“Às vezes, penso que a vida é só um jogo cruel de repetições... Um ciclo miserável, onde você dá, dá, dá — e no final, tudo que sobra é um cansaço suado grudando na pele. Um salário maldito, um cheiro de café barato preso na roupa, e três crianças que nem sabem dizer ‘obrigado’. Mas talvez seja esse o preço de ser homem... ou pelo menos o tipo de homem que eu sou. Um tolo que ninguém quis, mas que todo mundo deixou algo pra trás.”
Seong Ha Joon-sik subiu os degraus gastos do prédio, o som abafado dos próprios sapatos ecoando contra as paredes manchadas de umidade. Era uma daquelas noites lentas e pesadas em Seul — o céu encoberto, a cidade abafada, o vento cortando o rosto como uma promessa de inverno. O cheiro de fritura velha escapava das janelas de outros apartamentos, misturado com o som de alguma novela que escapava pelos corredores. A luz amarelada do corredor piscava em intervalos preguiçosos, lançando sombras trêmulas no rosto de Joon-sik — aquele rosto pálido, com olheiras cavadas, o queixo duro, e o olhar... ah, o olhar. Cansado, fundo, quase resignado, mas ainda assim, havia um brilho ali. Um brilho teimoso, como se dissesse: "Eu vou continuar."
Ele carregava uma sacola de supermercado — arroz, ovos, leite — tudo o que podia comprar com um salário esmagado entre contas e fraldas. A cada passo, um pensamento atravessava sua cabeça como um prego velho sendo martelado:
"Primeira mulher... aquela ômega do curso... toda sonhadora, cheia de poesia e fumaça nos olhos... me deixou o Hyun-woo como lembrança."
Um riso curto, seco, escapou de sua boca. Não era bem um riso. Era mais uma ironia ácida, uma mordida amarga no canto da alma.
"A segunda? Ah... a colega de trabalho. Parecia madura, organizada, até... E aí? Foi embora também, com Ji-hun no colo, deixando só a certidão de nascimento e um bilhete me desejando sorte. Sorte... que piada."
Ele parou por um segundo no corredor, respirando fundo, o peso das sacolas esticando os músculos do antebraço. As veias saltavam, os dedos marcados de calos. Havia um cheiro leve de suor e café na camisa amarrotada — aquele cheiro que grudava, que era quase parte dele.
"A terceira... uma mulher qualquer de um site de encontros... bonitona, riso fácil, cheiro de perfume barato... E quando engravidou? Sumiu como todas as outras, como se os meninos fossem só notas de rodapé nas histórias delas."
Ele balançou a cabeça, fechou os olhos por um instante, como se pudesse apagar o peso do mundo. Mas não podia. Nunca pôde.
Chegou à porta. A chave girou, o trinco fez aquele estalo familiar — aquele som tão doméstico, tão banal, mas que sempre trazia junto uma pontada de ansiedade. Do outro lado da porta, o barulho abafado de risadas pequenas, passos correndo desordenados... e um choro leve. Ji-yoon. Sempre ele, com aquele choro controlado, como se protestasse contra o universo inteiro por ousar incomodá-lo.
Joon-sik abriu a porta. E lá estava — a cena de todos os dias, mas que ainda assim tinha um quê de tragédia silenciosa:
Hyun-woo, com dois anos, correu até ele como um míssil desengonçado, braços abertos, as mãozinhas possessivas prontas para agarrar o pai pelo colarinho. Os olhos âmbar brilharam, e a boca pequena gritou um “appa!” abafado, carregado de urgência, como se fosse uma exigência, não um chamado.
Ji-hun, o do meio, estava sentado no chão, segurando um carrinho velho como se fosse o prêmio de uma guerra, olhando o pai com aqueles olhos estreitos e desconfiados, o cenho franzido — quase avaliando se o homem merecia o retorno do trono naquela noite.
