Enzo está sentado no sofá fingindo folhear um jornal somente para me evitar. Ainda não entendo o fato dele me evitar depois de cinco anos casados morando na mesma mansão.
— Por que está com esse jornal nas mãos sendo que tudo o que precisa está no seu celular? Ninguém mais lê jornal impresso, Enzo.
Ele cruza as pernas e passa para outra página, me ignorar é seu passatempo preferido.
— Eu por um acaso pedi sua opinião, Irina?
Sua voz consegue mexer com a minha imaginação, lembro vagamente de como tudo aconteceu entre nós no hotel onde eu trabalhava. Lembro o suficiente para me fazer desejá-lo apenas mais uma vez.
— Já pedi para não falar assim comigo na frente dos funcionários da casa, Enzo. — observo os funcionários nos deixarem a sós.
Ele calmamente dobra o jornal e olha para os filhos que estão brincando no chão, nossos gêmeos, Alec e Axel.
— Só estou aqui suportando essa convivência por eles, faça um favor para nós dois e não fale comigo... Odeio o som da sua voz. — Enzo se levanta e beija a testa de cada um dos gêmeos.
Tudo o que eu queria agora era a merda do divórcio, mas infelizmente estamos amarrados um no outro até nosso último suspiro.
Há cinco anos atrás eu saí de casa com minha gêmea idêntica e melhor amiga, Ellie, para trabalhar no famoso hotel StarRed. Nós já estávamos trabalhando lá iria completar dois anos.
Eu era camareira, minha irmã trabalhava no bar do hotel. Justo naquele dia tive que cobrir uma camareira que não pode ir trabalhar, entrei no quarto do Enzo apenas para trocar a roupa de cama e toalhas.
Pelas ordens que recebi ele não estaria no quarto, eu entraria faria meu trabalho e iria embora. Mas algo naquele quarto tinha um cheiro muito forte acabou me fazendo apagar e quando acordei estava seminua e ele me olhava com desejo.
Eu me levantei, porém meu corpo pegava fogo e ao mesmo tempo ansiava pelo toque do homem à minha frente. Ao tentar passar por ele senti sua mão segurar meu pulso, aquele simples toque foi a minha perdição.
Perdi minha virgindade e minha dignidade, ao despertar e me olhar brevemente no espelho do banheiro vi meu corpo marcado pelas mãos e lábios daquele homem.
Peguei minhas roupas que estavam jogadas pelo chão, me vesti e sai correndo. Dois meses depois estava com o teste de gravidez nas minhas mãos com o positivo.
Eu não procurei saber quem era o homem com quem passei a noite, apenas queria seguir minha vida e assumir as consequências da noite que eu não planejei.
Mas, quando completei seis meses no meio do exame de ultrassonografia minha vida virou um caos. Descobri que esperava dois meninos enquanto homens com ternos pretos e óculos escuros entravam na sala sem pedir licença.
— O que está acontecendo aqui? — perguntei — Quem são vocês?
Foi nesse momento que um casal de senhores entraram na sala e atrás deles estava Enzo. A médica que estava realizando o exame foi obrigada a falar para o casal elegante tudo sobre meus bebês enquanto Enzo me olhava com ódio.
— Se o exame já terminou, peço que se retire. — a senhora elegante de voz suave ordena e a médica sai.
Foi quando eles se apresentaram, Magnólia e Felipe StarRed. Apresentaram o filho que não abriu a boca, apenas me olhava, Enzo StarRed.
Não acreditei que eles eram os donos do hotel em que eu trabalhava. Não me deixaram voltar para casa e quando os gêmeos nasceram fizeram o casamento no religioso já que o casamento no civil tinha sido feito na mesma semana que me encontraram.
Mas desde que me deixaram sozinha com o Enzo, o mesmo fez questão de falar como se sentia com aquilo tudo. Só fui descobrir que eles eram uma família perigosa depois do casamento religioso.
Felipe e Magnólia são como os pais que toda menina sonha em ter. São gentis comigo e amam os netos incondicionalmente. Se não fosse pela máfia eu já teria pedido o divórcio, mas não posso e agora vivo no inferno.
— Irina? Está chorando? — Magnólia entra na sala e me pega em mais uma situação deplorável.
— Mag, tem certeza que eu não posso morar em outro lugar com os gêmeos? Pode ser em um simples apartamento no centro da cidade.
— O que aquele meu filho idiota fez com você mais uma vez? — ela olha para os lados procurando um sinal do filho estúpido.
— Ele não está aqui.
