...LorenZo Moretti...
...Isabella...
...Danilo...
...Eleonora Moretti...
Isabella,
Alguns anos atrás ….
A chuva escorria pelo meu rosto, misturando-se às lágrimas que lutei muito para não derramar. Meu coração batia tão forte que parecia querer sair do meu peito. Eu precisava vê-lo. Precisava me explicar.
Corri pelos corredores da empresa da família Moretti, os saltos afundando no carpete macio. Cada passo me deixava mais perto de Lorenzo, e sua rejeição.
Quando parei diante da porta da suíte presidencial, fechei os olhos por um segundo. Respirei fundo. Então, bati.
Nada.
Bati de novo.
O clique da fechadura fez minha respiração travar.
Quando a porta se abriu, lá estava ele. Lorenzo Moretti, a camisa desabotoada mostrando seu peito nú, seus cabelos sedosos bagunçados. Em outro momento, ele me puxaria para dentro e me beijaria como sempre fez. Mas naquele momento, nossa situação era outra, totalmente diferente.
Seu olhar negro pousou em mim, carregado ódio.
— Você realmente teve coragem de vir? É tão descarada a ponto de vir até aqui se humilhar?
Minha garganta secou. Ele não iria facilitar, eu sabia disso. Mas mesmo assim, eu quis ir até lá.
— Preciso te explicar…
A risada dele foi fria e cruel.
— Explicar? — Ele ergueu o celular, exibindo a tela para mim. — O que exatamente você quer explicar? Que esta imagem que estou te mostrando é uma montagem?
O ar sumiu dos meus pulmões. A foto.
Na tela, uma imagem borrada, mas clara o suficiente para parecer algo que não era. Um plano bem arquitetado por alguém que queria nos separar e conseguiu.
A imagem revelava eu entrando no carro de outro homem. Para ser preciso, o homem era Ernandes Santoro, inimigo de Lorenzo, um rival que queria a todos custo roubar os projetos de Lorenzo e acabar com a empresa dele. Depois que ele me meteu em toda essa confusão bem elaborada, simplesmente sumiu.
Meu coração errou uma batida, ao ouvir todas suas palavras cheia de ódio.
— Lorenzo… isso não é o que parece. Eu juro. Deixe-me explicar!
Seus olhos se estreitaram. Ele sempre foi um homem intenso, mas agora… agora ele parecia prestes a me destruir, só com seu olhar de pura fúria.
— Então me diz o que diabos significa isso? — Sua voz era um trovão prestes a me esmagar.
— Eu não sabia de nada, alguém armou para mim. Eu nunca te trai. Nunca. Confie em mim, por favor! Porquê eu te destruiria dessa forma, sabendo que a empresa é tudo para você? Me fala qual a lógica disso?
Lorenzo riu. Seu sorriso sem humor.
— Cale a boca, Isabella. Eu não quero mais te ouvir, tudo que sai da sua boca é uma mentira bem contada.
O mundo girava ao meu redor. Eu sentia tudo desmoronar.
— Lorenzo, por favor… — Minha voz saiu falha.
Ele passou a mão pelos cabelos, tentando conter a raiva, mas eu o conhecia bem. Lorenzo não era o tipo que se controlava quando se sentia traído. E ele estava convencido de que eu o traí.
Ele avançou um passo. Depois outro. Até estar perto demais. Seu cheiro amadeirado, misturado ao uísque que ele provavelmente tinha acabado de beber, tomou meus sentidos.
Seu maxilar travou.
— Você morreu para mim, entendeu? Espero que tenha valido a pena a sua traição.
Meus olhos arderam em lágrimas.
Lorenzo deu um último olhar para mim, carregado de ódio e amargura. E então, virou as costas e me deixou ali.
— Eu te amo … — sussurrei, mas foi tarde demais.
Naquela noite, eu soube que nunca mais teria o perdão dele. Alguém acabou com o nosso relacionamento, destruiu nós dois e ele nem sequer percebeu.
...(๑˙❥˙๑)0.1(๑˙❥˙๑)...
Isabella,
Dizem que o tempo cura todas as feridas. Mentira. Algumas dores apenas se tornam parte de quem somos.
Meu nome é Isabella Vasquez, e há cinco anos minha vida desmoronou diante dos meus olhos.
