O silêncio na sala era sufocante. Apenas o tilintar do gelo no copo de uísque quebrava a tensão no ar. O pai de Sn recostou-se na poltrona de couro, observando atentamente o homem à sua frente. Jinwoo Sr., um dos empresários mais poderosos da cidade, girava seu anel de ouro no dedo, um sorriso calculista estampado no rosto.
— Está decidido — disse ele, com um tom de voz firme. — Minha proposta é justa. Meu filho, Jinwoo, e sua filha, Sn, irão se casar. Isso fortalecerá nossos negócios e garantirá um futuro próspero para ambas as famílias.
O coração de Sn acelerou quando ouviu aquelas palavras. Ela estava parada na porta da sala, ouvindo tudo sem ser notada. O choque percorreu seu corpo como uma onda gelada. Casamento? Com alguém que ela sequer conhecia direito?
Ela deu um passo para trás, tentando processar o que acabara de escutar. Seu pai estava vendendo sua vida como se ela fosse apenas mais um contrato lucrativo.
— E Sn? — seu pai questionou, como se sua opinião fosse um mero detalhe.
Jinwoo Sr. soltou uma risada baixa. — Ela não precisa concordar. Isso é um negócio, não um conto de fadas.
Sn sentiu um nó se formar em sua garganta. Seu destino havia sido selado sem que ela tivesse sequer uma escolha.
O relógio marcava meia-noite quando Sn ainda se revirava na cama, incapaz de dormir. A escuridão de seu quarto parecia mais opressora do que nunca, como se estivesse sendo sufocada pelo peso de sua própria realidade. Um casamento arranjado. Um futuro ao lado de um homem que ela nunca viu pessoalmente, mas que já sabia ser frio e calculista.
Ela se sentou na cama, puxando os joelhos contra o peito. Seus pensamentos estavam uma bagunça, sua mente tentando desesperadamente encontrar uma saída. Fugir? Não seria tão simples. Seu pai controlava tudo, desde suas finanças até sua segurança. Ele não a deixaria escapar tão facilmente.
Uma batida suave na porta interrompeu seus pensamentos.
— Sn?
Era sua mãe novamente. Sn não respondeu, mas a mulher entrou mesmo assim, fechando a porta atrás de si. Seus olhos estavam cheios de preocupação.
— Eu sei que você está com raiva. — Sua voz era baixa e hesitante.
Sn apertou os punhos, sua respiração irregular.
— Raiva? Eu estou apavorada, mãe. Meu próprio pai está me vendendo por um contrato de negócios!
A mãe de Sn suspirou, sentando-se na beira da cama.
— Eu sei que parece cruel…
— Porque é cruel! — Sn interrompeu, sua voz embargada. — Você quer que eu passe o resto da minha vida ao lado de um homem que eu nem conheço?
— Você não tem escolha. — A mãe dela finalmente disse, sua voz saindo fraca. — Se você recusar, seu pai pode perder tudo.
Sn sentiu o estômago revirar. Era sempre sobre dinheiro, sobre poder, sobre o império de seu pai. Mas e ela? Seu futuro? Sua felicidade? Nada disso parecia importar.
— E quem é ele? — Sn perguntou, tentando manter a voz firme. — Esse tal de Jinwoo?
Sua mãe hesitou antes de responder.
— Jinwoo é o filho único de Jinwoo Sr. Ele tem 29 anos e é CEO da filial principal do Grupo Kang. Ele cresceu em meio aos negócios, herdando a mentalidade de ferro do pai. Ele não é do tipo que se envolve emocionalmente.
Sn soltou uma risada sarcástica.
— Perfeito. Além de tudo, estou sendo entregue a um homem sem coração.
A mãe de Sn baixou o olhar.
— Eu realmente espero que ele não seja assim com você.
Sn se levantou bruscamente da cama, seu peito subindo e descendo com a respiração descompassada.
— Eu não vou aceitar isso. Não vou simplesmente assinar minha vida para um homem que me vê como uma mercadoria!
Antes que sua mãe pudesse responder, outra batida na porta soou. Mas dessa vez, não foi suave. Foi firme, determinada.
— Senhorita Sn — disse a voz grave do segurança de seu pai. — Seu pai quer vê-la no escritório. Agora.
O estômago de Sn revirou.
O escritório de seu pai sempre foi um lugar intimidador. As paredes de madeira escura, os quadros de homens sérios e poderosos, e o cheiro forte de charuto e uísque criavam um ambiente pesado. Sn entrou hesitante, seus olhos imediatamente encontrando a figura de seu pai sentado atrás da grande mesa de mogno.
Jinwoo Sr. estava ali também, sentado ao lado, observando-a com olhos afiados.
— Sente-se. — A voz de seu pai ecoou pela sala.
Sn engoliu em seco, mas permaneceu de pé.
— Eu prefiro ficar assim.
O pai dela suspirou, esfregando as têmporas.
