Preciso que vocês entendam alguns fatos antes mesmo de saber pelo que estou passando, pois muitas das coisas que na época pareciam irrelevantes hoje fazem total sentido na minha vida. Lembro da primeira vez que vi uma arma diante dos meus olhos, os falatórios e gritos ao meu redor, Ava chorava de modo desesperador, ela era dois anos mais nova que eu. Até hoje não entendi muito bem o que havia acontecido ali, parecia ser como tantos outros jantares da nossa família. No entanto, não foi como o esperado. Me chamo Emma Collins, sou filha mais velha do caçula do meu avô, o pilar da nossa família.
O dia em questão foi normal como todos os outros, no inverno dos meus oito anos de idade tinha plena convicção de tudo o que queria, fui criada assim, mesmo não sendo a neta mais nova fui criada como tal, rodeada por mimos e paparicos por quase todos da minha família.
Todas as manhãs, minha mãe sempre falava a mesma coisa ao entrar no meu quarto, quando o sol ainda se escondia por trás dos grandes salgueiros e carvalhos que rodeavam a propriedade.
— Vamos, minha princesa, o mundo precisa de você para se alegrar. — Ela beijava minha testa e afagava meus cabelos.
— Bom dia, mamãe! — Espreguiçando, procurava por seu abraço caloroso e reconfortante.
— Hoje você precisará ir a um jantar junto com seu pai — ela levantou, deslizando sua mão de modo suave pela minha perna — então preciso muito que somente hoje você seja uma boa menina. O que me diz, Emma?
Parada com a mão na cintura e o rosto levemente curvado, ela me encarava com seus olhos grandes e castanhos.
— Sim! — Revirei os olhos. — Mamãe, serei uma boa menina. — Levantei-me de forma rápida e corri até ela, envolvendo-a em meus braços. — A senhora também vai conosco?
— Sabe que não, princesinha... — acariciando meu rosto, ela ficou triste.
— Não entendo...
Antes mesmo de concluir minha fala, outra voz sobrepôs a minha.
— Sua mãe entende o lugar dela na família! — Com o timbre grave envolto pela sonolência, disse meu pai. — Bom dia, Bananinha! — Sorriu com os olhos fechados.
— Bom dia, papai! — lancei-me em seus braços — o que isso quer dizer?
— Quer dizer, minha boneca, que sua mãe entende como funciona a singularidade da nossa família, só assim poderemos ser uma estrutura sólida. — Ele se abaixou, ficando de joelhos na minha frente — Você passará a entender isso essa noite...
— Não fala desse jeito com ela, Sebastian! — minha mãe o puxou para cima — ela vai entender com o tempo.
Meu pai a abraçou segurando entre seus cabelos, eu comecei a rir e sair do quarto, odiava quando eles se beijavam, era muito estranho naquela época, acho que naquele período tudo era estranho, pois tudo à minha volta estava se moldando.
Passei o dia todo brincando com Maya, ela é minha melhor amiga depois do London, a cenoura ambulante e chata com quem sempre tive uma atração descomunal, o conheço a vida toda.
A noite caiu mais rápido do que o habitual, a neve se acumulou no parapeito da janela, tivemos um inverno rigoroso naquele ano.
Nunca soube do que esperar desses jantares, sempre alguém saía magoado. Essa parte da minha vida ainda era um completo mistério para mim.
Minha mãe me vestiu com um vestido azul-claro horrível, cheio de babados, uma meia-calça branca, bordada com várias estrelas, e um sapato igual ao de bonecas, da cor preta. Bem apresentável, com os cachos presos em duas tranças que faziam uma espécie de coroa na minha cabeça, estava parada ao pé da escada, sentindo o vestido pinicar.
Quando papai desceu trajando um terno cinza que combinava com a cor dos seus olhos, não entendia do que iriam tratar no jantar, mas todas as vezes que ele usava o color com o brasão da família sabia que passaria a maior parte do tempo ao lado dos meus primos do que de fato com ele. Não via problema nenhum nisso, eu amava meus primos.
Finalmente entramos no carro e o motorista seguiu para a casa do meu avô, ele morava no centro da cidade em uma cobertura dona de uma vista invejável.
O caminho foi chato e sem graça, odiava andar no carro por muito tempo, e papai foi todo o percurso de cabeça baixa, antecipando a tragédia que viria a seguir, deixando o clima mais sufocante que aquele vestido ridículo.
Dei graças quando entramos na garagem do prédio onde meu avô residia, descemos do veículo, o motorista ficou no carro, enquanto meu pai segurava firme a minha mão e andávamos em direção ao elevador.
Papai apertou o botão, as portas se abriram revelando dois homens com ternos pretos, umas cordinhas encaracoladas nas orelhas que lembravam muito o fio do telefone, seguiam de olhar fixo e apático.
