A História de Trace Maverick - O Peso da Culpa
Cinco anos.
A chuva batia forte contra as janelas da casa dos Maverick naquela noite. O som de cada gota parecia amplificado, quase como se estivesse tentando chamar a atenção de alguém. Dentro da casa, a atmosfera era tensa, mais pesada do que a umidade que pairava no ar. Trace, com apenas cinco anos, estava sentado no corredor, abraçando um ursinho de pelúcia gasto que sua mãe lhe dera quando ele era bem pequeno.
Naquela noite, o medo estava no ar. Ele sabia que algo estava errado, mas não compreendia completamente. Seus pais estavam conversando em voz baixa, com olhares preocupados, e ele podia ouvir seus nomes sendo sussurrados com urgência. O coraçãozinho de Trace batia forte, seus olhos não se afastavam da porta do quarto da irmã, onde ele sabia que Junne deveria estar dormindo.
Mas ela não estava.
“Trace, você precisa ficar aqui, não saia de perto de mim, entendeu?” sua mãe disse com uma voz suave, mas cheia de preocupação, quando passou por ele. Ela tentou acariciar seu cabelo, mas os olhos estavam em outro lugar, focados no telefone que estava apertado contra sua orelha.
Trace, como toda criança daquela idade, não entendia a gravidade da situação. Ele sabia apenas que a mãe estava mais séria do que ele já a vira. Ele ouviu o som de uma porta se abrindo. Era o pai.
“Ela sumiu, Violet. A criança... está…” O pai de Trace foi interrompido, mas a tristeza em seus olhos não mentia. Trace levantou-se da sua posição no corredor, as mãos tremendo enquanto ele tentava entender o que estava acontecendo.
Ele correu até o quarto da irmã. A porta estava entreaberta. O pequeno corpo da criança que ele mais amava no mundo não estava lá. Marie desaparecera. Trace olhou em volta, chamando o nome dela, tentando encontrar algo que a explicasse. Mas tudo estava em silêncio. Apenas o vazio da falta da irmã ecoava em seu peito.
“marie?” Ele sussurrou, com os olhos marejados. Não havia resposta. O medo tomou conta dele como uma onda. Ele tentou gritar, mas a garganta parecia fechada.
Naquela noite, Trace viu seus pais chorarem. Viu seu pai, normalmente tão forte e imbatível, encolher-se de dor. A mulher que sempre foi a rocha da família, sua mãe, estava agora perdida, vazia. Nenhum sorriso, nenhuma palavra reconfortante. Eles estavam quebrados, como se o mundo tivesse desabado sobre eles.
O tempo que se seguiu foi um borrão de agonia. A busca pela irmã de Trace durou semanas, meses até. Mas ela nunca foi encontrada.
Dez anos depois.
A culpa ainda estava lá. Trace não poderia se livrar dela. Ele ainda se lembrava de como o medo tinha apertado seu peito quando ouviu a porta de Marie se fechar. Como ele não fez nada, não a protegeu. Era uma culpa imensa, sufocante.
Em um canto escuro de sua mente, a memória de sua mãe gritando seu nome ecoava. "Trace, você tem que proteger sua irmã. Você tem que ser o homem da casa!" Ele nunca esqueceu aquelas palavras, nunca poderia. "Você prometeu!"
Mas ele falhou. Ele não conseguiu cumprir sua promessa.
Agora, com quinze anos, Trace tentava não olhar para trás. Ele se tornara o homem forte e imponente que sua mãe queria, mas dentro de si, ele ainda carregava a dor daquela criança pequena que não sabia o que fazer quando a irmã foi levada.
“Eu não a protegi. Eu a abandonei.” Trace murmurava para si mesmo em noites solitárias, depois de longos dias de trabalho, quando os pensamentos eram mais claros e mais cruéis.
