervosismo me tomar.

"Você," ele disse, com um sorriso discreto, mas carismático. "Vamos."

Eu me levantei na hora, quase derrubando a cadeira, e o segui até uma das salas mais reservadas. A cada passo, meu coração parecia bater mais rápido.

Eu me sento, nervosa, tentando não demonstrar o quão fora do meu lugar estou. O escritório é enorme, chique demais para o meu gosto. Paredes de vidro, móveis modernos e um cheiro de café fresco no ar, como se fosse algo que só pessoas como ele, Heitor Guedes, pudessem ter.

Ele se senta na frente, tão calmo, tão distante. Seus olhos estão fixos em mim, sem dizer uma palavra. O silêncio me engole de forma desconfortável, e eu não consigo parar de fitar os papéis sobre a mesa, qualquer coisa para não encará-lo diretamente. Meu coração acelera, mas por algum motivo, não consigo desviar meu olhar.

“Você tem algo muito especial, Ariane.” Ele finalmente quebra o silêncio, sua voz baixa e controlada. “Potencial… e um charme irresistível.”

Sinto minhas bochechas esquentarem e, de repente, meu estômago se transforma em um nó. Como ele pode me olhar assim? Como ele consegue fazer eu me sentir… exposta, como se ele pudesse ver cada insegurança que tento esconder?

Eu mordo o lábio inferior, tentando manter a compostura, mas a verdade é que eu estou completamente sem palavras. Não sei o que fazer com o que ele disse, e fico ali, em silêncio, tentando entender o que tudo isso significa.

Mas então, como um alívio inesperado, a porta se abre de repente. Um homem com uma expressão séria entra, interrompendo o momento entre nós. Ele é alto, de terno impecável, e seu olhar se move rapidamente entre Heitor e eu.

O advogado se aproxima com uma pasta preta, abrindo-a diante de mim com um movimento calculado. Ele retira um contrato e coloca sobre a mesa, virado para mim, como se eu devesse ler e assinar ali, sem mais nem menos

"Este é o contrato", diz ele, sua voz formal e fria, como a de alguém que já se acostumou a lidar com esse tipo de documento.

Eu olho para o papel, tentando processar tudo ao mesmo tempo. As palavras parecem dançar diante dos meus olhos, mas, aos poucos, eu começo a entender. Eu vejo o meu nome na parte superior, e logo abaixo, um detalhe que me faz parar de respirar por um momento.

"… fingir ser namorada do ator Tomaz Guedes, para evitar que rumores sobre sua vida pessoal prejudiquem sua carreira", leio em voz baixa, minhas mãos começam a tremer enquanto eu continuo. "Ser vista com ele em eventos sociais, dar a impressão de um relacionamento sério e…"

Eu não consigo terminar a frase, o choque me impede de continuar. Eu olhei para Heitor, ele não me avisou disso.

“Isso é... real?” Eu não consigo evitar a pergunta, a minha voz sai quase como um sussurro, incrédula. Eu pensei que o papel fosse algo fictício, uma invenção para uma peça, algo que eu poderia interpretar sem maiores consequências. Mas isso? Isso era diferente.

 Era verdade. Eu teria que fingir ser a namorada de outro homem, um ator aparentemente famoso, em público.

Eu sinto uma pontada no peito, uma sensação estranha, algo que mistura frustração com desconfiança. Por que ele não me disse isso antes? Por que me envolveu nesse jogo sem me avisar dos riscos?

"Você tem alguma dúvida sobre isso?", o advogado pergunta, quase como se fosse uma formalidade.

Eu fico em silêncio, ainda tentando processar tudo. De repente, tudo parece mais complicado do que eu imaginei. Eu não pedi por isso, não esperava por isso. E, no fundo, eu me pergunto: será que esse papel realmente vale a pena? Ou será que estou apenas entrando em uma mentira que vai me engolir?

"Heitor, espera", eu falo, ainda tentando juntar todas as peças. "Eu só… não entendi uma coisa. Esse ator… Ele é…?"