A babá, uma adolescente magrela de camiseta desbotada, estava no sofá com Ji-yoon no colo. Ele se contorcia, insatisfeito, o rosto contraído em uma careta de puro desprezo, como se dissesse: “Esse colo não serve. Me devolvam para o colo certo. Eu exijo.”
E ali, naquele cubículo apertado — onde a luz tremia, onde as paredes pareciam sufocar — Joon-sik soltou o ar, pesado. Largou as sacolas na bancada, sentindo o cheiro de leite azedo no ar, o som abafado de um desenho na TV, o calor grudento da sala minúscula.
Hyun-woo agarrou sua perna como se fosse uma corda salva-vidas. Ji-hun olhou de lado, e Ji-yoon finalmente abriu os olhos — aquela íris cinza, quase insolente, brilhando à luz fraca — e soltou um resmungo, como um sussurro de desprezo.
Era o som de casa. Era o som da prisão. Era o som da vida.
Joon-sik passou a mão nos cabelos, bagunçando ainda mais as mechas escuras, e pensou — mais uma vez, como todos os dias:
"Eu sou o homem que ninguém quis, mas que todo mundo deixou alguma coisa para trás. E essa... essa é a minha herança."
Ele suspirou. Pegou Ji-yoon nos braços, sentindo o corpinho rígido relaxar, quase como se o bebê cedesse por um momento. O cheiro adocicado e quente do filho se misturou ao aroma frio do escritório, do suor, do café velho.
E foi assim que a noite começou: com uma tragédia sutil, uma família costurada de abandono e necessidade. Uma rotina feita de cansaço, amor silencioso e um cheiro agridoce de vida queimada.
Joon-sik fechou os olhos por um segundo, sentindo o peso dos três filhos, dos três amores que partiram... e a certeza sufocante de que ninguém viria resgatá-los.
E ainda assim... ele ficava.
Porque no fim, ele sempre ficava.
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Ficha de Personagem — O Pai Alfa
Nome: Ha Joon-sik (하준식)
Sobrenome: Seong (성) — Um sobrenome forte, raro, que carrega o peso de gerações passadas e impõe respeito.
Idade (no ano 2000): 23 anos
Filho mais velho: 2 anos
Filho do meio: 1 ano
Recém-nascido: recém-chegado
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Aparência e Características Físicas:
Altura: 1,88m
Peso: 81kg
Porte Físico: Definido, de ombros largos e postura reta, mas não exagerado — a presença dele é marcante pela elegância e não pelo tamanho bruto.
Estrutura Física: Corpo longilíneo, musculatura discreta, mas evidente sob a camisa social aberta até o peito. Pescoço forte, clavículas marcadas, mãos grandes com dedos longos, veias aparentes nos antebraços.
Cabelos: Pretos como tinta fresca, grossos e ligeiramente bagunçados, com mechas caindo displicentemente sobre a testa.
Olhos: Castanho-escuros quase pretos, intensos, fundos, com um brilho frio e pensativo, que suaviza quando olha para os filhos.
Pele: Pálida, suave, com um leve tom frio, quase porcelana.
Marcas: Algumas cicatrizes discretas nos dedos e nas palmas das mãos — marcas de luta pela vida, não de batalha física.
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Personalidade:
Presença Alfa: Um magnetismo sutil, não opressor, mas inescapável. Seu cheiro tem algo que conforta e atrai — um feromônio quente, discreto, mas que insinua domínio sem precisar provar.
Caráter: Gentil, porém firme. Um homem que cresceu rápido demais, forçado pela vida. Tenta ser justo, mas carrega uma aura de melancolia, como se soubesse que, no fim, ele mesmo não vai conseguir tudo que quer.
Como Pai: Ama os filhos com um amor silencioso e devotado. Não sabe demonstrar afeto o tempo todo, mas faz o melhor que pode — trabalha duro, volta para casa tarde, cozinha o jantar simples com uma mão cansada, passa os dedos no cabelo dos filhos quando eles dormem no sofá. Um homem que carrega o peso de três vidas sem se permitir quebrar.
