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Sombras Eternas

Entre sombras

William estava esparramado no sofá da sala, devorando um prato gigante de macarrão com molho apimentado. Entre uma garfada e outra, falava animadamente:

— Cara, você viu? Aquele caso dos quatro que sumiram há três anos voltou à tona esses dias. Todo mundo tá comentando como eles apareceram do nada, como se nada tivesse acontecido!

Marcos, que estava sentado no chão com o notebook no colo, observando os olhos por cima de seus óculos quadrados. Ele era mais baixo e franzino, mas seus olhos brilhavam de curiosidade.

— Vi, sim! E acho que deveríamos gravar um vídeo pro canal. A galeria adora mistérios, e tem algo bem esquisito nessa história. A última festa deles foi naquela casa maldita, e tem barcos de que o mesmo tipo de coisa estranha está acontecendo na floresta perto da cidade agora. Quero ver se é verdade.

Rita, sentada à mesa da cozinha, estava ocupada escrevendo seu trabalho de faculdade. Ela soltou uma gargalhada debochada.

— Vocês dois são obcecados por essas teorias malucas. Se tem algo estranho, aposto que é só um bando de adolescentes bebendo escondidos no mato ou tentando fazer pegadinhas.

Marcos fechou o caderno e começou a arrumar os equipamentos de gravação, ansioso.

— Vamos investigar a floresta porque foi lá que avistaram luzes e ouviram vozes, Rita. E isso rolou há uns dias, exatamente como na época do sumiço. Pode ser nossa chance de desvendar o mistério.

William limpou a boca com a mão e se declarou.

— Se for só um bando de moleques, pelo menos a gente grave um vídeo engraçado pro canal. Mas se for algo mais... Pode ser o vídeo que vai bombar!

Rita ajeitou os óculos e deu uma risadinha sarcástica.

— Boa sorte, então. Mas eu fico aqui. Tenho coisas mais importantes pra fazer do que me embrenhar no mato com vocês dois.

— Ah, Rita, sempre a racional — brincou Marcos, enquanto colocava a mochila nas costas.

William esticou os braços e estalou os dedos.

— Bora, Marcos. A noite tá só começando!

Os dois saíram empolgados, deixando Rita balançando a cabeça, sem acreditar no que acabara de ouvir.

A moto de William parou com um ronco alto na entrada da floresta. O céu estava escuro, e a única luz vinha das estrelas e do brilho da lua cheia, iluminando as copas das árvores. William desligou o motor e retirou o capacete, olhando ao redor com um sorriso de animação no rosto.

— E aí, pronto pra virar lenda urbana hoje? — ele perguntou, virando-se para Marcos.

Marcos ajustou os óculos e desceu da moto com a mochila cheia de equipamentos. Eles andaram alguns metros até o começo de uma trilha. A floresta parecia calma, mas havia algo no ar que os deixava inquietos.

— Cara, a Rita tá cada vez mais protetora desde que rolou aquele sumiço dos quatro há três anos — comentou Marcos, tentando quebrar o silêncio estranho. — Ela tem medo de que a gente vá longe demais e talvez se metendo em algo sério.

William parou, cruzando os braços.

– Concórdia. Ela sempre foi meio cética, mas depois disso, ela mudou. Não sei se é medo ou outra coisa, mas sei que ela se preocupa com a gente.

Marcos abriu um sorriso leve.

— A gente é amigo desde que era moleque. Acho que é só o jeito dela de nos proteger.

William deu uma tapinha nas costas de Marcos.

— Então vamos provar que podemos cuidar de nós mesmos, nerd.

Marcos tirou a câmera da mochila e ajeitou o tripé. Ligou o equipamento e, apontando a lente para William, falou:

— Gravando em três, dois, um...

William imediatamente mudou sua postura para a de apresentador, um sorriso travesso no rosto.

— Fala, galera! Aqui é o William, trazendo mais uma live diretamente da floresta que tem dado o que falar por aqui. Estamos investigando luzes, mistérios e vozes que os moradores juram ter ouvido nas últimas noites. Se prontos para aventuras e mistérios, sigam com a gente!

O vento soprou suavemente pelas árvores, fazendo as folhas sussurrarem ao redor deles. Marcos ajustou o enquadramento e olhou para William, que continuou com o entusiasmo de sempre.

— Então... Vamos ver o que encontramos hoje à noite. E quem sabe? Talvez desvendemos o maior mistério da cidade.

Eles se olharam por um momento, prontos para o que quer que viesse.

A câmera de Marcos desligou abruptamente com um chiado alto. Ele tentou ligar novamente, mas uma fumaça fina e um cheiro de queimado ao sair do dispositivo.

— Droga, queimou! — Marcos exclamou, sacudindo a câmera inutilmente.

Antes que William pudesse responder, um grito atravessou a floresta, tão alto e agudo que parecia impossível que apenas uma pessoa tivesse emitido aquilo. Era desesperador, e parecia ecoar por toda a área como se as árvores estivessem amplificando o som.

— Você ouviu isso? — William disse, os olhos arregalados.

— Claro que ouvi! O mundo inteiro deve ser ouvido! — Marcos respondeu, já pegando sua lanterna. — Vem por aqui!

Ambos correram em direção ao som, o coração disparado e o medo crescendo com cada passo. O caminho os levou até uma pequena clareira, onde a luz da lua atravessava os galhos e iluminava a cena diante deles.

Ali, no meio da Clareira, era uma garota. Sua pele era pálida como a neve, os cabelos desgrenhados e grudados em sua testa molhada. Suas roupas estavam encharcadas, sujas e rasgadas, como se ela tivesse passado por um inferno. Ela estava de joelhos no chão, tremendo e respirando com dificuldade.

— Ei! — William chamou, aproximando-se devagar. — Você tá bem? O que aconteceu?

A garota vagamente o olhar lentamente para eles. Seus olhos eram de um azul tão intenso que quase brilhavam sob a luz da lua, mas estavam cheios de medo e desespero.

— Ele está vindo — ela sussurrou, sua voz rouca e trêmula.

— Quem? — Marcos perguntou, já olhando em volta nervosamente.

Antes que a garota pudesse responder, o som de passos pesados ​​começou a ecoar pela floresta, aproximando-se rapidamente.

— Pega ela e vamos vazar daqui! — Marcos reunido para William, puxando seu braço.

William não hesitou. Ele chamou a garota nos braços com cuidado, mas firmeza, e os três correram o mais rápido que puderam pela floresta, pisando em galhos e folhas secas enquanto o som de passos pesados ​​ainda ecoava atrás deles.

De repente, a câmera de Marcos voltou a funcionar sozinha, emitindo um leve clique. O visor estava ligado, e, embora não estivesse transmitindo ao vivo, continuava gravada. Marcos segurava a câmera e filmava enquanto corria, mas suas mãos tremiam demais para manter o foco.

— Por que isso está gravado agora?! — ele murmurou para si mesmo, mas continuou correndo.

Quando finalmente chegou à moto, William colocou a garota na frente, encostada no guidão. Ele subiu atrás dela, e Marcos, ofegante, pulou na garupa como pôde, segurando-se com força.

— Se segura firme! — William, ligando a moto com um rugido alto.

Eles partiram pela estrada de terra o mais rápido possível, os faróis iluminando os troncos das árvores enquanto os arbustos passavam como sombras sinistras ao redor deles.

— A gente te leva pro hospital, tá? Você está seguro agora! — Marcos tentou tranquilizá-la, gritando sobre o som do motor e o vento.

Mas a garota começou a se debater.

