Os relâmpagos iluminavam todo o céu como se fosse uma festa de fogos de artifício, chovia torrencialmente devido à terrível tempestade que se desencadeava naquela noite. Era uma cidade muito grande e transitável, no entanto, naquela noite havia apenas uma pessoa lá fora: Sofia corria desesperadamente sob a tempestade. Quem a visse pensaria que estava completamente louca por sair com tamanha tempestade, mas isso não lhe importava, apenas se importava com a saúde de sua filha pequena, que havia sido novamente hospitalizada horas antes.
A moça parou abatida em frente aos enormes portões brancos, respirou fundo e secou um pouco o rosto molhado com as mangas de sua jaqueta encharcada. Pensou se estava fazendo o correto ao voltar para casa, mas, apesar de seu pai tê-la expulsado quando soube de sua gravidez, naquele momento estava disposta a fazer o que fosse preciso por sua filha.
Tocou a campainha com as mãos trêmulas, estava com medo, seu pai era um homem desprezível, mas ainda assim tinha a esperança de que o homem guardasse ao menos um pouco de compaixão em seu coração.
Passaram-se alguns minutos, que para a jovem pareceram anos, quando na porta apareceu um homem grisalho de uns setenta anos com um guarda-chuva preto protegendo-o da chuva.
— Senhorita Zambrano, mas o que faz aqui? — perguntou o homem, surpreso ao ver a moça sob a chuva, jamais pensou em vê-la novamente, não depois de como ela saiu da mansão.
— Victor, quero ver meu pai, deixe-me entrar — pediu a jovem com desespero ao ver que o homem não tinha nenhuma intenção de abrir o portão.
— Receio que não possa deixá-la entrar, sua família não quer vê-la novamente, você para eles já não existe. Para se ter uma ideia, queimaram todas as suas coisas, suas fotos e, quando alguém pergunta por você, eles dizem que você faleceu em um terrível acidente, sinto muito, senhorita Zambrano, você sabe que tenho muito carinho por você, mas neste momento minha lealdade está com sua família, eles são quem pagam meu salário.
— Victor, por favor, é muito importante, não irei embora até que me recebam.
— Não posso deixá-la passar e, se continuar insistindo, terei que chamar a polícia.
A moça franziu a testa, irritada. Sempre havia pensado que Victor era um mordomo adorável, mas agora que mostrava seu verdadeiro rosto, desejava gritar-lhe de tudo, mas naquele momento não tinha tempo para isso. Sofia agarrou-se com força ao portão e começou a gritar como uma demente, gritou tanto, mas tanto que toda a família saiu para ver o que acontecia.
— Finalmente consegui chamar a atenção deles — pensou a moça ao ver seu pai sair seguido pelos demais.
— Mas o que está acontecendo aqui? Por que tanto grito? — perguntou o imponente homem, irritado.
Carlos Zambrano, um homem de cerca de cinquenta anos, cabelo bem penteado para trás, olhos verdes, alto, com uma frieza que poderia congelar até o próprio inferno, dono de uma cadeia de hotéis e supermercados, um homem que só se importa com dinheiro e nada mais que isso, olhou para a moça com todo o ódio do mundo.
— Sua maldita pirralha imoral, como se atreve a vir a esta mansão depois da humilhação que fez a família passar? — perguntou o homem, cerrando os punhos.
— Por favor, preciso que me ajude!! O que aconteceu há seis anos tem uma explicação, por favor, pai, peço cinco minutos do seu tempo para que me escute.
— Nem cinco segundos te escutaria, você para esta família está morta, vá embora — cuspiu o homem com ódio.
— Carlos, por favor, deixe-a entrar, acho que, apesar de tudo de ruim que Sofia fez, ela continua sendo nossa filha, não acha? — perguntou Serena, sua esposa.
— Filha? Eu só tenho um filho e nada mais, esta qualquer não é minha filha.
— Meu irmão tem razão, não sei como tem a cara de vir incomodar depois do que fez, indecente, se fosse minha filha já teria te corrigido com chicotadas — falou Lorena, a irmã de Carlos.
— Graças ao céu que não tenho uma mãe tão feia e aproveitadora como você, que vive do dinheiro do seu irmão porque não é ninguém — a mulher levou a mão ao peito, fingindo dor.
— Meu Deus, mas você ficou mais vulgar do que era antes, não merece carregar o sobrenome Zambrano, não é digna dele — disse a mulher ofendida enquanto a jovem levantava os ombros, minimizando o que sua tia disse.
Não era nenhuma novidade que Lorena Zambrano era uma bruxa disfarçada de cordeirinho, nunca havia gostado de sua sobrinha, sempre havia desejado que suas filhas tivessem ao menos um pouco da beleza de Sofia. Lorena era uma mulher viúva que, ao falecer seu marido, ficou na completa miséria, se não fosse por seu irmão Carlos, que a levou com suas filhas para viver na grande mansão, viveriam debaixo de uma ponte.