Feromônios: Não são dominantes, mas viciantes. Um cheiro de café amargo, couro e tabaco doce, algo que fica no ar e provoca uma necessidade silenciosa de estar perto dele.
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Background Rápido:
Começou a trabalhar cedo, mal se formou no ensino médio, conseguiu um curso técnico básico e uma vaga em um escritório de contabilidade.
Vive em um kitnet humilde em Seul, dividido entre o pequeno quarto onde dormem os quatro (ele e os três filhos) e a sala/cozinha integrada.
Tem três ex-parceiras que o abandonaram em momentos diferentes, deixando os filhos para ele — não por maldade, mas por se sentirem sobrecarregadas pela realidade da vida com um homem tão jovem e três crianças.
O mundo pode ser cruel, mas ele se recusa a endurecer completamente.
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Ficha de Personagem — Filho Alfa Mais Velho
Nome: Seong Hyun-woo (성현우)
Idade no início da história (ano 2000): 2 anos
Sobrenome: Seong
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Aparência e Estrutura Física (bebê de 2 anos):
Cabelos: Castanho-escuros, volumosos e bagunçados, com fios grossos que já caem desordenados sobre a testa e as orelhas. Aquele cabelo que parece rebelde desde o berço, que ninguém consegue domar.
Olhos: Um tom âmbar escuro, puxando para o mel profundo, brilhando com intensidade mesmo na pouca luz. Olhos expressivos, grandes para a idade, sempre atentos a tudo ao redor, como se medindo o mundo.
Pele: Um tom claro, levemente quente, que contrasta com os fios escuros — uma pele macia, mas já com um toque de vivacidade, corado nas bochechas, como se carregasse fogo por dentro.
Estrutura física: Para um bebê de dois anos, é surpreendentemente robusto. Pernas firmes, mãos grandes para a idade (com aqueles dedinhos possessivos que se agarram ao que quer), pescoço um pouco longo e fino, com veios visíveis quando chora ou se esforça.
Altura e peso aproximados: Altura acima da média para a idade (em torno de 90 cm), pesando cerca de 13-14 kg — forte, mas sem perder a leveza de um bebê.
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Personalidade (aos 2 anos):
Possessividade precoce: Hyun-woo não entende bem o mundo, mas já sabe o que é dele. O brinquedo favorito? Dele. O copo colorido? Dele. O colo do pai? Dele. Os irmãos? Também dele.
Rotinas fixas: Se algo sai do lugar ou acontece diferente do que ele quer, Hyun-woo fica inquieto, irritado, até birrento. Quer que o pai sempre sente no mesmo lugar para comer, que o ursinho de pelúcia fique na cama certo, e que os irmãos sigam as "regras invisíveis" que ele cria no pequeno universo.
Ciúmes disfarçado de cuidado: Hyun-woo adora os irmãos, mas sempre quer ser o primeiro a pegar o brinquedo, o primeiro a ganhar colo, o primeiro a ser beijado pelo pai. Às vezes, até aperta ou empurra sem intenção de machucar, mas com aquela vontade inocente de marcar território.
Expressão forte: Mesmo sem falar direito, usa muitos sons, gestos e até olhares para comunicar seu desagrado — sobrancelha franzida, olhar de lado, boca apertada. Quando algo o agrada, sorri de forma genuína, mas ainda assim… parece desafiador.
Senso de liderança natural: Em brincadeiras, quer decidir as regras. Se vê os irmãos fazendo algo "errado", corre até eles, grita um "não!" e tenta arrumar.
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Detalhes Únicos:
Já escolheu um objeto de apego: um pequeno chaveiro de couro simples que pegou do pai — ninguém pode tocar sem que ele chore ou grite.
Tem uma marca de nascença discreta no lado esquerdo do pescoço, como uma pintinha alongada, que o pai acha charmosa.