— Boa noite, senhor Sebastian — os dois rapazes disseram em uma sincronia perfeita.
Meu pai apenas entrou e permaneceu em silêncio, o que me incomodou um pouco, pois eles sempre me diziam para ser educada com as pessoas, independente de quem fosse.
— Papai, eles disseram boa noite, o senhor não vai responder nada? — puxei a manga do seu paletó.
— Bananinha! — Ele sorriu, com as sobrancelhas erguidas. — Boa noite, senhores. — Olhando de relance para os dois, papai sorriu outra vez para mim. — Satisfeita?
— Sim! — Balançando para frente e para trás, movia sua mão no mesmo ritmo.
Alguns minutos depois, as portas se abriram diante de uma enorme sala, onde havia mais alguns homens espalhados, olhavam para o meu pai e apenas acenavam com leveza a cabeça. Passamos pela primeira porta dupla de cor marfim. Dessa forma surgiram os meus tios em pé conversando, com copos, charutos ou cigarros nas suas mãos.
— Meu amor, ali estão seus primos, procure o Ben ou James e fique com eles, entendeu?
Meu pai olhou para mim e soltou minha mão. Virei de costas para ele e corri em direção àqueles olhos azuis, que se retorciam igual à sua boca fazendo careta para mim, com os braços abertos, me joguei em seu colo.
— BEN! — O abracei fortemente. — Quando você voltou?
— Ontem, Bananinha, você está tão bonita, uma verdadeira princesa — Ben se afastou, olhando em meus olhos.
— Não estou não, esse vestido coça e é horroroso! — bufei, cruzando os braços. — E estou com dor de cabeça com o meu cabelo preso desse jeito!
— Se está dizendo — ele levantou e estalou os dedos — arrume outra roupa para ela e solte seu cabelo, a minha princesinha não está se sentindo bem assim.
A empregada que olhava apenas para o chão confirmou com a cabeça e saiu da sala.
— Benjamim precisa parar com isso! — Uma voz forte me fez estremecer. Olhando, vi tio Elliot.
— É mais forte que eu, e não se preocupe, Emma sempre será minha prioridade — Ben olhou para nosso tio e me segurou junto dele.
— Sabe muito bem que ela não é uma boneca de porcelana, não sabe, Benzinho?
Durante a minha infância inteira tive medo do tio Elliot, ele é alto, passa de dois metros de altura, tem a mesma cor de olhos que Ben, um azul profundo, mas que nunca transmitiu bondade, sempre que olhava para ele um enorme calafrio subia por todo o meu dorso.
Respirei aliviada quando ele se afastou lentamente para junto do meu pai e dos outros tios. Como pedido, a moça trouxe um vestido mais leve da cor rosa, com algumas flores em sua saia. Ela me levou para um quarto, onde me ajudou a trocar de roupa e desfez as tranças, permitindo que o alívio percorresse todo o meu corpo. Ao retornar, todos se encontravam sentados na grande mesa de jantar, ouvindo atentamente o que meu avô dizia.
De maneira furtiva, sentei ao lado do meu pai e de Ben. Ajeitando-me sobre a cadeira, ouvi os falatórios iniciarem como uma grande discussão.
— Isso é inadmissível, pai! — Tio Sean esmurrou a mesa ao falar.
— Calado! — ordenou tio Elliot.
— Calado? Todos os nossos filhos passaram por isso, o que ela tem de especial? Minha filha está sendo criada para ser herdeira como a Charlotte e a Sarah, isso não é justo, pai!
Tio Sean seguia alterado.
— Já tomei minha decisão — meu avô olhou em minha direção e me chamou com as mãos — Emma vai ser criada de uma forma diferente de todas as outras mulheres da nossa família.
Estava com medo, mesmo assim me aproximei, o vovô acariciou minhas bochechas.
— Está muito bonita hoje, minha princesa! — Ele afagava minha cabeça. — Não estou pedindo permissão, vocês estão sendo informados de que ela não vai saber de nada. — Ele retornou o olhar para a mesa. — Descobri algo hoje que me fez mudar de ideia, nem Emma nem Ava serão criadas para serem herdeiras de ninguém. Agora os meninos vão seguir com os seus treinamentos, nada vai ser alterado nessa parte, fui claro?
Era possível ouvir apenas os gelos se desfazendo nos copos.
— Isso é uma palhaçada do cão, não sou de acordo! — Bradou tio Oliver.
Ao dizer isso, fez tio Elliot se alterar, ele levantou do seu lugar tomado em fúria, ao se afastar da mesa, a cadeira caiu, fazendo todos olharem para tio Oliver. Tio Elliot então foi até o irmão e, de maneira fugaz, o vi puxar uma arma de dentro do paletó e enfiar na boca de tio Oliver. Levando todos a voltarem a discutir, Ava começou a chorar, algo me sufocava, apertei meu avô e escondi meu rosto sob o pescoço dele.
