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A Substituta da Irmã

A SUBSTITUTA DA IRMÃ

A SUBSTITUTA DA IRMÃ

Capítulo 1 – O Retorno de Ayla

O carro preto deslizou suavemente pela longa estrada de paralelepípedos que levava à imponente mansão Blackwood. Dentro dele, Ayla Donovan sentia o coração batendo forte contra as costelas. Seus dedos estavam gelados, mesmo com o ar-condicionado desligado. Fazia anos que não pisava ali, e cada metro que se aproximava da casa tornava sua respiração mais difícil.

A última vez que estivera naquela propriedade, sua irmã gêmea, Celina, sorria vitoriosa ao lado de Dante Blackwood, o homem que Ayla sempre amara em silêncio. Agora, aos 26 anos, ela voltava, não como convidada, mas como alguém prestes a ser arrastada para um jogo perigoso.

A mansão Blackwood era exatamente como se lembrava: luxuosa, opulenta, mas carregada de uma frieza que parecia brotar das paredes de mármore. A fachada imponente se erguia como um castelo moderno, refletindo a grandiosidade de seu dono. Dante Blackwood, 28 anos, CEO de uma das maiores empresas do país, havia conquistado um império antes mesmo dos 25. Mas tudo mudou há dois anos, quando um acidente misterioso o deixou preso a uma cadeira de rodas.

Desde então, ele se tornara um homem recluso, distante, alguém que poucos ousavam desafiar.

Ayla sabia disso porque, mesmo longe, nunca deixou de acompanhar a vida de Dante. Ele fora seu primeiro amor. O único. Um sentimento que sempre escondeu, pois para ele, ela nunca passara de uma sombra de Celina.

O motorista abriu a porta para ela. Ayla saiu do carro hesitante, sua respiração irregular. Ao atravessar as portas douradas da mansão, foi recebida pelo silêncio frio do saguão. O som de seus saltos ecoava pelo piso polido.

— Você demorou.

A voz arrogante e levemente divertida fez Ayla se virar rapidamente. Sentada em um dos sofás de couro preto, Celina a observava com um sorriso satisfeito. O vestido vermelho justo que usava realçava suas curvas e o brilho malicioso em seus olhos azuis idênticos aos de Ayla. Mas, ao contrário dela, Celina exalava autoconfiança e poder.

Ayla engoliu em seco.

— O que você quer de mim, Celina?

Celina descruzou as pernas lentamente e se levantou, caminhando em sua direção com a graça de uma mulher acostumada a ter o mundo aos seus pés.

— Quero que me substitua.

O choque percorreu o corpo de Ayla como um raio. Ela piscou várias vezes, como se tentasse processar o que ouvira.

— O quê?

Celina inclinou a cabeça para o lado, analisando sua reação como uma predadora observando sua presa.

— Preciso sair por alguns dias. Resolver umas… questões pessoais. Mas Dante não pode saber que fui embora.

— Você está louca! — Ayla deu um passo para trás, sentindo o estômago se revirar. — Como espera que eu me passe por você?

Celina sorriu, se divertindo com o pânico da irmã.

— Você e eu somos idênticas. Ninguém perceberá. Além disso… Dante não me toca desde o acidente.

Ayla sentiu o sangue fugir do rosto.

— Você quer que eu viva uma mentira.

Celina suspirou, como se estivesse cansada da resistência da irmã.

— Quero que me ajude. Ou vai deixar Dante sozinho?

Ayla sentiu a armadilha se fechando ao seu redor. Celina sabia. Ela sempre soube.

Soube desde o primeiro dia que Ayla olhava para Dante com adoração, mesmo quando ele nunca a notara.

Desde a adolescência, Ayla amava Dante em silêncio, sempre se escondendo atrás da sombra de sua irmã. Enquanto Celina era a mulher sedutora, que conseguia o que queria com um estalar de dedos, Ayla era a discreta, a doce… e a virgem que nunca pertenceria ao mundo dele.

Mas agora, Celina estava lhe oferecendo uma chance perigosa.

E Ayla não sabia se teria forças para resistir.

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Capítulo 2 – O Homem que Nunca me Viu

O vestido azul-claro deslizava sobre a pele de Ayla como uma segunda camada de incerteza. Ela estava sentada na beira da enorme cama de dossel no quarto de Celina, encarando o próprio reflexo no espelho dourado. As mãos descansavam no colo, os dedos trêmulos apertando o tecido do vestido enquanto tentava acalmar a tempestade dentro de si.

Seus olhos azuis, tão idênticos aos da irmã, refletiam medo. Insegurança. Culpa.

Ela havia aceitado substituir Celina.

E agora, estava prestes a enfrentar o homem que sempre amou — e que jamais a viu.

