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Você É A Minha Cura

mudança repetina

Ayla nasceu e cresceu em uma pequena cidade nos arredores de Liánhuā. Desde cedo, enfrentou desafios, e sua primeira grande decepção veio ainda no primário. Pequena demais para compreender as mudanças da vida, ela não entendia por que as pessoas, com o tempo, simplesmente iam embora.

Acumulando desilusões ao longo dos anos, Ayla tomou uma decisão difícil: recomeçar em uma nova cidade. No entanto, apesar da esperança de um novo começo, o medo a acompanhava.

Ayla sabia que precisava partir. Sua reputação na cidade não era das melhores por causa de seu dom, e os homens, em especial, a desprezavam.

Aos 16 anos, teve um encontro que mudaria sua visão sobre si mesma. Uma pessoa, ferida tanto no corpo quanto na alma, cruzou seu caminho. Ayla, guiada por seu instinto, usou seu dom para curá-la. Naquele momento, compreendeu seu propósito. Mas, assim como todos os outros, essa pessoa também se foi, desaparecendo para sempre.

Apesar de seu dom trazer alívio aos outros, Ayla sentia-se cada vez mais sobrecarregada. Ela absorvia as dores alheias, até o ponto de quase não suportar mais. Cansada e sufocada, decidiu que era hora de recomeçar, mesmo carregando o medo do desconhecido.

Ao chegar à nova cidade, tudo parecia diferente, um novo começo cheio de incertezas. Durante uma semana, procurou emprego até finalmente encontrar uma vaga em uma cafeteria bastante conhecida, o Café Rainbow. Sem hesitar, aceitou a oportunidade — precisava de um trabalho o quanto antes.

Por mais que carregasse uma tristeza silenciosa, não deixava transparecer. Seu pensamento era sempre o mesmo: Será que vou conseguir? Vai dar tudo certo?

O grande dia chegou. Era sua primeira manhã no trabalho e o momento de se apresentar aos colegas.

— Olá, eu sou Ayla, tenho 25 anos e vim de uma cidade pequena — disse, sentindo o nervosismo tomar conta.

Os funcionários a receberam com simpatia, dando-lhe boas-vindas. Todos, exceto um homem, que apenas a analisou de cima a baixo antes de ignorá-la completamente.

Ayla abaixou a cabeça e correu para o banheiro, sentindo as lágrimas escorrerem antes mesmo de fechar a porta. Estava exausta, carregando o peso de um dom que só parecia lhe trazer solidão.

Ficou ali por dois minutos, respirando fundo, tentando se recompor. Quando finalmente decidiu sair, deu de cara com o mesmo homem que a havia ignorado mais cedo.

— Ops, desculpa! Eu estava no mundo da lua — disse Ayla, surpresa.

O homem a encarou com irritação.

— Cuidado por onde anda, garota — resmungou, a voz carregada de impaciência.

Ayla franziu o cenho, indignada.

— Eu não tive culpa! Você estava na porta do banheiro feminino.

— Eu só estava passando, e foi você quem esbarrou em mim. Agora vem dizer que a culpa é minha? — retrucou ele, ainda mais irritado.

Suspirando, Ayla abaixou a cabeça.

— Desculpa, isso não vai acontecer de novo.

Ele revirou os olhos.

— Agora sai da minha frente, garota! Você está atrapalhando a passagem — disse, empurrando seu ombro ao passar.

— Ai! Isso dói! — reclamou Ayla, esfregando o local.

Ela o observou se afastar, sentindo a raiva misturada à curiosidade. Quem será esse homem? Ele é insuportável.

O dia passou rápido, e logo chegou a hora de fechar o café. Como ainda estava se adaptando, Ayla ficou responsável pela organização do local.

Após limpar as mesas, deu a última olhada ao redor antes de se dirigir à porta. Mas, de repente, uma sombra se moveu no canto da cafeteria, fazendo seu coração disparar.

— Que susto! — exclamou, colocando a mão no peito.

A sombra se revelou aos poucos, e Ayla logo reconheceu a figura.

— Ah, é você... — murmurou, cruzando os braços.

O homem soltou um suspiro pesado.

— Me desculpe por mais cedo. Eu estava de cabeça quente... Além disso, o pessoal da loja tem uma certa imagem minha, e eu não posso deixar que pensem diferente.

Ayla arqueou uma sobrancelha.

— Está tudo bem... Já estou acostumada com esse tipo de coisa.

Ele esboçou um sorriso torto.

