Satoru, um jovem de 20 anos, trabalhava meio período em uma lanchonete, sustentando-se com dificuldade. O mundo parecia injusto para ele. Enquanto caminhava pelas ruas iluminadas pelos letreiros da cidade, viu jovens da sua idade passando em carros luxuosos e motos de alta cilindrada.
— A igualdade é uma mentira — murmurou, frustrado. — Trabalho a noite inteira e mal consigo pagar o aluguel.
Para aliviar o estresse, pegou o celular e decidiu ler algo novo. Uma história inédita havia sido publicada: "A Queda dos Humanos". Intrigado, começou a ler enquanto andava pela rua.
— Esse vilão não merecia isso… somos parecidos — refletiu, imerso na narrativa. — Ninguém entende o passado do vilão.
De repente, uma notificação apareceu na tela:
"Obrigado, leitor, por ler o primeiro volume. Esse é um futuro distante. Acha que consegue mudar o destino?"
Satoru riu, descrente.
— Destino de novo? Que palavra idiota. Não quero saber.
Mas antes que pudesse ignorar, outra mensagem surgiu:
"Entendo. Você não tem destino… então vou lhe dar um."
— O quê?! — exclamou.
A tela do celular brilhou intensamente e, num piscar de olhos, Satoru sentiu seu corpo sendo puxado por uma força invisível. Um clarão ofuscante tomou conta de sua visão, seguido por um torpor que fez sua consciência se esvair.
Quando abriu os olhos, uma dor latejante tomou conta de sua cabeça. O ambiente ao redor era estranho e rústico. Um pequeno quarto de pedra, uma cama de madeira e um espelho de prata sobre uma cômoda desgastada.
Satoru se aproximou do espelho e arregalou os olhos ao ver seu reflexo.
— O quê...? Eu sou... o vilão sem nome?!
Lembranças da história que acabara de ler invadiram sua mente. Ele agora era Ananias, um jovem nobre fadado a ser usado como bucha de canhão na rebelião dos humanos contra o Reino Demoníaco. Seu destino? Ser controlado por hipnose e massacrar sua própria espécie antes de morrer como um vilão desprezível.
— Mas isso não vai acontecer — murmurou, cerrando os punhos.
Antes que pudesse pensar em um plano, uma voz o chamou do lado de fora.
— Ananias, meu filho! Preciso de você!
Satoru, agora Ananias, respirou fundo e caminhou até a porta. Ao abri-la, viu um homem gordinho de meia-idade sentado em um escritório simples. Era Lorde Matias, dono de uma pequena vila. Na sua frente, um homem de vestes nobres lançava um olhar arrogante.
— O Lorde Natan quer comprar nossa vila por cinquenta moedas de ouro — disse Matias. — O que você acha?
Satoru analisou a situação e sentiu um desprezo imediato pelo visitante.
— Pai, isso foi uma piada?
Matias arregalou os olhos.
— Filho, nossa terra não consegue se manter. Passar para um lorde mais forte pode ser uma boa ideia. Cinquenta moedas de ouro… podemos comprar uma casa.
Natan sorriu, colocando um pequeno saco de moedas sobre a mesa.
— Lorde Matias, a conversa é entre adultos.
Satoru estreitou os olhos.
— Acha que estou brincando? Não vamos vender nossa vila nem esse pedaço de terra por meras cinquenta moedas.
O lorde visitante ficou furioso.
— Seu moleque insolente!
Satoru manteve a postura firme e declarou em alto e bom som:
— Como herdeiro deste território, declaro independência do Clube Aves de Prata!
Natan congelou, surpreso. Então, seu olhar se estreitou.
— Bom saber, garoto. Lorde Matias, o clube não enviará mais a verba de cem moedas de prata.
Matias empalideceu, mas respondeu com firmeza:
— Se meu filho tem razão… então eu também tenho.
Furioso, Natan se levantou e saiu do escritório, chutando um banco no caminho.
Matias, agora sozinho com Satoru, suspirou pesadamente.
— Filho… o que vai acontecer conosco agora?
Satoru olhou para o pai adotivo com determinação.
— Não se preocupe, pai. Temos nossa terra. Eu assumo a partir de agora.
Matias hesitou, observando Ananias com atenção. Algo estava diferente. Seu filho sempre foi inteligente, gostava de ler os livros da pequena biblioteca da vila… mas agora, havia algo a mais nele.
— Você tem certeza, filho?
— Tenho.
O velho lorde assentiu.
— Tudo bem. Pode assumir. Eu nunca levei jeito para isso…
Satoru não perdeu tempo.
— Quanto temos em dinheiro?
Matias abriu uma gaveta e retirou algumas moedas.
— Apenas trinta moedas de prata. Não cobramos impostos porque já é difícil para o povo sobreviver.
Satoru pegou as moedas e se virou para a porta.
— A companhia de comércio Raposa da Lua ainda está na cidade?
— Sim, mas… o que pretende fazer?
