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Querido Xavier

A Beleza Que Fascina

 Era uma linda manhã quando a mãe de Elionora Clifford a acordou. As cortinas foram abertas, e a luz forte clareou todo o seu quarto, iluminando os móveis de madeira entalhada e os tecidos finos que adornavam o espaço. O aroma de chá e pão recém-saído do forno pairava no ar, vindo dos andares inferiores da casa, onde os criados já davam início à rotina diária.

— Só mais dez minutos. — Nora pediu, cobrindo o rosto com o lençol.

— Não, hoje é o grande dia! Precisamos arrumar você, ir a modista buscar o seu vestido novo. — Sua mãe rebateu, irredutível. — Há tanto para ser feito. — Ela completou animada.

A Londres de 1815 era uma cidade vibrante, repleta de contrastes entre o luxo da aristocracia e o crescimento da classe trabalhadora. Bailes e jantares sofisticados dominavam o cenário da nobreza, enquanto o comércio florescia com as influências das colônias e a Revolução Industrial já começava a transformar o modo de vida dos cidadãos comuns. As mulheres da alta sociedade eram preparadas desde cedo para desempenhar o seu papel como esposas e mães, e para Mary Clifford, mãe de Nora, garantir um bom casamento para sua filha mais velha era uma prioridade absoluta.

— Eu não quero um noivo, mamãe. — Nora repetiu a mesma frase dos últimos dias, sentindo o peso da tradição sobre seus ombros.

— Acho melhor você escolher um noivo antes que seu pai faça isso por você. Nem todas as garotas têm essa chance, Nora. — Mary disse, encarando-a com seriedade.

Desde que a alta sociedade londrina voltara a organizar eventos luxuosos após o fim das Guerras Napoleônicas, os bailes tornaram-se ainda mais essenciais para a corte e os aristocratas. Com a iminente queda definitiva de Napoleão, os nobres ingleses recuperavam sua estabilidade e voltavam as suas atenções para o fortalecimento de alianças matrimoniais. O baile daquela noite não seria apenas um evento social, mas uma verdadeira arena onde famílias influentes buscariam assegurar futuros vantajosos para seus filhos e filhas.

— Ainda não achei a pessoa certa. Me recuso a ser de alguém que eu não ame.

— Querida, me escute! O duque está na cidade. Ele estará no baile. Soube que é um homem bom, tem status e tudo o que qualquer mulher poderia querer. Você é linda, facilmente chamará a atenção dele.

— Mamãe eu não quero, não me importo se a Marta casar primeiro que eu, eu quero esperar, por que isso tem que ser um problema?

— Já chega dessa conversa. — Mary soltou um longo suspiro e continuou. — As suas duas irmãs mais novas já se casaram, a Marta é a caçula, não deveria casar antes da primogênita, e além do mais o seu pai já teve uma breve conversa com o duque.

— Uma breve conversa? Do que a senhora está falando?

— O duque é um bom homem, ele será um bom marido.

— Acabou de dizer que o meu pai me deixou escolher! — Afirmou Nora.

— Eu não deveria te contar. Mas, o seu pai está cansado Nora, acha que é fácil para ele vê as filhas mais novas deixando o nosso lar e você ficando para trás?

— Eu ainda sou jovem.

— Eu me casei com dezesseis, as suas irmãs também, agora chega, levante-se o dia hoje será cheio.

O nome do duque ressoava nos círculos da sociedade londrina desde a sua chegada. Ele vinha de uma linhagem respeitável e era visto como um partido invejável, especialmente por mães como Mary, que ansiavam por ver suas filhas bem-casadas.

Nora, no entanto, não conseguia se conformar com essa perspectiva. Os salões de baile lotados, os olhares calculistas das matronas avaliando cada detalhe, os cochichos sobre quem dançaria com quem… Tudo aquilo a sufocava. O esplendor da elite londrina, com os seus vestidos de seda importada e joias brilhantes, lhe parecia uma gaiola sem saída.

Assim que sua mãe deixou os seus aposentos, Nora deitou-se novamente pensativa, como escaparia dessa, ela pensou consigo mesma.

O casal Clifford eram conhecido na cidade pelas belas filhas que tinham, quatro no total, Elionora a primogênita, Luísa e Lurdes as gêmeas e Marta a caçula.

Luísa e Lurdes casaram no mesmo ano que desposaram, Nora não queria casar-se, pretendentes nunca lhe faltaram, chamava atenção desde muito nova, a sua beleza fascinava os homens, os olhos azuis e intensos pareciam hipnotiza-los, tudo nela era de fato invejável por muitas mulheres, os cabelos loiros, a sua pele delicada, e suas bochechas rosadas que combinavam perfeitamente com os seus lábios carnudos.