Conto para ela o que aconteceu na ausência dela e do meu sogro. Nosso relacionamento morreu antes mesmo de começar, queria não ter entrado naquele quarto a quase seis anos atrás.
— Acho que vocês precisam passar mais tempo juntos, Irina.
— Para isso acontecer deveríamos dormir no mesmo quarto. Só tenho um marido pelo sobrenome, Mag. Sou solitária, se não fosse minha irmã e meus filhos pode ter certeza que eu já teria virado saudade.
— Não fale assim, sua vida é preciosa. Onde está sua irmã?
— Foi encontrar uma amiga que está fazendo aniversário hoje. Tive que insistir muito que ela fosse, não queria me deixar sozinha com o Enzo depois que... — me calo por um instante — Mag, esse casamento vai acabar nos destruindo, literalmente.
— Eu soube do incidente com o copo de whisky e vim aqui para dar uma lição nele. Mas o meu voo atrasou e aquele filho da puta não está aqui.
— Não se ofenda dessa maneira, você não tem culpa da personalidade do seu filho.
Conversamos mais um pouco, depois Mag pega os gêmeos e leva para a mansão dela. Sempre que meus sogros são obrigados a viajar e ficar longe dos gêmeos por tanto tempo eles vêm até aqui pegar os dois para passar um tempo com eles. Às vezes leva um mês inteiro para que ela os traga de volta.
Droga... Minha irmã só vai voltar amanhã. Estou sozinha nessa enorme mansão e mais tarde estarei sozinha com o homem que deveria me amar.
Irina
Enzo
Estou na centésima taça de vinho, eu acho, não comi nada o dia todo e estou aqui pensando nos meus filhos. Enzo não está em casa, deve estar transando com alguma prostituta já que não toca em mim para nada.
Estou usando a minha camisola favorita, sou obrigada a sair do meu quarto para pegar mais uma garrafa de vinho. As que eu tinha estão vazias, não tem ninguém andando pela mansão além de mim.
Todos os funcionários já foram embora, tem apenas os seguranças lá fora que não pisam aqui dentro a menos que sejam convidados. Estou sozinha.
Entrei na adega e peguei mais seis garrafas de vinho sem me importar com a safra ou qualidade do vinho, só quero beber e me afogar em álcool. Antes que eu pudesse sair da adega escuto o som da voz dele chamar meu nome.
— Irina, vai acabar com o estoque de vinho essa noite?
— Não é da sua conta! — falo dando passos na direção da porta — Vá transar com as suas vagabundas e faça o que você faz de melhor, me ignore.
Ele segura meu pulso com força e me puxa para ele me fazendo largar as garrafas de vinho, elas quebram quando tocam o chão e isso me deixa irritada.
— Olha o que você fez, seu babaca. Agora terei que pegar mais.
— Não vire as costas para mim quando eu estiver falando com você.
— Por que? — o encaro — Vai fazer o que comigo, Enzo? Acho que sei o motivo para não transar comigo, você deve ser brocha ou tem o pau pequeno... Não me lembro daquela noite, você não é homem suficiente para mim.
— Sua desgraçada.
Ele me segura pelo pescoço e suspende. Em seguida me jogou em cima da mesa com força e abriu minhas pernas se posicionando ali. Sua mão aperta meu pescoço e eu começo a revirar os olhos, mas a sensação é boa, me excita.
— Quer mesmo saber o quão homem sou? Quer sentir minha virilidade? Você não é digna de mim, Irina.
— Não sou? Então por que está tão excitado? Acho que seu pau não concorda com você. — falo com dificuldade.
Ele me solta e se afasta, eu começo a tossir e puxo o ar para mim enquanto minha garganta queima. Olho para ele que apenas me observa.
— Sou homem, seu corpo feminino despertou um interesse momentâneo em mim... Deve ser porque gosto de prostitutas.
— Seu desgraçado. — me levanto e vou até ele, dou-lhe uma bofetada e ele segura minha mão.
— Por que você escolheu a mim para infernizar? Tendo outros bilionários na cidade, por que logo eu?
— Porque você era o único disponível naquela noite!
Falei isso olhando nos olhos dele e depois deixei a adega sem olhar para trás. Não vou deixar ele me humilhar, de agora em diante vai ser deu, levou.
Entro no meu quarto e bato a porta atrás de mim, escorrego encostada na porta até sentar no chão. Choro feito uma criança, mas não irei chorar na presença dele.
Sinto falta de quando meu único problema era pagar o aluguel e ver se iria sobrar dinheiro para fazer compras. Sinto falta de quando ia trabalhar de ônibus e quando perdia o horário tinha que correr atrás de um jeito de chegar na hora no trabalho.