Os falatórios ficaram maiores, não conseguia mais distinguir quem falava, de uma forma repentina senti alguém me puxar de perto do meu avô, levou-me no colo até uma outra sala, quando abri os olhos vi Ben, deslizando sua mão nas minhas costas.
— Vai ficar tudo bem, Bananinha, eles só estão resolvendo alguns problemas, está tudo bem!
Não queria chorar, mas foi o que fiz depois de ouvir Ben, chorei por longos minutos, até esquecer por qual motivo estava chorando.
Após esse evento, voltamos para a sala de jantar onde todos comiam e bebiam como se nada tivesse acontecido, como se aquilo tivesse sido apenas fruto da minha imaginação. Mal sabia que aquilo era o habitual da família amorosa em que cresci.
Não consegui comer quase nada, apenas observava os presentes à mesa conversarem normalmente. A sobremesa foi servida, uma massa folheada com um creme delicioso de mirtilos.
A reunião terminou, meu pai se despediu de todos e voltamos para casa. Antes de entrarmos nos grandes portões trançados de ferro, papai pediu para o motorista parar o carro e sair.
— Emma, — ele olhou em meus olhos — não conte para sua mãe o que aconteceu, tudo bem? Se ela perguntar, diga apenas que o vovô decidiu que você será criada diferente.
— Diferente como papai? — funguei, olhando em seus olhos levemente vermelhos.
— Ela vai entender, mas só diga se ela perguntar algo a você. Pode fazer isso pelo papai?
Balancei a cabeça confirmando, desse modo ele mandou o motorista entrar e seguimos para dentro de casa.
Minha mãe fez mais questão de saber por qual razão eu havia trocado de roupa e soltado o cabelo do que aconteceu no jantar. Após alguns minutos, ela me pediu para tomar banho e vestir meu pijama. Terminando o banho com o meu pijama favorito da Cinderela fui até o quarto deles desejar boa noite, a porta encontrava-se entreaberta.
Parada de cabeça baixa, ouvi os dois terem uma conversa mais acalorada.
— Me conta a verdade, eu não vou me chatear! — Papai apertava os braços da mamãe.
— Sebastian, eu juro a você, não sei de nada, depois de dez anos você ainda desconfia de mim? — Conseguia ver minha mãe chorar.
— Não é questão de confiar, Helena, mas me diga, ele fez alguma coisa com você?
A voz do meu pai era uma fusão de medo e raiva.
— Já disse que não! —Ela o empurrou.
— Não faça isso, não vê que esconder de mim só vai piorar a situação?!
Papai a seguiu e a segurou contra a parede, não me contive mais e abri a porta com rapidez.
— Pai? — Minha voz tremulava.
Ele virou-se em minha direção e forçou um sorriso.
— Oi, Bananinha — se aproximou — está tudo bem!
Ele ficou na minha frente, mesmo assim conseguia ver minha mãe enxugando as lágrimas.
— Vou colocar ela para dormir, — mamãe segurou na minha mão — diga boa noite ao seu pai.
Com os olhos perdidos, vi a fúria do meu pai dissipar-se aos poucos.
— Boa noite, papai.
— Boa noite, bonequinha, vejo você amanhã! — Ele beijou o topo da minha cabeça e se virou em direção ao closet.
Caminhando para o meu quarto, remoía o que estava realmente acontecendo, nunca vi meu pai falar alto com a minha mãe, quanto mais brigar, aquela era a primeira vez que presenciava algo daquele tipo.
Enquanto minha mãe me aninhava sob as cobertas, enrolava os dedos entre seus cachos.
— Mamãe? Você e o papai vão se separar? — olhava para os meus pés balançando sob as cobertas.
— De onde tirou isso, meu amor? — Ela alisava os lençóis.
— Vocês estavam brigando...
— É assim mesmo, minha vida, não se preocupe, amo você, e eu e seu pai nunca vamos nos deixar!
Mamãe me deu um beijo de boa noite e desligou as luzes. Mesmo depois dela ter tentado me confortar, eles não pararam de brigar. Meu quarto não era tão distante do deles e dava para ouvir meu pai gritando com ela.
Fiquei com um extremo medo, pois lembrei da arma do tio Elliot, e se meu pai tivesse uma também? Com os nervos exaltados, peguei a caderneta de anotações ao lado da mesinha de cabeceira, procurei o número de Benjamim e liguei no mesmo instante.
— Alô? — Sua voz era serena e grave, parecia que estava sussurrando.
— Ben? — cochichei.
— Bananinha, o que aconteceu? Está tarde, seus pais estão bem?
Ele ficou mais apreensivo.
— Eles não param de brigar...
— Quem? — Sua respiração ficou audível.
— Meus pais...
— Chego em cinco minutos, vai para fora da casa e me espera no jardim, você entendeu?
