5h da manhã. O sol ainda não nasceu. Estou na varanda, segurando minha xícara de café amargo e forte, enquanto observo o céu na esperança de encontrar respostas. O silêncio do amanhecer acalma minha mente inquieta; por um instante, meus sentimentos confusos parecem me dar uma trégua.
Daqui, consigo ver a porta de correr que dá acesso ao quarto. Meus olhos pousam em Telma, deitada nua em nossa cama. Seus cabelos curtos estão bagunçados, e conforme o sol surge devagar no horizonte, sua silhueta se torna mais evidente. Eu a amo. Muito.
Bebo meu café com calma, saboreando o calor e a intensidade do sabor. O vento frio toca minha pele, enquanto os primeiros pássaros começam a cantar, rompendo a quietude da manhã. Sorrio — há algo de bonito nesse instante.
Fico ali até as 6h, imersa nos meus pensamentos. Então, vou até Telma e beijo sua nuca, tentando acordá-la. Ela se move devagar, ainda de olhos fechados, e um sorriso sutil se forma em seus lábios.
— Bom dia, meu amor. Está na hora de acordar — sussurro em seu ouvido.
Ela apenas balança a cabeça em concordância.
— Dormiu bem? — pergunto, afastando-me e indo até o guarda-roupa para escolher a roupa que usarei no trabalho. Tenho uma pequena loja de perfumes no Shopping Diamante.
— Dormi bem. E você? — sua voz soa leve, enquanto ela mexe no celular, ainda sentada na cama.
Respondo que sim e sigo para o banheiro, iniciando minha rotina matinal.
Telma me leva ao trabalho. Ainda não tive coragem de aprender a dirigir, então dependo dela para me locomover pela cidade. No carro, o silêncio predomina, preenchido apenas pelo som da playlist do momento — Telma gosta de ouvir as músicas mais tocadas, diz que é uma forma de se atualizar. Eu prefiro minhas canções antigas.
Quando chegamos, dou um selinho em seus lábios antes de sair. Ela segue para seu escritório de advocacia.
Entro na loja, cumprimento os funcionários e começo a organizar tudo enquanto Júlia, minha funcionária, ainda não chega.
Meus pensamentos são como ondas fortes, revoltas. Algo dentro de mim não está bem. Minha relação com Telma se desgastou. Caímos em uma rotina: há meses não fazemos amor, mal conversamos. Minha insegurança amplifica tudo, deixando meus sentimentos instáveis.
Respiro fundo e afasto esses pensamentos quando o primeiro cliente entra. Forço um sorriso e concentro-me no trabalho.
O dia estava agitado na loja, então decidi sair mais cedo. Avisei Júlia para fechar e me ligar caso houvesse algum problema. Não sabia ao certo para onde ir, mas precisava organizar meus pensamentos antes de conversar com Telma.
Solicitei um Uber para me levar à praia. Ao chegar, retirei minha sandália de salto, levantei a barra da calça e comecei a caminhar à beira-mar, ao som da música "A Storm is Comin'" de KELSON. A letra da música descrevia bem meus sentimentos:
"Há um trovão quando você chama meu nome
Tenho raios correndo em minhas veias
Whoa-oh-ooh, você me deixou na chuva
Agora parece que uma tempestade está vindo sobre mim"
Sentei na areia e fiquei olhando o mar, tentando me acalmar. Recebi uma mensagem de Telma, questionando onde eu estava, pois havia passado na loja e sido informada de que eu havia saído mais cedo. Enviei minha localização e solicitei que viesse me encontrar.
Fiquei olhando para o mar, sentindo-me nervosa e com o coração acelerado. Tentei me acalmar ensaiando meu discurso para quando Telma chegasse. Ela não demorou e, em 30 minutos, chegou sorrindo, com uma garrafa de vinho na mão.
"Estou surpresa em te encontrar aqui", disse ela, sentando-se ao meu lado na areia e olhando para o mar.
Eu me virei para olhar o rosto de Telma, enquanto falava: "Eu precisava pensar... Sobre nós." Ela continuou olhando para o mar, sem desviar o olhar.
"Eu preciso beber", disse ela, abrindo a garrafa de vinho seco. Ela encheu as taças e me entregou uma. Bebi devagar, esperando que o vinho aquecesse meu corpo e meu coração.
"Você quer terminar?", perguntou Telma, olhando para mim. Nossos olhos se cruzaram e vi uma lágrima deslizar pelo seu rosto.
Respirei fundo e disse: "Não, quero um tempo para nos encontrar..." Telma bebeu mais um gole do vinho, limpou as lágrimas e disse, com raiva:
"Tempo! O que esse tempo vai nos dizer?" Sussurrei, tentando encontrar forças para não desmoronar diante dela: "Eu não sei…”.