Eu me lembro daquela noite como se fosse ontem. A chuva pesada, as luzes borradas da cidade, os passos apressados ecoando na calçada molhada enquanto eu tentava segurar as lágrimas. Eu tinha ido até Lorenzo para explicar tudo, mas ele não quis me ouvir. Para ele, eu era uma traidora, uma mentirosa. A mulher que o enganou.
E ele me deixou.
Mas o que Lorenzo nunca soube e nem eu, é que eu estava grávida dele.
Descobri naquela noite porque meu corpo não suportou o choque emocional, a dor de vê-lo me desprezar e jogar fora tudo o que tínhamos. Perdi o nosso bebê.
Acordei em um hospital, cercada por estranhos que me encontraram desmaiada na rua. Foi ali que minha vida realmente acabou.
Eu fugi. Larguei tudo, cortei qualquer laço com o passado e recomecei em uma cidade vizinha. Mas recomeçar nunca é fácil, ainda mais para alguém que perdeu tudo.
Hoje, cinco anos depois, sou proprietária de uma pequena empresa de design de interiores. Trabalhei duro para construí-la do zero, investindo cada centavo que consegui juntar. Meu salário é razoável, e consigo viver sem muitos luxos, mas a verdade é que estou à beira do abismo financeiro.
Minha empresa enfrenta uma crise grave. Se eu não conseguir dinheiro urgentemente, terei que fechar as portas. Os custos de manutenção, os fornecedores e os salários dos funcionários estão se acumulando, e os clientes simplesmente não estão fechando contratos como antes.
Cada dia que passa, sinto o peso da responsabilidade aumentar. Se eu perder a empresa, perderei anos de dedicação e sacrifícios. Mas o que posso fazer quando minhas opções estão se esgotando?
Foi por isso que passei o dia inteiro em reuniões, tentando desesperadamente conseguir um empréstimo. Mas as respostas foram todas as mesmas:
“Infelizmente, no momento, não podemos conceder crédito.”
Tentei bancos, investidores, até um ex-cliente que devia favores, mas ninguém quis arriscar.
Agora, sentada na minha mesa, olhando para a pilha de contas, eu sentia o desespero crescendo. Meu telefone vibrou ao lado do teclado. Suspirei e peguei o aparelho, pronta para ignorar qualquer nova cobrança. Mas, quando vi o nome na tela, meu coração parou.
Dona Eleonora Moretti.
O que ela queria comigo depois de tantos anos?
Fitei a tela antes de atender.
— Alô?
— Isabella, querida… quanto tempo.
Fechei os olhos. A voz dela ainda era a mesma, cheia de carinho e uma autoridade natural. Diferente de Lorenzo, sua avó sempre foi doce comigo.
— Sim, muito tempo… — murmurei.
— Precisamos conversar. Estou com saudades.
Minha garganta secou. Por que ela queria me ver agora?
— Eu… não sei se é uma boa ideia, dona Eleonora. Eu…
— Por favor, Isabella. Pelo menos uma xícara de chá. Nada mais.
Suspirei. Parte de mim sabia que eu deveria negar. Mas a outra parte… estava curiosa.
E, sinceramente? Eu não tinha nada a perder.
— Tudo bem. Onde e quando?
Ela me deu o endereço de um café sofisticado no centro. E marcou nosso encontro no mesmo dia.
Quando desliguei, minhas mãos estavam geladas.
Aguardei um pouco, esperando a ansiedade passar, e então peguei minha bolsa, entrei no carro e segui para o endereço enviado por Dona Eleonora. Meu coração estava acelerado, e eu não sabia exatamente por quê.
Talvez fosse o fato de estar indo encontrar a avó do homem que um dia amei.
Ou talvez fosse o medo do que ela queria comigo depois de tanto tempo.
O trânsito estava moderado, mas minha mente estava longe dali. As mãos suavam no volante, e cada quadra que eu percorria tornava minha respiração mais curta.
Quando finalmente estacionei em frente ao café sofisticado no centro da cidade, permaneci dentro do carro por alguns segundos. Meus dedos apertavam o couro frio do volante enquanto tentava organizar meus pensamentos.
Por que estou aqui?
