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Onde a Vida Me Levou

capítulo 1: Fragmentos de memórias até a atualidade

Maya tinha apenas três anos quando o mundo ao seu redor desmoronou, ela ainda se lembrava vagamente da voz doce de sua mãe, dos braços aconchegantes que a envolviam após um pesadelo, do cheiro de lavanda que ficava nos lençóis após cada abraço mas essas lembranças foram se tornando vagas, como uma névoa que se dissipava a cada dia, o silêncio tomou conta da casa quando sua mãe partiu, levando consigo não só a alegria que preenchia aquele lar, mas também o coração de Marcos, seu pai.

Depois da morte da esposa, Marcos mergulhou de cabeça no trabalho, ele não sabia como lidar com a dor, então escolheu ignorá-la e junto com ela a sua filha, passava dias inteiros fora de casa, em reuniões, viagens de negócios e eventos corporativos, quando estava em casa, seu olhar era vazio, distante, como se a presença de Maya apenas reforçasse a ausência que ele tentava esquecer.

A solidão tornou-se uma companhia constante para Maya, enquanto outras crianças eram levadas à escola pelas mães e tinham almoços em família nos fins de semana, ela crescia cercada de governantas e babás que iam e vinham, sem criar raízes em vez de brincadeiras, ela preenchia o tempo com livros e desenhos criava um mundo onde sua mãe ainda estava presente, onde o pai sorria para ela com orgulho, onde ela não se sentia invisível.

Os anos passaram sem que muita coisa mudasse, Marcos continuava envolvido em sua rotina, e Maya aprendeu a não esperar nada além do necessário, ela se tornava cada vez mais independente, cuidando de si mesma, preparando suas refeições quando as empregadas não estavam por perto e resolvendo seus próprios problemas na escola, ela cresceu, de certa forma, madura demais para sua idade, moldada pela ausência e pela necessidade de sobreviver emocionalmente sozinha.

Quando Maya completou 17 anos, ela já havia se acostumado com essa realidade ou pelo menos acreditava ter se acostumado até o dia em que seu pai chegou em casa mais cedo que o habitual, com um sorriso que ela não via há anos, Maya estava sentada no sofá da sala, lendo um livro, quando ele apareceu na porta com uma mulher ao seu lado.

— Maya, quero que conheça Suzi — disse Marcos, o tom de voz animado, quase desconfortável de tão incomum.

Suzi era uma mulher bonita, de cabelos loiros perfeitamente alinhados e um sorriso encantador ela caminhou até Maya com graça, segurando as mãos dela entre as suas.

— Que linda você é — disse Suzi com doçura. — Eu estava tão ansiosa para te conhecer!

Maya esboçou um sorriso tímido, desconfiada daquela demonstração de afeto repentina, seu pai nunca tinha mencionado estar em um relacionamento nem sequer havia sinalizado que alguém estava em sua vida e agora ele aparecia com uma mulher que agia como se já fizesse parte da família.

— Suzi e eu nos casamos — anunciou Marcos, com um brilho nos olhos que Maya não via desde antes de sua mãe morrer. — Ela vai morar conosco agora.

Maya sentiu o coração apertar, casados? Quando isso aconteceu? Como ele pôde tomar uma decisão tão importante sem sequer conversar com ela?

— Tenho certeza de que vamos nos dar muito bem — disse Suzi, com um sorriso caloroso. — Afinal, agora somos uma família.

Maya forçou um sorriso talvez ela estivesse sendo injusta, talvez Suzi realmente fosse uma boa pessoa e sua chegada trouxesse um pouco de calor para aquela casa fria.

Mas essa ilusão não durou muito tempo.

Na frente de Marcos, Suzi era o retrato da perfeição: atenciosa, carinhosa, preocupada com o bem-estar de Maya, mas assim que ele saía para o trabalho, o tom doce de Suzi desaparecia, dando lugar a uma expressão fria e calculista.

— Seu pai pode até te amar, mas eu não preciso fingir que gosto de você — disse Suzi, com um olhar gelado, certa manhã. — E já que você está aqui, é melhor se acostumar a fazer algo útil.

Maya se viu reduzida a uma espécie de empregada na própria casa, Suzi a fazia limpar os cômodos, lavar a louça e até mesmo preparar as refeições, tudo isso sob o pretexto de "ensinar responsabilidade", enquanto, na verdade, Suzi apenas se certificava de que Maya soubesse que ela não era bem-vinda ali que toda a fortuna de Marcos era dela.

