Entre a Fera e o Caçador
1.1
A floresta sussurrava segredos entre as árvores retorcidas, e Laurent caminhava cautelosamente, a capa vermelha esvoaçando ao menor sopro do vento. Ele segurava sua faca, atento aos ruídos ao redor, até que um gemido baixo chamou sua atenção.
Seguiu o som até encontrar um corpo caído entre as folhas secas. Um homem... não, uma fera. O luar revelou olhos dourados brilhantes, presas entreabertas e o peito arfante. Sangue escorria de um corte profundo na lateral do abdômen.
Laurent se aproximou, mas a criatura tentou se afastar, soltando um rosnado fraco.
Elias
Você… não vai me matar?
A voz era rouca, misturada à dor. Laurent observou a criatura com curiosidade. As orelhas lupinas tremiam levemente, e a cauda, encharcada de sangue, estava imóvel. Ele esperava encontrar um monstro, mas o que via era um homem ferido.
Laurent
Por que eu faria isso?
Sem hesitar, ajoelhou-se ao lado da fera e pressionou a mão contra o ferimento quente. Elias arregalou os olhos, mas não reagiu.
Laurent
Eu posso te ajudar... se me deixar.
A respiração de Elias era pesada, seus olhos dourados ainda cheios de desconfiança. Mas, no fim, ele não tinha forças para recusar.
Elias
Você... não devia confiar em monstros.
Laurent sorriu, tirando um pano da bolsa para estancar o sangue.
Laurent
E quem disse que eu confio?
O vento soprou forte, sacudindo as árvores. Na vila, diziam que a floresta escondia demônios. Mas naquela noite, Laurent escolheu ignorar os avisos.
Elias fechou os olhos enquanto a consciência o abandonava. Laurent suspirou e segurou a criatura contra si, sentindo o calor da pele febril.
Ignorando os sussurros da noite, ele tomou sua decisão.
2.2
O calor da fogueira tremeluzia contra as árvores enquanto Laurent terminava de limpar o ferimento. O pano estava encharcado de sangue, mas a hemorragia havia diminuído. Elias permanecia deitado, os músculos ainda tensos, observando cada movimento do caçador.
Elias
Você não tem medo de mim?
Laurent apertou os lábios, pegando mais ervas para colocar sobre o corte.
Os olhos dourados de Elias brilharam na penumbra. Ele deu um sorriso fraco, mas carregado de algo mais profundo.
Elias
Humanos me caçam. Você é diferente.
Laurent soltou uma risada curta, ajeitando as bandagens improvisadas.
Laurent
Nunca vi um monstro tão humano.
O silêncio se instalou entre eles, preenchido apenas pelo estalar da madeira na fogueira. Elias olhou para o céu por um momento, como se procurasse algo entre as estrelas.
Elias
Você me salvou... Eu te devo minha vida.
Laurent ergueu uma sobrancelha, ajeitando sua capa.
Laurent
Não precisa me dever nada. Só… não morra.
Elias fechou os olhos por um instante antes de encará-lo novamente, sua expressão mais séria.
Elias
Eu prometo. E, em troca, eu protegerei você.
O vento soprou entre as árvores, carregando consigo um juramento silencioso.
Laurent
Proteção de um lobo? Isso é novo.
Elias sorriu de canto, a dor ainda visível, mas algo diferente brilhava em seu olhar agora.
Naquela noite, uma promessa foi feita.
3.3
O céu ainda estava tingido de azul pálido quando Laurent retornou à vila. O cheiro de lenha e pão fresco preenchia as ruas de pedra, mas um peso invisível pairava no ar. Assim que ele passou pelo mercado, alguns olhares se voltaram para ele.
Aldeão
Onde esteve, garoto?
Laurent parou, encarando o homem de barba grisalha que cruzava os braços. Outros aldeões começaram a se aproximar, formando um pequeno círculo ao seu redor.
O chefe da vila, um homem robusto e de expressão severa, se aproximou, apoiando-se em seu cajado.
Chefe da vila
Caçando… ou se perdendo na floresta proibida?
Laurent sentiu os ombros ficarem tensos. O olhar do chefe era afiado como uma lâmina.
Laurent
O que está insinuando?
O velho soltou um suspiro pesado, batendo o cajado contra o chão de terra.
Chefe da vila
A floresta esconde demônios, menino. Não se iluda. Muitos já entraram e nunca mais voltaram.
Laurent sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele se lembrou dos olhos dourados de Elias, do toque quente de sua pele e da promessa feita na noite anterior.
O chefe estreitou os olhos, mas não insistiu.
Chefe da vila
Espero que sim.
A multidão começou a se dispersar, mas Laurent sabia que os olhares desconfiados ainda estavam sobre ele.
Ele precisava ser mais cuidadoso.
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