Eu deveria ter recusado. Mas algo dentro de mim dizia que era para eu prosseguir. Eu já estava ali, então, o que me custava ir adiante?
Respirei fundo, soltei o cinto e saí do carro.
Assim que entrei no café, fui recebida pelo cheiro reconfortante de café fresco e um leve toque de baunilha. Meu olhar varreu o ambiente até encontrar Dona Eleonora Moretti, sentada em uma mesa reservada no canto.
A idade parecia não ter pesado sobre ela. O cabelo grisalho estava impecavelmente preso em um coque elegante, e os olhos, tão afiados quanto eu me lembrava, me analisaram de cima a baixo assim que me aproximei.
— Isabella… — Ela sorriu, se levantando levemente da cadeira. — Você está tão linda.
Meu peito apertou. Eu não sabia se deveria sorrir ou se manter fria.
— Boa tarde, dona Eleonora.
— Por favor, querida, sente-se.
Fiz o que ela pediu, e logo um garçom apareceu para anotar nosso pedido. Eu apenas pedi um café simples, enquanto ela pediu um chá de camomila.
O silêncio que veio depois era estranho. Eu sentia que ela não tinha me chamado aqui apenas para matar a saudade.
Dona Eleonora foi a primeira a falar.
— Eu soube que você se saiu bem nos últimos anos, querida.
Ri sem humor.
— Se "bem" significa estar tentando desesperadamente salvar a minha empresa, então sim, estou ótima.
Ela me observou por um momento, como se analisasse cada palavra que eu dizia.
— Você ainda guarda rancor, não é?
Minhas mãos se apertaram no colo. Eu não queria falar sobre o passado.
— Eu segui em frente, dona Eleonora. O que aconteceu entre mim e seu neto ficou no passado.
Ela assentiu levemente, mexendo o chá com calma.
— Eu sei que ele não quis te ouvir… — Ela suspirou. — E também sei que você sofreu muito mais do que ele imagina.
Minhas costas se enrijeceram. Ela sabia?
Pisquei algumas vezes, tentando processar. Mas antes que eu pudesse dizer algo, ela continuou:
— O que Lorenzo fez com você foi um erro terrível, Isabella. Mas eu conheço meu neto. Ele é orgulhoso e teimoso demais para admitir que pode estar errado. Apesar dessa raiva toda que vocês dois sentem um pelo outro, no fundo ainda se amam.
Não respondi. O nó na minha garganta estava grande demais.
— E é por isso que estou aqui hoje — ela continuou, pousando a xícara sobre a mesa e entrelaçando os dedos sobre o colo. — Eu preciso da sua ajuda.
— Minha ajuda? — Ergui uma sobrancelha. Aquilo era inesperado. — Minha ajuda com o quê? — ousei perguntar novamente.
Ela se ajeitou na cadeira, o olhar penetrante fixo em mim.
— Quero que se case com meu neto.
Meu coração parou.
Pisquei, esperando que ela risse e dissesse que era uma brincadeira. Mas o rosto dela continuava sério, o suficiente para eu saber que ela não estava brincando.
Soltei uma risada sem humor.
— Você só pode estar brincando.
— Estou falando muito sério.
Isso era uma loucura.
— Por que diabos eu faria isso?
— Porque você precisa de dinheiro.
Meus músculos travaram.
Ela se inclinou para frente, a expressão ainda serena, mas cheia de determinação.
— Como você disse, sua empresa está com problemas. Sei que você está lutando para mantê-la de pé. E sei que nenhuma outra solução apareceu para você até agora.
Engoli em seco. Ela me conhece muito bem, para saber que realmente estava lutando para fazer a empresa se recuperar.
— E o que eu ganharia com isso? Lorenzo só me odiaria mais ainda.
Ela sorriu levemente.
— Você ganhará um valor suficiente para resolver seus problemas financeiros e ainda ficar com um bom dinheiro em sua conta. Passaria o resto do ano sem se preocupar em pagar qualquer dívida que surgisse. Além do pagamento que Lorenzo vai dar pelo contrato, te darei um extra.
Meu coração deu um pulo.
Ela sabia exatamente como me atingir.