Maya tentou conversar com o pai, mas Marcos parecia cego diante da situação, Suzi era encantadora quando ele estava por perto, doce e dedicada, e Maya sabia que, se insistisse demais, apenas pareceria ingrata.

Mas ela sabia que não poderia viver para sempre sendo tratada como uma intrusa em sua própria casa e, no fundo, Maya sentia que o destino tinha algo reservado para ela a pergunta era: até onde a vida a levaria?

Maya acordou cedo naquela manhã, sentindo o peso dos acontecimentos do dia anterior ainda sobre os ombros, o sol entrava tímido pelas frestas da cortina, iluminando suavemente o quarto organizado, ela se sentou na cama, respirou fundo e tentou afastar os pensamentos sobre Suzi e a frieza com que era tratada dentro de sua própria casa.

Levantou-se, foi até o banheiro e fez sua higiene matinal, a água fria contra o rosto a ajudou a clarear a mente, ainda que por um instante, Maya prendeu os cabelos em um coque simples, vestiu uma calça jeans e uma blusa branca, e calçou seus tênis favoritos, no espelho, seu reflexo mostrava uma expressão séria, mas determinada, ela não deixaria Suzi destruir o que lhe restava de equilíbrio.

A faculdade era seu refúgio, seu ponto de equilíbrio em meio ao caos que sua vida tinha se tornado desde que decidiu ser médica, Maya encontrou um propósito, algo que realmente era dela, que ninguém poderia tirar ela sabia que sua mãe ficaria orgulhosa.

Desceu as escadas com a mochila nos ombros e atravessou o corredor silencioso da mansão, Suzi estava sentada na sala de estar, impecável como sempre, com um sorriso falso nos lábios.

— Está saindo cedo hoje — comentou Suzi, com a voz doce que usava na frente de Marcos, mas o olhar afiado denunciava sua verdadeira intenção.

Maya respirou fundo, sem permitir que Suzi percebesse seu desconforto.

— Tenho aula cedo — respondeu, passando direto em direção à porta.

— Boa aula, querida — disse Suzi, com um tom cortante.

Maya saiu sem se dar ao trabalho de responder assim que colocou os pés na rua e sentiu o ar fresco bater em seu rosto, um alívio tomou conta de seu peito, fora de casa, ela podia ser ela mesma sem olhares julgadores, sem o peso de uma presença indesejada.

Na faculdade, Maya encontrou Sara no pátio, sentada em um dos bancos de madeira sob a sombra de uma árvore, Sara era o tipo de amiga que todos desejavam ter: leal, divertida e sempre disposta a ouvir, seus cabelos loiros balançava suavemente ao vento enquanto ela digitava algo em seu celular.

— Maya! — Sara abriu um sorriso largo ao vê-la se aproximar. — Até que enfim você chegou!

Maya sentou-se ao lado dela, soltando um suspiro pesado.

— Pelo seu rosto, eu já sei que a situação em casa não melhorou — comentou Sara, com um olhar atento.

Maya passou as mãos pelos cabelos, desfazendo o coque e deixando os fios soltos sobre os ombros.

— Suzi está cada vez pior — disse, com a voz cansada. — Na frente do meu pai, ela é perfeita mas quando ele sai…

— O que ela fez agora? — perguntou Sara, já indignada.

— Me fez lavar a louça do jantar de ontem, limpar o chão da cozinha e ainda reclamou que eu não tinha feito o suficiente — Maya revirou os olhos. — Disse que eu deveria aprender a "ser útil" se quisesse continuar ali, não me importo em ajudar Maria mais ela dispensou Maria para eu ser a empregada da casa e meu pai não fez nada.

Sara arregalou os olhos, furiosa.

— Como assim? Aquela casa é sua, Maya! Você não pode deixar essa mulher te tratar assim!

Maya deu um sorriso triste.

— E o que eu posso fazer? Meu pai parece hipnotizado por ela, se eu tentar dizer algo, ele vai achar que estou exagerando.

Sara segurou a mão da amiga com firmeza.

— Você precisa encontrar um jeito de sair dessa situação, você não merece isso.

— Eu sei — Maya murmurou. — Mas por enquanto, só quero focar na faculdade, é a única coisa que ainda me faz sentir que tenho algum controle sobre a minha vida e assim que conseguir meu próprio dinheiro sumo daquela casa.

Sara assentiu, apertando mais a mão de Maya.

— Então vamos fazer isso juntas, eu estou com você, sempre.