— Algo necessário.
Sem esperar por mais perguntas, Satoru saiu.
Matias observou seu filho desaparecer pela porta e murmurou para si mesmo:
— Eu conto com você, Ananias…
Continua...
A vila era pobre, mas o povo ainda carregava sorrisos genuínos no rosto. Crianças corriam descalças pelas ruas de terra, velhos descansavam sob a sombra das árvores, e os trabalhadores trocavam cumprimentos simples, mas sinceros.
Satoru – agora Ananias – caminhava com passos firmes, sentindo os olhares curiosos dos aldeões. Um senhor de cabelos brancos, segurando um saco de grãos, parou ao vê-lo.
— Bom dia, jovem mestre.
Satoru retribuiu com um leve aceno.
— Bom dia, senhor.
Ele seguiu pela rua principal até avistar um edifício de pedra escura com uma placa entalhada: Companhia Raposa da Lua.
Era um dos poucos estabelecimentos comerciais da vila, conhecido por suas negociações duvidosas. Mercadores viajantes vendiam tudo o que pudessem lucrar – de alimentos e tecidos a escravos e informações.
Ao entrar, o cheiro de mofo e bebida barata preencheu suas narinas. O ambiente era apertado e sombrio, com prateleiras abarrotadas de mercadorias e um balcão central onde um homem gordo, de barba desgrenhada, contava moedas.
— O que deseja, jovem lorde? — perguntou o comerciante, sem erguer os olhos.
Satoru não respondeu de imediato. Seus olhos percorreram o ambiente até pararem em uma cela no canto do recinto.
Dentro dela, uma garota de cabelos castanhos desgrenhados e pele pálida estava encolhida contra a parede de madeira. Seu corpo estava coberto de hematomas, e suas roupas esfarrapadas denunciavam a miséria de sua condição.
Mary.
Ela fora vendida para um bordel quando criança, e quando ficou doente, foi descartada como mercadoria defeituosa. Ninguém queria comprá-la. Ela era apenas um fardo à beira da morte.
Seus olhos, antes cheios de vida, agora eram frios e vazios. Seu rosto carregava uma expressão mórbida, como se já tivesse aceitado seu fim.
"Ninguém se importa comigo… Eu só queria que alguém me quisesse por perto…"
Um som de passos interrompeu seus pensamentos.
Uma sombra parou diante da cela.
Mary ergueu os olhos lentamente, esperando encontrar mais um olhar de desprezo.
Mas o que viu foi algo diferente.
Um jovem de cabelos escuros e olhos afiados a encarava com uma expressão neutra.
— Vou querer ela.
Mary piscou, confusa.
"Alguém… me quer?"
Ela engoliu em seco.
"Eu?!"
O comerciante olhou para Satoru e deu um riso curto.
— Tem certeza, jovem lorde? Essa garota já está praticamente morta. Ninguém mais quer esse fardo.
Satoru jogou um pequeno saco de moedas sobre o balcão.
— O preço dela. Agora.
O homem abriu o saco e contou as trinta moedas de prata.
— Hah! Pegue. É sua.
A cela rangeu ao ser destrancada.
Mary não se moveu de imediato. Suas pernas estavam fracas, seus braços magros tremiam. Pela primeira vez em muito tempo, alguém havia dito que a queria.
Satoru deu um passo à frente e estendeu a mão.
— Pode andar?
Mary olhou para a mão estendida. Ela deveria confiar? Deveria aceitar?
Seus olhos frios vacilaram por um instante.
Então, hesitante, ela ergueu sua mão trêmula e segurou a dele.
Satoru a puxou com firmeza, sustentando seu corpo frágil.
— Vamos.
Mary deu seu primeiro passo para fora da cela.
Para um novo destino.
Continua...
Camila, a executiva da Companhia Raposa da Lua, franziu a testa ao ouvir o relato do comerciante.
— Quem é esse garoto?
O homem gordo deu de ombros, coçando a barriga suada.
— Não faço ideia. Mas ele comprou a garota do bordel. Pagou trinta moedas de prata…
Camila estreitou os olhos.
— Trinta? Ela não valia nem cinco.
O comerciante assentiu, confuso.
— Também achei estranho.
Camila não perdeu tempo. Seu corpo se desfez em sombras, desaparecendo do local.
No instante seguinte, reapareceu atrás de Satoru, escondida em sua sombra enquanto ele caminhava pela vila, segurando Mary pela cintura. O sol já esquentava, e quando Camila pensou que não tinha sido notada…
— Não gosto que fiquem escondidos na minha sombra.
A voz de Satoru foi fria e direta.
Camila se revelou com um sorriso debochado, saindo das sombras.
— Heh. Eu sabia. Você fez de propósito para chamar minha atenção.
Satoru continuou andando, sem sequer olhar para ela.
— Não se acha demais? Eu só quero seu dinheiro.
Camila riu.
— Meu dinheiro? Então quer dizer que tem informações para trocar?