— Não... hospital! — ela falou com a voz rouca, quase sem respiração. — Lugar sem sol... por favor!

Marcos e William trocaram olhares assustados.

— Sem sol? O que ela está falando? — Marcos perguntou.

A garota virou o rosto para trás, os olhos brilhando à luz da lua.

— Eles me encontram no hospital... o sol me queima... por favor... lugar escuro!

William abriu os freios, parando bruscamente no meio da estrada.

— O que a gente faz agora? — ele perguntou, olhando para Marcos com preocupação.

— Cara, isso tá ficando muito estranho... mas ela tá apavorada — Marcos respondeu, ainda segurando firme a câmera, que continuava gravando tudo. — A gente precisa decidir rápido!

Os dois se olharam, o pânico nos olhos de ambos, e disseram ao mesmo tempo:

— Rita!

— Os pais dela estão viajando — Marcos completou, com a respiração entrecortada.

William concordou e acelerou a moto novamente.

— Liga pra ela! — ele falou, enquanto a moto ganhava velocidade pela estrada escura.

Marcos rapidamente pegou o telefone com as mãos trêmulas e discou o número de Rita. O toque pareceu durar uma eternidade até que a voz dela finalmente atendeu do outro lado da linha:

— O que foi agora, Marcos? Tô tentando estudar! —disse Rita, impaciente.

— Rita, é uma emergência! — Marcos respondeu com pressa. — A gente tá levando uma garota praí. Não dá pra explicar agora, mas precisamos da sua casa. Sem perguntas, só abra a porta!

Rita ficou em silêncio por alguns segundos.

— Marcos, você está tão brincando comigo, né?

— Não! Só... por favor, Rita! — ele implorou.

— Tá, tá bom. Tô abrindo a porta. Mas se for alguma palhaçada, vocês vão pagar por isso.

Ela desligou. Marcos guardou o celular, e William acelerou ainda mais, determinado a chegar à casa de Rita o mais rápido possível.

A garota pálida nos braços de William estava cada vez mais inquieta, murmurando palavras incompreensíveis e tremendo de frio. As luzes da cidade finalmente começaram a aparecer no horizonte, e a casa de Rita não estava longe.

Eles chegaram à casa de Rita em poucos minutos. William entrou carregando a garota e colocou com cuidado no sofá da sala. A garota, ainda pálida e ofegante, olhava ao redor com olhos assombrados, mas escondida em silêncio.

Rita, com os braços cruzados e uma expressão de puro julgamento, esperou até que William e Marcos entrassem na cozinha antes de morrer:

— Vocês conversaram de vez? Quem é essa garota? De onde ela veio?

— Calma, Rita! — William tentou acalmá-la, massageando a orelha que ela havia desenhada de puxado com força.

— Calma nada! Você parece com uma estranha toda machucada na minha casa no meio da noite! Explica agora!

Marcos, nervoso, tropeçou nas palavras enquanto tentava abrir a geladeira:

— Tá bem. A gente tava na floresta, investigando aquelas coisas de sobrenatural pro canal, e aí... encontrei ela. Ela estava encharcada e desesperada. Pediu pra gente trazê-la pra um lugar sem sol.

— Sem sol? — Rita franziu a testa, claramente achando aquilo ridículo.

Enquanto os dois tentavam explicar, Marcos finalmente abriu uma geladeira. Ele olhou lá dentro e viu o que tinha: uma jarra de suco de laranja, alguns restos de lasanha, um pote de iogurte, frutas e um pacote de pão de forma. Nada que parecesse ajudar na situação estranha em que eles estavam vivendo.

— Tem pão e suco... — Marcos disse, meio perdido.

Rita bufou.

— Como é que o pão vai ajudar com isso, seu idiota?

— Eu só tava com fome...

William balançou a cabeça, cansado.

— Olha, Rita, o importante é que ela parecia estar sendo perseguida. Seja lá o que está acontecendo, não é seguro pra ela lá fora.

Rita suspirou, massageando as têmporas.

– Certo. Vamos descobrir o que está acontecendo primeiro... e depois decidido se você foi expulso daqui ou não.

William abriu todos os armários de Rita, vasculhando até os fundos em busca de algo que pudesse encher o estômago. Ele encontrou um pacote de macarrão, uma lata de atum, feijão enlatado e algumas barras de cereal.

— Tá na hora da proteína. Não sobrevivo só com pão e suco como o Marcos. — William murmurou, colocando água para ferver e abrindo as latas.

Enquanto isso, Marcos e Rita se aproximaram da garota, que ainda estava sentada no sofá. Ela tinha os olhos bem abertos, mas parecia paralisada de medo, o peito subindo e descendo em respirações curtas.

Marcos franziu o cenho ao notar duas pequenas marcas vermelhas no pescoço dela, exatamente na lateral, como se algo tivesse a mordido. Ele trocou um olhar com Rita e imediatamente subiu as escadas para acessar o caderno. Precisava verificar as filmagens para ver se havia capturado algo estranho.

Rita, ainda desconfiada, ajoelhou-se ao lado da garota e tentou falar com ela.

— Qual o seu nome? — Disse em um tom suave, mas firme. — Estamos aqui pra te ajudar. Você pode confiar nas pessoas.

A garota não respondeu imediatamente. Seu olhar parecia perdido, fixo em algum ponto distante. Mas, aos poucos, ela piscou e suas lábios começaram a tremer.

— Eles vão me encontrar... não importa onde eu esteja...

— Quem vai você encontrar? — Rita insistiu.

A garota não respondeu, mas seus olhos se encheram de lágrimas.

Do outro lado da casa, William estava ocupado despejando tudo o que havia encontrado em uma panela, tentando improvisar algo comestível. O cheiro de comida começou a se espalhar pela casa quando Marcos desceu as escadas apressadas, segurando o notebook com as filmagens congeladas em uma imagem.

— Rita... acho que temos um problema.

William surgiu da cozinha com uma grande colher em uma mão e uma panela cheia de comida na outra, equilibrando tudo como se estivesse em um restaurante chique. O cheiro era uma mistura de atum, feijão e macarrão mal cozido, mas ele parecia orgulhoso de sua obra-prima culinária.

— Tá servido? Proteína pura. — William pediu, colocando uma panela sobre a mesa.

Rita apresenta uma sobrancelha, olhando para ele com uma mistura de diversão e desgosto.

— Como você é bombeado e ainda consegue fazer algo tão nojento? — brincou.

— Força e nutrição, meu bem. — William piscou para ela antes de voltar à comida.

Marcos se mudou, caderno em mãos, e colocou-o sobre a mesa, com um ar sério. Ele clicou em um ponto específico da filmagem.

— Vocês precisam ver isso. — Ele indicado para a tela.

O vídeo mostrava os dois explorando a floresta, passando por bonecas, roupas velhas e pedaços de alho. Tudo parecia normal até o momento em que comecei a encontrar as estacas e manchas de sangue. Então, a câmera começou a tremer e a tela escureceu.

Marcos pausou a imagem no último frame antes de a câmera "queimar": uma figura pálida e embaçada estava parada ao fundo, com os olhos vermelhos brilhando na escuridão.

— Isso foi antes da câmera pifar — explicou Marcos, com o rosto tenso. — Agora veja o que aconteceu quando ela voltou a funcionar.

Ele avançou o vídeo para o momento em que estava correndo para a moto com a garota. A imagem era granulada e assustadora, mas uma sombra escura podia ser vista se movendo rapidamente pelas árvores, como se estivesse os seguindo.