Heitor me interrompe, um sorriso forçado no rosto, mas algo nele parece sincero. "Sim, ele é meu irmão, Tomás Guedes", diz ele, sem mais rodeios.

Eu congelei por um momento. Tomás Guedes, o irmão de Heitor, um ator famoso, e eu teria que fingir ser sua namorada? O peso da revelação caiu como uma tonelada.

"Você sabia disso?" minha voz sai mais alta do que eu queria, mais confusa também. "Por que não me disse antes?"

Heitor não responde imediatamente, como se a pergunta o pegasse de surpresa. Eu posso sentir que ele sabe que, de alguma forma, deveria ter sido mais claro comigo.

"Eu… sabia", ele admite finalmente, e seu olhar parece distante, como se se arrependesse de alguma coisa que não soubesse explicar. "Eu só… queria te dar a oportunidade, sem te assustar antes."

"Você está brincando comigo, né?" A pergunta sai de mim com uma ponta de raiva, misturada com frustração. "Eu pensei que era um papel fictício, Heitor. Não imaginava que estava entrando nesse tipo de história. Isso é real! E o pior é que Tomás Guedes é seu irmão."

"Sim", ele me interrompe, respirando fundo. "É a única solução. Ele precisa de alguém que faça esse papel, para proteger a imagem dele e da família. Eu achei que você ia entender, já tem tudo explicado no contrato."

Eu fecho os olhos por um momento, tentando processar tudo isso. Como não vi isso vindo? Como aceitar essa proposta sem questionar?

O INÍCIO DO IMPROVÁVEL

Eu estava perdida em meus pensamentos, segurando o contrato com as mãos, quando o celular tocou. Era uma vídeo-chamada de minha tia Fernanda. Fiquei surpresa, já que ela raramente me procurava. Ao atender, logo vi a imagem desfocada da casa humilde da minha avó, antes mesmo de ouvir o som das vozes.

“Ariane, é bom que você tenha atendido. A vovó não está bem e ela quer te ver.” – Fernanda falava com pressa, a preocupação evidente em seus olhos.

Meu estômago apertou. Lágrimas começaram a ameaçar minha visão enquanto tentava controlar a respiração. Minha avó, que sempre foi a rocha da nossa família, estava visivelmente debilitada. Seu rosto pálido, mais magro do que o normal, refletia uma batalha silenciosa que eu não queria enfrentar.

"Não, precisa se preocupar. Fernanda está exagerando." disse minha avó, fraca, mas tentando sorrir.

"Vó..." Minha voz falhou. Não sabia o que dizer.

A minha tia logo entrou na conversa. “Você precisa saber que a situação aqui tá feia. A grana não tá entrando, e a sua mãe… não estamos conseguindo arcar com suas despesas na reabilitação. Você sabe que a gente sempre teve dificuldades, mas agora está insustentável. Você bem que poderia ajudar, agora que é atriz né?”

Era como se algo tivesse estalado dentro de mim. Eu via a situação difícil, a pobreza que envolvia a minha família, e eu, a única que tinha oportunidades de algo maior na vida, me sentia impotente. Eu sabia que, por mais que eu não gostasse de como Heitor estava me manipulando, não tinha mais como fugir da realidade.

O que mais eu poderia que fazer para salvar minha mãe e dar conforto para minha avó, para salvar a minha família?

“Eu vou ajudar, tia , vou fazer o que for preciso.” A resposta saiu sem que eu pensasse direito. Eu tinha que aceitar a proposta de Heitor, nem que fosse para sair dessa situação difícil.

Desliguei a ligação com o coração pesado. Eu tinha que ir atrás do que fosse necessário. Não estava feliz, mas era o único caminho que eu via.

Olhei para o contrato novamente. Agora, era como se ele estivesse se tornando meu único refúgio, meu único caminho. Eu respirava fundo, tentando afastar o tumulto dentro de mim. Aceitar a proposta de Heitor significava entrar em um jogo perigoso, mas eu não tinha outra escolha. Eu precisava disso.

O telefone tocou novamente, e ao ver o nome na tela, não precisei pensar muito para atender. Era Heitor, e sabia que, dessa vez, ele tinha algo mais para me oferecer.