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Ficha de Personagem — Irmão do Meio (1 ano)
Nome: Seong Ji-hun (성지훈)
Idade no início da história (ano 2000): 1 ano
Sobrenome: Seong
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Aparência e Estrutura Física (bebê de 1 ano)
Cabelos: Pretos como a noite, sedosos, finos e levemente ondulados nas pontas. Mesmo sendo um bebê, já há um volume sutil que cai desordenado sobre a testa, dando uma aparência quase rebelde.
Olhos: Olhos castanho-escuros intensos, quase fechados, com um olhar naturalmente provocante e desconfiado. Já no berço, Ji-hun observa o mundo com um brilho que oscila entre desafio e curiosidade silenciosa.
Pele: Alva, de tom pálido-aveludado, mas com um leve rubor nas bochechas quando está animado. Um contraste forte com o cabelo e os olhos escuros, quase como uma pintura barroca viva.
Estrutura física: É um bebê magro, mas com os músculos já desenhando um formato firme — o peito parece largo para a idade, e os ombros dão a impressão de que ele está sempre pronto para avançar. Tem dedos longos, expressivos, que agarram o que quiserem com uma força surpreendente.
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Personalidade (aos 1 ano)
Senso de Domínio Inato: Mesmo tão pequeno, Ji-hun parece ter no olhar a promessa de que ele pertence ao centro do universo. Chora menos que o irmão mais velho, mas quando o faz, é com firmeza: o grito seco, direto, como uma ordem para o mundo se ajustar a ele.
Postura de Rei: É aquele bebê que não precisa fazer muito para ser notado. Quando os irmãos estão brincando, ele observa, espera o momento certo e se apropria do brinquedo sem cerimônia, com um gesto firme e quase silencioso.
Cuidado calculado: Não gosta de ser tocado demais, a menos que ele queira. Se o colo não for confortável o suficiente, Ji-hun dá um leve empurrão ou faz uma careta de desprezo — uma elegância precoce que parece herança do pai.
Expressões: Quando está satisfeito, dá um leve sorriso de canto, quase como se dissesse: "É assim que deve ser." Quando frustrado, apenas olha com tédio, como se o mundo estivesse falhando com ele.
Ligação com o mais velho: Embora ainda não entenda completamente, Ji-hun parece desafiar silenciosamente a liderança do irmão de dois anos. Eles brigam pelos mesmos brinquedos, mas Ji-hun não recua. Ele encara, mesmo sem falar, como se dissesse: "Eu também posso."
Preferências: Adora objetos pequenos e brilhantes (como botões, moedas, anéis), que segura firme e não larga por nada.
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Detalhes Únicos:
Cheiro: Tem um cheiro doce suave, como leite morno com baunilha, mas com um fundo misterioso que deixa no ar algo intenso, como se fosse um segredo esperando para ser descoberto.
Sons preferidos: Se acalma com vozes baixas e firmes; detesta gritos ou sons agudos.
Mania: Tem o hábito de segurar a gola das roupas do pai, como se marcasse posse sobre aquele colo.
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Ficha de Personagem — O Caçula Alfa (Recém-Nascido)
Nome: Seong Ji-yoon (성지윤)
Idade no início da história (ano 2000): Recém-nascido
Sobrenome: Seong
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Aparência e Estrutura Física (Recém-Nascido)
Cabelos: Um preto azulado extremamente escuro, com um brilho frio sob a luz, macios e finos, mas em quantidade surpreendente para um recém-nascido — uma cabeleira volumosa e um tanto desarrumada, como se ele já estivesse exausto de tudo ao redor.
Olhos: Abertos apenas em momentos raros, mas quando entreabertos, revelam íris cinza-escuro-ardósia, profundos e quase indiferentes — um olhar preguiçoso que parece dizer: “Ah, você de novo...”. Eles são opacos, mas carregam uma intensidade silenciosa, como quem observa tudo sem pressa.