— Não foi só coincidência encontrarmos essa garota — concluiu Marcos. — Tem algo... ou alguém... caçando ela.

Rita cruzou os braços, olhando para a tela com um arrepio percorrendo sua espinha.

— Isso não é bom. Se eles estão atrás dela, então também podem estar atrás de nós.

William, com a boca cheia de comida, soltou um misto de tosse e grito:

— Vampiro?! Droga...estacas, alho, olhar vermelho, pálida!

Marcos e Rita se encolheram enquanto pedaços de comida voavam deles. Rita estreitou os olhos e deu um tapa firme na cabeça de William.

— Dá pra mastigar antes de surtar, seu ogro? — reclamou ela, limpando os respingos da blusa.

Antes que eles comentassem a conversa ou o estado da garota, perceberam algo estranho. Os primeiros raios de sol já iluminavam as cortinas. A noite havia passado num piscar de olhos, e agora o dia estava amanhecendo.

A garota, ainda no sofá, abriu os olhos arregalados em puro pânico. Sem qualquer aviso, ela saltou para fora e atirou pela casa, procurando freneticamente por um lugar mais escuro.

— Fecha as cortinas! — falei Marcos, correndo atrás dela.

William se moveu para trancar as janelas com cobertores improvisados, enquanto Rita abria a porta do porão.

— Aqui embaixo! Vem! —chamou Rita.

A garota correu para o porão, desceu os degraus aos tropeços e se encolheu no canto mais escuro. Eles a seguiram, ofegantes, e ficaram em silêncio, apenas observando. A luz do sol mal tinha tocado a pele dela, mas havia deixado uma marca avermelhada no braço.

— É real — sussurrou Marcos. — Vampiros... são reais.

Marcos e William começaram a dançar desajeitadamente no meio da sala, jogando as mãos para o alto e cantando:

— É real, é real! — gritaram eles, em uníssono, girando em volta de Rita.

— Vocês são uns idiotas! — disse Rita, revirando os olhos, mas não conseguiu evitar um sorriso de canto.

William fazia passos de boxe com danças ridículas, e Marcos balançava a cabeça como se estivesse num show de rock. A garota no porão soltou um suspiro, mas pela primeira vez, parecia um pouco mais tranquila.

Corte para a floresta:

A câmera treme e mostra um cenário escuro e úmido. No chão, uma mochila esquecida de Marcos jaz no meio das folhas. Um rapaz pálido e magro, com olheiras profundas e um olhar faminto, se aproxima e pega a mochila.

— Esquecido por um idiota... — ele murmura, funcionando o conteúdo.

Logo atrás dele, surge uma garota pálida com cabelos longos e sedosos, usando um vestido elegante que contrasta com o ambiente sombrio da floresta. Ela sorri com seus dentes afiados.

— Hoje à noite, vamos buscar nossa irmãzinha. E depois... — ela passa a língua pelos lábios — mataremos os dois idiotas.

O rapaz solta uma risada rouca, enquanto a garota dá uma risadinha cruel. Eles trocam um olhar cúmplice e, em um piscar de olhos, seus corpos se transformam em grandes morcegos que desaparecem no céu alaranjado do pôr do sol.

Fome sombria

William desceu para o porão com sua panela de comida, equilibrando-a em uma mão e uma colher gigante na outra. O ambiente era frio e mal iluminado, com caixas antigas empilhadas nos cantos e teias de aranha nas vigas. No centro, a garota pálida estava sentada contra a parede, os joelhos abraçados ao peito e os olhos fixos no chão.

— Tá na hora da proteína, garota misteriosa. — William disse, tentando soar amigável enquanto estendia a panela para ela. — Se quiser comer, melhor aproveitar antes que eu coma tudo.

Ela levantou os olhos lentamente, o olhar sombrio e cheio de medo. Mas em vez de fome, o que William viu neles foi algo que o fez estremecer: uma mistura de sede e desespero.

— Não como isso. — murmurou ela, com a voz trêmula e rouca.

— Você não come? Tá de brincadeira? Isso aqui é macarrão com frango, o melhor que consegui fazer. — William insistiu, empurrando a panela um pouco mais para perto.

Ela desviou o olhar, segurando o próprio corpo como se estivesse lutando contra algo interno. William deu de ombros, se sentou em um velho banco e começou a comer.

— Sua escolha, garota estranha.

Enquanto isso, na sala...

Marcos estava em frente ao notebook, revisando as filmagens. Os segundos antes da câmera queimar mostravam algo perturbador: duas sombras se movendo rapidamente pela floresta, quase imperceptíveis, até que uma mão branca como a neve cobriu a lente e o vídeo cortou para estática.

— Isso é real. — Marcos afirmou, com a voz cheia de certeza. — Olha isso, Rita. Não tem edição, não tem truque.

Rita cruzou os braços, inclinando-se sobre o sofá.

— Tá. Eu admito que é estranho. Mas não significa que ela é uma vampira.

Marcos olhou para ela com uma expressão desafiadora.

— Sério? Depois de tudo? As marcas no pescoço, o medo da luz do sol, e agora isso? O que mais precisa acontecer para você acreditar?

— Só estou dizendo que precisamos de mais provas. — Rita respondeu, firme. — Não vou sair correndo gritando "vampiros" só porque vi um vídeo esquisito.

De repente, um grito agudo ecoou pelo porão. Ambos congelaram.

— William! — Marcos largou o notebook e correu para as escadas, com Rita logo atrás dele.

Ao chegarem ao porão, encontraram William no chão, a panela tombada ao lado dele. Ele estava pálido, respirando com dificuldade. A garota estava encolhida contra a parede, com os olhos brilhando em um vermelho ameaçador.

— Eu... eu não consegui me controlar... — disse ela, com a voz cheia de culpa.

— O que você fez?! — Marcos gritou, ajoelhando-se ao lado de William.

William levantou a mão, tentando acalmá-los.

— Ela não me mordeu, relaxa. Só me empurrou. — Ele tentou se sentar, mas caiu de novo, parecendo tonto.

— O que está acontecendo com ele? — Rita perguntou, tentando manter a calma.

A garota apenas olhou para eles, seus olhos cheios de lágrimas e culpa.

— Ele está fraco porque eu... absorvi um pouco da energia dele. Não posso evitar. Estou faminta.

Marcos e Rita trocaram olhares de pânico.

— A gente precisa de respostas. Agora. Quem é você? O que está acontecendo? — Marcos exigiu, olhando diretamente para a garota.

Ela respirou fundo, como se estivesse reunindo toda a coragem que tinha.

— Meu nome é Luna. E se vocês não me ajudarem... eles vão me encontrar. E vão matar todos nós.

Marcos se aproximou de William e passou o braço dele por cima do ombro.

— Anda, vamos levantar. Você parece que foi atropelado por um caminhão. — disse Marcos, ajudando o amigo a ficar de pé.

William gemeu, tentando recuperar o equilíbrio.

— Não foi um caminhão... foi uma vampira esquisita com problemas de autocontrole.

Marcos olhou para Luna, ainda encolhida no canto, e respirou fundo.

— Gente, temos que arrumar sangue pra essa aí. — Marcos falou, olhando de William para Rita. — Se ela não comer, da próxima vez talvez a gente não tenha tanta sorte.

William assentiu, ainda tentando recuperar o fôlego.

— Eu moro numa fazenda, e temos um galinheiro. Posso dar um jeito de conseguir algum sangue lá. Mas vai demorar umas horas.

