A estrada estava deserta naquela noite, iluminada apenas pelas luzes fracas do farol do carro, que avançava a todo vapor em meio à escuridão. Dentro do veículo, a família seguia sua rotina, mas ninguém sabia que aquela viagem se tornaria a última da vida deles. Sn, uma pequena recém-nascida, estava em seus braços, envolta em uma manta macia, sem saber que sua vida estava prestes a mudar para sempre. Ela mal tinha dias de vida, ainda se adaptando ao mundo fora do ventre materno, ainda desconhecendo a cruel realidade que a aguardava.
O som da estrada era abafado pelo ronco do motor e pelo vento que batia nas janelas. O pai dirigia com firmeza, enquanto a mãe tentava acalmar a pequena, balançando suavemente o berço improvisado ao seu lado. Porém, naquele momento, algo inesperado aconteceu. O motorista de um outro carro, perdido em seus próprios problemas, não conseguiu controlar a direção. A colisão foi inevitável. O impacto foi violento, estremecendo o veículo e lançando-o para fora da estrada. O som do metal se retorcendo e os gritos de angústia ecoaram na escuridão da noite.
No segundo seguinte, o silêncio tomou conta de tudo. O carro que antes avançava com velocidade agora estava imobilizado, quebrado, esmagado. Sn, ainda indefesa, fora a única sobrevivente. Seus pais, que haviam sonhado em vê-la crescer, não resistiram ao impacto brutal do acidente. Eles estavam em paz agora, mas para Sn, o que restou foi uma vida inteira de dor, perda e solidão. O que seria de sua vida sem aqueles que a haviam criado, sem a proteção de seus pais? Tudo que ela conhecia havia sido arrancado em um piscar de olhos.
O acidente, que parecia ser apenas o fim, na verdade era apenas o começo de uma história ainda mais dolorosa, uma história em que a pequena Sn teria que aprender, sozinha, o que significava viver sem a presença de quem a amava.
O céu estava mais escuro agora, a noite se arrastando, e a estrada parecia ainda mais solitária após o acidente. Era uma noite fria, com o vento cortando o ar, e o som do motor de um caminhão ecoava ao longe. Um homem, conhecido na cidade por ser caminhoneiro, estava viajando pela estrada quando avistou algo estranho. Ele desacelerou, notando um vulto no meio da pista, onde o carro acidentado ainda permanecia, imobilizado e irreconhecível. O caminhão foi estacionado na beira da estrada, e o homem desceu rapidamente, apreensivo.
Ao se aproximar do carro, o cenário diante dele era horrível. A batida havia sido tão forte que a lataria do veículo estava deformada e esmagada, como se um monstro de metal tivesse destruído tudo em seu caminho. O som do vento e da sua respiração ofegante parecia ser a única coisa que ele conseguia ouvir. O homem olhou para os lados e, de repente, avistou os corpos dos pais de Sn jogados no chão, sem vida. Eles estavam ali, mortos, tragicamente levados pela força do impacto. Um arrepio percorreu sua espinha ao ver os rostos deles tão imóveis, sem sinais de movimento, e o desespero de um futuro apagado para aqueles que ali estavam.
Mas então, algo o fez parar. Ao lado do carro, uma pequena cadeira de bebê ainda estava intacta, e de dentro dela, um som débil e desesperado rompeu o silêncio da noite. O choro de uma criança. Era Sn. Ela estava ali, em sua cadeirinha de segurança, encolhida e assustada, mas viva. Seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar, e sua pele ainda mostrava os vestígios do choque que ela havia sofrido. O homem, sem pensar duas vezes, se aproximou da porta do carro com pressa. Ele tentou abrir a porta, mas ela estava presa, o metal da estrutura danificada pela colisão. Com mãos trêmulas e coração apertado, ele forçou a porta, fazendo um esforço desesperado para alcançar a criança.
"Calma, minha menina," ele sussurrou, a voz cheia de compaixão. "Eu vou te tirar daqui."
Ele sentiu o calor do choro de Sn em sua pele, como se o sofrimento dela tivesse tocado seu próprio coração. Com um esforço final, ele conseguiu abrir a porta, e a pequena, ainda aos berros, foi cuidadosamente retirada do veículo, com as mãos gentis do homem a segurando. "Você está segura agora," ele murmurou, tentando acalmar a criança, mas sua própria voz estava carregada de angústia. Como explicar para aquela menina, tão pequena, que seus pais haviam ido embora e que ela estava agora sozinha neste mundo cruel?