Lorena sempre tomou atribuições que não lhe correspondiam e até em certo ponto conseguiu fazer com que suas filhas tivessem mais direitos na mansão do que a própria filha de Carlos.
— Deixem-me a sós com ela — disse Carlos, olhando para os demais.
— Pai, não merece, vamos entrar, logo servirão a comida — mencionou Gabriel, o irmão mais velho de Sofia.
— Gabrielito tem razão, irmão, não perca seu valioso tempo com esta desavergonhada, má filha, imoral.
— Escuta, tia, se eu sou tudo isso, então suas filhinhas são o quê? — perguntou a jovem, cansada das humilhações de sua tia Lorena.
— Pirralha desprezível, não permitirei que falte com respeito às minhas meninas preciosas — a mulher tentou abrir o portão para golpear a jovem, mas seu irmão a impediu.
— Lorena, por favor, entre.
A contragosto, todos se foram, deixando Sofia a sós com seu pai.
— Pai, por favor, preciso de dinheiro para pagar o hospital da minha filha, por favor, ajude-me, suplico.
— Depois da humilhação que nos fez passar frente a uma família tão distinta como os Marquês, tem a cara de vir pedir dinheiro para sua filha bastarda? É mais estúpida do que imaginei.
Mas estou disposto a perdoar sua ofensa e permitir que volte à mansão e desfrute de sua vida de rainha, se fizer o que te digo.
— Farei o que for preciso se me ajudar a salvar minha filha — disse a moça desesperada e o homem soltou uma gargalhada sarcástica.
— Nunca pagaria um centavo pela vida dessa bastarda, que vá saber de quem é filha, por mim que morra...
— É um monstro, como pode falar assim da sua neta? Leva seu sangue.
— Por desgraça, mas nunca a considerarei minha neta, te ofereço um trato maravilhoso, Adela e Hugo querem adotar um menino ou menina, dê sua bastarda a eles e volte à mansão, poderia voltar a estudar, a usar joias, roupas de grife e viajar pelo mundo.
Eles, tenho certeza, pagariam todos os tratamentos médicos que a pirralha necessite e eu poderia conseguir um bom partido para você, um que nos faça mais ricos do que já somos.
— Não é que disse a todo mundo que morri em um terrível acidente?
— Podemos dar um jeito, diria que milagrosamente se salvou e estava em coma em algum hospital e ninguém sabia seu sobrenome ou algo parecido — a moça soltou uma forte gargalhada.
— Está demente! Jamais me prestaria a seu jogo sujo, nunca me viu como sua filha, para você sempre fui uma coisa da qual poder tirar o melhor proveito, nada mais, nunca abandonaria minha filha nem por todo o ouro do mundo.
— Pois então vá pondo um vestido preto porque não penso em te dar nem um centavo para salvar sua filha.
— Te odeio, te odeio você, sua irmã, suas sobrinhas e seu filhinho perfeito, todos são uns malditos que algum dia me pagarão — gritou a moça antes de ser empurrada por seu progenitor para uma poça de água.
Em seguida, o homem sacudiu as mãos com nojo e entrou novamente na mansão como se a que acabara de deixar jogada no chão não fosse sua filha.
Sofia se levantou com dor, olhou uma última vez para a imensa mansão e, jurando que algum dia se vingaria de todos, foi embora soluçando para o hospital onde sua filha está hospitalizada.
...Sofia ...
- Doutor, por favor, me diga como está minha filha? - perguntou a jovem mãe à beira de um ataque de nervos. Fazia mais de duas horas que esperava para saber sobre o estado de saúde de sua filha.
- Senhorita Zambrano, não vou mentir para você, a menina ainda está em estado delicado, conseguimos estancar o sangramento nasal, mas ainda tem muita febre. Vamos deixá-la na UTI esta noite e amanhã voltaremos a avaliar sua situação. Mas devo avisá-la que, se não pagar as contas do mês passado, não poderemos continuar atendendo a menina aqui, sinto muito mesmo - disse o médico muito constrangido antes de ir embora.
A garota caiu no chão chorando, sua filha havia estado doente quase o mês todo, então ela não tinha conseguido trabalhar e o pouco dinheiro que tinha guardado havia sido gasto em alimentos e remédios para sua filha. Ela se abraçou e continuou chorando sem saber o que fazer, não tinha família, já que a única que tinha lhe virou as costas quando ficou grávida, nem amigas, nem ninguém a quem recorrer. Neste momento, ela se sentia desesperada, não entendia por que a vida havia se empenhado em lhe causar tanto dano, se era apenas uma garota de vinte e quatro anos querendo ser feliz com sua filha.
