Mattheo, 34 anos
Antonella, 25 anos
Piettro, 37 anos
Giulia, 28 anos
Luigi, 58 anos
Matthias, 30 anos
Heitor, 54 anos
Morgana, 52 anos
Nora, 20 anos
Mattheo é um homem de múltiplas facetas. À frente de uma renomada empresa de engenharia, ele se destaca pela visão e competência que o fizeram ascender ao topo do mundo corporativo. Contudo, poucos conhecem seu lado oculto: ele é o herdeiro de uma poderosa máfia, construída pelo seu pai com sacrifício e determinação. Após a morte do patriarca, Mattheo lutou incansavelmente para manter e expandir esse império, que representa tanto um legado quanto um fardo.
A estabilidade desse mundo duplo, entretanto, começa a ruir quando Mattheo descobre que seu tio Luigi, ambicioso e implacável, está tramando para usurpar o comando da máfia. O golpe se torna ainda mais devastador ao se revelar que o próprio irmão de Mattheo, em quem ele um dia confiou, se uniu a Luigi na conspiração. Sentindo-se traído e encurralado, Mattheo vê seu império ameaçado por aqueles que deveriam ser seus aliados.
Em meio a essa crise familiar, o protagonista decide recorrer a um plano audacioso e arriscado. Sua única alternativa para reconquistar o poder que lhe é de direito reside na realização de um casamento estratégico, que promete selar uma aliança crucial. A ideia é unir forças com a família de um mafioso que, outrora poderoso, havia caído em desgraça e buscava desesperadamente retomar os dias de glória. Contudo, um erro dos desígnios – ou talvez uma jogada do destino – resulta na troca de noivas. Sem saber da manobra, Mattheo acaba se casando com a filha mais velha, e não com a jovem planejada para selar a união que restauraria seu domínio.
Enquanto Mattheo se vê enredado numa trama de traições e conspirações, a vida de Antonella também toma rumos inesperados. Desde a trágica perda de sua mãe, que optou pelo suicídio, Antonella viveu um turbilhão de emoções e desilusões. O luto e o sofrimento moldaram sua existência, até o dia em que o destino lhe impôs uma nova provação: substituir sua irmã no casamento arranjado. Diante do vestido de noiva, símbolo de uma união que jamais escolheu, ela se vê obrigada a aceitar um destino que a aprisiona em um mundo de regras impostas e alianças forçadas.
Para Antonella, o casamento representa, ao mesmo tempo, uma fuga e uma condenação. De um lado, a ideia de abandonar um ambiente sufocante e doloroso desperta nela um sentimento de alívio; de outro, ela não pode ignorar o peso da responsabilidade e o medo do desconhecido. Vestida para unir duas famílias e consolidar uma aliança no submundo do crime, Antonella se encontra dividida entre o desejo de liberdade e a necessidade de se reinventar em meio a circunstâncias que jamais escolhera.
À medida que o dia do casamento se aproxima, as vidas de Mattheo e Antonella começam a se entrelaçar de forma inexorável. O que inicialmente parecia ser apenas um acordo estratégico de conveniência revela-se um campo minado de segredos, traições e sentimentos conflituosos. Mattheo, acostumado a lidar com números e estratégias, encontra na inesperada parceira uma sensibilidade e uma força que despertam nele reflexões sobre sua própria humanidade. Antonella, por sua vez, encara o casamento não apenas como uma imposição, mas também como uma oportunidade – por mais tênue que seja – de se libertar das amarras do passado e reescrever sua história.
O embate entre o desejo de manter o legado e a inevitável transformação pessoal de ambos os protagonistas cria um cenário onde o amor, a vingança e a redenção se mesclam. No ambiente dominado por conspirações e rivalidades, o casamento torna-se o palco de uma batalha interna e externa: enquanto Luigi e o irmão traidor intensificam suas investidas para tomar o controle da máfia, Mattheo precisa lidar com os dilemas éticos e emocionais que a união inesperada lhe impõe. Cada encontro, cada decisão tomada nas sombras, revela a complexidade de um homem que se vê dividido entre a ambição de restaurar o império familiar e o desejo de preservar sua essência.
Da mesma forma, Antonella passa a enxergar, aos poucos, que sua posição de vítima pode se transformar em uma fonte de poder. Forçada a vestir o traje nupcial e a assumir um papel que nunca desejou, ela encontra, em meio ao caos e à incerteza, a chance de construir sua própria identidade. A jovem, inicialmente resignada com o fardo imposto pelo destino, começa a compreender que, mesmo em meio às imposições, há espaço para escolhas e para a redescoberta de si mesma.