— Beleza. Enquanto isso, eu preciso voltar pra casa e pegar umas coisas. — Marcos se aproximou de Luna, seu olhar cheio de desconfiança. — Você vai ficar aqui. Não confio em você o suficiente pra te deixar sozinha com a Rita.

Luna abriu a boca para protestar, mas a expressão de Marcos foi firme. Ele se virou para Rita.

— Vou trancar o porão. Só pra garantir.

Rita revirou os olhos, cruzando os braços.

— Sério, Marcos? Agora você tá bancando o caçador de vampiros?

— Precaução nunca matou ninguém. — ele respondeu, caminhando até a porta do porão.

Marcos fechou a porta, trancou com a chave e olhou uma última vez para Rita.

— Se ela tentar alguma coisa, me liga.

— Relaxa, não vou deixar uma vampira adolescente me assustar. — Rita respondeu, mas havia uma ponta de preocupação em sua voz.

Marcos e William saíram, deixando Luna e Rita sozinhas no porão. Um silêncio pesado tomou conta do lugar, quebrado apenas pelo som distante do motor da moto de William.

— Eu não queria machucá-lo... — Luna disse, sua voz quase um sussurro.

Rita olhou para ela, seu ceticismo vacilando por um momento.

— Vamos ver se isso é verdade. Porque se não for, você vai ter que lidar comigo.

Marcos e William montaram na moto, saindo rapidamente da casa de Rita, deixando para trás uma atmosfera de tensão e mistério.

Rita suspirou, olhando para os restos de comida que Marcos havia deixado espalhados pela cozinha. Ela começou a limpar com movimentos rápidos e impacientes.

— Como alguém consegue ser tão desorganizado em tão pouco tempo? — resmungou para si mesma.

Após limpar tudo, ela foi até a porta do porão, trancada por Marcos, e ficou parada por um momento. Algo sobre Luna a deixava inquieta.

— Ei, Luna... — começou, encostando a testa na porta. — Você está bem aí?

Houve um longo silêncio, e então veio a voz de Luna, baixa e um pouco hesitante:

— Estou.

Rita respirou fundo.

— Olha, eu sei que você é... esquisita. Mas você não parece perigosa. Só... confusa.

Luna não respondeu imediatamente. Quando falou, sua voz soou vulnerável:

— Eu não queria machucar ninguém. Só não consigo controlar direito...

Rita franziu a testa.

— Não consegue controlar o quê exatamente?

— O sol me deixa fraca. Ainda sou uma adolescente... E isso me afeta mais do que aos meus irmãos. Eles são adultos. Eles podem sobreviver ao sol se se transformarem em morcegos.

Rita congelou, arregalando os olhos.

— Irmãos?

Do outro lado da porta, Luna percebeu que havia dito mais do que deveria.

— Eu... eu não deveria ter dito isso.

— Quem são seus irmãos? — Rita perguntou, sua voz agora cheia de preocupação.

— Eles vão me buscar. — Luna murmurou. — E vão matar quem estiver no caminho.

Rita sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

William chegou em casa após deixar Marcos, o peso da noite passada ainda em seus ombros. Ele empurrou a porta da frente, chamando pela família:

— Mãe? Pai? Jujuba? — gritou, referindo-se à sua irmã mais nova.

O silêncio respondeu. Ele andou pela casa, mas não encontrou ninguém.

— Acho que não chegaram ainda...

Sem perder tempo, William pegou um pedaço de papel e deixou um recado na mesa da cozinha: "Vou dormir na casa do Marcos. Não se preocupem."

Ele então se lembrou da escola.

— Droga! A prova de química...

Suspirando, ele saiu da casa e foi até o galinheiro. Olhando para as galinhas, William coçou a nuca, sentindo-se culpado.

— Desculpa por isso. — Ele pegou uma das galinhas, segurando-a firmemente enquanto voltava para o galpão.

Marcos, por outro lado, chegou em casa e foi recebido com uma tempestade.

— Chegou o rebelde! — A voz de seu pai ecoou pela sala.

Marcos mal teve tempo de tirar os sapatos antes de seu pai se aproximar, os olhos cheios de raiva.

— Você passou a noite fora e faltou a escola! — gritou o pai. — O que você acha que está fazendo com a sua vida?

— Quem é você pra me criticar? — Marcos rebateu, tirando a mão do ombro dele bruscamente e subindo as escadas, sem dar chance para outra discussão.

Sua irmã, mais jovem e cheia de energia, correu atrás dele.

— Ei, espera!

Quando Marcos abriu a porta do quarto, a irmã soltou uma risadinha provocadora:

— Nossa, você arrumou uma namorada? Muito linda. Achei que você ia casar com a esquisita da Rita!

Marcos franziu a testa, confuso. Ele entrou no quarto e, naquele instante, congelou.

Em cima de sua cama estava uma garota de pele pálida, vestida com um longo vestido branco. Ela era parecida com Luna, mas claramente mais velha e mais ameaçadora. Seus olhos brilhavam em um tom vermelho suave.

— Se você gritar, eu mato os dois. — Ela lambeu os beiços lentamente, um sorriso predatório se formando em seus lábios.

A noite caiu, e a casa de Rita mergulhou em um silêncio inquietante. O porão estava escuro e abafado, e Luna, que antes parecia um poço de mistério e tensão, agora dormia, encolhida no canto.

Na sala, Rita havia tentado ficar acordada, mas o cansaço a venceu. Ela cochilou no sofá, ainda com os pensamentos rodopiando sobre a conversa que teve com Luna sobre os irmãos.

De repente, uma batida forte e ensurdecedora sacudiu a porta da frente. A madeira estalou como se fosse se partir.

BAM! BAM! BAM!

Rita acordou num pulo, o coração disparado.

— Quem é? — gritou, ainda atordoada, seu corpo tremendo levemente.

Mais uma pancada pesada, quase quebrando a porta.

— Foi mal! É só a gente! — A voz inconfundível de William veio do outro lado, e ele riu nervosamente.

Rita correu até a porta e abriu, revelando William segurando um saco grande com as duas mãos e respirando pesadamente. Atrás dele, Marcos parecia exausto e cheio de pressa.

— Não dá pra bater normal, não? — reclamou Rita.

— A galinha quase fugiu! — William levantou o saco. — Trouxe o jantar da nossa hóspede especial.

Rita revirou os olhos.

— Isso aqui não é um hotel de vampiros! — resmungou, enquanto os dois entravam rapidamente e fechavam a porta atrás deles.

— É o melhor que conseguimos, ok? — Marcos deu de ombros e trancou a porta com força, verificando duas vezes para garantir. — Agora vamos descobrir o que ela quer de verdade. Porque não gosto nada disso.

— Bem-vindos ao clube, — Rita murmurou, ainda olhando para o porão com uma sensação desconfortável.

Marcos estava parado no centro da sala, os olhos fixos no chão. Ele parecia diferente. Havia uma aura estranha ao seu redor, algo que Rita não conseguia definir, mas que gelava seus ossos.

— Sabe... estive pensando. — Marcos quebrou o silêncio com uma voz suave, quase casual. — Por que não deixamos ela na floresta de novo? Tipo, fim da história. Tudo volta ao normal.

Ele soltou uma risada baixa, mas nada em seu tom parecia divertido.

— Marcos... você tá bem? — Rita perguntou, estreitando os olhos para ele.

Marcos levantou a cabeça lentamente e olhou diretamente para Rita. Seus olhos... estavam vermelhos. Um vermelho profundo e sanguíneo.

— O que foi isso? — Rita recuou um passo, assustada. — Seus olhos...