— Lorenzo precisa desse casamento. A imprensa tem feito especulações sobre a vida pessoal dele, e ele não pode se dar ao luxo de ter sua imagem e sexualidade questionada. Ele só precisa de um casamento no civil, algo que passe credibilidade para o público. E você precisa do dinheiro. E além de tudo, não quero outra pessoa carregando nosso sobrenome, se não for você. — agarrou minhas mãos. — Eu amo muito você, minha querida, e não vou mentir, tenho esperança de que vocês se acertem.
Meu estômago embrulhou.
— Ele… sabe que sou eu?
Dona Eleonora balançou a cabeça em negativo.
— Não. E ele não se importa com quem será a esposa, desde que o contrato seja cumprido. De certa forma, isso é bom para você, ele não pode saber que você é a esposa.
Apertei os olhos. Isso era insano. E quando ele descobrisse?
Mas a verdade era que… eu estava sem saída. Eu preciso do dinheiro, e a família Moretti era a única saída naquele momento. E talvez essa fosse minha única chance, uma saída para os meus problemas.
Respirei fundo, minha mente girando em todas as direções possíveis.
Casar com Lorenzo Moretti.
Um homem que me odiava.
Um homem que nem sabia que eu era a noiva contratada.
E, mesmo assim, tudo dentro de mim gritava que eu deveria dizer sim, e resolver de uma vez por todas os meus problemas.
Levantei o olhar para a senhora Moretti à minha frente.
— Quando isso precisa acontecer?
Ela sorriu.
— Em uma semana.
— Tudo bem, vou me casar com Lorenzo.
...(๑˙❥˙๑) Lorenzo Moretti (๑˙❥˙๑)...
Meu nome é Lorenzo Moretti, CEO do Grupo Moretti, um dos maiores conglomerados empresariais da Itália. Para o mundo, sou um homem de negócios implacável, frio e calculista. Para a imprensa, sou misterioso e inalcançável. Para os meus inimigos, sou um problema impossível de se resolver.
E para Isabella Vasquez, eu sou o homem que a odeia.
Cinco anos atrás, ela foi a única mulher pela qual eu fui capaz de baixar a guarda. A única por quem eu realmente me permiti sentir algo. E foi um erro. Quando eu a vi entrar no carro do meu inimigo Ernandes, no dia em que sumiram meus projetos, eu soube que não era coincidência. Ela estava com ele, as fotos que eu recebi, as provas que recebi, tudo me levou até ela.
Ela me destruiu.
Olhando para trás, ainda me pergunto como fui tão idiota. Eu, Lorenzo Moretti, acreditando no amor. Até parece piada.
O problema é que Isabella era boa nisso. Ela sabia exatamente como fazer um homem se apaixonar. Seu sorriso inocente, sua risada leve, seus olhares furtivos… Tudo nela parecia verdadeiro. Até que um dia, eu descobri sua traição, e isso me destruiu.
A imagem dela entrando no carro daquele canalha, ficou gravada em minha mente como uma maldita tatuagem.
Ela tentou negar. Tentou se justificar. Mas eu não quis ouvir. Não precisava. Eu já tinha visto o suficiente.
E então, eu a deixei ir.
Ela morreu para mim naquela noite.
Desde então, nunca mais confiei em ninguém. Nunca mais me permiti sentir algo além do necessário. Mulheres? Apenas distrações que tenho me esquivado. Relacionamentos? Um risco desnecessário.
Meu foco era um só: meus negócios.
Construí um império inabalável, expandi meus investimentos, aumentei minha fortuna. E agora, anos depois, não havia nada que eu não pudesse ter.
Nada além de paz.
O barulho do gelo tilintando contra o copo me trouxe de volta ao presente.
Segurei o copo de uísque com firmeza, girando o líquido âmbar dentro do vidro. A bebida desceu quente pela minha garganta enquanto me encostava na mesa do escritório, observando a cidade através da enorme parede de vidro.
As luzes de Milão brilhavam ao longe, mas tudo parecia monótono. Como sempre.
Eu estava prestes a me servir de outro gole quando ouvi a porta do escritório se abrir.
— Você não deveria beber tanto, Lorenzo.
A voz suave, porém firme, de Dona Eleonora Moretti preencheu o ambiente. Suspirei e me virei lentamente, encarando minha avó.