Sn, com os olhos arregalados e o choro ainda intenso, parecia entender que o homem não era uma ameaça, mas seu desespero era maior que tudo. O caminhoneiro, com o coração apertado e a mente atordoada pelo que acabara de testemunhar, rapidamente pegou o telefone e discou para os bombeiros. Ele sabia que não poderia deixar Sn ali sozinha por mais tempo, mas também sabia que ela precisava de ajuda urgente. Ele se sentou na estrada, a pequena nos braços, tentando mantê-la aquecida, tentando dar-lhe alguma sensação de conforto. A dor dele era profunda, mas a de Sn, perdida sem seus pais, era imensurável.
O caminhoneiro ficou ali, esperando, com o corpo de Sn acolhido entre seus braços, olhando para o céu escuro, com o coração cheio de um misto de tristeza e impotência. Ele sabia que o que acontecera naquele momento mudaria para sempre a vida daquela menina. E ele não sabia o que o futuro lhe reservava, mas uma coisa ele sabia com certeza: ele não a deixaria sozinha. Não mais.
Aqui vai a continuação que você pediu, com a chegada dos bombeiros:
O som das sirenes cortou a escuridão da noite, distante no início, mas ficando mais alto à medida que os carros de resgate se aproximavam. O caminhoneiro, ainda com Sn nos braços, olhou para a estrada em direção ao barulho. A luz vermelha e azul piscava no horizonte, sinalizando que a ajuda estava a caminho. Ele apertou a menina contra o peito, tentando acalmá-la, embora soubesse que o pior ainda estava por vir.
Quando os bombeiros chegaram, a cena foi devastadora. Eles pararam em frente ao carro destruído, saindo rapidamente dos veículos com suas ferramentas e equipamentos de resgate. O líder da equipe se aproximou do caminhoneiro, que estava sentado no asfalto, com Sn ainda em seus braços. Ele estava pálido, com a respiração ofegante, e o olhar perdido. A criança que ele segurava estava em choque, os olhos grandes, as lágrimas não paravam de cair, e seu pequeno corpo tremia. O bombeiro, uma mulher de rosto sério e cansado, abaixou-se e olhou para Sn, observando as feridas leves que a menina tinha pelo impacto, mas a salvação estava ali. Ela ainda estava viva.
"Ela está bem? Ela foi cortada em algum lugar?" perguntou a bombeira, olhando para o caminhoneiro, enquanto sua voz demonstrava a urgência da situação.
"Ela... ela estava no banco de trás... os pais dela não resistiram... ela... está viva, mas está traumatizada," o caminhoneiro respondeu, com a voz embargada, como se o peso da situação o estivesse sufocando.
A bombeira rapidamente pegou uma manta térmica e a colocou em volta de Sn, que estava gelada e tremendo. A menina continuava chorando, seus olhos fixos na figura do homem, como se ele fosse a única âncora que ela ainda tinha naquele momento de caos.
"Vamos levar ela para o hospital," disse o bombeiro, agora mais calmamente, mas com firmeza. "Ela precisa de cuidados imediatos."
Enquanto outro bombeiro preparava uma maca, o caminhoneiro hesitou. Ele não queria deixar Sn. Ele havia sido o primeiro a encontrá-la, o primeiro a vê-la depois do acidente. Mas sabia que ele não poderia fazer mais nada além de dar a ela um pouco de conforto. Ele olhou para a menina, seu pequeno rosto coberto de lágrimas, com o choro mais silencioso agora, e sussurrou: "Você vai ficar bem, vai ver. Eles vão cuidar de você."
Com muito cuidado, os bombeiros colocaram Sn na maca e começaram a transportá-la para a ambulância. O caminhoneiro, ainda atônito, ficou ali parado, assistindo enquanto a menina era levada para longe dele, para a segurança de profissionais que poderiam dar-lhe o que ela mais precisava naquele momento: cuidado e proteção.
Ele se virou para o carro destruído, onde os corpos dos pais de Sn estavam. O silêncio se instalou novamente, agora mais pesado, mais assustador. O caminhoneiro sentiu o peso da perda, não apenas para Sn, mas para todos os que estavam envolvidos naquele trágico acidente. Ele sentiu como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros, mas uma coisa estava clara: aquela menina não estava mais sozinha. Ela tinha sobrevivido, e ele faria o que fosse possível para garantir que ela tivesse uma chance de viver uma vida feliz, apesar de tudo.
