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Fora da Zona de Conforto

Capitulo 1 - O peso do Invisível

Hoje eu acordei antes do despertador. De novo.

O teto do quarto do abrigo tem algumas manchas que parecem mapas. Tem uma que sempre olho antes de levantar. Parece uma ilha isolada, cercada por nada. Acho que sou essa ilha.

Aqui no centro de acolhimento tudo tem cor neutra, cheiro de limpeza e passos contidos. Ninguém fala alto, ninguém pergunta muito. É um tipo de silêncio que grita de outro jeito. Um silêncio cheio de passados partidos.

Levanto devagar, tento não acordar as outras meninas. Cada uma carrega algo nos olhos que aprendi a reconhecer: o peso de quem já viu demais, sentiu demais, e não teve tempo pra digerir. Eu me encaixo bem aqui. Ou talvez... não.

Sempre tento passar despercebida. Roupas discretas, cabelo preso, passos leves. Mas, de alguma forma, eu sempre acabo sendo notada. Acho que é porque olho nos olhos. Ou porque escuto mais do que falo. Isso incomoda algumas pessoas. Atrai outras.

No caminho até a escola, olho pela janela do ônibus e imagino as vidas das pessoas na rua. Uma mulher apressada com uma sacola furada. Um menino chutando uma garrafa como se fosse uma bola. Gosto de inventar histórias sobre elas. É mais fácil do que encarar as minhas.

Na escola, tudo parece barulhento demais. Risos altos, corredores cheios, conversas cortantes. Eu ando com o olhar baixo, mas sei que alguém me observa. Sempre tem alguém.

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Diálogo

uma jovem do centro — Você sempre fica sozinha? — pergunta uma voz ao meu lado, no pátio.

É a Lin — uma jovem que estáno centro também e, é da mesma turma que eu. Ela tem cabelos encaracolados e sorriso fácil. Já tentou puxar conversa comigo algumas vezes.

Xiaoyu — Eu gosto de observar. — respondo, tentando sorrir sem parecer forçada.

Lin — Você parece tranquila. Diferente. As pessoas notam isso, sabia?

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Suspiro por dentro. Eu sei. E às vezes, isso não é bom.

Na aula de literatura, o professor pede pra escrevermos um texto sobre “um lugar onde nos sentimos seguros”. Meu peito aperta.

Seguro?

Começo a escrever, mas as palavras saem todas erradas. Rasgo a folha e começo outra vez. E de novo. No fim, só consigo escrever:

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"Existe um lugar dentro de mim onde tudo está calmo.

Nele, minha mãe sorri sem medo.

Meu irmão dorme em paz.

Meu pai não precisa ir embora para se proteger.

E eu... sou só uma menina.

Não uma ilha."

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Dobro o papel e não entrego.

Na saída da escola, vejo um grupo cochichando e olhando na minha direção. Não me surpreende. Uma das meninas, Tao Mei, me encara com desprezo discreto.

Ela já tentou provocar-me antes. Disse que “pessoas como eu” se acham superiores só porque ficam caladas. Como se o meu silêncio fosse um julgamento.

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Mas hoje, algo nela me incomoda diferente. Ela passa por mim e murmura:

Diálogo

Tao Mei — Deve ser fácil fugir dos problemas quando se tem pra onde correr.

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Congelo. As palavras batem fundo. Meu coração dispara.

Não respondo. Não posso. Se eu abrir a boca agora, vou gritar. Ou chorar. E não quero nenhum dos dois.

Volto pro centro de acolhimento com a garganta fechada. Subo direto pro quarto e me deito na cama. A mancha no teto me observa em silêncio.

Pego meu caderno e começo a escrever. Palavras soltas. Sentimentos sem filtro.

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 "Não escolhi fugir.

Eu era só uma criança.

E mesmo assim, tentei proteger todo mundo.

Até minha mãe, que devia ter me protegido.

E agora carrego uma culpa que não é minha.

Mas que me acompanha como sombra."

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Fecho o caderno.

Alguns minutos depois, alguém bate na porta. É Lin. De novo.

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Diálogo

Lin — Você tá bem?

Quero dizer "sim". Mas algo em mim cansa de fingir.

Xiaoyu — Às vezes não. Mas eu aprendi a parecer.

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Ela entra e senta na cama ao meu lado. Em silêncio.

É estranho. Mas bom. Alguém sentar ao meu lado sem tentar consertar nada. Só ficar.

E pela primeira vez em muito tempo, eu não me sinto completamente sozinha. Só um pouco. Mas já é um começo.

Capítulo 2 - Coisas Que Não digo

Acordo com o som da chuva batendo na janela. Pequenas gostas deslizam como se o céu estivesse a chorar por dentro. Gosto de dias assim. Parece que o mundo também tem direito de desabafar.

O centro está mais silencioso do que o normal. Alguns jovens saíram cedo para visitas ou compromissos. Eu continuo no centro aos fins de semana. Ainda não me libertaram para sair. Dizem que é por precaução. Avaliação de comportamento, e estabilidade emocional.