— Eu não estou pedindo sua opinião, Sn.
Jinwoo Sr. sorriu levemente, parecendo se divertir com a cena.
— Vejo que sua filha tem um espírito forte. Isso pode ser um problema no futuro.
Sn cerrou os punhos.
— Eu não sou um objeto para vocês negociarem.
Seu pai bateu a mão na mesa, sua paciência claramente se esgotando.
— Você vai se casar com Jinwoo. E ponto final.
Sn sentiu um nó se formar em sua garganta.
— E se eu recusar?
O olhar de seu pai ficou ainda mais sombrio.
— Então você pode dizer adeus à sua vida confortável. Eu cortarei tudo. Seu dinheiro, seu cartão, sua liberdade. Você não terá para onde ir.
Sn sentiu as lágrimas arderem em seus olhos, mas se recusou a deixá-las cair. Ela não daria a eles essa satisfação.
Jinwoo Sr. riu levemente.
— Não se preocupe, Sn. Meu filho é um homem responsável. Você aprenderá a aceitá-lo com o tempo.
Sn respirou fundo, tentando manter a calma.
— E o que acontece se ele não me quiser?
Jinwoo Sr. ergueu uma sobrancelha.
— Meu filho já concordou com o casamento. Para ele, é apenas mais um acordo.
A raiva queimou dentro de Sn como fogo.
Ela não tinha mais escolha.
Seu destino já estava traçado.
O sol já começava a se pôr quando Sn desceu as escadas com passos pesados. Seu coração batia forte, como se soubesse que aquela noite seria um marco em sua vida. A sala de jantar estava arrumada de forma impecável, como sempre acontecia quando convidados importantes vinham à mansão. A longa mesa de mogno brilhava sob a luz dourada do lustre de cristal, e as taças de vinho estavam alinhadas com precisão cirúrgica.
Sn respirou fundo ao ver seu pai sentado à cabeceira da mesa, com um olhar sério. Ao lado dele, sua mãe mantinha a expressão tensa, como se esperasse uma explosão iminente. Jinwoo Sr. já estava presente, conversando com outro homem que Sn não reconheceu de imediato. Mas foi quando seus olhos pousaram na figura sentada ao lado dele que seu corpo enrijeceu.
Jinwoo.
Ele era ainda mais imponente do que as poucas fotos que ela havia visto. Trajava um terno preto perfeitamente ajustado, o cabelo escuro penteado para trás, revelando um rosto frio e severo. Seu olhar não demonstrava qualquer emoção, apenas um tédio mascarado por uma falsa cortesia. Ele parecia completamente indiferente àquela situação, como se fosse apenas mais um jantar de negócios.
Sn engoliu em seco. Cada fibra do seu ser gritava para que ela corresse dali, mas ela sabia que precisava enfrentar aquilo de frente.
— Boa noite, Sn — disse seu pai, com a voz autoritária de sempre.
Ela não respondeu imediatamente. Caminhou até sua cadeira e se sentou, sentindo o olhar de todos sobre ela. O jantar começou, mas Sn não conseguiu tocar na comida. Seus dedos estavam frios, e seu estômago parecia estar em um nó impossível de desfazer.
Então, a conversa tomou o rumo inevitável.
— Como já discutimos, o casamento de Sn e Jinwoo acontecerá dentro de um mês. — A voz de Jinwoo Sr. soou firme, sem espaço para discussão.
Foi naquele momento que Sn sentiu o impulso de falar. Ela largou os talheres e olhou diretamente para seu pai, sua voz saindo firme, apesar do tremor em seu peito.
— Pai, eu não posso casar. Eu tenho 17 anos.
O silêncio caiu sobre a mesa como um trovão.
Seu pai suspirou pesadamente, repousando o guardanapo sobre a mesa antes de encará-la com impaciência.
— Já resolvemos isso. Com o acordo entre as famílias, tudo será formalizado assim que você completar 18 anos.
Sn sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— Mas e se eu não quiser?
Dessa vez, foi Jinwoo quem ergueu os olhos para ela. Seu olhar era calculista, mas havia um pequeno brilho de curiosidade ali. Ele entrelaçou os dedos e repousou os cotovelos sobre a mesa.
— Você realmente acha que tem escolha? — Sua voz era baixa, mas carregava uma firmeza perigosa.
Sn apertou os punhos sobre o colo.
— O casamento deveria ser algo baseado em amor, não um contrato de negócios.
Jinwoo riu suavemente, mas não havia humor em sua expressão.
— Amor? — Ele inclinou levemente a cabeça, como se a palavra fosse um conceito ridículo. — Você acha que em casamentos como o nosso existe amor?
Ela franziu o cenho, encarando-o com desgosto.
— Então por que você aceitou isso?
Jinwoo deu de ombros.
— Porque é conveniente. Você será minha esposa, e isso fortalecerá os negócios. Simples assim.