— Começamos com o pé esquerdo hoje, mas deixa eu me apresentar direito. Sou Jake, e realmente sinto muito pelo que aconteceu.

— Eu tenho que ir agora, estou atrasada para minha aula — disse Ayla rapidamente, desviando o olhar e tentando encerrar o assunto.

Quando se virou para sair, sentiu um movimento rápido. Num instante, Jake a encurralou contra a parede.

— Eu estou tentando ser legal com você... Mas parece que você não quer conhecer meu lado bom — disse ele, os olhos fixos nos lábios de Ayla, enquanto passava os dedos suavemente sobre eles.

Um arrepio percorreu seu corpo, mas não de forma agradável. Sentindo o desconforto crescer, Ayla o empurrou com força e saiu correndo dali, o coração martelando no peito.

Assim que trancou a cafeteria, apressou-se para sua aula, tentando afastar da mente a sensação que aquele encontro lhe deixou.

Eu não sou uma presa

Ayla estava na aula, mas sua mente vagava longe dali. Seus pensamentos giravam em torno do que havia acontecido mais cedo, e por mais que tentasse se concentrar, não conseguia afastar aquela sensação incômoda. Sua casa ficava perto da faculdade, onde cursava Psicologia. Talvez, no fundo, essa escolha tivesse um propósito maior—talvez entender seu próprio dom fosse a resposta que tanto buscava.

No dia seguinte, voltou ao trabalho e decidiu simplesmente ignorar o ocorrido. Fingir que nada tinha acontecido parecia a melhor opção. No entanto, mais uma vez, sentiu o olhar intenso de Jake sobre ela. Ele a encarava como se fosse uma presa, e isso fez um arrepio percorrer sua espinha.

Ayla respirou fundo e continuou seu trabalho, tentando ignorá-lo. Foi então que uma de suas colegas se aproximou com um sorriso animado.

— Oi! Eu sou a Lilly. Prazer em conhecê-la! — disse, entusiasmada.

Ayla sorriu, surpresa.

— Ah, oi! Eu sou a Ayla.

Era a primeira vez que alguém puxava conversa com ela ali, e isso a fez se sentir acolhida.

De repente, Lilly olhou para Jake e revirou os olhos antes de soltar, sem hesitação:

— Jake, pare de encarar a garota como se ela fosse uma de suas presas.

Ayla arregalou os olhos, surpresa com a atitude espontânea de Lilly.

Jake apenas deu de ombros, mas Lilly riu e explicou:

— Desculpa, mas aquele ali é meu irmão. Não ligue para ele, ele sempre foi assim.

Ayla piscou algumas vezes, assimilando a informação. Irmãos? Isso explicava a liberdade com que Lilly falava com ele.

Forçando um sorriso, respondeu:

— Haha, tudo bem, eu não me importo... Já passei por coisas bem piores.

Por fora, sua expressão era tranquila, mas, por dentro, sentiu como se aquela simples frase tivesse perfurado seu peito.

Ayla apenas sorriu, tentando disfarçar o que realmente sentia.

— Ayla, você quer ser minha amiga? — perguntou, sem rodeios.

Antes que Ayla pudesse responder, uma voz aguda gritou da cozinha:

— Cuidado, Ayla, ela é maluca!

— Cala a boca, Cléo! — rebateu Lilly, rindo.

Ayla observou a troca sem entender muito bem o que estava acontecendo, mas apenas sorriu, entrando no clima.

— Enfim, vou deixar você trabalhar e voltar para o meu posto — disse Lilly, despedindo-se. Mas, antes de sair, acrescentou animada: — Ah, mais tarde vai ter uma festa! Você não quer ir com a gente?

Ayla hesitou.

— Bom, eu não sei... Ainda não conheço muito bem a cidade e preciso estudar.

— Dá pra estudar depois! Vamos, vai ser divertido! — insistiu Lilly, empolgada.

Ayla suspirou.

— Tá bem, eu vou...

— Ótimo! Mais tarde te passo o endereço. Aliás, eu não tenho seu número! — disse Lilly, estendendo a mão.

Ayla riu.

— A gente acabou de se conhecer, né? Kkk.

Lilly riu junto.

— Verdade! Mas já gostei de você, você é das minhas!

Sorrindo, Ayla pegou um papel que estava por perto, anotou seu número e entregou a Lilly.

As horas passaram rápido, e Ayla foi para casa se arrumar. Olhando para o guarda-roupa, hesitou antes de pegar um vestido colado que nunca havia usado. Foi um presente de sua mãe, mas sempre pareceu demais para ela. Naquela noite, porém, resolveu se permitir.