— Você também...? — William franziu a testa, olhando para Marcos com uma mistura de desconfiança e preocupação.

Marcos assentiu lentamente.

— É. Acho que sim.

Antes que Rita pudesse dizer mais alguma coisa, William decidiu agir. Ele desceu rapidamente até o porão e abriu a porta. Luna saiu, os passos leves e silenciosos, o olhar dela indo direto para Marcos.

William entregou o saco de sangue para Luna. Sem hesitar, ela arrancou o saco das mãos dele e o bebeu, seus olhos brilhando intensamente enquanto o líquido vermelho desaparecia.

Quando terminou, Luna limpou os lábios com as costas da mão e, ainda sem tirar os olhos de Marcos, disse:

— Eles vieram até você, não foi? Meus irmãos.

Marcos não respondeu, mas o silêncio que se seguiu foi ensurdecedor

— Ele está hipnotizado. Minha irmã faz isso. — Luna revelou, os olhos fixos em Marcos com uma mistura de preocupação e urgência.

No mesmo instante, Marcos deu um passo para trás, os olhos vermelhos brilhando ainda mais intensamente. Sem aviso, ele correu para a porta da frente e a escancarou, como se estivesse sendo guiado por uma força invisível.

Antes que William e Rita pudessem reagir, duas figuras entraram pela porta com uma rapidez sobre-humana.

A primeira era uma mulher alta e elegante, com longos cabelos negros que contrastavam com sua pele pálida. Seu vestido branco esvoaçava ao seu redor como uma sombra viva. Os olhos dela eram de um vermelho profundo, e um sorriso predatório brincava em seus lábios.

— Irmãzinha, que bom te ver novamente. — A voz dela era doce, mas havia algo mortal por trás das palavras.

Ao lado dela estava um homem magro, de traços esqueléticos e uma expressão arrogante. Ele tinha o mesmo olhar frio e pálido que Luna, mas seus olhos eram ainda mais ferozes.

— Chegou a hora de voltar para casa, Luna. — Ele disse com desprezo, ignorando completamente os outros na sala.

Luna deu um passo à frente, os punhos cerrados.

— Eu não vou voltar com vocês.

A mulher deu uma risada fria.

— Ah, mas você não tem escolha, irmãzinha. Não devia ter fugido. E agora... seus amiguinhos mortais estão no meio de tudo isso.

William deu um passo à frente, os músculos tensos.

— Se encostar em qualquer um aqui, vai ter que lidar comigo.

O homem estreitou os olhos.

— Que adorável. O mortal acha que pode lutar.

Marcos, ainda hipnotizado, ficou parado entre os dois grupos, um peão no jogo sombrio que estava prestes a começar.

— Rita... fique atrás de mim. — William murmurou, sentindo que o pior estava por vir.

Vicente deu um passo à frente com um ar de superioridade, os olhos vermelhos brilhando com diversão.

— Sou Vicente. E valorizo sua coragem. — Ele deu um sorriso predatório. — Vamos fazer o seguinte: se você conseguir me fazer sangrar, eu e minha irmã vamos embora agora.

A irmã ao lado dele soltou uma risada contida, cobrindo a boca como se achasse a ideia de William uma piada.

William respirou fundo, os olhos fixos em Vicente. Ele pegou um pequeno frasco de água do bolso e jogou nas mãos, esfregando os dedos rapidamente.

— Não quero me machucar, né? — William disse, com um tom desafiador.

Sem hesitar, ele partiu para cima de Vicente com velocidade. Seus punhos cortaram o ar com força e precisão, o fruto de anos de treino em boxe e caratê.

Vicente desviou com facilidade dos primeiros golpes, movendo-se com uma rapidez sobrenatural. Ele parecia estar se divertindo, brincando com William como um gato brinca com um rato.

Mas William não desistiu. Ele girou, acertando um chute em direção ao abdômen de Vicente. Dessa vez, Vicente não foi rápido o suficiente para desviar completamente. O chute acertou de raspão, e William sentiu algo estranho ao entrar em contato com a pele de Vicente.

Vicente recuou ligeiramente, e quando olhou para sua mão, uma pequena gota de sangue escorria.

O sorriso de Vicente desapareceu.

William continuou seus ataques com força e precisão, sua respiração pesada ecoando pela sala. Soco após soco, ele forçava Vicente a recuar, e, em um movimento rápido, um de seus socos acertou o rosto do vampiro em cheio. Vicente foi jogado para trás, cambaleando com o impacto.

A irmã dele, ainda parada na porta, arregalou os olhos.

— Seu nariz, irmão... — disse ela, alarmada.

Vicente tocou o rosto e sentiu algo úmido. Quando olhou para os dedos, viu sangue escorrendo. O ódio tomou conta de seu olhar.

— Água benta, babaca. — William disse com um sorriso cansado. — Posso ser cabeça de vento, mas não sou burro.

Vicente rangeu os dentes, furioso. — Um vampiro é obrigado a cumprir uma promessa... você tem sorte, humano.

E então, em um piscar de olhos, Vicente desapareceu, junto com sua irmã.

Marcos caiu de joelhos, os olhos voltando ao normal enquanto o transe se dissipava. Ele olhou para William com confusão, mas não disse nada.

William, por outro lado, caiu no chão, exausto e com as mãos machucadas, os nós dos dedos sangrando por causa dos golpes.

Em uma sala escura e gótica, Vicente estava ajoelhado diante de um homem alto, com uma aura assustadora e cruel. O homem o segurava pelo pescoço, os dedos pálidos como garras.

— Você me envergonha, Vicente. Um humano de merda te fez sangrar! — rugiu o homem.

Vicente olhava para baixo, humilhado e envergonhado.

— Traga ele e os amiguinhos dele. Eles serão meus escravos... assim como sua irmã.

Com um movimento brutal, o homem jogou Vicente no chão, o barulho ecoando pela sala fria e sombria.

As paredes escutam

Em uma noite fria, envolta por uma névoa densa, a mansão da família vampírica erguia-se como uma fortaleza esquecida. Os corredores eram vastos e escuros, decorados com tapeçarias antigas e objetos que pareciam carregados de memórias macabras. Luna, ainda uma adolescente no mundo dos vampiros, sentia-se pequena ali. Ela era a mais jovem de três irmãos, e a única que ainda guardava um resquício de humanidade dentro de si.

Desde criança, Luna passava horas olhando pela única janela que não era completamente bloqueada por madeira. A luz do sol sempre a fascinava, mesmo que sua pele não suportasse tocá-la. Enquanto Vicente e Leviana praticavam lutas e aprimoravam suas habilidades de caça, Luna sonhava com um mundo diferente, longe da escuridão que a rodeava.

— Por que você não se junta a nós, irmã? — perguntou Leviana, certa vez, com seu tom habitual de desdém. — Ainda sonhando com o impossível?

Luna permaneceu em silêncio. Ela sabia que sua irmã era leal ao pai, e qualquer comentário seria reportado imediatamente.

Uma noite fatídica, todos foram convocados ao grande salão da mansão. O pai dos irmãos, um vampiro alto e imponente, conhecido apenas como "O Senhor", esperava por eles. Seus olhos brilhavam com um vermelho intenso, e sua presença fazia o ar da sala parecer pesado.

— Luna, sua iniciação é hoje — declarou ele com frieza. — Está na hora de provar que você é digna do sangue que corre em suas veias.

Vicente, sempre o irmão mais obediente, manteve-se em posição de respeito, mas seus olhos traíam uma leve preocupação. Leviana, por outro lado, sorriu de maneira cruel.