Rasgo a minha cara e fina camisola e vou para o banheiro, ele me tocou, preciso lavar seu toque do meu corpo... Eu o desejei, por que o desejei?
Me lavo como se estivesse muito suja e acabo esfolando minha pele. Quando saio do banheiro me jogo na cama e me cubro com o edredom. Adormeço exausta, tenho outro de meus pesadelos recorrentes e desperto passando das nove da manhã.
Minha cabeça dói, peguei um comprimido na gaveta e fui para o banheiro. Jogo ele na minha boca e bebo água da torneira para engolir o comprimido. Se o vinho não me matou, não é essa água que vai.
Depois de um banho, me visto e desço para o café. Ele está à minha espera, o sarcasmo vem carregado no meu tom de voz.
— Creio que irei fazê-lo ter uma indigestão com a minha presença, espero que já tenha terminado sua refeição. — sem olhar para mim ele responde:
— Temos um encontro marcado em um dos hotéis, iremos receber uma poderosa equipe política e minha mãe acha que devemos representá-los. Você tem cinco minutos.
Ele se levanta e vai para a sala. Não estou com cabeça para trabalhar hoje, odeio ser a modelo ideal para a imagem do hotel. Quando chegamos no hotel somos obrigados a atuar.
— Olá, senhor e senhora StarRed. Já preparamos tudo para receber o governador e sua equipe. O almoço também será servido a vocês na área vip.
— Certifiquem-se que não terá nenhum paparazzi no hotel, aumentem a segurança para que o governador tenha a privacidade que precisa.
Enzo ordena enquanto segura minha mão, ele já apertou tanto que meus dedos doem. Quando o funcionário nos deixa sozinhos eu a puxo para mim e o empurro para longe.
— Qual é o seu problema, Irina?
— Quer quebrar meus dedos?
— Não me tente!
— Não quero que me toque se for para me machucar, seu idiota ingrato.
— Tinha que usar esse vestido? Tinha que chamar tanto a atenção para você?
— Isso é sério? — pergunto indignada — Então dá próxima vez escolha você uma roupa para mim.
Caminho na direção da porta e ele segura meu pulso me obrigando a olhar para ele.
— Onde pensa que vai? Temos que encontrar o governador em vinte minutos.
— Então, quer dizer que tenho vinte minutos para ficar longe de você.
Puxo minha mão para mim e saio do quarto deixando-o sozinho. Caminhando pelo hotel me lembro do que eu fazia, minha vida era bem mais simples naquela época. Acabo me encontrando com um velho conhecido daquela época.
— Fernando, que bom vê-lo aqui. Como conseguiu vir para o hotel principal?
— Oi, Irina. Estou aqui há três anos, nem acreditei quando fui transferido. — ele se aproxima e sussurra — O que dizem é verdade, aqui os funcionários têm salários mais altos.
Sinto um braço possessivo envolver minha cintura e me puxar com força, meu corpo se choca com o dele e nossos olhos se encontram... Enzo.
Todo mundo tem um melhor amigo nessa vida, o meu era Heitor, meu irmão mais velho. Nossa diferença de idade era de seis anos, mas isso não impediu ele de me amar incondicionalmente e virar meu melhor amigo.
Infelizmente ele foi assassinado há quase oito anos pela mulher que deveria apenas amá-lo de volta. Sua noiva desapareceu depois de conseguir convencê-lo a passar tudo para o nome dela.
Ela vendeu as propriedades dele e desapareceu, apesar da máfia da minha família comandar uma legião de assassinos treinados, aquela mulher veio de uma máfia de ladrões.
A essa hora ela deve ter outro rosto, outro nome e deve estar dando golpes por aí. Para esse tipo de pessoa dinheiro nunca é demais e eles sempre desejam mais.
Em uma noite abafada de verão há quase seis anos atrás eu fui enganado e seduzido por Irina Walker. Ela me seduziu, transou comigo e engravidou... Tudo por ganância e poder.
Infelizmente isso chegou aos ouvidos dos meus pais, eles também descobriram que aquela mulher engravidou naquela noite.
— Por que temos que ir até ela? Por que temos que fazer o que essa aproveitadora tanto quer? — eu perguntei ao descobrir que meus pais iriam me obrigar a casar.
— Você vai aprender com seus erros, Enzo! — meu pai fala friamente.
— Você realmente acredita que vamos dormir em paz sabendo que seu herdeiro está por aí sendo criado sabe-se Deus como? — minha mãe pergunta.
— Ela é uma vadia golpista! Fez tudo calculado para conseguir o que quer.