"Ariane, podemos nos encontrar?" A voz dele estava calma, mas havia algo em sua maneira de falar que me dizia que ele tinha a carta na manga.

Aceitei sem hesitar. Eu já sabia o que precisava fazer, mas os próximos passos pareciam mais difíceis do que eu imaginava. Talvez, se eu tivesse uma vantagem, poderia lidar melhor com o jogo que estava prestes a começar.

Nos encontramos num café discreto, bem diferente do lugar onde ele me havia dado o contrato.

Ele estava sentado em uma mesa afastada, com uma xícara de café na frente. Quando me aproximei, ele me cumprimentou com um sorriso profissional.

"Você pensou sobre o que falei?" - ele estava tentando ser persuasivo, mas eu sabia que ele já sabia a resposta.

"Sim,"- respondi com um suspiro, tentando me manter firme. "Eu aceito o contrato. Mas preciso de algo em troca." Ele arqueou uma sobrancelha, curioso, como se já soubesse o que estava por vir.

"Fale, o que você quer?"

"Eu quero um adiantamento. Não posso entrar nisso sem uma segurança. Preciso garantir que estou fazendo a escolha certa." - minha voz estava calma, mas firme. Ele me observava, como se estivesse avaliando a minha ousadia.

"No contrato diz que você ganhará cem mil."- ele começou, "Mas entendo que você precisa de algo mais imediato. Então, o que você sugere?"

Eu olhei para ele, sem hesitar. "Cada mês, eu quero uma parcela da metade do pagamento. Só assim eu estarei realmente segura para dar esse passo."

Ele me estudou por um momento, com os olhos intensos e avaliadores, como se estivesse vendo mais do que eu queria mostrar.

E ele disse finalmente. "O pagamento... vai ser transferido, como você pediu. Mas lembre-se, você está entrando em um jogo onde ninguém pode sair ileso."

Eu acenei com a cabeça, absorvendo tudo. Sabia que ele estava tentando me intimidar, mas eu estava pronta. O que ele não sabia era que eu também estava jogando o meu jogo. Agora, o papel de namorada de aluguel não parecia mais tão fora do meu alcance. Era uma oportunidade, e eu estava decidida a tirar proveito dela.

"Ótimo," falei, tentando manter a compostura. "Eu começo quando?"

Ele sorriu, um sorriso calculista, como se já soubesse que eu não tinha mais volta. "Logo, mas se prepare-se, Ariane. O que vem pela frente vai mudar sua vida."

Eu respirei fundo, sabendo que a partir daquele momento, nada seria como antes. Agora, eu estava dentro do jogo. E não tinha como voltar atrás.

Eu já estava com a resposta em mente, mas uma dúvida surgiu enquanto ele falava sobre a escola de atuação de Tomás que eu deveria entrar e o pagamento. Algo que estava me incomodando desde o começo, e não pude deixar de perguntar.

"Você falou sobre o contrato, sobre o pagamento... mas e Tomás? Ele deveria estar aqui também, já que eu seria... a nova namorada dele, não é?" A pergunta saiu mais direta do que eu esperava, mas precisava entender o que estava realmente acontecendo. O que exatamente ele esperava de mim, além de fingir ser outra pessoa?

Heitor me encarou por um momento, o olhar grave, quase como se eu tivesse tocado em um ponto sensível. Ele fez uma pausa antes de responder, e eu sabia que a resposta não seria simples.

"Tomás não está aqui porque ele ainda não sabe do contrato, Ariane." Ele falou com uma calma desconcertante, quase como se estivesse me dando um detalhe insignificante. "Ele não tem ideia de que você fará parte do nosso acordo. Ele vai descobrir mais tarde, quando a situação se desenrolar."

"Mas então, o que eu faço? Como vou conquistar alguém que nem sabe da minha existência?" Eu estava começando a ficar mais desconfortável com a ideia. O que ele estava esperando de mim?