O Dante Blackwood que ela conheceu na juventude era um homem de presença intensa, mas acessível. Ainda que fosse o herdeiro de um império milionário, havia algo nele que a fascinava além da fortuna e da aparência imponente. Sua inteligência, sua postura segura, a forma como falava sem precisar elevar a voz para ser ouvido.

Mas aquele Dante não existia mais.

O homem que agora governava o império Blackwood, preso a uma cadeira de rodas após o acidente, era uma sombra do que fora. Frio. Distante. Isolado do mundo.

Ayla respirou fundo. Precisava ser forte.

Celina tinha deixado instruções claras:

— Seja fria. Fale pouco. Dante odeia sentimentalismo.

Ayla queria duvidar. Será que ele realmente odiava? Ou apenas se tornou assim porque não tinha ninguém ao seu lado de verdade?

Ela não sabia. Mas estava prestes a descobrir.

---

A mansão Blackwood era um labirinto de corredores elegantes e escadarias imponentes, mas Ayla conhecia bem o caminho até o escritório de Dante.

O silêncio preenchia os espaços ao seu redor, tornando o som de seus saltos contra o piso de mármore ainda mais alto. Cada passo parecia um lembrete da mentira que estava prestes a viver.

Quando parou diante das portas duplas de madeira escura, sentiu o estômago se revirar. O peso da realidade era esmagador.

Ela fechou os olhos por um momento, inspirando fundo antes de erguer a mão e bater suavemente.

— Entre.

A voz profunda e autoritária atravessou a porta, fazendo um arrepio percorrer sua espinha.

Ayla girou a maçaneta e entrou.

O escritório era amplo e elegante, com prateleiras de madeira maciça repletas de livros e uma lareira imponente no canto, lançando um brilho dourado sobre os móveis luxuosos. O cheiro amadeirado misturado ao leve toque de tabaco pairava no ar, e a iluminação suave tornava o ambiente acolhedor, mas de alguma forma… frio.

Mas nada dominava tanto o espaço quanto o homem sentado atrás da mesa de mogno.

Dante Blackwood.

Ayla sentiu o coração falhar uma batida.

Ele estava exatamente como ela se lembrava — e, ao mesmo tempo, completamente diferente.

O terno preto caía perfeitamente sobre seu corpo forte, seus ombros largos e seu porte imponente continuavam intactos, mesmo sentado na cadeira de rodas. Seu cabelo negro estava levemente bagunçado, como se tivesse passado os dedos por ele inúmeras vezes ao longo do dia.

Mas seus olhos…

Os olhos azul-acinzentados que um dia foram vibrantes e cheios de vida agora estavam sombrios. Vazios.

Ele ergueu o olhar para ela, analisando-a com frieza e impaciência.

— O que você quer, Celina? — perguntou, a voz carregada de tédio e irritação.

O som do nome da irmã em seus lábios foi um golpe.

Ayla sentiu o estômago revirar, mas manteve a expressão neutra.

— Eu queria ver como você estava — respondeu, tentando manter o tom firme.

Dante soltou uma risada seca, sem humor.

— Desde quando você se importa?

Ayla piscou, surpresa pela dureza daquelas palavras.

— Eu me importo — murmurou, desviando o olhar.

Um silêncio pesado preencheu o ambiente.

Dante suspirou e esfregou as têmporas com os dedos, como se estivesse exausto demais para lidar com a conversa.

— Estou cansado, Celina. Se não for algo importante, pode ir embora.

Ayla sentiu um nó se formar na garganta.

Ele não queria sua presença ali.

Ele não queria Celina ali.

Mas talvez fosse ainda pior se soubesse que não era Celina quem estava diante dele.

Ela hesitou por um momento, buscando palavras, mas não encontrou nenhuma.

Então, sem outra opção, apenas assentiu levemente antes de dar meia-volta e sair do escritório.

Assim que fechou a porta atrás de si, encostou-se contra a madeira, sentindo seu corpo inteiro tremer.

Ayla sabia que aquilo seria difícil.

Mas não esperava que fosse doer tanto.

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Capítulo 3 – Presa na Mentira

O som dos saltos de Ayla ressoava pelos corredores silenciosos da mansão Blackwood. O peso da mentira que carregava parecia aumentar a cada passo, tornando sua respiração mais curta, sua pele mais fria. Ela ainda sentia o olhar de Dante sobre si, aquele olhar que nunca verdadeiramente a enxergava, e isso doía mais do que qualquer outra coisa.

Quando finalmente chegou ao quarto de Celina, fechou a porta atrás de si e encostou-se contra a madeira escura, soltando um longo suspiro. Seu peito subia e descia rapidamente, como se tivesse corrido uma maratona.

Dante a tratara com desprezo.

Com frieza.

E o pior de tudo?

Ele acreditava que estava falando com Celina.