— Você irá caçar esta noite — continuou o pai. — E trará sua primeira vítima.

O coração de Luna acelerou. Tudo dentro dela gritava contra aquilo. Ela já tinha visto as caçadas de seus irmãos e sabia o que acontecia com as vítimas. Não poderia se tornar aquilo.

— Eu não vou fazer isso — respondeu Luna, com uma voz firme, mas cheia de medo.

O silêncio caiu sobre a sala como uma sentença de morte.

O pai de Luna deu um passo à frente, seus olhos brilhando de raiva.

— Você ousa me desobedecer?

Antes que qualquer um pudesse reagir, Luna correu. Usou toda a sua velocidade e força para atravessar os corredores da mansão, derrubando tudo em seu caminho. Vicente e Leviana saíram em perseguição imediatamente.

— Não a deixe escapar! — gritou o pai deles.

Luna correu pela floresta, seus pés descalços machucando-se nas pedras e galhos. O som dos passos de seus irmãos ficava mais próximo a cada segundo.

Em um ponto, Vicente conseguiu alcançá-la e a empurrou contra uma árvore.

— Luna, pare com isso! Você sabe que não há escapatória! — disse ele, com uma voz que misturava raiva e preocupação.

— Eu não quero ser como vocês! — Luna gritou, com lágrimas nos olhos. — Eu não quero me tornar um monstro!

Por um breve momento, Vicente hesitou. Aquelas palavras mexeram com algo dentro dele. Mas Leviana logo apareceu, furiosa.

— Pare com a piedade, Vicente. Se ela não quer ser uma de nós, então é uma inimiga!

Luna aproveitou o momento de distração para escapar novamente. Correu até suas forças se esgotarem e, finalmente, desabou à beira de um riacho.

A primeira coisa que Luna ouviu foi o som de passos e vozes humanas. Ela abriu os olhos lentamente e viu dois rapazes se aproximando.

— Ei, você está bem? — perguntou William, cauteloso.

Luna tentou levantar-se, mas não tinha forças. Tudo o que conseguiu fazer foi olhar para eles, com uma mistura de medo e esperança.

Marcos, sempre desconfiado, manteve-se à distância com a câmera em mãos.

— Quem é você? O que aconteceu? — perguntou ele.

Luna não tinha respostas. Só sabia que, pela primeira vez, havia encontrado pessoas que não a tratavam como uma aberração.

E, naquele momento, decidiu que nunca mais voltaria para casa.

Vicente retornou à mansão naquela mesma noite, após Luna ter escapado. Seus passos ecoavam pelos corredores frios e silenciosos enquanto seguia para o grande salão central. Lá estava seu pai, sentado em um trono de pedra negra, envolto por uma escuridão quase palpável. Os olhos vermelhos do "Senhor" brilhavam sob a luz das tochas.

— Onde está sua irmã? — perguntou ele, com uma voz seca e ameaçadora.

Vicente respirou fundo, o peito subindo e descendo com o peso da confissão.

— Fugiu. Dois humanos a ajudaram a escapar. Mas vou trazê-la de volta.

O "Senhor" se levantou lentamente, seu olhar gelado perfurando Vicente.

— Dois humanos? — Ele deu um passo à frente. — Você permitiu que mortais atrapalhassem nossa família?

Vicente manteve a cabeça baixa, o orgulho ferido.

— Havia algo estranho naquele lugar onde eles estavam. O nível de magia era alto. Não eram humanos comuns.

O pai ficou em silêncio, refletindo por um momento. Depois, andou lentamente até a lareira do salão, onde as chamas ardiam em uma dança violenta.

— Primeiro, aquele lugar repleto de magia... Agora sua irmã fugindo. Essas coincidências me irritam. — Ele se virou de repente, os olhos brilhando de frustração. — Você tem uma última chance para trazê-la de volta. Não me decepcione, Vicente.

Ele fez um gesto brusco com a mão, e as portas atrás de Vicente se abriram sozinhas, rangendo pesadamente.

Vicente saiu apressado, respirando fundo para controlar sua raiva e frustração. Ao atravessar o corredor, Leviana estava esperando por ele. Ela estava encostada em uma coluna de pedra, os braços cruzados e um sorriso malicioso nos lábios.

— Está com problemas, irmãozinho? — provocou, seus olhos faiscando de diversão.

— Não estou com paciência para isso, Leviana. — Vicente tentou passar direto, mas ela o seguiu de perto.

— Você deveria ter deixado Luna fugir. Sempre foi uma fraca, desde o começo.

Vicente parou e virou-se para ela.

— Você não sabe de nada.

— Talvez não. — Leviana riu suavemente. — Mas agora, temos que trazê-la de volta. E eu vou me divertir muito fazendo isso.

Vicente apertou os punhos e voltou a andar, Leviana o seguindo, rindo baixinho enquanto desapareciam na noite.

Na manhã seguinte, Vicente e Leviana estavam na floresta, os primeiros raios de sol filtrando-se pelas árvores densas. Vicente caminhava em silêncio, com os olhos fixos no chão, até parar ao ver uma mochila largada perto de algumas folhas amassadas. Ele a pegou e examinou rapidamente.

— Um dos humanos deixou isso — murmurou ele.

Leviana se aproximou, observando a mochila com desinteresse antes de soltar uma risada irônica.

— Você sabe que é o mais forte dos jovens vampiros, o "durão". Mas seu ponto fraco sempre foi Luna. — Seus olhos estreitaram. — Se você a tivesse capturado, teria coragem de machucá-la?

Vicente ignorou a provocação, mas suas mãos apertaram a mochila com mais força. Ele vasculhou o interior até encontrar um pedaço de papel dobrado com um endereço anotado. Ele jogou o papel para Leviana sem sequer olhar para ela.

— Cala a boca e faça algo útil.

Leviana pegou o papel no ar com um sorriso afiado e começou a se preparar. Sua forma mudou lentamente, os braços e pernas encolhendo, até que um grande morcego de asas negras se ergueu onde antes estava a vampira. Com um último olhar zombeteiro para Vicente, ela alçou voo, partindo em direção à casa de Marcos.

Leviana pousou suavemente em uma rua deserta perto da casa de Marcos, retornando à sua forma humana. Carregava um guarda-chuva negro, protegendo-se dos poucos raios de sol que atravessavam as nuvens matinais. Aproximou-se da porta da casa e tocou a campainha com um ar sereno.

O pai de Marcos abriu a porta, com uma expressão cansada e ligeiramente desconfiada.

— Sim?

Leviana sorriu gentilmente, um sorriso cuidadosamente ensaiado para parecer inocente.

— Oi, senhor. Desculpe aparecer sem avisar. Meu nome é... Lívia. — Ela hesitou propositalmente para soar mais convincente. — Sou namorada do Marcos. Eu estou preocupada porque não vejo ele há dois dias. Ele não responde às minhas mensagens.

O pai de Marcos franziu o cenho. — Namorada? Ele nunca mencionou você.

— Ah, ele é meio reservado, não é? — Leviana deu uma risadinha nervosa, baixando os olhos. — Entendo se não acreditar em mim, mas realmente estou preocupada. Eu só queria saber se ele está bem ou se posso esperar por ele no quarto até que volte.

O pai de Marcos suspirou, passando a mão pelos cabelos.

— Ele chegou tarde ontem e saiu cedo hoje de novo, como sempre. Eu não sei o que está acontecendo com ele ultimamente. — Ele hesitou por um momento, mas acabou abrindo mais a porta. — Tá, entre. Pode esperar lá no quarto dele.