Os Clifford haviam investidos nas filhas desde novas para casarem com bons homens, todas elas falavam pelo menos cinco idiomas, tinham aula de piano e dança, já haviam lido inúmeros livros, todas deveriam estar todos os dias impecáveis e saber comandar uma casa, depois de casadas caberiam a elas fazer isso.

O dia passou rapidamente, dando vez a noite, e com ela, o grande baile. O evento era realizado em uma das mansões mais imponentes de Mayfair, onde lustres de cristal refletiam a luz das inúmeras velas, iluminando os salões de teto alto decorados com tapeçarias francesas e quadros de renomados artistas. O som da orquestra ecoava pelo ambiente, e os primeiros casais já deslizavam pelo salão, iniciando a valsa.

Enquanto isso na mansão Clifford, Nora terminava de se arrumar, ela usava o seu vestido rendado azul claro e no cabelo um penteado extravagante que tanto odiava, olhando o seu reflexo no espelho o único homem que amava veio a mente, Xavier.

Ela sussurrou o seu nome e soltou um suspiro.

— Menina, a sua mãe já a espera! — Dolores, a mulher que ajudou na sua criação entrou nos seus aposentos a retirando do seu devaneio.

— Dolores, pode me ajudar com o colar? — Ela pediu e rapidamente foi atendida.

— Mais é claro menina.

Ela foi até lá e a ajudou

— Está ainda mais bela.

— Obrigada. — Nora respondeu

— Está nervosa?

— Não, farei um esforço pelo meu pai.

— O duque não me parece tão ruim

— Você sabia? — Nora pergunta olhando para Dolores com uma expressão neutra.

— Ouvi vocês conversando hoje de manhã, eu sei por quem esta esperando, mais talvez ele nunca volte, dê uma chance ao duque.

— Você me conhece melhor que ninguém, eu não deixei de amá-lo, prometi esperá-lo Nana, eu sei que ele vai voltar para mim.

Dólores riu para ela e acariciou o seu rosto.

— Eu sei menina, agora vá, não deixe a sua mãe esperando.

Nora respirou fundo e então desceu para encontrar a sua mãe.

— Está tudo bem mamãe? — Nora perguntou assim que se juntou a Mary

— Você é uma obra de arte sabia? — Mary elogiou

— Não precisa me bajular, eu irei tentar uma aproximação com o duque, mais não prometo nada. — Nora falou para não haver qualquer tipo de discussão com a mãe.

— Não estou falando isso para te bajular, você realmente é linda filha, não acha que as pessoas comentam o por que ainda está na casa dos seus pais e não casada?

— Eu não ligo para o que eles pensam ou falem mamãe, deveria fazer o mesmo.

— Você vai entender quando tiver os seus próprios filhos.

— Se demorei para casar imaginar para ter filhos mamãe.

— Então vamos resolver isso, vamos se apresse.

Ela fala enquanto anda para fora da mansão da família, onde a carruagem já as aguardavam.

O cocheiro abre a porta e as ajuda a subir, o caminho é silencioso, Nora olha pela janela o céu está lindo, uma mistura de cores que logo será apagada pela escuridão da noite.

Os seus pensamentos se dissipam quando finalmente a carruagem para, há uma grande fila para poder entrar, logo os portões são abertos e finalmente voltam a andar.

O lugar é esplêndido, o jardim imenso e bem cuidado, uma bela fonte iluminada no centro dele.

— Deixe que todos entrem primeiro, seremos as últimas. — Mary disse sabendo o efeito que isso causaria.

Nora apenas concordou, sabia que não daria em nada discutir com a sua mãe, não agora e não sobre isso, ela sabia que tudo era estratégia.

" O local estaria cheio e então a porta se abre, todos se direcionariam para a entrada e quem estaria lá, Nora!"

Passando-se alguns minutos Mary decidiu que era o momento. Era um jogo bem calculado.

E como esperado, quando a porta se abriu todos olharam para saber quem havia chegado, Nora não precisava se esforçar para nada, tudo nela era original e sem filtros, ela olhou para a mãe que sorriu com satisfação.

Todos os olhares se voltaram para ela. O silêncio breve foi seguido por murmúrios admirados.

Mary sorriu satisfeita.

A noite estava apenas começando.

Família Clifford

Elionora Clifford

Gêmeas Lurdes e Luísa

Marta

Mary - A Mãe

Anthony - Pai

Um Jogo de Palavras

O salão estava iluminado de forma majestosa, com lustres imensos espalhando o seu brilho sobre os convidados. A valsa fluía pelo ambiente, conduzindo casais bem-apessoados pelo piso reluzente, e Nora sentia cada par de olhos pousado sobre si.