O peso da perda ainda o acompanhava todos os dias. Ele estava em sua mente, lembrando-se da risada de marie do som do seu nome sendo dito com tanto amor e carinho. Ele a imaginava adulta, fazendo escolhas para a própria vida, se estivesse por aqui.
Mas ela não estava.
Trace olhava para os filhos de seus amigos, crianças que cresciam diante de seus olhos, e a dor no peito se intensificava. Ele sabia que nunca seria capaz de corrigir os erros que cometeu naquela noite, nem de preencher o vazio deixado por sua irmã. A culpa o consumia, tornando-o alguém diferente, alguém com cicatrizes mais profundas do que poderia mostrar.
Uma noite, enquanto olhava pela janela do escritório de seu pai, Trace finalmente se permitiu chorar. Ele se permitiu a dor que sempre foi abafada dentro dele. A raiva, a tristeza, o medo, tudo vinha à tona enquanto ele pensava na irmã que perdera e na promessa que não cumprira.
“Eu vou encontrar você. Um dia, eu vou encontrar você. Não importa quanto tempo leve, ou o que eu precise fazer…” Trace sussurrou para si mesmo, a dor agora transformando-se em determinação. Ele não sabia o que o futuro guardava, mas ele jurou que não descansaria até ter a chance de corrigir o erro que cometeu. Ele faria tudo o que fosse possível para trazer a irmã de volta.
Os anos se passaram, mas a culpa, embora parcialmente amparada pela dor da perda, nunca o abandonou completamente. Trace sabia que a única maneira de continuar era buscar a verdade, buscar sua irmã. A vida, ele percebeu, não era sobre encontrar respostas fáceis, mas sobre lidar com as perguntas difíceis e aprender a viver com elas.
Ele ainda não sabia onde estava,mas a única coisa que sabia era que não a abandonaria novamente.
Com o passar do tempo, Trace se tornou uma sombra de quem era antes. Ele se fechava cada vez mais, afastando-se dos outros, carregando consigo o peso da culpa e da tristeza. Ele nunca pôde se curar daquela perda. A dor de ver seus pais consumidos pela tristeza, a ausência de sua irmã constantemente nas conversas e até mesmo a forma como sua mãe ficou mais frágil com o tempo, tudo isso corroía seu coração.
Ele se lembrava da última conversa com sua mãe antes dela morrer. Ela estava em uma cama de hospital, o corpo frágil, mas ainda assim com aquele sorriso suave que sempre o acalmava. Trace segurava sua mão, e ela, com uma voz fraca, disse:
— Trace... Você tem que perdoar a si mesmo. Não foi sua culpa.
Mas como ele poderia? Como ele poderia perdoar a si mesmo quando ela não estava mais ali para abraçá-lo, para lhe dar a segurança que ele tanto precisava?
A morte de sua mãe foi o fim de um ciclo para Trace. Ela estava morrendo há muito tempo, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. Ela nunca foi a mesma depois do sequestro de Elle, e sua morte não foi apenas um fim físico, mas a conclusão de um luto que nunca passou.
Com o tempo, Trace encontrou formas de lidar com sua dor e frustração. Ao invés de se afundar na tristeza, ele canalizou toda a sua energia em algo mais concreto: o trabalho. Ele começou a investir em vários negócios, mas foi a boate, que ele abriu aos 20 anos, que se tornou seu maior sucesso.
Com o passar dos anos, a boate se tornou o lugar mais procurado da cidade. Trace sabia como administrar os negócios e os relacionamentos, e sua habilidade para atrair as pessoas, para entender seus desejos mais secretos, fez com que ele se tornasse uma figura poderosa no submundo, conhecido tanto por sua inteligência quanto pela sua habilidade de manipular as situações a seu favor.
Quando completou 30 anos, Trace era um homem de sucesso. Seu império estava sólido, mas ele não podia escapar da sensação de que algo estava faltando. Seu coração estava vazio, e ele nunca conseguira preencher esse vazio. A busca pelo sucesso e a conquista de seu império o haviam afastado ainda mais daquilo que realmente importava.
