A Academia Arcana de Helzarth era a instituição de magia mais prestigiada do continente. Construída sobre as ruínas de um antigo templo esquecido, a academia possuía torres imponentes, vastas bibliotecas e terrenos tão grandes que se assemelhavam a uma pequena cidade.

Para ser admitido, era necessário não apenas talento, mas também um título nobre. Magia era um privilégio dos grandes clãs e famílias aristocráticas.

Por isso, a aceitação de um plebeu causou um alvoroço sem precedentes.

A Chegada à Academia

No pátio central da academia, centenas de novos alunos estavam reunidos para a Cerimônia de Abertura. Vestindo uniformes formais, os jovens magos carregavam em seus olhares o orgulho e a arrogância típicos da nobreza.

Mas no meio deles, um jovem destoava.

Cael Ardent, um rapaz de 17 anos, permanecia imóvel entre os outros estudantes. Seus cabelos negros e olhos cinzentos eram comuns, mas seu olhar carregava algo incomum—um profundo tédio. Ele não demonstrava nervosismo nem empolgação. Apenas observava a cena com desinteresse.

Os sussurros começaram assim que ele chegou.

"Esse é o plebeu?"

"Deve ser um erro. Como alguém sem linhagem nobre entrou aqui?"

"Não importa. Ele não durará um mês."

Cael ignorava tudo.

Há séculos, ele havia decidido que viveria como um mortal, ocultando sua verdadeira identidade. Para isso, selou seu poder com sete selos, limitando sua força e magia ao nível de um estudante mediano.

Ele não precisava estar ali. Poderia simplesmente desaparecer e viver em sua nação oculta, Aurendor. Mas o destino sempre gostou de pregar peças nele.

E foi assim que acabou sendo recomendado diretamente pelo diretor da academia.

Cael soltou um suspiro.

"Por que ele fez isso? Poderia ter me deixado em paz…"

Seus pensamentos foram interrompidos quando uma voz poderosa ecoou pelo pátio.

— "Sejam bem-vindos à Academia Arcana de Helzarth!"

No topo da plataforma, um homem de cabelos longos e prateados olhava para os alunos com um sorriso enigmático. Seus olhos dourados exalavam sabedoria e mistério.

Ele era Eldric Von Astra, o diretor da academia.

— "Hoje, vocês dão o primeiro passo para se tornarem verdadeiros magos. Aqui, status e títulos não importam. Apenas o talento e a dedicação definirão seu destino."

As palavras eram belas, mas todos sabiam que não eram totalmente verdadeiras. O preconceito contra plebeus era enraizado.

Cael sentiu o olhar do diretor pousar sobre ele por um breve momento. Eldric manteve seu sorriso, como se soubesse mais do que deixava transparecer.

"O velho está aprontando alguma coisa…"

Ele desviou o olhar, fingindo desinteresse.

Primeiras Impressões

Após a cerimônia, os alunos foram divididos em grupos e levados por monitores para conhecer as instalações da academia.

Enquanto caminhavam, Cael percebeu que três alunos olhavam para ele com particular desprezo.

— "Ei, plebeu."

Uma voz arrogante chamou sua atenção. Virando-se lentamente, Cael viu um jovem de cabelos loiros e olhos azuis afiados. Sua postura exalava nobreza.

— "Meu nome é Dante Halvard, herdeiro da Casa Halvard. Nunca ouvi falar de você, o que significa que é um ninguém. Como entrou na academia?"

Cael piscou, sem pressa para responder.

— "Por recomendação do diretor."

O tom casual irritou Dante.

— "Tsc… você deve ter usado alguma trapaça. O diretor jamais recomendaria alguém sem talento."

Cael reprimiu um sorriso. Ele poderia acabar com o ego desse nobre arrogante em um instante, mas não queria chamar atenção tão cedo.

— "Quem sabe?" — respondeu simplesmente.

Antes que Dante pudesse insistir, uma voz feminina interveio.

— "Deixe-o em paz, Dante."

Uma garota de cabelos ruivos e olhos dourados se aproximou. Sua postura era elegante, e seu uniforme carregava o brasão da Casa Vermillion, uma das famílias mais influentes do reino.

Ela olhou para Cael com um misto de curiosidade e desconfiança.

— "Se o diretor o recomendou, ele deve ter seus motivos."

Dante bufou, mas não insistiu.

— "Hmph. Isso não muda nada. Se você for um fracassado, será expulso rapidamente."