Telma voltou a olhar para o mar, sua voz suave e resignada: "Então, vamos dar um tempo, como você quer." Ela continuou bebendo devagar o vinho em sua taça, sem mais palavras.
Ficamos em silêncio, apreciando o som das ondas do mar, degustando o vinho seco e sentindo o peso do inverno nos nossos corações. O silêncio entre nós foi mais eloquente do que qualquer palavra, e não conversamos mais.
"Se você chegou até aqui, agradeço muito! Não esqueça de deixar seu comentário e curtir. Sua opinião e feedback são extremamente importantes para mim!"
Telma é uma mulher de 37 anos, uma advogada reconhecida em sua cidade, Balneário Camboriú, Santa Catarina.
Conheci Telma quando viajei para conhecer as belas e bem preservadas praias da região, acompanhada de duas amigas. Na época, ela havia terminado um relacionamento há pouco tempo, enquanto eu já estava solteira há mais de um ano. Nossa primeira troca de olhares aconteceu em uma boate chamada Império, uma balada LGBTQIAP+. Ela estava linda, com seus longos cabelos lisos soltos, que às vezes caíam sobre seu rosto. Vestia um macacão folgado sobre uma camiseta, deixando à mostra as tatuagens que cobriam todo o seu braço direito.
Fiquei encantada por suas tatuagens e passei a noite inteira observando-a, sem coragem de me aproximar. Até que ela percebeu meus olhares e veio até mim, segurando dois shots de tequila e sorrindo.
— Você deveria beber para criar coragem e me beijar.
Rimos juntas da sua audácia. Aceitei a tequila, fiz careta com o gosto forte e ri da situação.
— De fato, agora tenho uma desculpa para te beijar. "É culpa da tequila" — falei, encarando-a.
Sem esperar mais, Telma me beijou suavemente, e assim passamos a noite inteira conversando sobre nossas vidas. Contei que partiria em dez dias, que havia sido demitida e, por isso, decidi viajar antes de procurar outro emprego. No dia seguinte, nos encontramos de novo, e ela passou os dez dias da viagem ao meu lado.
No aeroporto, enquanto esperava meu voo, Telma segurou minha mão e me fez um pedido inesperado:
— Volta. Mas, dessa vez, para morar comigo.
Fiquei surpresa demais para responder.
Quando voltei para Recife, parte de mim queria aceitar o convite. Estava envolvida demais com Telma, e sabia que ela sentia o mesmo. Mas meu lado racional me fazia hesitar. Namoramos à distância por dois meses, até que, um dia, ela simplesmente veio até Recife para me buscar.
Eu ainda não havia conseguido um emprego, pois queria abrir minha própria loja e estudava o mercado. Mas Telma não se importou. Apenas me levou com ela. No fundo, era o que eu queria desde o início, mas não tinha coragem de admitir. Sempre fui insegura, enquanto Telma esbanjava confiança, e isso me fazia admirá-la ainda mais.
No auge dos meus 26 anos, me vi morando em outro estado, ao lado de uma mulher determinada, dona de um pequeno escritório de advocacia que cresceu e se tornou reconhecido durante os dez anos em que estivemos juntas. Confesso que, muitas vezes, me escondi nela, vivendo sua vida e esquecendo da minha. A culpa não era dela. Era minha.
Em Recife, eu morava com uma amiga após a morte da minha mãe. Quando conheci Telma, agarrei-me a ela com toda a força. Eu a admirava tanto, a amava tanto, que acabei me perdendo de mim mesma. Mas agora, a ausência dela me fazia sentir ainda mais insegura.
Observo Telma se arrumando diante do espelho, vestindo um lindo macacão social. Aproveito o momento para tentar conversar:
— Você vai me evitar por quanto tempo? Já faz cinco dias que não fala uma palavra comigo. Dessa forma, não vamos conseguir recuperar nosso casamento.
Respiro fundo, tentando segurar as lágrimas. Ela continua se maquiando, preparando-se para visitar clientes. Seu silêncio me machuca, mas insisto:
— Telma, eu te amo. Sei que você me ama. Não me ignora.
Ela finaliza a maquiagem e se vira para me encarar. Seu olhar é frio quando responde:
— Você está assim porque não estamos transando. Porque eu não estou "comparecendo na cama".
Suas palavras ríspidas me atingem como um soco no estômago. As lágrimas escapam sem que eu consiga conter. Tento explicar, mas sei que ela está magoada e acha que estou exagerando por causa de sexo.
— Não é só por causa de sexo, Telma. Nosso relacionamento está frio e você sabe disso. Estamos como duas amigas… ou melhor, como duas estranhas que dividem a mesma cama.