Após a chegada da ambulância ao hospital, os bombeiros realizaram o trabalho pesado. Eles, com seus rostos sérios e profissionais, haviam levado os pais de Sn para o Instituto Médico Legal (IML). Tudo estava sendo feito com a precisão necessária para cumprir os protocolos, mas a dor silenciosa estava no ar. Os corpos dos pais foram cuidadosamente retirados da ambulância, levados para o IML, onde seriam examinados e identificados, mas a realidade de que Sn havia perdido tudo estava estampada na expressão dos bombeiros. Nenhum deles parecia conseguir desviar o olhar da garotinha, que estava nos braços de uma das bombeiras, ainda com os olhos marejados e o choro mudo, sem entender o que acontecia.
No hospital, a enfermeira e a bombeira levaram Sn para um quarto, tentando acalmá-la enquanto ela continuava a soluçar. A criança estava em choque, seus olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, mas os profissionais tentavam ser gentis, mesmo diante da tragédia que haviam presenciado.
Uma das bombeiras, uma mulher de cabelos castanhos curtos e rosto cansado, se aproximou do médico que aguardava a chegada de Sn. Ela estava com a voz embargada, mas não conseguiu segurar o peso da tristeza.
"Dr. Souza," ela disse, a voz falhando. "Eu… eu encontrei a criança no acidente. Os pais dela não sobreviveram. Ela… eles morreram na colisão. Eu vi. E um senhor idoso, que estava passando pela estrada, foi quem encontrou o carro e ligou para os bombeiros."
O médico, um homem de estatura média com óculos e uma expressão tranquila, ouviu com atenção, mas não deixou de perceber a aflição da bombeira. Ele limpou a garganta, olhou para Sn e fez um gesto para que a enfermeira preparasse a criança para os cuidados médicos.
"Eu entendo," o Dr. Souza disse calmamente, tomando uma respiração profunda. "Levaremos o bebê para a enfermaria para observação. Eu vou tentar descobrir se ela tem algum parente por aqui, mas… ela não pode ficar sozinha. Vamos fazer tudo o que for possível para encontrarmos um responsável."
A enfermeira, com mãos suaves e experientes, começou a medir a temperatura de Sn e verificar seus sinais vitais enquanto o médico se retirava para fazer uma série de ligações. A pequena estava em choque, sua respiração ainda instável e os olhos fixos no vazio. Não era apenas o físico que precisava de cuidados, mas também sua mente, que parecia estar tentando processar tudo o que acontecera.
Enquanto o médico se afastava, a bombeira que havia encontrado Sn a olhou com um olhar repleto de empatia e preocupação. Ela sabia que a vida daquela criança mudaria para sempre, e ela sentiu um aperto no coração, mas não sabia o que mais fazer. Foi então que ela se virou para a enfermeira, que estava ao lado de Sn, e com a voz trêmula, ela falou:
"Ela… ela estava tão assustada. Eu… eu nunca vi nada assim antes. E agora, ela está sozinha. Eu só queria poder fazer algo mais por ela. Não sei o que vai acontecer com ela…"
A enfermeira, que estava acariciando suavemente o cabelo de Sn, olhou para a bombeira com um olhar de compreensão. Ela sabia que aquele momento era um dos mais difíceis que alguém poderia enfrentar, mas também sabia que havia algo importante a ser feito agora: cuidar da criança.
"Ela não está sozinha, por enquanto," a enfermeira respondeu com calma. "Nós vamos cuidar dela. Mas, como você disse, ela vai precisar de muito mais do que apenas cuidados médicos. Vai ser um longo caminho para ela."
A bombeira assentiu, sentindo as lágrimas ameaçarem cair novamente. Ela olhou para Sn, que estava agora tranquila, mas ainda com o semblante distante, como se não conseguisse entender a tragédia que a envolvia. Ela se afastou lentamente, mas não sem antes dar um último olhar para a criança, prometendo silenciosamente que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para ajudá-la.
O Dr. Souza se afastou de Sn, que estava sendo monitorada pela enfermeira, e foi até sua mesa. Seus dedos hesitaram por um momento sobre os números do telefone, mas ele sabia que precisava tentar. O futuro de Sn dependia de encontrar um familiar, alguém que pudesse cuidar dela, agora que os pais estavam mortos. Ele discou um número após o outro, tentando várias alternativas, mas nenhuma resposta vinha. O som de cada chamada sem retorno parecia um golpe mais forte, um lembrete de que a pequena estava completamente sozinha.