Ela era a jovem solteira mais cobiçada da noite, e sabia disso.

Mas, ao contrário do que sua mãe esperava, isso não lhe trazia qualquer satisfação.

Os sussurros e olhares aumentaram quando um homem alto, de presença marcante, atravessou o salão em sua direção. O duque de Ashford.

Ele era exatamente como haviam descrito e, ainda assim, diferente do que esperava. Vestia-se com uma elegância impecável, carregava um ar confiante, mas havia um certo divertimento em seu olhar, como se enxergasse tudo ao seu redor com entusiasmo.

— Lady Elionora Clifford. — Sua voz era firme e grave, mas envolvente, como uma melodia perigosa. Ele fez uma leve reverência.

Nora ergueu o queixo levemente, mantendo a compostura.

— Vossa Graça — respondeu, sem se apressar em retribuir a saudação.

Os olhos do duque brilharam com interesse. Ele claramente estava acostumado com donzelas deslumbradas e obedientes. Nora não era nenhuma dessas coisas.

— Ouvi dizer que a senhorita é a joia mais reluzente deste salão.

— E ouvi dizer que Vossa Graça tem o costume de colecionar joias — retrucou ela, um leve sorriso no canto dos lábios.

O duque inclinou a cabeça, como se estivesse analisando-a sob uma nova perspectiva.

— Temo que tenha ouvido boatos imprecisos. Eu não coleciono, Lady Nora. Eu admiro.

— De longe, espero. — Ela arqueou uma sobrancelha.

— Quando algo é realmente fascinante, manter distância torna-se um sacrilégio.

Nora não pôde evitar uma risada leve. Ele era astuto, tinha que admitir. Mas ela não pretendia tornar as coisas fáceis.

— Então, Vossa Graça é um admirador da beleza?

— Sou um admirador da singularidade.

Ela sentiu o olhar dele deslizar sobre si, analisando-a não apenas pela aparência, mas pelo desafio que sua atitude representava.

— Que conveniente — murmurou Nora. — Imagino que isso torne as suas noites extremamente ocupadas, considerando a quantidade de beldades neste salão.

O duque sorriu, inclinando-se levemente para mais perto.

— Algumas beldades são passageiras. Outras são inesquecíveis.

— E suponho que Vossa Graça já tenha encontrado muitas inesquecíveis.

— Talvez. Mas não como a senhorita.

A resposta veio rápida, e dessa vez Nora não teve um comentário afiado na ponta da língua.

Ele sabia exatamente o que dizer e como agir.

O silêncio entre eles durou um segundo a mais do que deveria, e então o duque estendeu a mão.

— Me concederia esta dança?

Ela sentiu o olhar de sua mãe sobre si. Sabia o que esperavam dela. Sabia que uma recusa poderia ser um escândalo.

Engolindo a frustração, pousou a mão sobre a dele.

A música mudou para uma melodia lenta e elegante enquanto ele a guiava para a pista de dança. Sua mão em sua cintura era firme, mas respeitosa. Ele dançava com precisão, sem hesitações, e Nora, apesar de si mesma, percebeu que ele era um excelente parceiro de valsa.

— Não parece feliz por estar aqui, Lady Nora. — Ele afirmou a encarando.

— Talvez porque eu não tenha escolhido estar.

— Mas poderia escolher apreciar a noite.

Ela riu suavemente.

— E o que faz Vossa Graça pensar que não estou?

Ele a girou com facilidade, e então inclinou a cabeça levemente, observando-a.

— Porque há algo em seu olhar que diz que preferia estar em qualquer outro lugar.

Nora sentiu um aperto no peito. Porque ele estava certo. Porque sua mente não estava ali, mas sim em um certo par de olhos verdes, em um sorriso que um dia prometeu voltar, e que a cada mero segundo que passava aumentava a sua saudade.

E ela esperava. Mas por quanto tempo poderia esperar?

O duque parecia pronto para continuar a conversa, mas então a música chegou ao fim.

Ele manteve sua mão na dela por um segundo a mais do que o necessário antes de soltá-la.

— Foi um prazer dançar com a senhorita. Espero que possamos repetir.

— Isso dependerá do destino, Vossa Graça. — Nora o respondeu com um leve sorriso.

Ele sorriu, divertindo-se com sua resposta evasiva.

— Ou da nossa própria vontade.

Ele se afastou, deixando Nora com um peso no peito.

A sua mãe se aproximou quase de imediato, um sorriso satisfeito nos lábios.

— Ele gostou de você.