Suspiro, já sem forças para continuar essa conversa. Telma apenas balança a cabeça em negação, pega sua bolsa e sai, me deixando sozinha no quarto.
As lágrimas voltam com mais intensidade. Pego o celular e envio uma mensagem para Paula, avisando que tirarei o dia de folga. Não tenho condições de ir trabalhar. Perder Telma é como ter o chão arrancado dos meus pés.
A culpa consome-me. Será que fiz o certo ao pedir um tempo? Talvez tivesse sido melhor ficar em silêncio e deixar as coisas seguirem, sem lutar.
Permaneço no quarto, envolvida em meus sentimentos, e não consigo conter as lágrimas. O choro me envolve, e fico ali, imersa em minha dor e tristeza.
O garçom assente enquanto eu me afundo em mais um copo de uísque. Estou sentada no bar do restaurante próximo ao meu escritório. Já passa das oito da noite. Eu deveria estar em casa, pedindo desculpas a Helena pelas palavras horríveis que disse a ela. Mas sou covarde demais para encará-la. Então, estou aqui, afogando minhas mágoas sozinha.
Um filme passa pela minha mente: nosso primeiro beijo, seu sorriso tímido, sua incerteza sobre tudo. Foi isso que me encantou desde a primeira conversa. Sempre fui uma mulher determinada, que não deixa oportunidades escaparem. Então, por que estou deixando meu casamento escorrer pelos meus dedos?
Aos 27 anos, acabei de abrir meu escritório de advocacia. O fim do meu breve namoro com Thamires foi inevitável, porque minha carreira sempre veio em primeiro lugar. Mas tudo mudou quando conheci Helena. Fui atrás dela, fiz questão de tê-la ao meu lado e assumi todas as responsabilidades porque ela era – e ainda é – tudo o que eu quero.
Tomo mais uma dose na esperança de criar coragem, mas o que vem é o enjoo. Só de pensar em perder minha esposa, meu estômago revira.
O erro
Ao entrar no carro, percebo que não estou em condições de dirigir. Pego o celular e ligo para Beatriz, minha secretária. Ela tem 28 anos, é linda e extremamente ambiciosa – algo que admiro. Sei que ainda está no escritório, então peço que venha me buscar. Ela aceita sem hesitar.
Enquanto espero, um pensamento atravessa minha mente: seria interessante ter um caso com ela. Mas afasto essa ideia quando escuto batidas no vidro. Beatriz me encara com um sorriso. Desço do carro, dou a volta e me sento no banco do passageiro.
— Obrigada por vir. Vou te pagar um extra por isso.
Ela sorri e toca minha mão.
— Não se preocupe. Existem outras formas de você me recompensar.
Um arrepio percorre meu corpo. Estou bêbada demais para tomar qualquer decisão precipitada, mas ela está sóbria o suficiente para saber exatamente o que está fazendo.
Beatriz estaciona em frente ao seu prédio e vira o rosto em minha direção. Solta o cinto e, antes que eu possa reagir, sinto seus lábios nos meus. Por um segundo, penso em recuar, mas a lembrança de Helena me assombra. Seu pedido de tempo, o frio que se instalou entre nós... Me deixo levar.
A música "Desert Rose" de Lolo Zouaï toca ao fundo enquanto os toques se intensificam. Faz tanto tempo que não me sinto desejada assim. Em algum momento, já estou nua em seu apartamento. Tento me convencer de que isso é errado, mas meu corpo não me obedece. Me entrego ao prazer.
A culpa
Acordo no meio da madrugada, nua, envolvida nos lençóis de Beatriz. O peso da traição me sufoca. Eu amo minha esposa. E agora?
Saio do apartamento sem olhar para trás. Entro no carro e dirijo até minha casa. Helena está deitada no sofá, dormindo. Talvez tenha me esperado até pegar no sono ali.
Vou direto para o banheiro. Ligo o chuveiro e deixo a água fria escorrer pelo meu corpo. Fecho os olhos e choro.
Um choro preso há dias.
De repente, sinto Helena entrando no chuveiro comigo. Nua. Me abraça sem dizer nada. Seu beijo é intenso.
E, naquele instante, tudo se dissolve.
Depois de meses sem nos tocarmos, fazemos amor ali mesmo. O desejo reprimido se transforma em urgência. Meus movimentos são rápidos, intensos, desesperados. O som de seus gemidos ecoa no banheiro. Sinto sua boca em minha intimidade, explorando cada parte de mim até que meu corpo se desfaz no prazer.
Mas, assim que o orgasmo passa, a culpa volta.
Helena me olha. Não diz nada. Mas sei que ela sabe.
Ela sai do banheiro, me deixando sozinha com minha culpa.
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