O médico olhou para a criança, que ainda estava quieta, perdida em seus próprios pensamentos. Sentiu uma pontada de tristeza, mas sabia que precisava seguir em frente. Desesperado, ele tentou um último número na lista — o número do avô de Sn, que ele havia encontrado nas informações do celular de um dos pais da menina.
Quando o telefone tocou, o Dr. Souza não sabia o que esperar. A cada segundo que passava, sua ansiedade aumentava. O som da ligação parecia se arrastar, até que, finalmente, alguém atendeu do outro lado.
"Alô?" A voz do homem era grave e parecia cansada, como se estivesse esperando por algo há muito tempo.
"Olá, sou o Dr. Souza, do hospital. Estou falando com o senhor... o avô de Sn, correto?" O médico perguntou, tentando manter a calma.
Do outro lado da linha, o avô de Sn respirou fundo, o som de sua voz carregado de preocupação e surpresa.
"Sim, sou eu. O que aconteceu com a minha neta? Ela está bem?" A voz do homem estava cheia de urgência, e Dr. Souza sentiu a dor naquelas palavras. Era evidente que ele já sabia que algo estava errado, e que estava sofrendo por ter ficado distante o suficiente para não poder proteger a menina.
"O senhor precisa vir ao hospital, é urgente," começou o médico, sua voz mais grave. "Houve um acidente, os pais de Sn não sobreviveram, mas sua neta está viva. Ela foi encontrada em estado de choque, mas está estável agora. Precisamos de um responsável para ela. O senhor pode vir o mais rápido possível?"
Houve uma pausa no outro lado da linha, e o Dr. Souza podia ouvir o som de uma respiração pesada antes que o avô falasse novamente, a voz tremendo.
"Eu… eu não sei o que dizer. É um pesadelo, um maldito pesadelo. Como ela…? Como isso aconteceu? Onde estão os pais dela?" O homem parecia descontrolado, como se não conseguisse entender a dimensão da tragédia.
O médico suspirou, sentindo o peso da situação. "Infelizmente, eles não resistiram ao impacto do acidente. O senhor precisa vir ao hospital imediatamente para que possamos garantir que Sn fique com alguém da família. Ela está sendo bem cuidada, mas não pode ficar aqui sozinha."
O avô de Sn, após mais alguns segundos de silêncio, finalmente se controlou e falou com uma voz mais firme: "Eu vou para aí agora. Obrigado por cuidar dela. Eu… vou fazer o que for necessário."
"Nos vemos em breve, então," disse o Dr. Souza, sentindo um alívio temporário. "Estamos aguardando."
Com um último suspiro, o médico desligou a chamada e olhou para Sn, que estava agora mais tranquila, mas com os olhos perdidos no vazio. Ela não sabia o que estava acontecendo ao seu redor, e o mais difícil de tudo era que, naquele momento, ela ainda não compreendia a totalidade da perda que acabara de sofrer.
Enquanto o Dr. Souza se retirava da sala para se preparar para a chegada do avô de Sn, ele não pôde deixar de sentir um pesar. A menina havia perdido seus pais, e agora seria responsabilidade de um homem idoso tomar a frente de sua vida. O futuro de Sn estava em uma linha tênue, mas, ao menos, ela teria alguém para cuidar dela.
O hospital estava mais calmo agora, com a correria das emergências diminuindo, mas a tensão no ar era palpável. O Dr. Souza estava em sua sala, olhando para a ficha de Sn, quando a porta se abriu e o avô de Sn entrou, acompanhado por uma mulher idosa, com o rosto marcado pela preocupação. O avô, um homem de cabelos grisalhos e olhar cansado, parecia devastado pela dor, mas sua postura era firme, como se estivesse tentando se segurar para dar um passo adiante. A mulher, provavelmente sua esposa, estava mais visivelmente abalada, com as mãos tremendo enquanto ela segurava uma bolsa perto de seu peito.
"Dr. Souza?" O avô perguntou com uma voz grave, mas trêmula, como se a palavra saísse com dificuldade. "Somos os avós de Sn. Onde está minha neta? O que aconteceu com ela?"