Murmurei um sim baixo e desliguei o telefone, olhando para o relógio ao lado do aparelho, contei os números até conseguir decifrar que eram 2h da madrugada e eles seguiam discutindo.
Nas pontas dos pés, deixei o quarto e corri para fora da casa. Quando um dos seguranças me viu, foi em minha direção.
— Senhorita, está frio, por qual motivo veio para fora uma hora dessas?
— Estou esperando o Ben! — disse, com os lábios tremendo.
— Fique do lado de dentro quando o segundo pilar chegar, eu lhe aviso.
— Quem? — espremi os olhos e curvei a cabeça.
— Quando o senhor Benjamim chegar, você vai saber! Entre.
Ele abriu a porta e inclinou a cabeça, fazendo um sinal para que eu entrasse.
Apesar de conhecer meus pais, fui criado em um internato pouco convencional até completar nove anos. Minha primeira lembrança da infância é ser retirado dos braços da mulher que dizia ser minha mãe, mas nunca me deu um pingo de afeto. Meu tio mais velho por parte de pai me levou para a Nova Zelândia.
É difícil descrever aquele lugar maldito e imundo, um enorme castelo no interior cercado por vastos campos verdes, onde vivíamos entre paredes cinzas e frias.
Enquanto a maioria dos internos levava uma vida convencional, cerca de dez de nós éramos completamente isolados do mundo. Vivíamos em uma área separada do internato e tínhamos obrigações completamente diferentes das outras crianças.
Enquanto elas estudavam matemática básica e línguas estrangeiras, nós, os excluídos da sociedade, éramos obrigados a aprender matemática avançada e estratégias militares, além do ensino básico como qualquer outra instituição.
Nossa rotina incluía quase cinco horas diárias de treinamento militar, resistência física e psicológica. Para mim, havia um treinamento especial em que passava dias, às vezes até semanas, sem ver absolutamente ninguém. De acordo com eles, isso me manteria mais forte e perspicaz.
Desde cedo, aprendi que todos poderiam ser potenciais inimigos, e os únicos dignos de confiança eram minha família. Minha lembrança mais antiga daquele lugar é o som constante de água pingando numa pia, meu peito ardendo, a respiração sendo esmagada pela dor latente.
Um exercício para manter a mente sempre alerta, eu era afogado várias e várias vezes. O método conhecido como afogamento simulado era simples: eles me amarravam em uma cadeira, colocavam um pano sobre o meu rosto e jogavam água sobre ele. Isso tudo enquanto faziam perguntas de matemática avançada e cálculos que até Einstein teria dificuldade para responder, sob tanta pressão.
Sou Benjamin Collins, destinado a ser o futuro pilar do Império Vermelho. Meu avô foi conhecido por jamais deixar um único inimigo vivo, a menos que precisasse dele para formar uma aliança através do sagrado matrimônio. Isso nos leva a uma pequena particularidade sobre minha família.
Meu tio mais velho nunca foi obrigado a casar, o que resultou em ele não ter filhos, e embora nunca tenha questionado o motivo pelo qual ele não teve, mesmo não sendo casado, compreendo. Também não traria para esse mundo de merda que vivemos.
Dessa forma, quando nasceu o primeiro neto homem, meu avô decretou que esse seria o sucessor do seu filho mais velho. Minha vida foi ditada desde o primeiro suspiro que dei. Assim tem sido para todos os "privilegiados" que nascem dentro da minha família. Antes de narrar o que de fato aconteceu em minha vida, é importante entender como funciona a singularidade do meu mundo.
Meu amado avô teve seis filhos, cinco homens e uma mulher. Sua esposa faleceu quando o filho mais velho tinha quinze anos. Foi ele, e somente ele, quem fundou o império no qual vivo, à custa de assassinatos dentro de sua própria família. Quando meu avô tomou consciência dos erros cometidos pela sua linhagem, não pôde mais aceitar tal conduta. Sem muito esforço, eliminou toda a alta escala hierárquica da época, composta por mais de quatro famílias.
Das quatro, apenas os russos escaparam, pois descobriram antecipadamente o massacre e fugiram para sua cidade natal.
Meu avô ensinou a todos os filhos o ofício que desempenhariam pelo resto de suas vidas, e estes transmitiram seus ensinamentos para as gerações seguintes. O maior de nossos mandamentos era a lealdade à família acima de tudo. Vovô se arrependeu amargamente de ter que matar seus próprios tios e seu único irmão para forjar seu império. Por conta disso, fomos criados para dar a vida um pelo outro.
Começo aqui a contar como o nascimento de uma garotinha mudou completamente minha vida. Apesar de amá-la mais do que minha própria existência, sei que nunca a terei só para mim. Amar Emma Collins foi meu pior castigo, minha fraqueza e, ao mesmo tempo, minha maior alegria. Desde o dia em que ela nasceu, Emma roubou todo o meu coração e arrebatou minha alma.