Leviana entrou com passos leves, o sorriso se mantendo enquanto subia as escadas para o quarto de Marcos. Por trás dos olhos calmos, porém, havia uma determinação fria e calculista.

Leviana entrou no quarto de Marcos e fechou a porta atrás de si com um clique suave. Ela começou a vasculhar tudo — gavetas, prateleiras, até debaixo da cama. Ao encontrar um caderno com desenhos e anotações, deu uma risadinha baixa.

— Humanos são tão... fofos, com suas preocupações e sonhos pequenos. — Seus dedos delicados passaram pelas páginas antes de fechar o caderno com um estalo.

Duas horas depois, a porta do quarto se abriu bruscamente. Marcos entrou com a testa franzida, parando ao vê-la sentada calmamente em sua cama.

— Quem é você? E o que está fazendo no meu quarto?

Leviana se levantou, seu olhar fixo nos olhos dele. Seu tom era suave, mas com um toque de autoridade.

— Eu sou Leviana. Estava esperando por você. Achei que poderíamos conversar sobre... Luna.

Marcos ficou tenso. — Luna? Como você sabe sobre ela?

Leviana se aproximou lentamente, os olhos começando a brilhar com um vermelho suave.

— Você e seus amigos interferiram onde não deviam, mas eu não estou aqui para brigar. — Ela colocou uma mão gelada no ombro dele e, com um movimento rápido, agarrou seu pescoço. Marcos tentou se soltar, mas ela era muito mais forte.

Antes que ele pudesse reagir, Leviana inclinou-se e deu um beijo em sua bochecha.

— Agora olhe nos meus olhos.

Marcos, confuso, sentiu o peso do olhar dela. Seus olhos brilharam intensamente, e de repente sua mente ficou nublada.

— Você é meu agora — disse Leviana, com um tom suave e hipnótico. — Me leve até minha irmã.

Sem resistência, Marcos assentiu lentamente. Os dois saíram da casa juntos, sem dizer uma palavra ao pai de Marcos, que nem percebeu.

Ao chegarem na floresta, Vicente estava esperando por eles, os braços cruzados e o olhar frio. O céu estava tingido de laranja, e as sombras das árvores começavam a se alongar com o anoitecer.

— Finalmente — disse Vicente, sem emoção. — Vamos. Já está quase anoitecendo.

Leviana e Marcos se colocaram ao lado de Vicente, e os três partiram rapidamente em direção à casa de Rita.

NO PRESENTE

Vicente saiu do quarto de seu pai com o olhar abatido e um olho roxo que ainda pulsava de dor. Ele não dizia nada, mantendo a postura rígida enquanto caminhava pelo longo corredor do castelo. Atrás da porta, Leviana estava encostada na parede, os braços cruzados. Ela tinha ouvido tudo.

Quando Vicente passou por ela, ela não disse nada, mas o olhou de um jeito diferente, um olhar quase... compreensivo. Pela primeira vez, ela parecia ver algo além da fachada durona do irmão. No entanto, Vicente evitou encará-la. Ele apenas virou-se e, em um piscar de olhos, assumiu sua forma de morcego, batendo as asas rapidamente enquanto desaparecia pelo corredor sombrio.

Leviana ficou parada por um momento, absorvendo o que tinha acabado de presenciar. Com um suspiro profundo, virou-se para caminhar até seu quarto, seus passos ecoando suavemente pelas pedras do chão.

Antes que pudesse chegar à porta, uma figura alta e imponente bloqueou seu caminho. Seu pai, o rei dos vampiros, estava ali, olhando para ela com olhos frios e severos. Sua presença era avassaladora, cada movimento calculado.

— Minha filha do meio — ele começou, com uma voz calma, mas carregada de autoridade. — Seu irmão... fracassou. Ele não é mais digno de ser meu sucessor.

Leviana ergueu o queixo, tentando esconder qualquer reação, mas por dentro sentia o peso das palavras dele.

— Portanto, a responsabilidade agora recai sobre você — continuou o rei, inclinando-se levemente para ficar na altura de seus olhos. — Traga sua irmã de volta. Prove que você é digna. Faça o que for necessário.

Ele se endireitou, a luz fraca das tochas revelando sua expressão dura.

— Se você cumprir essa tarefa, será a nova sucessora ao trono. Não me decepcione, Leviana.

Ela respirou fundo, engolindo em seco antes de responder com uma leve reverência.

— Sim, meu pai.

Sem mais palavras, ele deu meia-volta e desapareceu na escuridão do corredor. Leviana permaneceu ali por alguns segundos, imóvel, antes de apertar os punhos com força. Por fora, sua expressão parecia calma, mas seus olhos traiam algo mais profundo: um misto de ambição, conflito e... talvez até tristeza.

Ela seguiu para seu quarto, fechando a porta atrás de si. Sozinha, sentou-se na beirada da cama, encarando o chão.

— Não é só uma questão de trazer Luna de volta... — murmurou para si mesma, pensativa. — É uma questão de sobreviver neste maldito jogo.

Do lado de fora do castelo, Vicente observava as torres de longe, ainda em sua forma de morcego. Ele não voltaria até ter algo que valesse a pena mostrar ao pai. E, no fundo, talvez isso fosse mais difícil do que ele queria admitir.

O sol brilhava forte pela janela da casa de Rita, anunciando o início de mais um dia. Os raios atravessavam as cortinas finas, iluminando suavemente o ambiente. Marcos despertou lentamente, os olhos ajustando-se à luz. Ele ainda se sentia exausto e confuso pelos eventos da noite anterior, mas estava de pé rapidamente, olhando ao redor.

William estava sentado à mesa, com ambas as mãos completamente enfaixadas. Os nós de seus dedos ainda doíam pelo confronto com Vicente, mas ele tentava esconder o desconforto. Mesmo assim, seus olhos mostravam orgulho pelo que havia conseguido fazer.

Luna, que estava encostada em uma das paredes, aproximou-se lentamente. Ela parecia mais tranquila sob o sol, embora ainda estivesse claramente desconfortável com a luz direta. Sua pele pálida refletia o brilho do sol, mas sua expressão era séria.

— Deixa eu ver suas mãos — disse ela suavemente, estendendo as próprias mãos em direção a William.

William hesitou por um momento, mas acabou estendendo os braços para que ela pudesse ver. Luna delicadamente tocou as bandagens.

— Isso vai doer um pouco, mas vai ajudar — ela murmurou, fechando os olhos.

Ela começou a entoar palavras baixas, uma linguagem antiga e quase melódica que fez o ar ao redor deles parecer vibrar. As palmas de suas mãos começaram a brilhar levemente com uma luz azulada, e o calor suave envolveu os punhos de William.

Ele sentiu uma leve queimação, mas logo a dor diminuiu, sendo substituída por uma sensação de alívio. Quando Luna retirou as mãos, William olhou para suas bandagens. Ele as removeu cuidadosamente e ficou surpreso ao ver que os hematomas haviam desaparecido quase completamente.

— Como... você fez isso? — perguntou ele, incrédulo.

— Magia de cura — respondeu Luna, sem emoção. — Algo que aprendi há muito tempo.

Marcos observava tudo em silêncio, seus olhos estreitando-se enquanto absorvia cada detalhe.

— Parece que você sabe muito mais do que está dizendo, Luna — comentou Marcos, com um tom levemente desconfiado.

Luna encontrou o olhar dele, mas não respondeu. Em vez disso, apenas virou-se e foi até a janela, onde o sol brilhava com força.