Ela era uma mulher de presença. Mesmo com a idade avançada, ainda exalava elegância e autoridade. Seu coque impecável e o brilho astuto nos olhos deixavam claro que ela não tinha vindo aqui por acaso.
— A que devo a honra da visita, nonna? — perguntei, erguendo o copo em um brinde sarcástico.
Ela entrou no escritório sem se importar com minha ironia e sentou-se na poltrona à minha frente, cruzando as pernas com calma.
— Quero falar sobre algo muito importante.
Bufei e tomei mais um gole.
— Desde quando a senhora faz visitas inesperadas para "falar sobre algo importante"? Eu estou surpreso agora.
Ela me olhou sem demonstrar emoções.
— Desde que sua reputação está em jogo, e você parece não se importar.
Aqui vamos nós.
— Minha reputação? — dei um meio sorriso. — Meu império está crescendo. Meus investimentos dobraram no último trimestre. Meu nome continua intacto. O que mais importa?
Ela me lançou um olhar afiado.
— A sua imagem.
Permaneci em silêncio. Eu sabia exatamente do que ela estava falando.
Nos últimos meses, rumores começaram a circular na imprensa. Especulações sobre minha sexualidade. Primeiro, foi uma piada de mau gosto em um tabloide qualquer. Depois, uma matéria insinuando que eu nunca era visto com mulheres. Em seguida, os comentários nas redes sociais questionando minha orientação sexual.
E agora segundo minha avó, isso estava afetando meus negócios.
Revistas de luxo já estavam começando a dizer que eu era "misterioso demais", que minha falta de escândalos amorosos era "suspeita", e que "talvez Lorenzo Moretti não estivesse interessado em mulheres." Ou seja, para muitos eu sou Gay.
No mundo dos negócios, a percepção é tudo.
Minha mandíbula travou, mas me mantive calmo.
— São apenas boatos.
Minha avó sorriu.
— E você sabe que boatos podem se tornar verdades se forem repetidos muitas vezes.
Cruzei os braços.
— Onde quer chegar com isso, nonna?
Ela se inclinou para frente, com o olhar astuto.
— Quero que você se case.
Pisquei lentamente, absorvendo o que ela acabara de dizer. Então, soltei uma risada seca.
— Você está brincando.
— Não estou.
Meu sorriso desapareceu.
— Nonna, eu não vou me casar por causa de fofocas. Isso é ridículo. Se meu avô estivesse vivo, a senhora nem ousaria mencionar sobre esse assunto.
Ela se manteve impassível.
— Ele não está aqui para protegê-lo, por isso você não amadurece. Deixe seu avô descansar em paz — repreendeu-me — Eu não estou sugerindo um casamento de verdade. Apenas um contrato. Uma esposa temporária para calar a boca da imprensa. Não precisará viver com ela.
Fechei os olhos por um segundo.
— Eu não preciso disso.
— Precisa, sim. Ou quer que seus investidores comecem a hesitar em fechar negócios com você porque sua imagem está desgastada, e levar a empresa da nossa família à falência?
Mordi a parte interna da bochecha. Maldita seja, ela sabia como me atingir.
Ela percebeu que havia me abalado e continuou:
— Não será um casamento de verdade, Lorenzo. Somente no civil, sem cerimônia. Apenas algumas entrevistas básicas para a imprensa, e depois, cada um segue sua vida.
Minha mente girava. Um contrato. Apenas um contrato.
Seria um incômodo, mas… seria uma solução eficaz.
— E quem será a "esposa" sortuda? — perguntei, debochado.
— Não se preocupe com isso. Eu já escolhi alguém apropriado. Só se preocupe em aparecer no dia do casamento civil para assinar.
Arqueei uma sobrancelha.
— E essa mulher concordou com isso?
Dona Eleonora sorriu.
— Ela precisa do dinheiro. Você precisa da reputação intacta. Parece um ótimo acordo, não acha?
Suspirei, girando o uísque no copo.
Isso era um jogo que eu não queria jogar. Mas eu sabia que, no mundo dos negócios, o que importa não é o que queremos, e sim o que precisamos fazer. E no momento, eu precisava acabar com esses boatos.
— Apenas no civil. Sem envolvimento. Sem contato?
Ela assentiu.