— Nós também fizemos tudo calculado, Enzo. Você vai se casar e dar todo amor do mundo para o seu filho. — minha mãe ordena.
Foi o pior e o melhor dia da minha vida, o pior porque fui obrigado a dar meu sobrenome para aquela mulher com o rosto de Lúcifer. Foi o melhor porque descobri que a vida me abençoou com dois filhos lindos... Foi aí que começou a maior guerra da minha vida.
Eu amei meus filhos incondicionalmente assim que cortei o cordão umbilical de cada um no dia do parto, mas o ódio pela mãe deles me sufoca todos os dias.
Ela sempre faz aquela cara de inocente como se não tivesse culpa de nada, mas eu sei a verdade e não vou amar uma mulher que usou meios sujos para conseguir meu sobrenome e meu dinheiro.
Eu bebo até tarde todas as noites, e todas as noites me pego no quarto dela, olhando-a... A observando. Ela é linda, sexy, atraente... É meu tipo. Por que tinha que ser uma víbora ambiciosa?
— Você estragou tudo, Irina. — falo enquanto olho para ela que dorme sem saber da minha presença ali.
Estamos em mais um evento importante no hotel principal, minha família é dona de uma rede de hotéis. É apenas para encobrir de onde vem realmente o nosso dinheiro. Mas o governador decidiu fazer uma noite de entrevista aqui no hotel.
Estou aqui para garantir que tudo estará perfeito, mas como de costume Irina e eu brigamos por ela ser insuportável. Aquela vadia me deixou sozinho para andar pelo hotel e já está quase na hora de fazermos nossas obrigações.
— Viu a... — eu iria xingá-la, mas engoli seco — Minha es... — isso é difícil — Viu a Irina por aí?
— Vi sim, senhor StarRed! Ela está no final do corredor. — a funcionária responde e volta para sua função.
Caminho em passos largos e quando chego no final do corredor escuto a voz dela sendo gentil com alguém até que meus olhos vêem a situação que me deixa bem irritado.
Ela está próxima demais do funcionário que sussurra algo para ela e isso me deixa louco. Vou até ela e a puxo pela cintura com força fazendo o funcionário dar dois passos para longe dela.
— Não é apropriado falar com um dos donos tão próximo e com tanta intimidade... — olho para o crachá dele — Fernando.
— Senhor, não foi minha intenção desrespeitar. Ela é uma conhecida do trabalho e... — o faço parar de falar com a minha risada arrogante.
— Conhecida? Olhe bem para ela, acha mesmo que pode chamá-la de conhecida?
— Enzo, já chega! Fernando, pode ir, por favor... E me desculpe por qualquer inconveniente. — ela tenta soltar meu braço, mas eu a aperto cada vez mais.
— O que pensa que está fazendo? Por que mandou ele ir? Por um acaso pensou que eu havia terminado?
— Qual é o seu problema?
— Sua intimidade com estranhos na minha presença! — ela começa a rir enquanto tenta se soltar de mim — Qual é a graça?
— Não tenho um marido para conviver comigo como se deve, mas tenho um para me envergonhar e dizer com quem devo falar... Infeliz e cruel piada. Me solta, Enzo, está me machucando.
— Parece que você só me respeita assim.
— Está fazendo uma cena em um dia importante para o hotel, onde está seu profissionalismo? Quer que todos descubram a verdade por trás do relacionamento perfeito dos rostos do casal mais famoso do hotel? Sendo bem sincera, não ligo.
Acabo soltando ela que me empurra para longe e caminha para a direção do restaurante do hotel onde temos uma refeição com o governador e sua esposa programado para nós. Caminho atrás dela e seu perfume me guia, odeio esse perfume.
Chegamos ao restaurante do hotel e como sempre os funcionários nos deixam impressionados com o trabalho dedicado e excelente. Está tudo realmente perfeito. O gerente executivo do hotel vem até a mim e pergunta:
— Algo mais que possa ser feito para melhorar o ambiente, senhor? Faremos o que ordenar.
— A única coisa que você pode fazer para me deixar feliz é... — olho para Irina que está conversando com a esposa do governador — Demitir um funcionário que se chama Fernando Rivera.
— O quê? Mas, senhor, esse funcionário é excelente. Não merece ser demitido... Ele te ofendeu?
— Que saco. Então não o demita, mande ele para outra filial... Distante daqui. Não o quero neste hotel.
— Tudo bem, vou tirá-lo do hotel agora mesmo para que não o encontre novamente.
— Já pode ir.
O governador aparece e nos sentamos para almoçar, esse almoço vai me fazer vomitar.
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