A primeira vez que a vi, ela tinha quase um ano de idade, e naquele momento fui envolvido pelo amor que brotou em meu coração. Acabara de retornar do internato, após completar o treinamento, e estava prestes a iniciar outro estágio para aprimorar minhas habilidades diversas. Antes disso, meu avô permitiu que eu tivesse alguns meses de folga para conhecer meus primos e compreender quem teria que proteger. Retornei para casa no ano de 1995.
Em menos de duas semanas em casa, já tinha conhecido todos os meus primos, faltava apenas Emma. Lembro-me claramente do dia em questão; fiz minha mãe comprar um urso de pelúcia para ela, já que era a única bebê entre meus primos. Chegamos à casa do tio Sebastian por volta das 16h. Minha mãe ficou conversando com a esposa do meu tio na sala principal, enquanto fui levado até minha prima. A mesma brincava com a babá do lado de fora da casa sobre um pano macio que cobria parte da grama.
Lembro-me vividamente daqueles olhos, do sorriso sem dentes e das mãos, as quais mais pareciam dois marshmallows. Uma sensação de extrema proteção irradiou em meu coração. Sentia que precisava protegê-la a todo custo. Passei boa parte do tempo sentado ao lado dela, apenas observando-a brincar. Quando minha mãe veio até nós, lembro-me de dizer algo que nunca esqueci.
— Mãe? — olhei para ela com toda a confiança do mundo. — Quando eu crescer, posso casar com a Emma?
Ela sorriu juntamente com minha tia.
— Ben! Querido, por que está me fazendo essa pergunta
— Porque ela é linda, e meu coração me diz para protegê-la para sempre!
Elas sorriram novamente.
— Filho?! Ela é apenas um bebê. Por que não espera até que ela cresça? Quando você crescer, talvez mude de ideia!
Queria que aquilo tivesse acontecido, e eu tivesse parado de amar Emma. No entanto, a cada ano, o sentimento que tinha por ela se tornava cada vez mais forte, mais complexo e muito mais perigoso.
E por esse motivo estou saindo às pressas no meio da noite para garantir sua segurança, mesmo tendo a total certeza de que ela estaria segura e seus pais não a fariam mal algum, no entanto, Emma sempre vai ser minha prioridade.
Corri para o banheiro, lavei o rosto e escovei os dentes rapidamente. Troquei de roupa correndo, saí do quarto sem dizer para qualquer pessoa onde iria, apenas chamei dois seguranças e o motorista para irmos até a casa do tio Sebastian.
As ruas estavam vazias e a neve a cobria de maneira parcial. Mesmo derrapando algumas vezes pelas ruas, fiz o motorista chegar à residência deles em menos de trinta minutos. Sabia a senha do portão, digitei, as travas foram desligadas e a passagem ficou livre. Subindo a pequena inclinação, mandei os seguranças descerem junto comigo.
Os guardas da casa se olharam e balbuciaram um "boa noite", apenas ignorei. Abri aquela porcaria de porta igual a um touro enfurecido, encontrando Emma sentada em um tipo de recamier, balançando o corpo para frente e para trás. Ao me ver, ela se jogou em meus braços, chorando.
A apertei com toda força e conseguia sentir seu coração pulsar de maneira frenética.
— Minha princesinha, apenas respire — ouvia seu pai gritar como um lunático — vai ficar tudo bem.
Levantando, vi uma das empregadas parada no corredor com a cabeça baixa.
— Você! — A olhei com a cabeça levemente inclinada. — Faça algo quente para ela tomar e fique na cozinha junto dela!
Me agachei de novo em frente a ela.
— Bananinha, vá tomar alguma coisa, está muito frio... — afagava seus cachos macios e perfeitos.
Emma desceu da espécie de banco e correu em direção à empregada, segurou sua mão e seguiram para a cozinha. Não sabia o que estava acontecendo, mas Sebastian não tinha autorização para fazer mal nenhum à sua mulher, exigência do meu avô, a qual não entrarei em detalhes.
Subi a escada dupla em direção ao quarto do casal, os meus seguranças haviam ficado do lado de fora. Praticamente corria sobre o carpete aveludado por todo o corredor, chegando diante da porta, ouvia choros e o tio falando coisas que, para mim, até aquele momento, não faziam sentido.
Se eu batesse na porta, ele não abriria, sendo assim, retirei o revólver enfiado na calça perto do quadril, destravei a arma, com ela em punho, chutei a porta, revelou-se um cômodo escuro, a luz do abajur jogado ao chão ainda balançava de um lado para o outro, alguns cacos de vidro, peças de roupas espalhadas.
Entrei, Sebastian olhou no fundo dos meus olhos e recuou, sentou-se na beirada da cama, jogou o copo em sua mão na parede, levando vários fragmentos de vidro a se espalharem ainda mais e deixando a parede molhada com o que tinha dentro. Olhei por todo o quarto e não encontrei Helena.