Maya sorriu, sentindo um calor reconfortante em meio ao caos que era sua vida ela sabia que o caminho à frente não seria fácil, mas com Sara ao seu lado e sua determinação em se tornar médica, talvez ainda houvesse esperança.

E talvez, só talvez, a vida ainda tivesse algo reservado para ela além da dor e da solidão.

Maya 17 anos

Sara 17 anos

capítulo 2: O plano de Suzi

Maya passou o dia na faculdade tentando se concentrar nas aulas, mas a sensação de inquietação não a deixava em paz, ela sabia que algo estava errado, Suzi estava mais sorridente que o normal naquela manhã, o que nunca era um bom sinal.

Ela e Sara almoçaram juntas no refeitório, conversando sobre as aulas e os planos para o futuro, Sara, como sempre, tentou distrair Maya, mas o peso daquela sensação de que algo estava prestes a desmoronar a acompanhava como uma sombra.

— Tem certeza de que está tudo bem? — perguntou Sara, olhando para Maya com preocupação.

Maya forçou um sorriso.

— Sim, só estou cansada, vou para casa depois dessa aula e tentar descansar um pouco.

— Se precisar de mim, me chama — disse Sara, segurando sua mão por um instante.

Maya assentiu, grata por ter pelo menos uma pessoa em quem podia confiar.

Quando o dia finalmente chegou ao fim, Maya foi para o carro, pois o motorista já a esperava para levá-la para casa, ela sentia uma estranha tensão no ar, como se algo estivesse prestes a explodir, assim que desceu do carro e caminhou até a porta, seu coração batia acelerado, sem que ela soubesse o motivo.

Ao abrir a porta, ouviu vozes vindas da sala de estar ela parou no corredor, ouvindo atentamente.

— Eu acho que seria ótimo para Maya — dizia Suzi, com sua voz doce e calculada. — Terminar a faculdade em outro país abriria muitas portas para ela, além disso, ela teria mais noção de como funciona o mundo real.

Maya ficou paralisada.

— Você acha mesmo? — A voz de Marcos soou interessada.

— Claro, querido — continuou Suzi, sua voz carregada de falsa preocupação. — Maya precisa de experiências novas, de um ambiente onde ela possa amadurecer e se tornar mais independente.

Maya cerrou os punhos, o coração martelando contra o peito, ela sabia o que Suzi realmente queria: se livrar dela, se Maya fosse para outro país, Suzi teria a casa e o pai só para ela e pior, Marcos estava realmente considerando a ideia.

— Faz sentido — disse Marcos, pensativo. — Ela é inteligente, tenho certeza de que se sairia bem em qualquer lugar.

— Exatamente — concordou Suzi. — Seria uma oportunidade para ela crescer.

Maya sentiu um nó se formar em sua garganta, Suzi não queria o melhor para ela — Suzi queria que ela desaparecesse e seu pai, cego pela imagem perfeita que Suzi construía, estava prestes a concordar.

— Vou conversar com ela sobre isso — disse Marcos, decidido. — Se ela concordar, podemos começar a procurar uma universidade para o próximo semestre.

— Tenho certeza de que ela vai entender — respondeu Suzi com um tom vitorioso.

Maya sentiu um frio subir por sua espinha, ela não acreditava no que estava ouvindo eles estavam decidindo o futuro dela sem sequer perguntar o que ela queria.

Respirando fundo, ela deu um passo para trás, sem fazer barulho, e subiu as escadas para o quarto assim que fechou a porta atrás de si, encostou-se nela, sentindo o coração batendo tão forte que chegava a doer.

— Eles querem se livrar de mim — sussurrou para si mesma, incrédula.

Uma raiva fria começou a crescer em seu peito, Suzi podia ter enganado seu pai, mas Maya não cairia nessa armadilha tão facilmente.

Ela precisava pensar em um plano e dessa vez, Suzi não sairia vitoriosa.

Assim que Maya entrou em casa, subiu direto para o quarto, fechando a porta atrás de si e girando a chave na fechadura, o coração ainda batia forte, e ela sentia as mãos tremendo enquanto se jogava na cama, encarando o teto.

A voz de Suzi e de seu pai ecoava em sua mente, fazendo o nó em sua garganta apertar ainda mais eles estavam realmente planejando mandá-la para longe, para outro país como se ela fosse um incômodo.

Sem conseguir se controlar, pegou o celular e discou o número de Sara, dla atendeu no segundo toque.

— Maya? — Sara respondeu, com a voz preocupada. — Aconteceu alguma coisa?