Eu sei o que isso significa. Significa que ainda não confiam em mim. Talvez porque eu não falo muito. Talvez porque eu Não choro como os outros esperam que eu chore.

Passo a manhã no refeitório, rabiscando palavras soltas no cadeno. Palavras que não têm destino, mas precisam de sair.

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" Existem coisas que se acumulam dentro da gente. Como um copo quase cheio. Às vezes basta uma gota. Ás vezes a gota nunca vem. E a gente vive assim: Transbordando por dentro."

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A coordenadora do centro de acolhimento (CAT) passa por mim e cumprimenta-me com um sorriso breve. Tento retribuir. E ela pergunta se está tudo bem. Eu digo que sim. Sempre digo que sim. Mesmo quando não tenho a certeza.

À tarde, vamos para a escola.

Lá, tudo parece barulhento demais. Risos altos, conversas afiadas, passos apresados. É como se o mundo estivesse num volume que não consigo abaixar. Tento-me isolar Leio, escrevo, observo. Tento passar despercebida.

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Diálogo

Lin — Você sempre fica sozinha?

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Pergunta uma voz já conhecida. Lin.

Ela senta-se ao meu lado na hora do intervalo. Sem me pedir licença. Ela nunca pede. Mas também nunca invade. Tem esse jeito de ocupar espaços sem fazer peso.

Eu observo, e respondo.

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Diálogo

Xiaoyu — Melhor assim.

Lin — Você diferente. Tem gente que se incomoda com isso. Mas eu gosto.

Xiaoyu — Eu gosto não ser o centro das atenções. Não tenho culpa se que incomodam com isso.

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Ela sorri, e eu tento sorrir de volta. Ás vezes acho que Lin me entende. Ou pelo menos tenta.

Na aula de literatura, o professor pede que compartilhemos os nossos textos da última atividade: "Descreva um lugar onde você se sente segura."

Eu engulo em seco.

O professor chama pelo meu nome.

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Diálogo

Professor — Xiaoyu, posso ler o seu?

Xiaoyu — p-pode, quer dizer não, eu não terminei.

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Congelo. Eu não entreguei. Dobrei a folha, e guardei no bolso. Como ele...?

Ele já está lendo. A sala fica em silêncio.

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"Existe um lugar dentro de mim onde tudo está calmo...

Nele minha mãe sorri sem medo.

Meu pai não precisa ir embora. E eu... só uma menina.

Não uma ilha."

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Cada palavra lida é como se alguém tocasse em uma ferida que ainda não cicatrizou. Me sinto exposta. Pelada. Vulnerável. Mas também... Ouvida.

O professor termina com um sorriso breve.

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Diálogo

Professor — isso é literatura de verdade. Sentida. Obrigada por ter escrito isso.

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Não sei o que dizer. Só balanço a cabeça. Tento não parecer abalada. Mas por dentro, estou em pedaços.

Na saida Lin caminha comigo ate ao portão para esperarmos a van do centro.

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Diálogo

Lin— Você escreve bem. não devia esconder o seu dom para escrever.

Xiaoyu — Era só um rascunho. Não era suposto ninguém ler.

Lin — Mesmo assim, faz-me pensar sobre o meu próprio "lugar seguro".

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Quando volto para o abrigo, encontro um bilhete em cima da minha cama. sem assinatura.

"Você acha que é especial? só porque escreve triste?"

Fico imovel. As mãos gelam. O Meu peito aperta. Rasgo o papel e jogo fora. Mas a frase ja ss cravou em mim como um caco de vidro.

Naquela noite, não consegui dormir. viro-me, olho para o teto, ouço a minha respiração.

Penso e. tudo que nunca disse. No dia em que tudo desabou. Na última vez que vi o meu pai.

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Memória

Pai — Isso não é culpa sua, Xiaoyu. Um dia você vai entender.

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Eu queria acreditar. Mas até hoje, ainda não entendi o motivo. Ou talvez lá, no fundo saiba. E tenho que descobrir sozinha.

Levanto-me da cama e pego o meu caderno.

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"Não quero ser especial.

Só quero existir sem incomodar.

Só quero encontrar um lugar onde minha presença não seja o problema. Onde minha tristeza não seja poesia. Onde eu possa simplesmente... RESPIRAR! "

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Fecho o caderno e olho pela janela. A chuva ainda cai. Mas agora, parece conversar comigo.

Saudade do que (não) foi!

Algumas cicatrizes moram em paredes antigas.

Nem todo o lar é abrigo!

Ela voltou pra casa. Mas o que encontrou… foi silêncio, dor e memórias que nunca se foram.

E quando a casa que deveria proteger… foi a que mais feriu?

Capítulo 3 em revisão — Lugar Nenhum

...ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...

Autora iniciante 😜

muito obrigada pelos comentários positivos dos 2 primeiros capítulos. É a minha primeira vez e vou dar o meu melhor.

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