— Quem te chamou aqui, segundo pilar? — Ele falava de forma pausada.
— Emma me ligou, disse que vocês estavam brigando — olhei outra vez pelo ambiente — onde está sua esposa?
— Não sei, ela saiu depois que me descontrolei. — Sebastian bufou e pegou a garrafa de licor que estava sobre o piso. — Vai embora, Ben, prefiro ficar sozinho...
— Por mim, você poderia se matar que não faria diferença nenhuma, mas Emma está assustada, estou pouco me importando com o seu bem estar, mas espero que saia da droga desse quarto e vá até sua filha e diga que está tudo bem.
— Não quer saber? Benzinho, o que o meu amado pai fez? — Ele levantou, cambaleando em minha direção.
— Quero que a Emma fique bem, não me interessa o que o pilar principal fez...
Sebastian segurou meus dois ombros e colou sua boca no meu ouvido, e disse a pior merda que poderia, não queria saber aquilo, ele poderia ter guardado aquela informação apenas para si.
— É mentira! — Afastei-o, segurando seu rosto. — Não pode ser!
— Não era pra ser! Mas esse filho de uma prostituta o fez, e me deixou as cegas todos esses anos, como vou olhar pra ela agora? — segurou firme nos meus ombros e os balançou.
— Deve ser um engano, tem ideia da merda que isso vai gerar pra toda a família?
Meus anseios não cabiam em mim, tudo ruía igual a um castelo de areia.
— Tenho, é por esse motivo que preciso da sua ajuda. Eu preciso de você para que isso dê certo, entendeu, Ben?
— Não vou concordar! — Afastei-me, coçando a cabeça.
— Vai sim, por Emma você vai fazer, mas prometa-me que vai tocar nela apenas quando ela for mais velha!
Aquelas palavras transbordaram todo o ódio que senti por aquela merda de situação. Sem pensar ou medir forças, parti para cima dele e o soquei, mais vezes do que consegui contar, o soltei apenas quando ouvi um grito distante, forçando-me a retornar para aquela realidade insana.
— Que merda de pessoa você acha que sou? Seu bastardo imundo, acha que gosto dela desse jeito, ela é uma CRIANÇA! — cuspi em seu rosto — Não vou dar ouvidos a você!
Ele agarrou a manga da minha blusa.
— Me ouça! — cuspindo sangue no chão e limpava a boca com dificuldades — senão se unir a mim, todos vamos perecer quando essa merda explodir, entendeu, seu burro?
Tio Sebastian sempre foi meu tio preferido, não apenas pelo fato de ele ser pai da Emma, mas porque ele nunca mentiu para mim.
— Tio! — Ajoelhei-me na sua frente de cabeça baixa, com as mãos apoiadas sobre as pernas e continuei — Amo o senhor; mas isso vai destruir a família — Elevei o olhar até os seus — Não importa o que aconteça ou como aconteça e nem quanto tempo leve — seus olhos estavam quase cobertos pelo inchaço ao redor — Mas vamos contornar isso sem perdas...
Levantei, segurando a respiração, o observava deitar no chão de barriga para cima, puxando o ar com dificuldades. Segui para fora do quarto, reprimindo cada passo, passando ao lado de Helena, que se encontrava agora acuada perto do batente da porta, com a mão na boca, suprimindo sua respiração.
— Isso é verdade? — Com os olhos arregalados, seu olhar era fixo no marido. — Helena, está me ouvindo?
Ela olhou para mim por míseros segundos. Com as mãos ainda na boca, apenas sacudiu a cabeça.
— Vejo vocês outro dia, vou levar Emma para a casa da tia Sophia.
Saindo do cômodo com as mãos sujas de sangue, olhei por alguns segundos para minhas mãos trêmulas, Emma não precisava me ver daquele jeito. Atordoado por cogitar no que ela pensaria sobre aquilo, corri para o banheiro mais próximo. Segurando a maçaneta fria, girei o trinco, que fez um pequeno clique. Entrei no banheiro, a luz acendeu automaticamente, logo minhas mãos deslizavam uma sobre a outra, livrando-se de cada vestígio de sangue.
Ao mesmo tempo que a água quente fluía entre meus dedos, olhava para os meus olhos que, mesmo azuis, refletiam apenas a escuridão, o reflexo da minha alma podre e vazia. Destinado a viver um fardo que nunca quis, meu olhar correu pelos quatro cantos do espelho, quando vi no canto inferior um rosto com os olhos arregalados, se apoiando no umbral, deixando parecer apenas metade do seu corpo.
— Eles pararam de brigar? — Mexia seus pezinhos de maneira contínua, olhando-me através do espelho.
— Sim, pequena, eles foram dormir... — sacudi as mãos, retirando o excesso de água. — Não precisa mais se preocupar — falava enquanto enxugava os antebraços.