Pele: Extremamente clara e pálida, como porcelana fina — um tom quase leitoso, com um brilho sutil de saúde, mas que facilmente marca vermelhidões quando algo o incomoda (um lençol áspero, uma fralda fora do lugar).
Estrutura física: Para um recém-nascido, ele é magro e esguio, com membros longos e dedos incrivelmente finos e delicados, como os de um maestro. Seus traços já são bem definidos, com um queixo delicadamente desenhado e bochechas suaves, mas não arredondadas como o típico bebê. A postura, mesmo ainda mole, transmite uma elegância quase desdenhosa — ele se dobra no colo, mas sem esforço para buscar proximidade.
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Personalidade (pré-verbal, instinto)
Exigente: Ele não chora sem motivo, mas quando chora, é porque algo está fora do seu padrão de conforto. Um leve ranger de lençol, uma temperatura levemente fria, ou um leite mal aquecido — ele sente tudo e faz questão de demonstrar desagrado com caretas e um choro baixo, porém cortante.
Gosta do Luxo: Desde o primeiro dia, Ji-yoon parece pertencer ao mundo do conforto. Ele gosta de tecidos macios, de braços que o embalam de forma suave, sem movimentos bruscos, e de ser alimentado no ângulo certo. Ele aceita carinho, mas não em excesso: demonstra irritação se for manipulado demais.
Indiferença Social: Não é um bebê que procura o olhar do pai ou dos irmãos para se sentir seguro. Ele prefere observar de longe, como um pequeno soberano entediado.
Relação com os Irmãos: Apesar da pouca consciência, não se incomoda com os irmãos cuidando dele. Quando o mais velho e o do meio o embalam ou o tocam, ele apenas tolera, desde que o gesto seja lento e respeitoso. É o tipo de bebê que aceita o carinho como um tributo devido, mas que detesta ser incomodado por necessidade emocional.
Sono: Dorme bastante, mas é um sono estrategicamente seletivo. Ele dorme se o ambiente está perfeito — sem ruídos fortes, com temperatura agradável, fralda limpa e leite na medida certa. Ele rejeita qualquer tentativa de ser embalado se não estiver exatamente do jeito que ele quer.
Aura: É o tipo de bebê que exala uma sensação de:
“Eu estou aqui. Você está ao meu redor. Não me perturbe, mas não se afaste — porque eu preciso do seu serviço.”
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Detalhes Únicos:
Cheiro: Um perfume levemente adocicado, que lembra um toque de creme suave misturado com leite quente e um fundo de papel macio — um aroma que instintivamente atrai cuidado, mas também impõe distância.
Mania: Mexe a ponta dos dedos como se testasse texturas; franze o nariz se algo não agrada.
Ritual: Aceita carinho no peito ou nos braços, mas se tentar beijá-lo no rosto, ele se encolhe levemente, como um gesto de: “Por favor, não, seja mais respeitoso.”
O dia já caía devagar, tingindo as janelas do pequeno condomínio com um dourado tímido e morno, como se até o sol estivesse cansado. A babá esperava à porta do kitnet 204, ajeitando a mochila gasta nos ombros, com os dedos nervosos enrolando uma das alças. Ela era uma menina de voz suave e olhos que brilhavam de gentileza, mesmo quando estavam cansados. O nome dela era Baek So-hee.
So-hee tinha 17 anos e trabalhava desde os 14. A mãe, costureira em tempo integral, vivia entre as linhas tortas do tecido e a esperança de que a filha não precisasse seguir o mesmo destino. Mas a vida não dava trégua — e So-hee, com sua doçura trabalhadora e seus sorrisos educados, fazia questão de ajudar.
— Aqui — disse Joon-sik, estendendo o envelope fino, cuidadosamente contado. As mãos dele — grandes, marcadas pelas pequenas cicatrizes do trabalho e da vida — envolviam o envelope com a firmeza de quem sabia o peso de cada won entregue. — Você cuidou bem deles. Como sempre.