Ayla apertou os olhos, tentando afastar aquela verdade cruel. Por anos, nutriu sentimentos por Dante, sentimentos que sempre manteve enterrados porque sabia que ele nunca olharia para ela.

Mas agora, ali estava ela, no lugar da irmã, vivendo uma mentira.

Ela abriu os olhos e observou o quarto ao redor. Cada detalhe gritava a presença de Celina: o cheiro adocicado do perfume que impregnava os lençóis e as cortinas, os vestidos luxuosos espalhados pelo closet, os saltos caros alinhados em fileiras perfeitas.

Ayla caminhou até a penteadeira e passou a ponta dos dedos sobre os frascos de perfume. Aquela não era sua vida.

Aquela nunca foi sua vida.

Mas, por mais errado que fosse… uma parte dela queria permanecer ali.

Porque, pela primeira vez, Dante estava ao seu alcance.

Mesmo que fosse através de uma mentira.

---

A noite caiu sobre a mansão Blackwood, trazendo consigo um peso ainda maior ao peito de Ayla.

Ela olhou para seu reflexo no espelho antes de descer para o jantar. O vestido que escolhera era elegante, mas discreto. Um azul profundo, que contrastava com sua pele pálida. Nada exagerado, nada que chamasse atenção. Não queria dar motivos para Dante notar qualquer diferença.

Ou pior… suspeitar.

Descendo as escadas em silêncio, sentiu a rigidez do ambiente. A mansão era grandiosa, luxuosa, mas havia algo nela que parecia… fria. Como se a alma daquela casa tivesse desaparecido junto com a felicidade de seu dono.

Quando chegou à sala de jantar, a mesa já estava impecavelmente posta. Os pratos de porcelana, os talheres de prata brilhando sob a luz do lustre de cristal. Os criados moviam-se silenciosamente pelo ambiente, arrumando os últimos detalhes antes da chegada do anfitrião.

Ayla hesitou por um instante antes de se sentar.

Foi quando ele apareceu.

Dante Blackwood.

Seus olhos encontraram-no imediatamente, e a visão roubou-lhe o fôlego.

Ele estava impecável como sempre, vestindo um terno escuro que destacava ainda mais seus traços marcantes. O cabelo negro estava levemente bagunçado, como se tivesse passado os dedos por ele várias vezes ao longo do dia. Sua expressão, no entanto, era a mesma de antes: fria.

Indiferente.

O assistente pessoal o empurrava na cadeira de rodas com precisão, e Ayla sentiu o estômago se revirar.

Ele já não era mais o homem que caminhava com imponência pelos corredores da empresa, que exalava poder sem sequer precisar falar.

Agora, Dante parecia… quebrado.

O silêncio dominou o ambiente quando ele se posicionou na mesa. Sem olhá-la, pegou o guardanapo e ajeitou-o sobre o colo, seus movimentos calculados, metódicos.

— Não precisa ficar aqui — sua voz profunda cortou o silêncio como uma lâmina afiada. — Sei que jantares em família nunca foram sua prioridade.

Ayla piscou, surpresa.

Ele estava falando da Celina que conhecia. Aquela que nunca fazia questão de estar ali.

Quantas vezes Celina havia ignorado Dante? Quantas vezes o deixara sozinho naquela mesa imensa, como se ele não fosse importante?

Ayla sentiu um nó apertar sua garganta.

Ela respirou fundo antes de responder:

— Talvez eu queira ficar.

Dante finalmente ergueu os olhos para ela.

Havia algo nos olhos azul-acinzentados dele que a fez prender a respiração. Uma surpresa momentânea, como se ele não esperasse aquela resposta.

— Desde quando você se importa? — sua voz era baixa, mas carregava um tom de incredulidade.

Ayla sustentou o olhar.

— Desde sempre.

O silêncio que se seguiu foi esmagador.

Por um momento, Dante apenas a observou, como se tentasse decifrar algo em seu rosto. Então, sem dizer mais nada, desviou o olhar e pegou os talheres.

Ayla fez o mesmo.

Mas o jantar foi um verdadeiro suplício.

A comida estava sem gosto.

O silêncio entre eles parecia mais alto do que qualquer conversa poderia ser.

Ela queria dizer algo, queria preencher aquele vazio entre os dois. Mas, ao mesmo tempo, sabia que Dante não a deixaria se aproximar tão facilmente.

Então, ficou quieta.

Dante também não falou mais nada.

Terminou sua refeição em silêncio, e quando o jantar chegou ao fim, apenas assentiu para os criados e foi empurrado para fora da sala sem nem sequer olhar para ela.

Ayla ficou ali, sozinha à mesa.

Seus olhos ardiam, mas ela se recusou a chorar.

Ele nunca a notou antes…

E mesmo agora, vivendo essa mentira, talvez nunca notasse.

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