— Você vai embora? — Emma deu dois passos para frente, colocando as mãos para trás.
— Sim, mas você vai comigo...
— Posso mesmo! — Ela se balançava de forma agitada, então olhou para minhas mãos, mordendo quase todo o lábio inferior, e se afastou um pouco. — Como machucou a mão?
Pequenas fissuras sobre a pele apareceram no torso da mão próximo aos dedos. Olhei em seu rosto triste.
— Não se preocupe, vou ficar bem, vamos para a casa da tia Sophia...
Ela fechou a cara e ficou com um bico enorme em seu rosto.
— O que aconteceu? Não gosta da tia Sophia? — Me aproximei dela e curvei-me até à sua altura.
— Gosto, mas o Axl é muito calado, ele parece mudo.
Sorri ao mesmo tempo que colocava seus cabelos atrás das orelhas.
— Ele está viajando, não vai incomodar você. Podemos ir?
— O papai e a mamãe não vão?
— Não, Bananinha, eles vão fazer uma pequena viagem amanhã.
— Mas eles não iam!
— Eu sei, mas o vovô pediu de última hora — esfregando de forma suave seus braços, buscava uma forma de acalmá-la — esqueça isso, vá pegar suas coisas.
Ela segurou minhas mãos e deu um pequeno beijo em cada uma.
— Elas vão ficar boas logo, a mamãe sempre faz isso quando eu me machuco.
Um sorriso fino apareceu em seus lábios. Nesse momento, a babá apareceu, respirando fundo, segurando o abdômen.
— Senhorita estava lhe procurando! — falou de maneira exaltada.
— Arrume a mala dela para duas semanas. — Ordenei, fixando o olhar na babá.
— Sim, senhor.
A moça, cujo nome não fazia ideia de qual seria, cuidava de Emma desde os seis meses. Sem hesitar por um único momento, ela se retirou da minha presença. Levantei, segurei a mão da Bananinha e a levei para o hall de entrada, onde logo a babá retornou com uma mala e um casaco para Emma. A empregada envolveu minha garotinha, colocou um gorro e luvas nela, ficou toda empacotada.
Nossa tia estava nos esperando, havia avisado antes de sair da casa do tio Sebastian. Logo que Emma viu nossa tia, ela correu e abraçou sorrindo, apenas acenei e virei para retornar ao carro. Estava entrando no veículo quando senti algo puxar o meu casaco. Olhando, vi Emma agarrada com todas as forças a uma parte da roupa.
— Promete uma coisa para mim! — De cabeça baixa, ela cochichava.
— O que, pequena?
— Prometa que quando casarmos nunca vamos brigar! — Emma soltou o meu casaco e se afastou.
Respirei fundo, segurando o riso, apoiei dois dedos em seu queixo e ergui seu belo rosto até conseguir ver aqueles olhos gentis.
— Escuta, Bananinha, não pense nessas coisas, mas prometo a você que nunca iremos brigar, tudo bem? Agora está frio, é melhor entrar.
Beijei em sua testa e ela saiu correndo para dentro da casa. Todos os dias, antes de dormir, penso nela e em tudo que precisei passar para mantê-la segura, não apenas ela, como todos os outros.
De volta ao meu quarto, tentava pegar no sono mais uma vez, mesmo sabendo que levantaria daqui a algumas horas. Virei de lado, olhando as sombras nas paredes, recordava o período que passei na Itália, levando-me a pensar na primeira vez que Ivan Rurik cruzou o meu caminho.
Tudo que aguentei foi apenas pensando que estava aprendendo o necessário para proteger a minha família e principalmente a ela.
Por dois anos, fui torturado e humilhado. Era considerado o "cumpridor de profecias". Matei mais pessoas do que conseguia contar; depois da décima vítima, você para de querer saber o porquê vai fazer isso. O sangue se torna apenas mais uma cor em suas roupas, e os órgãos espalhados, apenas um aperitivo para os cães.
Em meio a todo o meu sofrimento, a única coisa que me mantinha sã naquela época era o conforto de saber que, quando retornasse para casa, veria Emma novamente. Durante o meio tempo entre os italianos, não fiz amigos nem conheci gente nova. Eu só queria que o tempo passasse logo para poder voltar para casa.
Quando estava com quatorze anos, tinha um último serviço a executar antes de retornar para meu país. Em uma noite chuvosa e fria, estávamos aguardando um carregamento no porto. Fui ordenado a ficar na praça central, próximo à igreja matriz. Naquele dia, estava exausto, não dormia há quase seis dias. Meu trabalho era simples: não deixar ninguém passar pela praça até que o carregamento fosse colocado nos caminhões. Pensei que cochilar não causaria problemas, já que era muito tarde e ninguém passaria por ali àquela hora. Meus olhos pesados piscavam a cada fração de segundo.