Cenário: Escritório de Mattheo
A sala era ampla, sofisticada e clara, um contraste com a escuridão dos negócios que eu comandava. Atrás de mim, uma parede inteira de vidro revelava a cidade, movimentada e caótica. O mundo lá fora não fazia ideia do que acontecia aqui dentro.
Eu estava sentado à mesa, revisando relatórios financeiros, quando a porta se abriu bruscamente. Sem bater.
PIETTRO: — Temos um problema.
Levantei os olhos devagar, sem demonstrar irritação, mas sentindo a raiva borbulhar de leve.
MATTHEO: (calmo, mas letal) — Acha que pode entrar assim na minha sala sem ser convidado?
PIETTRO: (ignora a provocação, fechando a porta atrás de si) — Você vai querer ouvir isso.
Encostei as costas na cadeira, cruzando os dedos sobre a mesa.
MATTHEO: — Então fale.
PIETTRO: — Dois carregamentos nossos foram interceptados essa semana. Um no porto, outro na estrada.
Meus olhos ficaram frios.
MATTHEO: (sério) — Coincidência?
PIETTRO: (negando com a cabeça) — Não. Isso tem dedo de alguém de dentro.
Respirei fundo, olhando além do vidro para a cidade. Se havia um traidor, ele não duraria muito.
MATTHEO: — Quem você suspeita?
Piettro hesitou por um segundo, e eu percebi.
PIETTRO: (baixo, quase relutante) — Matias.
Meu olhar voltou para ele imediatamente.
MATTHEO: (frio, medindo as palavras) — Você tem provas?
PIETTRO: — Não ainda. Mas ele anda estranho. Evitando perguntas, se encontrando com gente errada. Algo tá fora do lugar.
Meus dedos tamborilaram sobre a mesa. Traição dentro da família era o pior tipo.
Antes que eu pudesse responder, meu celular vibrou.
Olhei a tela.
O investigador.
Peguei o aparelho e abri o e-mail que acabara de chegar. Minhas pupilas dilataram conforme eu lia.
PIETTRO: (tentando ver a tela) — O que foi?
Levantei o olhar, um sorriso frio se formando.
MATTHEO: — Parece que o meu tio e Matias têm jogado contra mim há mais tempo do que imaginei.
O celular tocou.
Atendi sem pressa.
MATTHEO: (impassível) — Você tem cinco segundos.
INVESTIGADOR: (provocador) — Então vou ser rápido. Seu tio e Matias estão contra você. Há anos.
Não reagi externamente, mas por dentro, algo em mim gelou.
MATTHEO: (baixo, perigoso) — Provas.
INVESTIGADOR: — No anexo do e-mail. Divirta-se.
A chamada caiu.
Abri o arquivo anexado.
Fotos. Vídeos. Registros de reuniões secretas. Com nossos inimigos.
Piettro se inclinou para olhar e soltou um palavrão baixo.
PIETTRO: (cerrando os punhos) — Desgraçados…
Fechei o celular e encostei na cadeira, olhando a cidade através do vidro. Meus olhos estavam frios, minha mente calculando os próximos passos.
MATTHEO: (murmurando, sombrio) — Traição… eu pago com sangue.
O silêncio na sala pesava como chumbo. Do lado de fora, a cidade seguia seu ritmo frenético, indiferente ao que se passava aqui dentro. Mas dentro de mim, uma tempestade se formava.
Matias. Meu próprio irmão. E meu tio.
A traição deles não era apenas uma ofensa, era uma sentença de morte.
Piettro me observava, esperando meu próximo movimento.
PIETTRO: (tenso, mas controlado) — O que vamos fazer?
Desviei os olhos do vidro e encarei meu braço direito.
MATTHEO: (frio, calculista) — Primeiro, vamos confirmar tudo. Não quero agir sem ter certeza absoluta.
PIETTRO: (assente, mas sua mandíbula está travada) — O investigador já te deu as provas. O que mais você precisa?
Passei a língua pelos dentes, respirando fundo.
MATTHEO: — Preciso que Matias se entregue sozinho.
PIETTRO: (franze o cenho) — Como?
Puxei meu celular e disquei um número. Ele atendeu no segundo toque.
MATIAS: (do outro lado, com a voz despreocupada) — Irmão. Não esperava sua ligação.
A voz dele me irritou instantaneamente.
MATTHEO: (contido, mas firme) — Quero te ver. Agora.
MATIAS: (pausa curta, mas perceptível) — Agora?
MATTHEO: (seco) — Sim. No meu escritório.