— Exatamente.
Cerrei os olhos. Que tipo de mulher aceitaria isso?
Mas, no fim das contas, não importava. Eu não fazia questão de saber seu nome. Era um acordo vantajoso. Se eu não precisasse interagir com essa mulher, tudo ficaria mais simples.
Mas eu ainda tinha condições a impor.
— Se eu aceitar isso, haverá algumas regras — falei, encarando minha avó.
Ela arqueou as sobrancelhas, esperando.
— O casamento será apenas no civil. Sem festa, sem cerimônia, sem convidados. Isso tudo é necessário para validar o documento. Essa foi sua regra número um! — indaguei tentando entender.
— Isso já estava em planos — ela confirmou.
— Então a regra de número 2, é nada de fotos juntos, sem nenhum aspecto. A única coisa que sairá nos jornais será um anúncio formal informando que me casei. Andarei com uma aliança no dedo, é o suficiente.
Ela estreitou os olhos.
— Os jornais vão querer mais, você sabe disso.
— Que se fodam os jornais. Não quero minha vida pessoal exposta.
Dona Eleonora suspirou.
— Certo. Nada de fotos. Mas você precisará estar presente no cartório para assinar os papéis. E os fotógrafos estarão lá para tirar as fotos, e claro, alguns repórteres com perguntas básicas sobre vocês dois. E depois disso, você será o responsável de atrair todos eles para longe de lá, para que não saibam quem é sua noiva.
— Óbvio. Nem eu quero vê-la!
Ela inclinou a cabeça, um sorriso tranquilo brincando em seus lábios.
— Fechado. — Ela se levantou e ajeitou o casaco. — Em uma semana, será o casamento.
Acenei com a cabeça e virei minha cadeira para a vista da cidade, e ela foi embora.
...(๑˙❥˙๑) Isabella (๑˙❥˙๑)...
O celular vibrou sobre minha mesa e meu coração deu um salto, mesmo já sabendo quem era.
Dona Eleonora Moretti.
Respirei fundo, preparando-me para o que ouviria. Já estava decidido. Eu aceitei esse acordo sabendo exatamente no que estava me metendo. Mas agora, ouvir a confirmação de que estava prestes a me tornar esposa de Lorenzo Moretti ainda fazia meu estômago revirar de nervoso.
Atendi quase no último toque.
— Isabella, querida, está feito. O casamento será em uma semana — a voz dela soou tranquila, como sempre.
Mordi os lábios.
Mesmo esperando por essa resposta, ouvir as palavras saírem da boca dela tornava tudo mais real.
— Certo… — minha voz saiu um pouco mais fraca do que eu gostaria.
— Não se preocupe, meu bem. Tudo já está planejado. O casamento será discreto, como Lorenzo exigiu. Apenas uma assinatura, sem cerimônia, sem nada. E assim que você cumprir com o acordo, envio-lhe o valor prometido.
Ele realmente não fazia ideia.
Ele assinaria aqueles papéis sem nem ao menos se importar com quem estava do outro lado. Para ele, não fazia diferença quem seria sua esposa, contanto que a mídia acreditasse.
Mas para mim… fazia.
— Você está bem, Isabella? — Dona Eleonora perguntou depois de alguns segundos de silêncio.
— Sim, só estou processando tudo. — minto.
— É compreensível. Mas confie em mim, querida, isso será bom para vocês.
Mordi o lábio novamente. Bom?
Me casar com um homem que me odeia e que não faz ideia de que está se casando comigo? Isso não seria bom, nenhum pouco.
— Amanhã, o advogado levará os documentos para que você assine antes do casamento — ela continuou. — Não se preocupe com nada. Eu providenciei o necessário.
Não havia necessidade de me preocupar.
O destino já estava selado.
Quando a ligação terminou, fiquei olhando para a tela preta do celular.
Em uma semana, eu seria Isabella Moretti.
Não dormi direito naquela noite.
As lembranças me perseguiram, como sempre faziam quando o nome de Lorenzo voltava a rondar minha mente.
O homem que me amou, e depois me jogou fora, sem me dar a oportunidade de falar a ele toda a verdade.
Ele sequer quis me ouvir. Nunca tentou entender o que realmente aconteceu. Ele simplesmente me descartou como se eu nunca tivesse significado nada.