So-hee sorriu, abaixando a cabeça num agradecimento tímido, respeitoso, como sempre fazia.
— Obrigada, oppa. Eles estavam bem... Hyun-woo só ficou bravo porque o ursinho dele caiu da cama na hora do cochilo.
Joon-sik soltou um suspiro que era quase um riso.
— Claro. A revolução do Hyun-woo por causa do ursinho. Já tô acostumado. Anda, vai logo. Já tá tarde.
Ela hesitou, como se quisesse dizer algo. Mas não disse. Apenas fez uma reverência curta e desapareceu pela escada. O som dos passos descendo se apagou aos poucos, e a porta se fechou com um clique macio atrás dele.
Silêncio. Por um segundo.
Depois — o caos doce do seu mundo.
Hyun-woo gritou da sala. Ji-hun deu um empurrão no cercadinho. Ji-yoon soltou um som abafado de desagrado no berço.
Joon-sik respirou fundo, tirando a camisa social já amassada e jogando-a sobre a cadeira. Ficou com a camiseta de algodão por baixo. O pai-alfa estava de volta à caverna — e seus lobinhos exigiam presença.
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A casa já estava pré-arrumada por So-hee, mas ele ainda passou os olhos sobre cada canto. Os brinquedos estavam nos cestos, mas alguns já haviam escapado. As roupas sujas, escondidas atrás da porta. O prato de plástico de Ji-hun ainda na pia, o bico do mamilo do bebê na borda da pia — coisa simples, mas cada detalhe importava.
— Ok... missão começar — murmurou.
A rotina começava com o jantar. Água no fogo, legumes cortados no vapor. Ele sabia fazer as papinhas com um cuidado de chef premiado — cenoura amassada com batata-doce, um fiozinho de azeite. Ji-yoon mamaria leite morno, na temperatura exata. Nem um grau a mais.
Enquanto os vegetais ferviam, foi até o tatame da sala. Hyun-woo estava deitado com o chaveirinho de couro colado ao peito como um troféu. Quando viu o pai, levantou-se com aquela urgência possessiva e correu direto para o colo.
— Appaaaaa...
— Eu tô aqui, Hyun-woo. Calma, calma.
Ji-hun observava, sério, do canto do cercado. Quando viu o irmão no colo, fez uma expressão levemente ofendida e abriu os bracinhos, exigindo tratamento igual. Joon-sik riu — um som curto, quase melancólico.
— Vocês são o meu exército. Não sei se de generais ou tiranos.
Pegou Ji-hun também, equilibrando os dois nas pernas. Com um movimento quase treinado, apoiou os meninos nos quadris, os braços formando uma ponte firme. Foi até Ji-yoon, que emitia sons impacientes no berço. Os olhos cinzentos, semicerrados, pareciam julgá-lo com um tédio aristocrático.
— Vossa excelência acordou.
Com cuidado, pegou o bebê, segurando-o contra o peito. A cabeça de Ji-yoon repousou em seu ombro, mas com um leve franzir de nariz — o cheiro estava bom, o calor era aceitável, então ele permitiu o colo.
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O jantar foi um balé.
Sentado no chão da sala com as pernas cruzadas, Joon-sik segurava a colher numa mão, o copinho de suco com a outra, e ainda fazia carinho na cabeça de Ji-yoon com o queixo, enquanto o bebê mamava. Hyun-woo insistia em “ajudar” o irmão do meio a comer, e Ji-hun reagia com expressões entre o desprezo e a resignação.
— Não, Hyun-woo. Ele come sozinho. Você já teve a colher. Agora é a vez dele.
— Mmm... minhaaaaa — o mais velho resmungava, apontando para a colher.
— Não é tua. É do Ji-hun. Tu já comeu, grandão.
Hyun-woo cruzou os braços e fez o bico. Mas aceitou, desde que o pai passasse a mão em sua cabeça e dissesse:
— Você é o mais velho. O hyung. Forte, né?