— Temos pouco tempo antes que meus irmãos voltem. Eles não vão desistir facilmente.

O clima na casa ficou tenso novamente, mas agora havia algo diferente. Eles sabiam que não podiam mais ignorar o que estava acontecendo. E, mesmo com as incertezas, o vínculo entre eles começava a se formar de maneira sutil.

Luna sentou-se em uma das cadeiras da cozinha, com uma caneca de sangue nas mãos. Seus dedos finos envolviam o copo, mas ela não parecia realmente interessada no conteúdo. Seu olhar estava perdido em algum ponto distante da parede.

— Eu aprendi com a minha mãe... — começou ela, sua voz baixa e um pouco rouca. — Ela era... diferente.

Marcos e William se entreolharam, curiosos e cautelosos.

— Enquanto outros vampiros destruíam tudo ao seu redor, ela curava. Ela ajudava humanos e vampiros... Não tinha medo de se arriscar por ninguém. Acho que foi isso que fez meu pai se interessar por ela.

Ela deu um pequeno sorriso melancólico ao lembrar-se da figura que provavelmente nunca chegou a conhecer plenamente.

— Bem... resumindo, a história não teve um final feliz. — Seus olhos começaram a tremer, e os dedos apertaram a caneca com força. — Ela morreu no meu parto.

O silêncio preencheu o ambiente. William parou o que estava fazendo, os olhos arregalados. Marcos ficou sem reação, suas mãos agora cruzadas na frente do peito, em um gesto inconsciente de proteção.

— Meus irmãos e meu pai nunca me perdoaram por isso — Luna continuou, sua voz falhando um pouco. — Eles me culpam por tudo. Por eu ser a razão de ela não estar mais aqui.

As lágrimas ameaçaram surgir em seus olhos, mas Luna rapidamente as secou com o dorso da mão. Ela olhou para os dois, tentando recuperar o controle.

— É por isso que eles me odeiam tanto. Vicente tenta esconder, mas ele não consegue deixar o passado para trás. E Leviana... ela apenas gosta de me ver sofrer.

Rita, que ouvia da porta, entrou silenciosamente. Ela colocou uma mão suave no ombro de Luna, um gesto simples, mas cheio de empatia.

— Não é sua culpa — disse Rita suavemente. — Você não tinha escolha.

Luna apenas balançou a cabeça, sem conseguir responder.

Marcos, que geralmente não sabia lidar com momentos emocionais, soltou um suspiro.

— Bom, se eles querem briga, vão ter que passar por nós primeiro.

William assentiu com determinação.

— Isso mesmo. Não importa o que eles acham, você não está sozinha agora.

Luna olhou para eles, surpresa com as palavras. Pela primeira vez em muito tempo, ela não sentiu que estava lutando sozinha. 

No castelo sombrio, o quarto de Vicent estava mergulhado na escuridão. A única luz vinha da lua cheia, que penetrava pelas enormes janelas góticas. Ele estava deitado em sua cama, mas seu sono estava longe de ser tranquilo. Seu rosto, geralmente sério e impassível, estava agora contorcido em agonia.

Fragmentos de memórias começavam a se formar em sua mente.

Ele viu sua mãe, deitada em uma cama enorme, sua pele pálida e frágil. Ela o olhava com olhos marejados, mas cheios de amor e urgência.

— Filho... — a voz dela parecia ecoar no vazio. — Protege... sua irmã... deles... por favor... eu imploro.

A cena mudou abruptamente. Agora, ele ouvia gritos. Luna, mais jovem, correndo por um corredor escuro. Suas mãos estendidas para ele, os olhos cheios de medo e desespero.

— Irmão, me ajuda! — O grito dela cortou o ar, e Vicent viu sua irmã ser puxada para longe por sombras que ele não conseguia distinguir.

Tudo ficou preto por um momento antes de um último grito de Luna ecoar em sua mente.

Vicent acordou com um salto, ofegante. Seu corpo estava coberto de suor frio, e seus olhos estavam arregalados, brilhando com uma mistura de raiva e dor.

— Luna! — ele gritou, a voz ecoando pelas paredes de pedra do castelo.

Ele passou a mão pelos cabelos bagunçados, tentando recuperar o fôlego. Mas o sonho... ou memória... não saía de sua cabeça. Algo estava errado. Muito errado.

Vicent saiu da cama, decidido. Havia algo que ele precisava descobrir — e rápido.

Vicent caminhava pelas sombras fora do castelo, o luar iluminando fracamente seu rosto ainda marcado pela preocupação. Ele parou em uma clareira, e logo uma figura esbelta surgiu das árvores: Ruby. Seu cabelo vermelho brilhava sob a luz da lua, e seus olhos tinham o brilho atrevido de quem não seguia regras. Ela cruzou os braços e deu um sorriso provocador.

— E aí, idiota. O que foi agora? — disse com um tom sarcástico.

Vicente ergueu uma sobrancelha, impassível. — Mais respeito, Ruby.

Ela suspirou, mas o sorriso não desapareceu. — Tá bom, tá bom. O grande príncipe dos vampiros quer minha ajuda? O que aconteceu?

Ele olhou ao redor para garantir que ninguém os seguia. — Tenho um problema. E preciso da sua discrição.

Os olhos de Ruby brilharam de curiosidade. — Discrição não é meu forte, mas manda aí.

Enquanto os dois conversavam, Leviana estava em um quarto escuro, iluminado apenas pela tela azulada de um celular. Ela estava sentada na cama de Marcos, com um caderno de capa escura ao lado — seu diário, onde ela anotava suas observações e planos.

Ela passou os dedos pálidos pelo aparelho, ainda tentando entender como funcionava. Depois de algumas tentativas desajeitadas, conseguiu abrir um aplicativo de mensagens e soltou uma risada baixa e zombeteira.

— Humanos são tão engraçados... — murmurou para si mesma.

Seu sorriso malicioso aumentou quando pensou nas informações que poderia extrair dali. — Dois dias... — disse em voz baixa. Ela estava contando o tempo. E, em breve, faria seu próximo movimento.

Na casa de Rita, Marcos olhava ao redor, ainda tenso com os últimos acontecimentos. — Isso aqui não é mais seguro — declarou, sua voz firme. — Precisamos sair antes que anoiteça de novo.

William, com as mãos ainda doloridas, olhou para Luna, que estava fraca depois de tudo o que acontecera. — Conheço um lugar. A casa onde brincávamos quando éramos crianças, lembra, Marcos?

Marcos assentiu. — Sim. Só nós sabemos onde fica. E o melhor: é perto de uma plantação cheia de alho. Isso deve nos proteger à noite.

Rita, embora hesitante, sabia que não tinham outra opção. — Vamos rápido.

William se aproximou de Luna e a pegou cuidadosamente nos braços. Ela tentou protestar, mas não tinha forças para andar sozinha.

— Sempre o cavalheiro... — murmurou Marcos com um sorriso provocador, olhando para William. — Vou fazer o mesmo com Rita.

Rita não pensou duas vezes e deu um tapa nele. — Nem tente.

Com isso, os quatro saíram rapidamente da casa, carregando apenas o essencial. Eles caminharam pela floresta até o antigo esconderijo. A velha casa estava coberta de musgo e parcialmente escondida pelas árvores, mas ainda parecia sólida.

Enquanto a noite começava a cair, eles finalmente chegaram. William colocou Luna para descansar, enquanto Marcos e Rita verificavam o local para garantir que estava seguro.

O grupo sabia que aquela era apenas uma pausa temporária. A guerra contra os vampiros estava longe de terminar

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