O médico levantou-se da cadeira e caminhou até eles, percebendo a dor estampada no rosto dos dois. Ele os conduziu até a sala onde Sn estava, quieta, deitada na cama, mas agora já mais calma, embora seu olhar ainda estivesse perdido no vazio.
"Ela está bem fisicamente, mas emocionalmente…" o Dr. Souza pausou, procurando as palavras certas. "Ela passou por um trauma muito grande. O acidente foi muito grave, mas ela é uma sobrevivente. A boa notícia é que, apesar de tudo, a condição dela está estável."
O avô de Sn soltou um suspiro pesado, passando a mão na testa, enquanto a avó se aproximou de Sn com os olhos marejados. Ela tocou levemente o cabelo da neta, como se tentando fazer contato, mas sem saber como chegar até ela. Sn, por sua vez, não reagiu imediatamente, o que fez o coração dos avós doer ainda mais. A dor de perder os filhos e, agora, ver a neta em estado de choque era mais do que eles poderiam suportar.
"Ela não fala nada?" A avó perguntou, a voz quebrando em um fio de tristeza.
"O trauma psicológico é grande," explicou o Dr. Souza, com um olhar sério, mas gentil. "Ela perdeu os pais, e isso, é claro, vai levar tempo para processar. Ela ainda está lidando com o choque, e o medo é palpável em cada movimento dela. O mais importante agora é garantir que ela se sinta segura e rodeada de carinho, como vocês estão fazendo."
A avó, com os olhos cheios de lágrimas, olhou para o marido e depois para Sn, como se tentasse entender o que fazer a seguir. O avô, mais firme, fez uma tentativa de acalmar a esposa.
"Estamos aqui, querida. Estamos aqui, e vamos cuidar dela como nossos próprios filhos."
O Dr. Souza assentiu, entendendo a dor dos dois, mas também sabendo que eles precisavam de mais do que apenas palavras. Sn precisava de apoio, de tempo e de alguém que, pacientemente, fosse capaz de guiá-la através de sua dor.
"Eu vou providenciar os cuidados necessários, mas também sugiro que falem com ela devagar, se possível," o médico recomendou. "Por mais que ela esteja em choque, ouvir vozes familiares pode ser reconfortante. E, acima de tudo, precisamos ser cuidadosos com o tempo que ela precisa para se ajustar à nova realidade."
Os avós assentiram, e o avô se aproximou de Sn, segurando sua mão suavemente, tentando transmitir a ela, através do toque, o amor e a segurança que ele queria que ela sentisse. Sn, com os olhos fixos em algo distante, pareceu notar a presença dele, mas ainda não demonstrava reação.
A avó, com um gesto terno, se aproximou também, passando a mão pela testa de Sn e sussurrando palavras que, embora incompreensíveis para a menina naquele momento, carregavam uma carga emocional imensa.
"Estamos aqui, minha querida. Não vai ficar sozinha, prometemos."
O Dr. Souza, percebendo a delicadeza do momento, se retirou da sala para dar espaço aos avós e à neta. Ele sabia que a recuperação de Sn não seria simples nem rápida, mas, com o apoio da família, havia uma chance de que ela pudesse superar, ao menos em parte, a dor que havia experimentado. Era um longo caminho, e o mais difícil estava por vir.
Já haviam se passado vários meses desde o trágico acidente, e o velório dos pais de Sn era o último passo de despedida para todos que estavam ligados àquela dor. A cerimônia estava marcada por um clima de pesar, onde as lágrimas não cessavam. No fundo do salão, o caixão dos pais de Sn estava fechado, e ali estavam os avós da menina, ajoelhados, com os olhos cheios de tristeza, olhando para o túmulo. Eles sentiam o peso de uma perda imensa, e a dor de ter que aceitar que não poderiam cuidar da neta, que agora estava sozinha no mundo, sem a proteção dos pais. Sn estava no carrinho, com uma chupeta vermelha e um ursinho de pelúcia nas mãos pequenas, tentando encontrar algum consolo em sua própria inocência. Seus olhos estavam fixos, perdidos no vazio, sem entender completamente a dor que havia invadido sua vida.
Os tios e tias de Sn estavam presentes, mas suas expressões eram de desconforto, como se a situação fosse mais do que eles podiam suportar. Eles estavam ali, mas não estavam totalmente presentes. Os bisavós de Sn também estavam no velório, seus rostos envelhecidos carregando o fardo do tempo e da perda. A sala estava cheia de pessoas, mas, para Sn, ninguém parecia estar realmente com ela.