O menino sorriu. Vitória restaurada.
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Mais tarde, com a casa limpa, a louça lavada e os brinquedos de volta aos cestos, todos foram para o sofá.
A televisão passava algo qualquer, mas o volume estava baixo. Era mais a luz tremeluzente do que o som que fazia companhia. Hyun-woo deitou com a cabeça no colo do pai. Ji-hun enfiou-se entre os braços e a barriga dele. Ji-yoon dormia sobre o peito nu, respirando com aquele som leve de nariz delicado — como se ele estivesse mais tolerando o aconchego do que realmente desfrutando.
Joon-sik olhava o teto, os olhos semiabertos. As mãos continuavam fazendo carinho automático nos filhos, como se não soubessem parar. Estavam ali todos os seus amores. E também todas as suas exaustões.
Depois de um tempo, se levantou devagar, como quem move uma peça rara de porcelana. Levou os meninos para o quarto. Ji-hun foi o primeiro a cair, rendido ao cansaço. Hyun-woo resistiu, mas dormiu segurando o chaveiro e a manga da camisa do pai. Ji-yoon, com olhos entreabertos, aceitou o berço como um trono, mas só depois que o lençol foi ajeitado três vezes e o pai encostou o rosto contra seu cabelo e sussurrou algo em voz baixa. Ninguém entendeu. Mas o bebê pareceu aprovar.
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Quando o silêncio se estabeleceu, Joon-sik enfim entrou no banheiro. A água quente caiu sobre os ombros, levando embora a fadiga do dia. Ele não pensava muito. Só sentia. O vapor subia, a pele relaxava, o coração desacelerava. No espelho embaçado, o reflexo era de um homem jovem, cansado, mas com um olhar sereno. Quase satisfeito.
Saiu com a toalha na cintura. Passou pelo quarto. Três corpos pequenos, três respirações únicas, preenchendo o ar com vida.
Deitou-se no chão ao lado deles, sem travesseiro, apenas uma coberta leve por cima.
O último pensamento antes de dormir:
Eles estão bem.
E isso era tudo o que importava.
🧔♂️ Ficha de Personagem — O Pai Alfa (Atualizada, 2006)
Nome: Ha Joon-sik (하준식)
Sobrenome: Seong (성)
Idade: 28 anos
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Aparência e Características Físicas:
Altura: 1,88m
Peso: 80kg
Estrutura: Agora mais magro, com músculos alongados e ossatura um pouco mais exposta. O tempo não o quebrou, mas o afinou — como uma lâmina afiada pela sobrevivência.
Rugas discretas surgiram no canto dos olhos, não pela idade, mas pelas noites mal dormidas e preocupações constantes.
O cabelo continua negro e grosso, mas carrega fios rebeldes grisalhos nas têmporas, como cicatrizes do tempo.
As mãos seguem grandes, firmes, mas com calos endurecidos por anos de serviço silencioso.
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Personalidade:
Mais calado, mais denso. A paternidade contínua o moldou em um homem que já não sonha muito, mas ainda sente intensamente.
O olhar é o mesmo: escuro, silencioso, mas agora com um peso que denuncia que ele viu demais — e chorou em silêncio, escondido.
Ama os filhos com a mesma devoção, mas agora se pega distante às vezes… com medo de falhar. Com medo de que os irmãos cresçam tortos — e ele nem veja.
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Cheiro:
Mais seco agora: café amanhecido, roupa lavada secando ao vento e um toque de suor limpo. Ainda há algo de reconfortante, mas menos doce, mais real. Mais "pai que sobrevive".
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👦 Ficha de Personagem — Seong Hyun-woo (현우), 7 anos
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Aparência:
Altura: Acima da média (cerca de 1,35m).
Corpo: Magro, ossudo, mas com músculos em formação — corre o dia inteiro, vive com os joelhos ralados e as palmas das mãos marcadas.