Ele hesitou. Eu ouvi quando prendeu a respiração do outro lado da linha. Ele sabia que alguma coisa estava errada.
MATIAS: (tentando parecer casual) — Tudo bem. Estou a caminho.
Desliguei sem responder. Piettro me olhava com um brilho perigoso nos olhos.
PIETTRO: — Você acha que ele vem?
MATTHEO: (sorrindo de lado, mas sem humor) — Ele não tem escolha. Se ele não vier, já é a confirmação que preciso.
Me levantei da cadeira, ajustando os punhos da camisa. A raiva dentro de mim estava fria, cortante.
PIETTRO: (cruzando os braços) — E o seu tio?
MATTHEO: (olhando para ele com firmeza) — Ainda não. Matias primeiro.
Piettro assentiu e se afastou para o canto da sala, posicionando-se estrategicamente.
Minutos depois, a porta se abriu.
Matias entrou com aquele andar confiante de sempre, mas seus olhos escanearam o ambiente rápido demais. Ele estava desconfiado.
Fechei a expressão e me sentei de volta à minha mesa, indicando a cadeira à minha frente.
MATHEO: (calmo, mas com um peso na voz) — Senta.
Ele hesitou por um segundo antes de obedecer.
Piettro ficou encostado na parede, de braços cruzados, como uma sombra esperando para atacar.
O silêncio entre nós se estendeu, mas eu mantive minha expressão impassível. Matias me estudava com cuidado, como se tentasse decifrar o motivo do meu chamado repentino.
MATHEO: (calmo, mas firme) — Você tem estado ocupado ultimamente.
Ele sorriu, mas era um sorriso tenso.
MATIAS: — O trabalho nunca para, né?
Cruzei os braços, mantendo o olhar fixo nele. Cada detalhe da sua linguagem corporal me dizia que ele estava cauteloso. E ele tinha razão para estar.
MATHEO: (arqueando uma sobrancelha) — E sobre os carregamentos? Dois foram interceptados essa semana.
Ele piscou, surpreso, mas rapidamente recuperou a postura.
MATIAS: (franzindo o cenho, fingindo confusão) — Interceptados? Como assim?
Piettro bufou, impaciente, mas eu levantei uma mão, sinalizando para ele esperar.
MATHEO: (olhando diretamente nos olhos dele) — Você não ouviu nada sobre isso?
Ele hesitou um segundo a mais do que deveria antes de responder.
MATIAS: (balançando a cabeça) — Não. Se tivesse ouvido, já teria te avisado.
Ele era um mentiroso convincente. Isso me irritou.
MATHEO: (desviando o olhar por um instante, como se refletisse) — Então preciso que faça algo por mim.
Ele se ajeitou na cadeira, interessado.
MATIAS: (tentando soar casual) — O quê?
Apoiei as mãos na mesa e inclinei levemente o corpo para frente.
MATHEO: (baixo, sério) — Quero que descubra quem está nos sabotando.
Seus olhos piscaram rápido demais, e eu vi a tensão passar pelo seu rosto. Ele não esperava por isso.
MATHEO: (continuando, impassível) — Se alguém está jogando contra a gente, preciso de informações.
Matias umedeceu os lábios, claramente desconfortável.
MATIAS: (tentando parecer seguro) — Claro… eu posso investigar.
Sorri de leve. Ele estava encurralado e nem percebia.
MATHEO: (calmo, mas afiado) — Ótimo. Quero um relatório detalhado. Nomes, horários, qualquer coisa suspeita.
Ele assentiu lentamente, e eu vi o alívio disfarçado em seu rosto.
Ele achava que tinha tempo.
Mas eu só queria ver até onde ele ia antes de cometer o erro fatal.
MATTHIAS: era somente isso?
MATTHEO: sim pode se retirar
O vejo ele se levantar e sair, levanto olhando para o horizonte com a mão no bolso me sentindo traído pelo meu próprio irmão.
PIETTRO: o que irá fazer agora?
MATTHEO: (respiro fundo ainda olhando lá fora onde os carros vem e vão) ainda não sei, mas já estou a bolar um plano
Do outro lado da cidade…
A casa estava finalmente silenciosa.
Antonella esperou mais alguns minutos deitada, certificando-se de que o pai e Morgana realmente haviam saído. Mesmo assim, não relaxou. O corpo ainda estava tenso, como se a qualquer momento pudesse ouvir os passos pesados do pai voltando pelo corredor.
Mas ele não voltaria tão cedo.
Com cuidado, sentou-se na cama e respirou fundo. O estômago roncou em protesto, lembrando-a de que não comia desde cedo. Seus músculos estavam fracos, o corpo leve demais, como se a qualquer momento fosse desmaiar.