Com um olhar de desprezo, Dante se afastou.

A garota ruiva ainda olhava para Cael.

— "Meu nome é Elara Vermillion. Não pense que estamos do mesmo lado, mas espero que pelo menos tenha algum talento."

— "Entendido."

Elara arqueou uma sobrancelha com a resposta curta, mas não disse mais nada antes de sair.

Cael sorriu para si mesmo.

"Acho que as coisas ficarão interessantes."

A Primeira Aula – O Teste de Magia

Na manhã seguinte, os alunos foram levados para o Campo de Treinamento Arcano.

O professor encarregado era um homem severo de cabelos grisalhos chamado Magnus Rehnwald.

— "Antes de começarmos, precisamos avaliar o nível mágico de cada um. Assim, dividiremos as turmas com base no talento."

Ele ergueu a mão, e um cristal flutuante surgiu no centro do campo.

— "Coloquem a mão no cristal e liberem sua mana. Ele classificará sua força de acordo com seis níveis: Comum, Aprendiz, Adepto, Especialista, Mestre e Arquimago."

Um a um, os alunos foram testados.

Dante Halvard foi classificado como Mestre, arrancando aplausos.

Elara Vermillion ficou em Especialista, um nível impressionante.

Então chegou a vez de Cael.

Ele caminhou até o cristal, sentindo dezenas de olhares sobre si.

"Se eu liberar muito poder, será problemático."

Cael tocou o cristal e liberou apenas uma fração mínima de sua mana.

O cristal brilhou fracamente…

"Nível: Aprendiz."

Risos ecoaram pelo campo.

— "Eu sabia! Ele é um inútil!"

— "Nem deveria estar aqui!"

Cael apenas deu de ombros. Ele sabia que seu poder real era incomparável. Mas por enquanto, era melhor ser subestimado.

O professor Magnus olhou para ele com desdém, mas não disse nada.

— "Muito bem. Agora que temos os resultados, dividiremos as turmas…"

Enquanto a multidão ria, apenas duas pessoas não pareciam convencidas:

O Diretor Eldric, que sorriu sutilmente como se já esperasse por isso.

Elara Vermillion, que olhou para Cael com uma expressão pensativa.

"Interessante."

Ela sentia que havia algo de errado com aquele plebeu.

Mas o que…?

O Campo de Treinamento Arcano era imenso, com diversos obstáculos criados para simular situações de combate e testes de resistência mágica. Grandes colunas de pedra se erguiam ao redor do campo, cada uma com inscrições antigas que pulsavam com energia mágica.

Naquele dia, os alunos seriam divididos em duplas e teriam que enfrentar um ao outro em combates simulados. O Professor Magnus já havia explicado as regras.

— "Nada de magia letal, mas é permitido usar força letal em caso de extrema necessidade. O objetivo é testar sua capacidade de controle e adaptação."

O campo estava repleto de alunos ansiosos. A maioria, como Dante, já demonstrara seu talento com a magia, mas havia outros como Cael, que ainda não tinham mostrado do que eram capazes.

A Divisão das Duplas

O Professor Magnus ergueu sua mão e, com um gesto, as duplas começaram a se formar. Os alunos foram chamados um a um.

— "Dante Halvard e Elara Vermillion."

— "Auriel Windstorm e Seraphina Nightshade."

— "Cael Ardent e Caelum Vessir."

Cael olhou para o seu oponente, Caelum Vessir, um jovem com cabelos escuros e olhos amarelados. Ele era alto e magro, com uma postura arrogante, típica dos filhos de nobres.

Caelum olhou para Cael com um sorriso debochado.

— "Você tem sorte de ter sido emparelhado comigo. Eu poderia ter lidado com qualquer um dos outros, mas vou garantir que seu fracasso seja... memorável."

Cael apenas deu de ombros, seu rosto impassível. Ele sabia que, mesmo que quisesse, não poderia usar todo o seu poder agora. Era melhor deixar os outros subestimá-lo.

— "Espero que não se arrependa." Cael respondeu de forma fria, sem se dar ao trabalho de olhar Caelum diretamente nos olhos.

Magnus levantou a mão novamente, e todos os alunos se afastaram um pouco, dando espaço para as duplas se posicionarem.

— "Comecem."

O Início do Combate

Caelum foi o primeiro a agir. Ele estendeu a mão e uma esfera de fogo se formou instantaneamente, flutuando à sua frente, pronta para ser lançada.