Ao chegar à festa, seus olhos logo encontraram Lilly, que acenou animada.

— Ayla, aqui!

Ela se aproximou, e Lilly apontou para o grupo ao seu redor.

— Esses são meus amigos: Fernando, Jessy, Ash, Noah… E o Jake, bom, esse você já conhece.

Ayla lançou um olhar discreto para Jake, mas fingiu não notar sua presença.

— Oi, pessoal! É um prazer conhecer vocês. Eu sou Ayla, me mudei recentemente pra cá.

O grupo sorriu em resposta, e, pela primeira vez em muito tempo, Ayla sentiu que talvez pudesse pertencer a algum lugar.

A música alta vibrava pelo chão, e as luzes coloridas piscavam, criando um ambiente envolvente. Ayla olhou ao redor, absorvendo a energia da festa. Fazia muito tempo que não se permitia algo assim.

Lilly puxou sua mão, animada.

— Vem, vamos pegar algo para beber!

Elas foram até a mesa onde havia diversas opções de drinks e refrigerantes. Ayla optou por um suco, enquanto Lilly pegou uma bebida colorida e efervescente.

— Então, Ayla, me conta... O que te trouxe para cá? — perguntou Noah, encostando-se ao balcão improvisado.

Ayla hesitou. Ela não queria revelar muito sobre seu passado.

— Ah, eu só queria um recomeço — respondeu, dando de ombros.

— Entendo... Às vezes, começar do zero é a melhor escolha — disse Jessy, sorrindo de forma compreensiva.

Ayla assentiu, sentindo-se um pouco mais confortável. No entanto, sua tranquilidade não durou muito. Ela sentiu um arrepio familiar percorrer sua nuca. Virando discretamente o rosto, viu Jake a observando do outro lado da sala, um copo na mão e um olhar indecifrável.

Ele era perigoso. Ela sabia disso. Mas, ao mesmo tempo, havia algo nele que a intrigava.

Antes que pudesse reagir, Lilly puxou-a para a pista de dança.

— Você precisa dançar!

Ayla riu, permitindo-se relaxar. Ela começou a se movimentar no ritmo da música, sentindo uma leveza que há tempos não experimentava. Mas, em meio à multidão, ela sentiu alguém se aproximando.

— Finalmente resolveu se divertir? — a voz de Jake soou próxima demais ao seu ouvido.

Ayla se virou rapidamente e encontrou-se diante dele, seus olhos escuros brilhando sob as luzes da festa.

— E se eu tivesse? Não é da sua conta, eu não sou sua presa— respondeu, cruzando os braços.

Jake sorriu de canto.

— Relaxa, só estou observando. Você é diferente...

— Diferente como?

Ele deu um passo à frente, reduzindo a distância entre os dois.

— Ainda não descobri. Mas vou descobrir.

Ayla sentiu um calafrio, mas antes que pudesse responder, Lilly apareceu e se colocou entre eles.

— Jake, deixa a garota em paz.

Ele ergueu as mãos em rendição.

— Só estamos conversando, maninha.

— Sei... — Lilly o encarou desconfiada antes de se virar para Ayla. — Vem, quero te apresentar a mais algumas pessoas.

Ayla assentiu rapidamente e deixou que Lilly a puxasse para longe de Jake.

Mas, mesmo à distância, ela ainda sentia o peso do olhar dele sobre ela. Como se ele soubesse que havia algo escondido dentro dela. Algo que ela tentava, a todo custo, manter em segredo.

o toque da escuridão

A festa terminou mais tarde do que Ayla esperava, e ela retornou para sua casa com a mente turbulenta. As palavras de Jake ainda ecoavam em sua mente: "Eu vou descobrir." Havia algo naquela frase que a inquietava, como se ele soubesse de algo que ela própria ainda não entendia completamente.

Na manhã seguinte, Ayla acordou com uma sensação estranha. Algo estava no ar, algo que ela não conseguia identificar, mas que sentia profundamente em cada poro de sua pele. Ela se levantou, tentando afastar a sensação de desconforto, e se dirigiu até a janela. O céu estava nublado, as nuvens se moviam lentamente, como se estivessem envoltas em um ritmo pesado, carregado de presságio.

No trabalho, Ayla tentou se concentrar, mas o olhar de Jake a perseguia. Toda vez que ele entrava na sala, ela sentia a tensão no ar. Ele não falava diretamente com ela, mas sua presença a afetava de uma maneira que ninguém mais conseguia. Ele parecia saber que havia algo mais por trás do sorriso tranquilo que ela forçava. Algo mais profundo.