Aos 35 anos, Trace se viu de volta a um ponto de virada. Ele já não era mais o menino que perdera sua irmã, mas o homem que havia se feito sozinho. Foi quando, finalmente, após anos de busca e mistérios, Trace encontrou Elle.
No início, Trace não sabia como reagir. Ela era uma mulher agora, alguém que ele não conhecia mais, uma estranha, mas ao mesmo tempo, a pessoa que ele mais queria proteger. Ao vê-la pela primeira vez, ele não pôde deixar de sentir um turbilhão de emoções. Havia tanto a ser dito, tanto a ser compartilhado, mas as palavras pareciam tão pequenas diante da história que os dois haviam vivido.. .
Trace entrou no bar com a postura firme, o olhar atento e os músculos tensos. Ele logo avistou Sophia, lidando com alguns homens em um canto afastado. A cena parecia tranquila à primeira vista, mas ele sabia que as coisas estavam prestes a piorar.
A voz de Trace soou alta e autoritária enquanto ele avançava.
— Já disse para não mexerem com a minha funcionária.
Os homens, um pouco desconcertados com a intervenção, olharam para Trace e depois para Sophia, que estava com o olhar feroz, mas visivelmente irritada. A tensão no ar ficou palpável, e logo a situação explodiu em uma briga de bar.
Sophia, sem hesitar, se juntou ao confronto, mas no meio do caos, uma garrafa se quebrou, e alguns cacos caíram no chão. Enquanto tentava desviar de um dos homens, Sophia tropeçou e acabou se cortando, o sangue tingindo sua pele.
Trace, com os olhos focados nela, imediatamente se aproximou, a raiva pulsando em suas veias. Ele pegou seu braço com cuidado, impedindo que ela continuasse a limpar os cacos.
— Sophia, o que você está fazendo? — Ele a segurou firme, a preocupação evidente em seu olhar.
Sophia, ainda um pouco atordoada, olhou para o corte e depois para Trace, com uma expressão de dor misturada com fúria.
— Eu não precisava da sua ajuda, Trace — ela disse, embora sua voz estivesse suavizada pela dor.
Trace, sem pensar duas vezes, pegou um pano e pressionou suavemente contra o corte. Sua mão tremia ligeiramente enquanto ele fazia o possível para cuidar dela.
Ela olhou para ele, os olhos incendiados por um misto de raiva e algo mais, algo que ela não queria admitir. Sem uma palavra, os dois se aproximaram um do outro, e, no silêncio da tensão que restava da briga, o beijo aconteceu. Foi uma mistura de urgência e desejo reprimido, como se ambos finalmente se entregassem àquilo que haviam ignorado por tanto tempo.
Quando se separaram, o ambiente ao redor parecia ter desacelerado, como se o tempo tivesse parado para permitir aquele momento. Trace a olhou intensamente, ainda segurando sua mão.
— Você é teimosa — ele murmurou.
Sophia, respirando mais calmamente, deu um leve sorriso.
— E você é impossível.
Ambos ficaram ali, o sangue e os cacos espalhados ao redor, mas algo mais forte agora conectando-os.
as cenas ficavam passando em sua cabeça..
Dante apontou a arma na direção de Sophia mas antes que pudesse puxar o gatilho, Trace deu um passo à frente e, com uma expressão de dor e resoluta necessidade, disse:
— Abaixe a arma.— trace disse
Dante o olhou e abaixou
Sophia, ainda erguendo a cabeça com um sorriso frio, virou-se para Dante.
— Sabia que não deixaria ele me matar — ela disse,
Trace, com uma calma assustadora, olhou para Sophia, o vazio no olhar. Então, sem mais palavras, apontou sua arma para a testa dela e disparou. O som do tiro foi tão preciso Sophia caiu, sua arrogância se desintegrando com sua vida.
Ele então acordou mais um dia com a lembrança da traição dela.
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