— "Prepare-se!" ele gritou, lançando a bola de fogo em direção a Cael com grande velocidade.

Cael não se moveu. Em vez disso, ele estendeu a mão e, com um simples gesto, a esfera de fogo se desfez no ar antes de atingir seu alvo.

Caelum ficou surpreso. Ele nunca imaginou que um plebeu fosse capaz de repelir sua magia com tanta facilidade. Porém, sua arrogância não o deixaria desistir. Ele fez outro movimento, criando uma barreira de vento ao seu redor, aparentemente tentando controlar o fluxo de magia e dificultar qualquer avanço.

— "Vamos ver como você lida com isso."

Caelum sorriu, acreditando que agora tinha a vantagem. Ele invocou uma série de lâminas de vento afiadas que cortavam o ar, disparando contra Cael.

Mas Cael, sem se apressar, deu um passo à frente, de forma calma, e estendeu a mão. A energia ao seu redor se concentrou e as lâminas de vento se desintegraram antes de chegarem perto dele.

O campo de treinamento ficou em silêncio por um instante. Os alunos assistiam, tentando entender o que estava acontecendo.

— "Isso não é possível..." Caelum murmurou para si mesmo.

Ele aumentou a intensidade de seu ataque, invocando uma tempestade de chamas e vento, uma combinação devastadora, esperando que finalmente fosse capaz de derrotar Cael. Mas, uma vez mais, Cael não se moveu.

Com um gesto discreto, ele reuniu uma barreira de mana pura, sem esforço. As chamas e lâminas colidiram contra a barreira, mas não conseguiram ultrapassá-la. O ar parecia vibrar com a pressão, mas Cael permanecia imóvel.

— "Você... não é normal." Caelum disse, com uma mistura de raiva e medo começando a tomar conta dele.

Cael então olhou para o chão, e por um momento, sua aura divina se manifestou por um segundo. Ele não deixou que ninguém visse totalmente, mas os alunos mais próximos sentiram uma pressão incomum no ar. Algo além de um simples mago, algo incompreensível para eles.

— "Isso já é suficiente." Cael murmurou.

Com um movimento sutil de sua mão, ele dissolveu a tempestade de magia. O campo de treinamento voltou ao silêncio, e os outros alunos estavam em choque, olhando para ele com uma mistura de respeito e medo.

Caelum ficou parado, tremendo levemente, e finalmente desistiu.

— "Você... ganhou." ele disse, a raiva em seu tom sendo substituída por uma relutante aceitação.

Cael apenas olhou para ele e respondeu com a mesma frieza de antes:

— "Eu sei."

O Olhar de Elara

Depois do combate, o campo de treinamento foi preenchido por conversas animadas. Alguns alunos estavam maravilhados com a habilidade de Cael, enquanto outros ainda desconfiavam de como ele poderia ter conseguido repelir os ataques tão facilmente.

No entanto, uma figura em particular não tirava os olhos dele. Elara Vermillion, a jovem de cabelos ruivos, o observava atentamente.

Ela havia notado algo desde o início. Cael não era apenas talentoso; havia algo mais nele, algo que ela não conseguia entender.

Ela caminhou em direção a Cael após o combate, seu olhar atento.

— "Impressionante." Ela disse, com um sorriso curioso. "Não imaginei que um plebeu fosse capaz de repelir um mago de nobre linhagem como Caelum."

Cael olhou para ela, mantendo sua expressão impassível.

— "Talvez você devesse se concentrar nos seus próprios resultados, Elara. Há mais em você do que aparenta."

Ela franziu a testa, ligeiramente surpresa pela resposta direta. Não era comum que alguém como Cael fosse tão... desafiador.

— "Talvez você tenha razão. Mas não se engane, Cael Ardent. Você e eu vamos nos cruzar novamente."

Ele simplesmente a observou enquanto ela se afastava. Algo na maneira como ela se comportava indicava que ela sabia mais do que estava disposta a admitir.

No fundo, Cael sabia que aquele olhar curioso seria uma constante em sua vida dentro da academia.

Mas, por enquanto, ele estava satisfeito por ter garantido sua posição no topo, ao menos por mais um tempo.

Após o combate no campo de treinamento, os boatos sobre Cael se espalharam rapidamente pela academia.

Alguns diziam que ele usou algum truque, outros acreditavam que ele recebeu uma bênção oculta. No entanto, ninguém sabia ao certo como um "plebeu" conseguiu derrotar um nobre treinado sem esforço aparente.