Satoru fez uma pausa, antes de soltar as palavras com calma.
— O Ganso é um espião da Companhia Aranha.
O sorriso de Camila sumiu. Seu rosto ficou vermelho de raiva, veias saltando no pescoço. Num piscar de olhos, ela pressionou uma adaga contra o pescoço de Satoru.
— Não brinca com coisa séria. Ou essa vila deixa de existir.
Satoru, sem se abalar, olhou diretamente nos olhos dela.
— Está com medo da verdade?
Os olhos de Camila brilharam de fúria. Após um breve silêncio, ela jogou um saco pesado de moedas de ouro na mão de Satoru.
— É bom que isso seja verdade.
E, num instante, desapareceu.
Satoru olhou para o ouro em suas mãos, um brilho sutil no olhar.
— Rica…
Mary, ao seu lado, falou pela primeira vez em um tom seco.
— Não ia me entregar?
Satoru virou-se para ela, sua expressão agora séria e calma.
— Nem por um rio de moedas de ouro.
Mary o encarou sem emoções.
— Eu não tenho nada. Até meu corpo já não é puro…
Satoru soltou um suspiro leve.
— Não comprei você para aliviar meu estresse sexual. Quero que me sirva… como guarda-costas.
Mary arregalou os olhos, surpresa.
— Eu… eu nunca peguei numa espada.
Os olhos de Satoru brilharam friamente.
— Não responda para seu mestre.
Mary baixou o olhar, um pouco aliviada.
— Obrigada, mestre…
Satoru continuou caminhando, enquanto sua mente se enchia de lembranças.
"Nem a pau que te deixo virar a Rainha da Calamidade. Uma humana que, de tanto sofrer nas mãos dos humanos, se aliou ao reino demoníaco e causou a devastação… Mas agora, ela será minha."
De repente, uma janela flutuante apareceu diante dele, como em um jogo.
> Progresso de Final Ruim: -99%
Satoru observou a notificação e sorriu.
— Que bom… o futuro mudou.
A caminhada pela vila revelou algo a Satoru: lojas ilegais estavam por toda parte, operando sem pagar impostos. Por ser um território do interior, muitos comerciantes tiravam proveito da falta de fiscalização.
Ele parou diante de uma pequena loja de medicina.
— Quanto custam as poções de recuperação?
Um velho mercador, de rosto marcado pelo tempo, olhou para Mary e disse:
— Uma moeda de ouro por unidade. Mas… olhando para sua escrava, ela parece na pior. Faço um pacote completo por dez moedas. Desconto da casa.
Mary arregalou os olhos.
"Que caro… uma fortuna."
Satoru olhou fixamente para o velho antes de sorrir levemente.
— Ted, eu gostei de você. Não mentiu para mim.
O velho ficou surpreso.
— Me conhece?! Eu cheguei essa semana na vila. Quem é você?!
Satoru cruzou os braços.
— Sou o herdeiro desta vila.
Ted ficou tenso.
— Eu… eu ia falar com o lorde.
Satoru estreitou os olhos.
— Eu sei que você não é pilantra. Tem meu apoio. Pode continuar vendendo. Vou te dar preferência nas vendas.
Ted relaxou e sorriu.
— Obrigado, jovem mestre.
Satoru jogou dez moedas de ouro sobre o balcão, pegando a sacola com os medicamentos.
— Tenha um bom dia, Ted.
— O senhor também.
Continuando a caminhada, Satoru avistou um ateliê. Seu olhar se suavizou por um instante.
— Que bom que ela ainda não se mudou…
Ele entrou, ouvindo o sino da porta tocar.
No interior, uma mulher de cabelos brancos trabalhava calmamente em um pedaço de tecido. Ela era cega, mas sua habilidade com a costura era incomparável.
— Quem é você? — ela perguntou, levantando o rosto levemente.
Satoru sorriu.
— Sou Ananias, filho de Matias.
A mulher, chamada Bia, sorriu de leve.
— Eu me refiro a você de dentro.
Satoru soltou um suspiro e respondeu.
— Sou alguém tentando mudar o seu futuro.
Bia ficou em silêncio por um momento antes de murmurar:
— Só vejo sombras com meus olhos da alma…
Satoru assentiu.
— Mesmo que a lua esteja radiante, sempre terá um lado obscuro.
Bia suspirou.
— Você tem razão. O que deseja?
— Roupas de empregada. E roupas íntimas.
Bia franziu a testa.
— Roupas íntimas?
Satoru pegou um pedaço de papel e começou a desenhar. O conceito de sutiã e calcinha ainda não existia nessa era, mas ele conhecia bem a necessidade deles.
Bia passou a mão sobre o desenho.
— Que roupas bonitas… Vou preparar tudo. Fiquem à vontade.
Satoru olhou para o fundo da loja.
— Posso usar seu banheiro?
Bia sorriu.
— Sem problemas.
Satoru entrou no pequeno banheiro e começou a encher a banheira de madeira.
Continua...
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