Foi então que Beon Su, o irmão mais velho de Sn, entrou no local. Ele parecia deslocado entre todos aqueles rostos conhecidos. Seus olhos estavam vermelhos, e sua expressão, antes calma, agora estava marcada pela dor e pela raiva. Quando a cerimônia terminou e todos começaram a se reunir em um restaurante para uma refeição depois do enterro, a conversa tomou um rumo que Beon Su não esperava.
O tio de Sn, sentado à mesa, falou com um tom de cansaço: "Quem vai ficar com Sn? Eu e minha esposa trabalhamos muito, não podemos cuidar de um bebê, é complicado. E tem o gasto, não podemos arcar com isso."
Os avós de Sn, ainda de luto, também se pronunciaram com resignação. "Somos idosos... não temos mais energia para cuidar dela. Já estamos velhos demais para isso."
A tensão na mesa aumentava, e o silêncio era quebrado pelas palavras de cada um, até que Beon Su não aguentou mais. Ele bateu na mesa com força, fazendo todos se calarem imediatamente. Seu olhar estava fixo em Sn, no carrinho à sua frente, e ele não conseguia entender por que ninguém parecia disposto a cuidar da irmã.
"Eu vou ficar com minha irmã," Beon Su disse com uma voz firme, mas cheia de emoção. Ele olhou diretamente para os tios e tias, os bisavós e, principalmente, para os avós que estavam em silêncio. "Eu posso trabalhar de manhã, colocar a Sn em um berçário ou contratar uma babá para cuidar dela enquanto eu estou fora. À tarde, vou pedir para a empresa me colocar em home office para que eu possa ficar com ela. Vocês são monstros! Não querem cuidar da minha irmã pensando no bolso. Vocês são egoístas!"
Todos na mesa ficaram em choque com a explosão de Beon Su. Ele estava furioso, sua raiva visível em cada palavra. Ele olhou para o dinheiro que estava sobre a mesa, pegou sua parte da conta e, com uma expressão decidida, falou:
"Minha parte da conta está aqui. Agora, ninguém mais vai me ligar perguntando sobre a Sn. Eu vou cuidar dela. Longe de vocês. Não vou deixar que ninguém mais se aproxime dela, nem para perguntar como ela está. A partir de agora, ela é minha responsabilidade, e não importa o que aconteça, eu vou dar tudo o que for necessário para ela."
O silêncio tomou conta da mesa, e ninguém ousou dizer uma palavra. Eles sabiam que Beon Su estava decidido. Ele não queria mais escutar desculpas, e não aceitava que a sua irmã fosse abandonada por conveniência financeira. Ele olhou para Sn, que estava ainda com a chupeta vermelha e o ursinho na mão, e, com o coração apertado, falou com ternura:
"Ei, maninha, eu vou cuidar de você. Eu prometo. Agora você não está mais sozinha. Eu vou te proteger, vou te dar o melhor que eu posso, e não vou deixar ninguém te machucar. Eu sou seu irmão, e vou ser tudo o que você precisa."
Beon Su pegou o carrinho de Sn com delicadeza, como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo. Ele sabia que sua vida agora tinha mudado completamente, e ele estava disposto a fazer qualquer coisa para garantir que a irmã tivesse a oportunidade de crescer com amor e proteção, longe do egoísmo das pessoas que deveriam tê-la cuidado. Com um último olhar para os familiares, Beon Su virou-se e, com a menina nos braços, saiu do restaurante, determinado a começar uma nova vida com sua irmã, sem permitir que nada nem ninguém os separasse.
Os tios da Sn foram atrás de Beon Su, chamando por ele, tentando convencê-lo a reconsiderar.
— Beon Su! Espera, vamos conversar! — um dos tios gritou.
Mas Beon Su não quis ouvir. Ele continuou andando apressado, empurrando o carrinho de Sn sem olhar para trás. Seu coração estava acelerado, e sua mente estava tomada por um único pensamento: proteger sua irmã a qualquer custo.
Ele entrou no metrô com Sn ainda no carrinho, procurando um lugar tranquilo para se sentar. Quando o trem começou a se movimentar, ele pegou a pequena no colo e sorriu para ela.