Cabelos castanho-escuros continuam volumosos, agora um pouco mais longos, sempre bagunçados, como se recusassem disciplina.
Olhos âmbar, mais escuros, com brilho febril. Um olhar que fere — já não é só curioso, é exigente, intenso, carente.
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Personalidade:
Hyun-woo cresceu rápido, mas não como queria. Ele quer cuidar dos irmãos, mas se sente roubado — do colo do pai, da infância, da paz.
Tem ciúmes de tudo: do silêncio do pai com Ji-yoon, da calma de Ji-hun, da atenção da babá.
É líder, mas agora grita. Antes, mandava com um gesto. Agora, com voz — mais áspera do que deveria.
Chora escondido. Nunca na frente dos irmãos. Só no banheiro, ou debaixo do cobertor.
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Detalhes:
Ainda guarda o chaveiro do pai como relíquia.
Não gosta que o toquem sem aviso. Mas precisa de toque — muito.
Seu maior medo? Ser esquecido.
Tem uma "mania nova": quando nervoso, rói o lábio inferior até sangrar.
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🧒 Ficha de Personagem — Seong Ji-hun (지훈), 6 anos
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Aparência:
Altura: Mediana para a idade, mas com uma presença difícil de ignorar.
Corpo: Compacto, ombros retos, pescoço longo, mãos firmes.
Cabelos pretos continuam brilhantes, com uma leve ondulação rebelde.
Olhos semicerrados, castanho-escuros, com um brilho silencioso e cortante. Parece um jovem príncipe em miniatura.
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Personalidade:
Ji-hun se tornou o mais enigmático. Observa tudo, fala pouco. Quando fala, é certeiro.
Desafia Hyun-woo com calma. Nunca grita. Só olha — e isso basta.
Faz questão de manter distância emocional quando quer dominar uma situação.
É extremamente protetor de Ji-yoon, mas também sente inveja do silêncio que o caçula usa como escudo.
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Detalhes:
Continua preferindo coisas pequenas: moedas, tampinhas, peças de lego.
Desenvolveu gosto por desenhar sozinho. Seus desenhos são quase sempre figuras cercadas por muros ou sombras.
Costuma dormir com a mão fechada, escondendo algo — como se guardasse um segredo.
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👶 Ficha de Personagem — Seong Ji-yoon (지윤), 5 anos
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Aparência:
Altura: Um pouco mais baixo que o esperado, mas proporcional.
Corpo: Magro, esguio, quase etéreo — parece mais leve que o ar.
Cabelos negros com brilho azulado continuam densos, sempre penteados com perfeição… mas não por ele.
Olhos cinza-ardósia continuam opacos, frios, quase assustadores. Um olhar que não pertence a um menino de cinco anos.
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Personalidade:
Ji-yoon é o mais silencioso dos três, mas o mais perigoso em potencial.
Ele não pede — exige com o olhar. Não grita — apenas vira o rosto e o mundo obedece.
Sabe o poder que tem no pai, na babá, nos irmãos. E o usa, com elegância assustadora.
Tem um jeito doce, mas é o tipo de doçura que seduz e desconcerta.
Nunca se suja. Nunca se descabela. Quando os outros dois brigam, ele observa — e escolhe de que lado vai ficar… ou se vai fingir neutralidade enquanto manipula tudo.
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Detalhes:
Continua detestando beijos no rosto. Agora fala: “Não toque aqui.”
Gosta de ficar perto da janela. Pode passar horas em silêncio olhando o céu.
Tem o hábito de fazer perguntas “perigosas”, do tipo:
— Papai… se o Hyun-woo sumisse, você ia chorar muito?
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🌧️ Comentário Final (Capítulo 3 - Transição):
Cinco anos. Três meninos. Um pai que nunca teve tempo para ver que o amor também exige atenção.
E o que era uma irmandade pura…
…começa a se tornar um campo de disputas silenciosas.
Mas isso... você só vai descobrir no Capítulo 4.
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