Em meio a esses pequenos cochilos, avistei um menino distante, perto da fonte do outro lado da praça. Ele estava sozinho, não carregava nada aparente e se aproximava lentamente com as mãos nos bolsos. Outro cochilo, então senti um ardor no meu pescoço e um líquido quente percorrer meu corpo.
Com os olhos fatigados, tentava mantê-los abertos. O menino, de cabelos e olhos negros, olhava para mim fixamente. Parecíamos ter a mesma idade. Olhei ao redor e vi uma enorme poça de sangue em volta do meu corpo. Aos poucos, tudo à minha volta começou a se transformar em um grande borrão. Tentei segurar o braço dele, mas a força havia sumido das minhas mãos.
Aos poucos, ele se afastou, o som de um carro freando bruscamente soou no silêncio da madrugada, o garoto sorriu dando tchau e entrou no veículo.
Acordei seis dias depois, deitado na cama de um hospital. Acordei assustado, olhando por todo o ambiente, vi tio Elliot sentado numa poltrona perto da porta. Ele se levantou e caminhou até mim de maneira sutil. Ao se aproximar, estalou os dedos duas vezes e me deu um tapa, fazendo meu pescoço sangrar novamente.
— Moleque burro, como pôde quase morrer para aquele garoto que não tem metade do seu treinamento? Como deixou isso acontecer? — Meu tio estava vermelho de raiva.
Não disse nada. O corte havia sido profundo o suficiente para me deixar sem falar por quase seis meses. Durante todo aquele período, só pensava no rosto daquele desgraçado. Iria caçá-lo até o fim do mundo e matá-lo com minhas próprias mãos.
Retornei para casa antes de me recuperar por completo. Meu avô só permitiu, pois disse que eu havia aprendido tudo o que podia e que agora era hora de colocar em prática.
Quando me recuperei totalmente, ele fez uma cerimônia e me nomeou o Pilar Secundário, sucessor de todo o império de ferro. Foi naquele dia que revi Emma depois de dois anos. Ela usava um vestido branco rodado, com várias rosas bordadas, e seus lindos cachos castanho-claros emolduravam seu rosto. Ela tinha seis anos no período vigente.
Quando a cerimônia terminou, pude ir até ela e entregar todos os ursos que havia comprado durante minhas viagens. Aqueles olhos gentis, cheios de bondade e amor, quebravam todas as barreiras do meu coração. Observava-a enquanto dava nome a cada um dos ursos. Ao terminar, aproximou-se de mim e tocou na cicatriz que aquele desgraçado havia deixado.
— Nas fotos, você não tinha esse dodói! — Seu olhar gentil percorria todo o meu pescoço.
— Acabei me machucando na última viagem que fiz, mas não se preocupe, não dói mais!
— E esse aqui? — Ela apontou para uma marca específica na minha mão, resultado de um tiro que levei por errar uma única questão.
— Essa foi uma formiga que fez. Acredite! Nunca brinque com formigas, Bananinha — forcei um sorriso.
— Você é muito desastrado, Ben — ela deu um sorriso tão grande que suas janelinhas apareceram.
Foi naquele dia que cobri a cicatriz no pescoço com uma tatuagem de coruja, para lembrar de nunca mais dormir sem necessidade. Nos dois anos seguintes, fiz mais de quinze tatuagens, todas cobrindo cicatrizes antigas e novas. Não queria mais mentir para ela.
Depois de anos longe de casa, era praticamente um estranho para quase toda a família. Nessa mesma época, minha irmã já não morava mais conosco; ela tinha ido para um lar na Suíça e ficou lá até casar com Vittorio, o sucessor da família Caccini.
Enquanto isso, minha vida seguia o mesmo padrão de sempre: morte, sangue, lágrimas, e a necessidade de ser forte e inabalável, como era esperado de um herdeiro.
Ainda me revirava por toda a cama, agitando os lençóis e meus pensamentos, o dia ameaçava invadir meu quarto pela pequena abertura da cortina. Olhando para o teto, ainda predominava a sensação de não ter matado Ivan.
O que também me fez lembrar que não falava com minha irmã há mais de um mês. A última vez que tive notícias dela, Charlotte havia dado um herdeiro aos italianos. Odiava o fato de ela ser praticamente uma prisioneira, uma fábrica de bebê para manter o contrato em nossas famílias por uma linhagem.
A mente fervilhava quando o celular começou a vibrar, peguei o aparelho e, observando a tela, vi o nome do tio Elliot. Era isso, remoer o passado só me fazia sentir um merda, precisava resolver essa ponta solta para poder seguir adiante com a escuridão que chamava de vida.
Levantei rapidamente, troquei de roupa, alinhei o cabelo, acendi um cigarro, hora de trabalhar, tem outros porcos mais prioritários que Ivan Rurik.
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