Ela se levantou devagar, apoiando-se na parede para não cambalear.
Abriu a porta com cuidado e espiou pelo corredor. As luzes da sala ainda estavam acesas, e o barulho de notificações de celular indicava que Nora ainda estava acordada.
Antonella sentiu um gosto amargo na boca.
Sempre preferia que ninguém estivesse por perto quando ia comer. Mas não tinha escolha.
Respirou fundo e caminhou até a cozinha.
A mesa ainda tinha os restos do jantar, os pratos sujos largados como se alguém esperasse que ela fosse limpá-los mais tarde. O cheiro da comida era quase cruel, tão próximo, mas sempre fora de seu alcance quando os outros estavam por perto.
Ela pegou um prato e abriu a panela no fogão. Ainda havia um pouco de comida.
Serviu-se rapidamente e se sentou na ponta da mesa.
Começou a comer em silêncio, tentando ser o mais discreta possível. Mas não demorou muito para ouvir a voz irritante de Nora.
NORA: (desdenhosa, sem tirar os olhos do celular) — Você parece um rato esperando o lixo ficar livre pra atacar.
Antonella sentiu o garfo tremer em sua mão, mas não respondeu.
Nora bufou, claramente irritada com a falta de reação.
NORA: (arqueando uma sobrancelha) — Não vai dizer nada?
Antonella continuou mastigando, sem levantar o olhar.
NORA: (revirando os olhos) — Tanto faz.
O silêncio voltou, mas o desconforto ficou.
Antonella terminou de comer o mais rápido que pôde, lavou o prato sem fazer barulho e voltou para o quarto, sem olhar para a meia-irmã.
Não importava o que Nora dissesse ou fizesse.
Ela já estava acostumada a ser invisível naquela casa.
O puxão brusco em seu braço foi a primeira coisa que Antonella sentiu.
Seus olhos se abriram em um sobressalto, o coração disparando no peito antes mesmo de sua mente entender o que estava acontecendo. A escuridão do quarto foi rapidamente tomada pela silhueta rígida e intimidadora de seu pai, parado ao lado da cama, os dedos apertando seu braço com força.
PAI: (duro, com voz grave) — Quem te deu permissão para comer?
O medo subiu pela espinha de Antonella como um choque.
Seus lábios estavam secos, e o gosto amargo do medo se misturava com a lembrança do jantar que, até poucos minutos atrás, parecia algo insignificante.
Então, ela entendeu.
Nora.
Claro que fora Nora.
A garota devia ter esperado até que o pai voltasse para abrir a boca, se deliciando com a ideia de ver Antonella pagar pelo “erro” de se alimentar.
Antonella tentou puxar o braço, mas a força do pai era esmagadora.
ANTONELLA: (baixo, tentando manter a calma) — Eu… eu só comi o que sobrou.
A resposta não ajudou.
O pai apertou ainda mais o braço dela, fazendo-a soltar um pequeno gemido de dor.
PAI: (sussurrando, ameaçador) — A comida dessa casa não é para você pegar quando bem entender.
Antonella sentiu a respiração acelerar, a impotência queimando dentro dela.
Não adiantava argumentar. Nunca adiantava.
Ele finalmente soltou seu braço com um empurrão que a fez cair de lado na cama.
PAI: (frio, distante) — Da próxima vez, passe fome.
Sem mais nada a dizer, ele saiu do quarto, fechando a porta com força atrás de si.
Antonella permaneceu ali, deitada, os olhos fixos no teto.
O peito subia e descia rapidamente, o coração batendo descontrolado.
No outro lado da casa, ela ouviu Nora rir baixinho.
A humilhação queimou sua pele como fogo.
Ela cerrou os punhos, sentindo a raiva se misturar com o cansaço.
Era sempre assim.
Mas um dia…
Um dia, ela sairia daquela casa.
E quando isso acontecesse, nunca mais olharia para trás.
Sentada na sua cama, Antonella se pega lembrando de sua mãe olhando sua foto o pensamento a corroía há anos, mas Antonella nunca ousara dizê-lo em voz alta.
Sua mãe não tinha se suicidado.
Ela sabia disso.
Desde criança, ouvira sussurros, comentários cortados no meio, olhares de pena que ninguém queria lhe explicar. E, no fundo, sempre soube que seu pai estava envolvido.
Ele sempre fora agressivo. Violento. Não importava se era ela ou sua mãe que estava em sua frente—ele não precisava de um motivo para machucar.
A diferença era que sua mãe ainda tentava protegê-la.
E agora, ela não estava mais ali.
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