Enquanto Ayla limpava as mesas, Lilly se aproximou com um sorriso travesso.

— Você está sumida hoje, hein? Eu te vi com o Jake ontem, não foi? — Ela olhou de lado, como se esperasse uma resposta.

Ayla, incomodada, apenas deu de ombros.

— Foi só uma conversa.

Lilly riu e se inclinou para sussurrar.

— Não minta para mim. Eu vi como ele te olhou. Aquele olhar... Ele nunca desvia o olhar de uma mulher que não tenha algo interessante.

Ayla ficou em silêncio, um calafrio subindo pela espinha. Aquele olhar... Ela nunca poderia esquecer. Era como se Jake soubesse de algo que ela não conseguia controlar. Algo que ele queria descobrir.

— Cuidado com ele, Ayla — disse Lilly, com uma expressão que Ayla não conseguiu decifrar. — Jake pode ser... perigoso.

Ayla forçou uma risada, tentando afastar a preocupação que começava a se instalar.

— Eu sou grande o suficiente para me proteger.

Mas dentro de si, ela sabia que não estava tão certa assim.

Quando o turno terminou, Ayla estava exausta, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Ela tentou seguir para casa, mas seus pés a levaram, inconscientemente, para um caminho diferente. Ela sentia uma atração estranha pela rua escura que ficava atrás do café, um local que ela raramente passava. O ar estava pesado e a atmosfera parecia densa, como se algo estivesse esperando ali. Quando virou a esquina, deu de cara com Jake.

— Eu sabia que você viria. — Ele disse, com um sorriso sutil, quase predatório.

Ayla parou de imediato, o coração batendo acelerado.

— O que você quer de mim, Jake?

Ele deu um passo à frente, e ela sentiu uma eletricidade percorrer seu corpo. Era como se ele estivesse se alimentando da sua hesitação.

— Eu só quero entender você, Ayla. — Sua voz estava baixa, quase um sussurro. — Eu posso te ajudar a entender o que você realmente é.

Ayla o encarou, seu corpo tremendo com a intensidade de suas palavras. Ele estava tão perto agora que podia sentir o calor dele em sua pele.

— Eu não preciso de ajuda. — Ela disse, sua voz falhando.

Jake sorriu, um sorriso que fez seus olhos brilharem com uma intensidade que Ayla não pôde ignorar.

— Você não entende... — Ele se aproximou mais, e Ayla deu um passo atrás, mas não foi o suficiente para afastá-lo. — Eu já sei o que você é, Ayla. Você não precisa esconder mais.

Ayla sentiu uma onda de medo percorrê-la. Ele sabia. Ele sabia o que ela era. Mas como?

— Você é uma curandeira, não é? — Ele disse, com a voz mais grave agora. — E eu sei que há muito mais dentro de você do que você está disposta a admitir.

O medo se misturou com a raiva, e Ayla finalmente deu um passo à frente, encarando-o nos olhos.

— Você não sabe de nada sobre mim. — Ela disse, a voz firme, mas seu corpo tremia.

Jake deu um pequeno riso, como se estivesse se divertindo com a reação dela.

— Ah, mas eu sei. E vou te fazer entender também. — Ele se aproximou ainda mais, os olhos brilhando com algo quase animalesco. — Você vai aprender que não pode escapar de quem você realmente é.

Ayla estava paralisada pela intensidade de seu olhar. Antes que ela pudesse reagir, Jake tocou suavemente seu pulso, e algo estranho aconteceu. Uma sensação elétrica percorreu seu corpo, e ela sentiu como se sua energia estivesse sendo drenada.

Ela tentou se afastar, mas o toque dele a mantinha presa. O ar ficou denso, e uma sensação de vazio a envolveu, como se ela estivesse sendo puxada para um lugar onde não queria ir.

Jake sorriu, satisfeito com a reação dela.

— Isso é só o começo, Ayla. Você vai aprender o que é realmente ser tocada pela escuridão.

Com essas palavras, ele a soltou e se afastou lentamente, deixando Ayla em um estado de confusão e medo.

Ela ficou ali, no meio da rua escura, sentindo o peso de suas palavras, tentando entender o que havia acabado de acontecer. O que Jake realmente queria dela? E, mais importante, o que ele sabia?

A resposta estava mais perto do que ela imaginava, mas, para encontrá-la, ela teria que se aprofundar na escuridão de seu próprio poder.

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