Ele sorriu, como se estivesse esperando que essa pergunta surgisse. "Você tem o perfil perfeito para ele, Ária. Tomás é o tipo de homem que gosta de mulheres autênticas, que sabe se impor e que não tem medo de ser quem é. E, honestamente, você tem todas as qualidades dele. O charme, a atitude... ele vai se encantar por você, tenho certeza."

Aquela resposta me pegou de surpresa. Eu não sabia se deveria me sentir lisonjeada ou nervosa. O que significava "o perfil perfeito"? Eu não sabia mais o que pensar sobre o jogo que estava sendo armado. Heitor estava falando sobre Tomás como se eu fosse uma peça já escolhida para ele, como se fosse apenas uma questão de tempo até que a engrenagem começasse a funcionar.

"E se ele não gostar de mim?" Eu não conseguia deixar de questionar, precisava de alguma certeza, alguma explicação que me tranquilizasse.

"Heitor, como você sabe que vai funcionar?"

Ele deu de ombros, como se fosse a coisa mais simples do mundo. "Porque Tomás é como qualquer outro homem. Ele gosta de mulheres com atitude, que sabem o que querem. E você, Ária, é exatamente o tipo de mulher que ele procura. Só precisa dar o primeiro passo."

Eu não sabia se deveria acreditar nele ou se estava apenas sendo manipulada em um jogo que não compreendia totalmente. Mas, uma coisa eu sabia: ele tinha o controle. E, de algum modo, eu também estava começando a me convencer de que esse caminho seria o único para garantir minha segurança e, quem sabe, conquistar algo mais.

"Eu entendo," disse, respirando fundo e tentando manter a compostura. "Vou fazer o que for necessário."

Ele sorriu novamente, com minha resposta. "Isso é o que eu queria ouvir. Agora, vamos acertar os detalhes, e você estará pronta para começar. E em breve, Tomás vai ser seu."

O PRIMEIRO PASSO

Antes de chegar à escola, as palavras de Heitor ainda ecoavam na minha mente.

'Não precisa se preocupar com o contrato agora. Primeiro, entre na Escola de Talentos, conheça as pessoas, e se enturma. O resto a gente resolve depois.'

Ele não deu mais detalhes. Apenas me garantiu que tudo estava encaminhado e que, quando chegasse a hora, eu seria avisada.

E agora, olhando para a enorme construção à minha frente, engoli em seco.

Escola de Talentos Martins Muniz.

As letras douradas brilhavam na fachada clássica, imponente, como se rissem da minha hesitação. Eu deveria estar radiante agora. Esse era o meu sonho desde criança. Oportunidade única. A minha oportunidade de tornar-me atriz.

Martins Muniz não era apenas uma escola, era uma ‘vitrine’ de talento e sucesso. Eu podia sentir os olhares curiosos dos estudantes passarem sobre mim, como se eu estivesse a ser avaliada a cada passo.

Mesmo o ar parecia mais denso, carregado de expectativas, como se até o vento sussurrasse ‘você precisa ser mais’. O peso de ser uma ‘novata’, uma inexperiente, se tornava ainda mais evidente entre aquelas paredes que respiravam fama e excelência."

E se eu não fosse boa o suficiente?

Respirei fundo, tentando afastar o pensamento. Era ridículo. Pessoas passavam anos tentando entrar ali, e eu tinha conseguido em um piscar de olhos. Deveria estar comemorando. Só que, em vez disso, tudo que eu sentia era um nó apertado no estômago.

E se eu fosse a pior da turma?

Afinal, eu nunca tinha pisado num palco de verdade. Nunca tinha feito um curso profissional. Tudo que eu sabia vinha de vídeos na internet, ensaios no espelho e alguns teatros escolares que ninguém levava a sério. Agora, eu estava prestes a entrar no mesmo ambiente que os filhos de diretores de cinema e os queridinhos da mídia.

Eu repeti para mim mesma como um mantra, tentando reunir coragem para subir os degraus.

Você nasceu para isso.

Foi para isso que sonhou sua vida inteira.

Você merece.

Mas, antes que eu pudesse dar o primeiro passo, meu celular vibrou no bolso, e uma música familiar ecoou no ar.

Meu celular vibrou no bolso, e uma música familiar ecoou no ar.