— Eles querem me mandar para outro país — disse Maya, com a voz embargada.

— O quê?! — Sara exclamou, surpresa. — Quem quer te mandar para outro país?

— Meu pai e Suzi — Maya respirou fundo, tentando conter o choro. — Eu ouvi os dois conversando, Suzi sugeriu que seria "bom para mim" terminar a faculdade em outro país, para ganhar experiência e amadurecer e meu pai concordou! Eles vão tentar me convencer a ir embora.

Sara ficou em silêncio por um segundo, processando a informação.

— Isso é absurdo! — disse, indignada. — Ela só quer te tirar do caminho!

— Eu sei — Maya disse, a voz trêmula. — Ela finalmente conseguiu manipular meu pai para se livrar de mim.

— Então você precisa sair daí — Sara sugeriu imediatamente. — Pelo menos por uns dias, você pode ficar na minha casa.

Maya hesitou.

— Não sei se isso é uma boa ideia… E o seu irmão? Ele não vai se importar?

— Vou falar com ele — disse Sara, confiante. — Mas tenho certeza de que ele não vai se importar, ele quase não para em casa.

Maya respirou fundo, sentindo-se dividida.

— Eu não quero causar problemas…

— Você não vai causar problema nenhum — assegurou Sara. — Você precisa sair dessa casa antes que eles te manipulem para aceitar essa loucura, não quero perder minha amiga.

Maya fechou os olhos, sentindo o peso da situação sobre os ombros, ela não queria fugir dos problemas, mas sabia que, se ficasse ali, Suzi encontraria uma maneira de pressioná-la e ela não estava certa de que conseguiria resistir.

— Tudo bem — disse Maya, por fim. — Eu vou ficar na sua casa por uns dias.

— Ótimo! — disse Sara, animada. — Vou falar com meu irmão e te aviso assim que ele responder.

— Obrigada, Sara — Maya disse, sentindo o alívio pela primeira vez em horas. — Eu não sei o que faria sem você.

— Sempre vou estar aqui para você — Sara garantiu. — Agora, arruma suas coisas, logo você vai ter um pouco de paz.

Maya desligou o telefone e ficou sentada na cama por um instante, a ideia de sair daquela casa, mesmo que temporariamente, lhe trouxe um alívio inesperado.

Ela não deixaria Suzi controlar sua vida, não dessa vez.

capítulo 3: Erick Costa

Erick Costa é um homem temido e respeitado, aos 24 anos, ele já tinha conquistado o comando do Morro do Alemão, sendo reconhecido como o líder mais estratégico e implacável que aquela comunidade já teve, mas o que poucos sabiam é que, por trás da postura fria e autoritária, Erick carregava cicatrizes profundas que moldaram o homem que ele se tornou.

Ele cresceu na dura realidade das ruas, vendo o pai abandonar sua mãe quando ele ainda era uma criança, foi obrigado a amadurecer cedo, a lutar para sobreviver e, mais do que tudo, proteger sua irmã mais nova, Sara, desde o momento em que o pai foi embora, ele prometeu que nada e ninguém machucaria Sara enquanto ele estivesse por perto.

Aos 17 anos, Erick já comandava pequenos grupos dentro da comunidade, sempre demonstrando inteligência e uma visão estratégica que o destacava entre os demais ele subiu rápido na hierarquia, até assumir o comando total do morro aos 21 anos, depois de eliminar o antigo líder que havia traído sua confiança, desde então, ninguém ousava desafiar sua posição.

Erick era o tipo de homem que mantinha todos à distância, não era de sorrisos fáceis, nem de conversas prolongadas, ele sabia que confiar demais poderia ser sua ruína, então mantinha o coração trancado a sete chaves.

Em uma tarde quente, Erick estava sentado na sacada da casa onde morava com Sara, ele observava o movimento do morro, sempre atento a qualquer sinal de perigo, os olhos castanhos escuros, profundos e frios, analisavam cada detalhe.

O celular vibrou em cima da mesa, e ele pegou o aparelho sem pressa, era uma mensagem de Sara:

"Posso trazer uma amiga para ficar uns dias aqui?"

Ele arqueou uma sobrancelha, Erick não era muito de permitir que pessoas de fora entrassem em seu espaço, mas por Sara ele abria exceções.

"Quem é?" — ele respondeu curto.

"Maya, ela tá passando por uns problemas em casa, Por favor."