— Eu vou te levar pro meu apartamento, sabia, Sn? Ele é grande, você pode brincar à vontade — ele disse, tentando confortá-la, mesmo sabendo que ela ainda não entendia.
Ele olhou para a pequena, que estava chupando a chupeta vermelha enquanto segurava o ursinho. Então, suspirou e continuou:
— Vou precisar organizar tudo… Meu trabalho, nossa rotina… Vai ser um pouco difícil no começo, mas eu prometo que vai dar tudo certo, maninha.
Quando o metrô chegou ao seu destino, Beon Su desceu e rapidamente chamou um táxi. Seu próximo destino era uma loja de bebês, onde compraria tudo que Sn precisava.
Ele entrou na loja e começou a pegar os itens essenciais: roupas, mamadeiras, fraldas, um berço confortável. Ele também escolheu alguns brinquedos para ela, pois queria que sua irmã tivesse uma infância feliz, apesar de tudo.
Enquanto estava no caixa passando as compras, ele viu uma seção de livros infantis e pegou um livro colorido, sentindo que talvez fosse bom começar a ler histórias para Sn antes de dormir.
Depois de pagar, chamou outro táxi e seguiu para seu apartamento. Assim que chegou, ele começou a organizar as coisas. Colocou o berço na sala, próximo ao sofá, para que Sn nunca se sentisse sozinha. Depois, pegou-a no colo e a colocou no berço com cuidado.
A pequena olhou para ele, deitada, seus olhos brilhando de curiosidade. Beon Su sorriu, acariciando a cabecinha dela.
Então, ele pegou o celular e começou a escrever uma mensagem para seu chefe. Ele sabia que precisava resolver a questão do trabalho para conseguir cuidar de Sn da melhor forma possível.
📱 Mensagem para o chefe:
"Boa noite, senhor. Desculpe incomodar fora do horário de expediente, mas aconteceu algo muito sério e eu preciso conversar com o senhor sobre minha situação no trabalho. Meus pais faleceram há alguns dias, e minha irmãzinha, Sn, ficou completamente sozinha. Nenhum outro parente quis assumir a responsabilidade de cuidar dela, então eu tomei essa decisão. Eu sou o único que pode garantir que ela cresça em um ambiente seguro e com amor.
Por isso, gostaria de pedir a possibilidade de trabalhar em home office por um tempo. Sei que essa não é uma política comum da empresa, mas prometo que minha produtividade não será afetada. Eu só preciso de um período para organizar tudo e garantir que minha irmã esteja bem.
Agradeço muito pela atenção e espero sua resposta. Obrigado."
Ele leu a mensagem algumas vezes antes de finalmente apertar "enviar".
Agora, tudo o que ele podia fazer era esperar. Ele olhou para Sn no berço, que continuava observando-o com seus olhinhos inocentes.
— Vai dar certo, maninha… Eu prometo que vou cuidar de você.
Beon Su sabia que sua vida nunca mais seria a mesma, mas, por Sn, ele estava disposto a enfrentar qualquer desafio.
Beon Su encarava o celular, sentindo o coração acelerar a cada segundo que passava. Ele sabia que aquela resposta definiria seu futuro e o da pequena Sn. O telefone vibrou em suas mãos, e ele rapidamente desbloqueou a tela para ler a resposta do chefe.
📱 Mensagem do chefe:
*"Beon Su, eu lamento muito pela sua perda. Sei que isso deve estar sendo extremamente difícil para você. Você sempre foi um funcionário exemplar, e eu admiro sua responsabilidade ao assumir o cuidado da sua irmã.
Entendo que essa é uma situação excepcional. Trabalhar em home office não é algo comum na empresa, mas, considerando suas circunstâncias, posso liberar um período temporário. Vamos começar com um mês de trabalho remoto. Durante esse tempo, acompanharemos seu desempenho e, se tudo correr bem, poderemos estender esse prazo.
Quero que saiba que você tem meu apoio. Se precisar de algo, podemos conversar. Fique forte e cuide bem da sua irmã."*
Beon Su soltou um longo suspiro de alívio. Um mês já era um ótimo começo. Ele poderia usar esse tempo para se organizar e garantir que Sn tivesse tudo o que precisava.
Ele olhou para a pequena no berço e sorriu.
— Conseguimos, maninha… Eu vou estar aqui com você, e ninguém mais vai nos separar.
Com essa certeza no coração, Beon Su sentiu que, apesar de todas as dificuldades, ele estava no caminho certo.
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