Counting Stars, do OneRepublic.

Minha prima.

"Está tudo bem aí?" — a voz cautelosa de Celine veio do outro lado da linha. "A vovó pediu pra te ligar por que disse que acabou de sentir arrepios."

Soltei um suspiro e revirei os olhos com um sorriso.

"A vovó só deve estar com frio, ou talvez só estivesse sendo dramática como sempre."

Mas, apesar de rir da paranoia dela, já sentia falta dessas superstições sem sentido das duas.

"Talvez." — Celine riu baixinho, mas sua voz ainda carregava preocupação. "É só que... estamos preocupadas. Você está sozinha, numa cidade escondida no meio do nada..."

"Sel, eu sei o que estou fazendo, lembra?"

"Eu sei, eu sei. E, sério, parabéns pela bolsa! Eu sabia que você conseguiria."

Senti meu peito apertar. Era mais fácil deixá-las acreditar que eu tinha conquistado tudo sozinha.

"Obrigada."

"Mas eu sinto saudades de você e a vovó também." — ela disse, e pude imaginar seus olhos marejados.

"Também estou sentindo." — sorri, tentando não me emocionar. "Mas não se preocupe. Daqui a pouco eu volto rica e famosa."

Ela riu.

"Vou te esperar na TV, hein!"

Desligamos, e eu finalmente tomei coragem para subir os degraus. Peguei meu celular e virei a câmera para registrar o momento. O prédio parecia ainda maior visto pela tela trincada.

E então, em um piscar de olhos, tudo saiu do lugar.

Pisei em falso.

Meu coração disparou, e eu já me preparava para o pior — meu destino sendo selado no asfalto cinzento — quando mãos firmes me seguraram antes que eu atingisse o chão.

Minha mente precisou de alguns segundos para processar.

Olhei para cima e encontrei um sorriso divertido. Um homem, aparentemente da minha idade, me segurava como se estivesse protagonizando um romance de época.

Algo nele parecia... familiar. Não pelo rosto em si, mas pela energia que exalava. A confiança despreocupada, o jeito como os olhos brilharam em diversão... Como se eu já o tivesse visto em algum lugar, mas não consegui lembrar onde.

"Qual a graça?" — resmunguei, tentando me afastar dele.

"Parece cena de filme." — ele riu, sem soltar minha mão: "O mocinho encontra a mocinha, eles se esbarram, e aí se apaixonam perdidamente..."

Eu pisquei.

Ele só podia estar brincando.

"Amor à primeira vista? Sério? Sai dessa, cara."

"Não acredita? E na segunda vez que a gente se esbarrar…?

"Eu vou estar apaixonada?" - eu interrompi, sem acreditar em suas fantasias."

Ele arqueou a sobrancelha.

"Talvez. Eu posso tropeçar em você de novo, só para testar."

Segurei uma risada.

"Vai atrás da sua Julieta, Romeu. Porque aqui não vai rolar."

Ele suspirou teatralmente.

"Não dá, ainda não encontrei a minha Julieta."

Eu encarei ele, incrédula.

"Isso é algum tipo de pegadinha com as calouras?"

"Juro que não, mas e se fosse você a minha Julieta?

Um leve sotaque puxado escapou na frase, como se ele tivesse tentando esconder a forma natural de falar. Algo que me deu um arrepio estranho, mas que ignorei.

"Você é doido. Se trata vai."

Rindo da situação surreal, peguei minhas malas e continuei subindo os degraus, sem me importar mais com minha hesitação inicial.

"Nem vai me dizer seu nome?"— ele perguntou, ainda atrás de mim: "Você quem sabe. Na próxima vez que nos esbarrarmos, pode ser que estejamos apaixonados de verdade."

Revirei os olhos, sem olhar para trás.

Mas, honestamente?

Se a situação fosse outra, eu até poderia ter ficado um pouco admirada. Ele realmente parecia um príncipe de conto de fadas.

Mas eu não tinha tempo para isso.

Meu destino me esperava.

Para mais, baixe o APP de MangaToon!

novel PDF download
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!