Nora manteve os olhos no duque, que conversava com outros nobres, mas sua mente estava longe dali.

Ele podia até ter gostado dela, mas ela não estava pronta para isso, não com o duque.

Não quando seu coração pertencia a um homem que estava a quilômetros de distância, e que já deveria ter voltado para ela.

— Duque Arthur Ashford

Sombras do Passado

 O salão ainda estava repleto de risadas, conversas e sorrisos que não pareciam tão genuínos quanto deveriam. Nora caminhou até a sacada, buscando um instante de ar fresco longe da vigilância da sua mãe e dos olhares curiosos das damas da sociedade, desejando apenas um minuto de paz e silêncio.

O Duque Arthur Ashford era exatamente o que todos diziam: encantador, perspicaz, e, acima de tudo, um excelente jogador nesse mundo de conveniências. O problema era que Nora não queria ser peça nesse jogo.

Ela apoiou os braços sobre a grade da sacada e respirou fundo, olhando para o jardim abaixo. O cheiro das flores misturava-se com o ar frio da noite, trazendo lembranças incapazes de serem apagadas e muito menos esquecidas.

...Lembranças de Xavier....

Do menino de sorriso travesso que arrancava risadas dela enquanto brincavam entre as roseiras. Do rapaz que a olhava como se ela fosse o seu mundo inteiro. Do homem que a fez prometer esperá-lo quando partiu.

As promessas ainda ecoavam na sua mente, mas até quando poderia mantê-las? Por que ele ainda não havia voltado para ela? Será que ele estava bem?

Eram infinitas as perguntas que surgiam na mente de Nora. ela soltou um suspiro tentando organizar o turbilhão de emoções.

— Parece perdida em pensamentos, Lady Nora.

A voz profunda a fez estremecer, e ela se virou para encontrar o Duque de Ashford parado ali, uma taça de vinho em mãos e um sorriso brincando nos lábios.

— Vossa Graça tem o hábito de seguir as jovens até sacadas solitárias?

Ele riu, erguendo levemente a taça.

— Apenas quando parecem estar fugindo de algo.

Nora cruzou os braços, arqueando uma sobrancelha.

— E se eu disser que não estou fugindo?

— Então eu diria que está mentindo.

Ela piscou, surpresa com a franqueza dele. O duque deu um passo mais perto, sem ultrapassar os limites da decência, mas próximo o bastante para que sua presença fosse sentida.

— Há um mistério em seus olhos, Lady Nora. Algo que me diz que sua mente está a quilômetros de distância desta festa.

Ela sorriu de lado, sem confirmar nem negar.

— Talvez eu apenas goste de testar as expectativas que têm sobre mim.

Ele inclinou a cabeça, intrigado.

— E quais são essas expectativas?

— Que eu seja dócil. Obediente. Grata por um bom partido.

— E você não é nada disso?

— Eu sou Nora Clifford. Isso já deveria ser suficiente.

O duque a observou por um instante, e então soltou um riso baixo, parecendo verdadeiramente divertido.

— Preciso admitir, Lady Nora, você é diferente de todas as jovens que conheci.

Ela não respondeu de imediato. Em outro tempo, em outra vida, talvez teria ficado lisonjeada com a atenção dele. Mas o seu coração ainda estava preso a uma promessa feita sob as estrelas, a um amor que parecia tão inalcançável agora.

Ele percebeu a sua hesitação e, ao invés de insistir, simplesmente tomou um gole do vinho e olhou para o jardim abaixo.

— Não se preocupe, não estou aqui para pressioná-la. Sei que ainda nos veremos outras vezes.

— Tão confiante assim, Vossa Graça? — Ela disse com um sorriso quase imperceptível.

— Apenas realista. Os nossos caminhos já foram traçados por aqueles que nos cercam.

Ela sentiu um aperto no peito, porque sabia que ele não estava errado. Os seus pais jamais permitiriam que ela ficasse sozinha por muito mais tempo.

O duque sorriu novamente, mas dessa vez foi um sorriso mais contido, como se analisasse cada reação dela.

— Boa noite, Lady Nora.

Ele fez uma leve reverência antes de se afastar, deixando-a sozinha com os seus pensamentos.

O vento soprou suavemente, bagunçando algumas mechas de seu cabelo. Ela fechou os olhos por um instante, tentando acalmar o turbilhão dentro de si.

Ela ainda podia sentir Xavier em cada lembrança, em cada batida de seu coração.

Mas o que aconteceria quando ele voltasse?

E se, quando ele finalmente retornasse, já fosse tarde demais?

— Por favor volte para mim, Xavier. — Ela sussurrou e relutante retornou para dentro.

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