Dante Halvard, que assistiu à luta de longe, não estava nada satisfeito. Para ele, aquilo era um insulto à nobreza. E ele não era o único que pensava assim.

O clima na academia estava mudando.

A Biblioteca Arcana

No final da tarde, Cael decidiu explorar a Biblioteca Arcana, um dos maiores acervos de conhecimento mágico do continente. Ele não precisava aprender nada ali—afinal, ele mesmo escreveu muitos daqueles conhecimentos séculos atrás—mas queria entender o que os mortais sabiam nos tempos atuais.

Os corredores eram silenciosos, cheios de prateleiras antigas e tochas mágicas que iluminavam os corredores com uma luz azulada.

Enquanto caminhava entre as fileiras de livros, ele sentiu um olhar fixo sobre ele.

Virando-se lentamente, viu Elara Vermillion parada a poucos metros de distância, segurando um livro com capa de couro vermelho. Seus olhos dourados o analisavam com interesse.

— "Não imaginei que você fosse do tipo estudioso."

Cael fechou o livro que segurava e olhou para ela.

— "E eu não imaginei que você fosse do tipo curiosa."

Ela sorriu de leve, mas não respondeu imediatamente. Em vez disso, aproximou-se e colocou o livro sobre a mesa ao lado dele.

— "Você está escondendo algo."

Cael manteve sua expressão neutra.

— "E por que acha isso?"

Ela cruzou os braços.

— "Seu combate contra Caelum. Você se defendeu sem usar magia ofensiva. Nenhuma técnica convencional funcionaria tão perfeitamente. Não era apenas talento... era algo mais."

Ele encarou Elara por um momento. Ela era mais perspicaz do que a maioria dos nobres.

— "Você gosta de teorias da conspiração, Elara?"

Ela soltou um leve suspiro e pegou o livro novamente.

— "Apenas tome cuidado, Cael. Alguns nobres não gostam de surpresas. E algo me diz que você é a maior surpresa desta academia."

Sem esperar resposta, ela se afastou.

Cael a observou sair, pensativo.

"Então ela já está suspeitando... Terei que ser ainda mais cuidadoso."

A Reunião Sombria

Enquanto Cael lidava com a crescente atenção dentro da academia, nas sombras, algo se movia.

No subsolo de Helzarth, em uma câmara escondida, figuras encapuzadas estavam reunidas em um círculo.

A sala estava iluminada por velas negras, e o ar era denso com magia sombria. Um símbolo desconhecido estava desenhado no chão, pulsando com energia maligna.

— "O momento está próximo," disse uma voz rouca. "A Academia de Helzarth sempre foi um ponto-chave. Precisamos garantir que nada nos impeça."

Outra figura se moveu para frente.

— "A presença daquele garoto… O plebeu. Há algo estranho nele."

O líder da reunião permaneceu em silêncio por um momento antes de finalmente falar:

— "Observem-no. Mas não façam nada… ainda. Se for uma ameaça, eliminaremos no momento certo."

As figuras desapareceram nas sombras, enquanto o símbolo brilhava uma última vez antes de se apagar.

A Convocação Noturna

Naquela mesma noite, Cael estava prestes a dormir quando sentiu algo incomum no ar.

Uma presença familiar se aproximava da academia.

— "…Isso não é bom."

Ele se levantou e foi até a janela, olhando para o céu estrelado. Então, viu uma figura vestida com uma armadura dourada, descendo dos céus em um feixe de luz prateada.

Os outros alunos, que estavam do lado de fora dos dormitórios, começaram a se reunir. Era impossível não notar.

O homem caiu de joelhos diante da entrada da academia, sua respiração pesada, como se tivesse viajado longas distâncias sem descanso.

Quando ergueu a cabeça, seus olhos brilharam de alívio e reverência ao ver Cael.

Então, ele falou em voz alta, para todos ouvirem:

— "Lorde Cael! O reino de Aurendor precisa de você imediatamente!"

Silêncio absoluto.

Os alunos olharam de um para o outro, sem entender o que tinham acabado de ouvir.

"Lorde? Aurendor? O país mais poderoso do mundo?!"

O choque foi imenso. A verdade, que Cael tanto tentou esconder, havia sido jogada diante de todos.

Ele fechou os olhos por um momento e suspirou.

— "…Maldição."