Mas agora? Em poucas semanas, ele estaria preso a mim.
Se tivesse me dado a chance de falar, se tivesse escutado, talvez nada disso estivesse acontecendo.
Mas ele fez sua escolha. E eu fiz a minha.
No dia seguinte, um homem de terno impecável apareceu na recepção da minha empresa.
— Senhorita Vasquez?
Assenti.
— Sou o advogado de Dona Eleonora. Vim trazer o contrato para que assine.
Ele abriu uma pasta de couro e deslizou os papéis sobre a mesa.
O coração disparou quando vi o nome Lorenzo Moretti impresso ali.
Tantos anos se passaram e, ainda assim, meu nome estaria novamente ao lado do dele.
— Se puder assinar aqui… — ele apontou para a última linha do documento.
Segurei a caneta com firmeza, embora meus dedos tremessem levemente.
Lorenzo assinou sem nem saber quem era a mulher que estaria carregando seu sobrenome.
Que ironia.
Engoli em seco e, sem pensar mais, assinei meu nome.
— Ótimo — disse o advogado, recolhendo os papéis. — O casamento acontecerá em alguns dias, mas, como solicitado pelo senhor Moretti, vocês não precisarão se ver antes da cerimônia.
Claro que não.
Ele não queria saber quem era a esposa. Não queria conhecer, nem ver, nem perder um minuto pensando nela.
Se soubesse que era eu.
Será que ele teria rasgado esse contrato na mesma hora?
...(๑˙❥˙๑) Uma semana depois (๑˙❥˙๑)...
No dia do casamento, acordei cedo. O ar estava frio, o céu nublado. Um dia perfeito para um casamento sem amor.
Me vesti sem pressa, analisando meu reflexo no espelho.
Dona Eleonora enviou o vestido para mim. Algo elegante, mas discreto. Não era um vestido de noiva tradicional, porque isso não era um casamento de verdade.
Minha única função era assinar um papel e me tornar a esposa invisível de Lorenzo Moretti. Eu sabia que esse acordo me beneficiaria financeiramente.
Meu cabelo estava solto, como Lorenzo sempre gostou.
Engraçado.
Eu sabia que ele não me veria hoje, mas, de alguma forma, ainda queria que ele me visse como eu sempre fui.
Entrei em meu carro, e me dirigi até o cartório.
Quando cheguei, um assistente de Dona Eleonora já me esperava.
— Bom dia, senhorita ....
— Isabella!
— Senhorita Isabella. Venha comigo.
Ele me guiou até uma sala privada. Sobre a mesa, estavam os documentos finais.
Meu olhar se prendeu ao nome dele mais uma vez.
Lorenzo Moretti.
— Ele já assinou? — perguntei, mesmo já sabendo a resposta.
— Sim, mais cedo. Só veio assinar, e foi embora.
Minha respiração ficou presa na garganta.
Claro que sim. Porque para ele, não importava.
Assinei meu nome.
Com um único traço de caneta, eu me tornei esposa do homem que me odiava.
Quando saí do cartório, o vento frio bateu contra minha pele. O mundo seguia normal, como se nada tivesse mudado. Mas para mim, tudo estava diferente.
Peguei o celular e enviei uma mensagem curta para Dona Eleonora:
Está feito.
Segundos depois, ela respondeu:
Bem-vinda à família, Isabella.
Meus dedos apertaram o telefone.
— O que eu fiz? — Indaguei a mim mesma, olhando para a aliança em meu dedo. Uma aliança que eu mesma havia colocado.
Caminhei até meu carro, entrei e dirigi diretamente para o apartamento que eu moro.
Quando estacionei diante do prédio, um carro preto parou e um segurança desceu antes de mim. Abri a porta do meu carro, ele me cumprimentou e estendeu o braço me entregando uma maleta preta.
— Aqui está, senhora Moretti.
Minhas mãos tremeram levemente ao pegá-la. Eu já sabia o que tinha ali dentro.
Dinheiro.
O pagamento pelo meu casamento.
Engoli em seco e apenas assenti, apertando a alça da maleta com força. Sem dizer mais nada, segui para o meu apartamento, sentindo cada degrau pesar mais do que nunca.
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