Erick se lembrou de Maya, ele já tinha visto a garota algumas vezes quando ia buscar Sara na faculdade, uma menina bonita,de cabelos lilás, olhos marcantes e um jeito reservado, ele não sabia muito sobre ela, mas Sara sempre falava bem da amiga.

Ele respirou fundo, pensando por um momento, não gostava da ideia de ter alguém estranho em casa, mas se Sara estava pedindo, ele não negaria.

"Tá bom, mas ela não pode se meter em nada." — ele respondeu.

Em poucos segundos, Sara enviou um emoji de coração, o que fez Erick soltar um sorriso de lado.

Erick sabia que estava se metendo em algo que poderia se complicar mais do que gostaria, mas por Sara, ele faria qualquer coisa.

O problema é que ele não fazia ideia de como a chegada de Maya estava prestes a bagunçar o equilíbrio controlado de sua vida.

Momentos depois ...

Maya estava sentada na cama, o coração batendo rápido enquanto olhava para o celular, a mensagem de Sara apareceu na tela, simples e direta:

"Ele disse que tudo bem, pode vir."

Um alívio percorreu o corpo de Maya, mas logo em seguida veio a tensão, agora ela precisava enfrentar o pai, não tinha a menor intenção de contar que estaria indo para a favela e muito menos que o irmão de Sara era o dono do morro, seu pai jamais permitiria isso.

Respirando fundo, Maya se levantou, pegou uma mala e começou a colocar algumas roupas dentro dela, ela não tinha certeza de quanto tempo ficaria, mas sabia que precisava de um tempo longe daquela casa, longe de Suzi.

Depois de organizar suas coisas, desceu as escadas com passos firmes, encontrou o pai sentado na sala de estar, com uma taça de vinho na mão e os olhos fixos na tela da televisão, Suzi não estava por perto, o que tornava aquele momento um pouco mais fácil.

— Pai? — chamou, com um tom neutro.

Marcos desviou os olhos da TV, colocando a taça na mesa de centro.

— O que foi, Maya? Porque essa mala?

Ela respirou fundo, mantendo a postura firme.

— Eu vou passar alguns dias na casa de uma amiga, temos vários trabalhos e achamos melhor assim pada terminamos tudo em dia.

Marcos franziu o cenho, surpreso.

— Na casa de quem?

— Da Sara — respondeu, sem hesitar. — Eu preciso de um tempo para mim, para respirar um pouco.

— A Sara… — Marcos repetiu o nome, pensativo, ele sabia que Sara era uma boa amiga de Maya, mas nunca tinha se preocupado em se aprofundar na vida da garota. — O pai dela está de acordo com isso?

— Ela mora com o irmão — Maya respondeu, mantendo o rosto impassível.

— Irmão? Que irmão?

Maya deu de ombros, evitando os detalhes.

— Ele é tranquilo, pai, não se preocupe.

Marcos ficou em silêncio por alguns segundos, analisando a filha com o olhar sério.

— Tem certeza de que é o que você quer?

— Sim — disse Maya, com firmeza. — Eu preciso entregar tudo em dia para começar meu estágio.

Marcos respirou fundo, como se estivesse considerando os prós e contras.

— Tudo bem — ele disse, por fim. — Mas me avise se precisar de alguma coisa e se comporte bem.

— Eu aviso — disse Maya, sentindo um pequeno alívio ao ouvir aquelas palavras.

Ela deu um beijo rápido no rosto do pai, sem coragem de olhar para ele nos olhos, e subiu para pegar uma mochila que havia esquecido, quando voltou, ele ainda estava sentado no mesmo lugar, parecendo perdido em pensamentos.

Antes de sair, ela parou na porta e o olhou por um instante, parte de Maya queria que ele percebesse o quanto ela estava machucada, o quanto ela precisava que ele estivesse presente, mas Marcos continuava distante, cego demais para enxergar o que estava acontecendo debaixo de seu próprio teto.

Maya fechou a porta atrás de si, respirou fundo e seguiu em direção ao portão, onde Sara já a esperava com um sorriso acolhedor.

— Pronta? — perguntou Sara.

Maya assentiu, jogando a mochila nas costas.

— Pronta.

Sara segurou a mão dela e puxou em direção ao carro que Erick havia enviado para buscá-las, Maya sentiu o coração acelerar ao pensar que estava prestes a entrar em um mundo totalmente diferente — o mundo de Erick Costa ou o coringa como era conhecido no mundo do crime.

E ela não fazia ideia de como isso mudaria sua vida para sempre.

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