O sangue de Sn ferveu.
— Eu não sou uma peça de xadrez para ser movida como quiserem!
Seu pai bateu a mão na mesa com força, fazendo os pratos tremerem.
— Chega, Sn! Você acha que pode simplesmente se recusar? Você não tem ideia das consequências!
Sn se levantou abruptamente, seu corpo tremendo de raiva.
— Consequências? Eu sou sua filha, pai! Não um investimento!
Os olhos de Jinwoo Sr. brilharam com diversão, enquanto seu filho apenas a observava sem emoção.
— Eu gosto do espírito dela — murmurou Jinwoo Sr., sorrindo para seu filho. — Talvez ela te dê um pouco de trabalho, Jinwoo.
Sn olhou para todos à mesa, sentindo-se sufocada.
— Eu não vou aceitar isso.
Mas seu pai apenas tomou um gole de vinho, completamente impassível.
— Você não precisa aceitar, Sn. O contrato já foi assinado.
O mundo dela desabou naquele instante.
Depois do jantar, Sn subiu correndo as escadas, seu coração batendo acelerado em seu peito. Cada palavra dita naquela mesa ainda ecoava em sua mente como um pesadelo do qual ela não conseguia acordar. Seu pai não a via como uma filha, mas sim como um negócio. Jinwoo não a enxergava como uma pessoa, mas sim como um acordo conveniente. E agora, seu destino parecia selado contra sua vontade.
Ao entrar no quarto, trancou a porta e deixou-se deslizar até o chão, envolvendo os braços ao redor dos joelhos. Sentia-se impotente, presa em uma armadilha que não foi ela quem montou.
Uma batida suave interrompeu seu desespero.
— Sn, querida, podemos conversar? — Era a voz de sua mãe.
Sn hesitou. Ainda estava magoada, mas sabia que sua mãe era a única pessoa naquela casa que pelo menos fingia se importar. Com um suspiro pesado, levantou-se e abriu a porta.
Sua mãe entrou devagar, fechando a porta atrás de si. Ela parecia pálida, abatida, como se estivesse carregando um peso insuportável. Sn sentiu uma pontada de preocupação.
— Mãe? O que foi?
A mulher respirou fundo, segurando as mãos da filha com força.
— Precisamos conversar… a sós.
Sn assentiu e se sentou na cama, observando sua mãe com um olhar preocupado. A mulher parecia nervosa, hesitante, como se estivesse prestes a revelar algo devastador. Então, depois de um longo silêncio, ela puxou um envelope de dentro do bolso e o entregou à filha.
— Antes de tudo… preciso que você entenda que eu nunca quis isso para você. Mas… minha situação… nossa situação, é pior do que você imagina.
Sn franziu o cenho, pegando o envelope com mãos trêmulas. Ao abrir, encontrou exames médicos com o nome de sua mãe. Seu estômago revirou ao ler as palavras que pareciam gritar daquelas folhas: Diagnóstico: câncer em estágio avançado.
O mundo parou.
Sn sentiu sua garganta secar, sua visão ficou turva, e seu corpo começou a tremer.
— N-Não… isso não pode ser verdade… — sua voz saiu em um sussurro, quase inaudível.
Sua mãe segurou suas mãos, seus olhos brilhando com lágrimas.
— Eu queria te poupar disso, minha filha, mas eu não posso mais esconder. Eu estou doente, Sn. E o tratamento… é caro. Muito caro.
As lágrimas de Sn caíram silenciosamente. Seu coração batia dolorosamente em seu peito.
— Mãe… por que não me contou antes?
A mulher abaixou a cabeça, como se estivesse carregando um peso insuportável.
— Porque eu não queria que você sofresse. Mas agora não há mais tempo. Se não aceitarmos esse casamento… nós perderemos tudo. Estamos falidos, Sn. Seu pai… ele perdeu quase tudo nos negócios. E se recusarmos essa união, vamos ficar sem casa, sem dinheiro… e eu… eu não terei como pagar pelo meu tratamento.
Sn sentiu um nó na garganta, sua respiração ficando irregular. Tudo parecia girar ao seu redor.
— Mas… mas isso não é justo! — ela soluçou. — Eu não posso me casar com um estranho só por dinheiro!
Sua mãe acariciou seu rosto com carinho, mas havia desespero em seus olhos.
— Eu sei que é difícil, filha. Mas, por favor, pense nisso como um sacrifício para salvar nossa família. Para salvar a mim.
Sn sentiu seu peito apertar como se uma mão invisível estivesse esmagando seu coração. Como ela poderia negar algo assim? Se não aceitasse o casamento, sua mãe poderia morrer. Sua família perderia tudo.
Ela não tinha escolha.
As lágrimas escorriam por seu rosto enquanto olhava para o exame novamente, seu corpo tremendo.
Ela nunca se sentiu tão impotente em toda sua vida.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!