Sofia se levantou imediatamente e caminhou até um dos banheiros e lavou seu rosto com água fria, depois se olhou no espelho e disse palavras motivacionais, ela deveria se manter forte para sua filha, não podia se mostrar fraca, sua filha precisava dela forte.
Passou a noite toda sentada na sala de espera com seu velho rosário nas mãos, uma senhora havia dado a ela quando Sofia estava passando por outro momento muito angustiante em sua vida, ela tinha ido pedir misericórdia à igreja e de repente apareceu aquela senhora e do nada se aproximou dela e lhe deu, desde aquele momento Sofia não se separou dele.
- Senhorita, por que não vai descansar um pouco ou comer alguma coisa? Eu aviso qualquer coisa - ofereceu uma enfermeira, sentia pena da pobre mãe que estava sentada há horas sem se mover da sala de espera.
Todo o pessoal do hospital conhecia o caso de Sofia e sua filha, sentiam muita pena de ambas, mais de uma vez haviam feito alguma coleta no hospital para poder ajudá-la a pagar as contas, Sofia parecia tão frágil e desamparada que podia comover qualquer um.
- Muito obrigada, mas estou bem, quando poderei ver minha filha? - perguntou a garota com a voz cansada.
- Não poderá vê-la até o meio-dia.
- Entendo, obrigada - Sofia dedicou um sorriso sincero à enfermeira, que lhe deu um leve tapinha nas costas antes de se retirar.
Sofia caminhou até a máquina de café e se serviu um, pelo menos isso era de graça, não tinha dinheiro para se dar ao luxo de pagar por um, enquanto bebia o café lembrou de sua luxuosa vida antes de engravidar e ser jogada como lixo de sua casa.
- Senhorita Zambrano - a voz da secretária administrativa do hospital a tirou de seus pensamentos.
- Sim? - perguntou pulando tão rápido que acabou derramando quase todo o café em sua blusa, pelo menos não estava quente.
- Venha comigo, por favor, o diretor quer falar com você.
A garota assentiu e seguiu em silêncio a mulher elegante que vestia roupas caríssimas e usava joias preciosas como as que um dia Sofia também teve.
Foi dirigida a um escritório bastante afastado das demais áreas, ao entrar pôde ver o diretor Matías Torres que revisava uns papéis, o homem era alto, muito alto realmente fazia jus ao seu sobrenome, teria uns cinquenta e cinco anos, uma barba cuidadosamente cortada, olhos cor de café, um Rolex que valia tanto quanto o dinheiro que a garota precisava neste momento e usava seu jaleco médico com a descrição de diretor do hospital.
- Doutor... - disse nervosa a garota, não estava gostando da maneira tão descarada de o médico observá-la.
- Sofia Zambrano, você se tornou uma mulher, uma verdadeira beleza, o desejo latente de qualquer homem - disse lambendo os lábios. A garota por instinto deu um passo para trás.
- O que você quer? Para que me chamou? Se é pela dívida, eu juro que vou pagar.
- Calma, você é muito jovem para se estressar tanto, sente-se, por favor.
De má vontade a garota obedece.
- Veja bem, a coisa é assim, sua filha não poderá mais seguir seu tratamento aqui, daremos uma alta de emergência e - o médico não pôde seguir com seu discurso, pois a garota o interrompeu desesperada.
- Não, não podem fazer isso, não podem tirar a ajuda médica da minha filha, ela está mal, não podem deixá-la à deriva, isso que querem fazer é abandono de pessoa, eu prometo que assim que conseguir dinheiro pagarei até o último centavo que devo, mas por favor não tirem a atenção médica da minha filha - pediu a garota chorando.
- Sinto muito, bela Sofia, mas as coisas são assim, mas não é só pelo dinheiro que você deve que me vejo obrigado a negar a atenção médica à sua filha.
- E por que mais o faz? Por maldade? Pelo simples motivo de que somos pobres? A vida da minha filha vale menos que a desses meninos que são filhos de políticos, advogados ou engenheiros? Jamais acreditei que você fosse desses que classificam as pessoas pelo que têm, tanto têm, tanto valem.
- Não é isso, Sofia, a verdadeira razão é que seu pai me ofereceu uma soma milionária para literalmente deixar a menina morrer - diz com franqueza o diretor e eu tive que me segurar na mesa para não cair, sabia que meu pai era um ser muito cruel, mas não tão maldito dessa maneira.
- Então você está aceitando um suborno, eu deveria te denunciar, poderia te fazer perder seu trabalho ou até um julgamento onde eu sairia ganhando.
- Sofia, querida, eu te achava mais inteligente, todas as suas ideias serão truncadas por seu pai, ele pagará para que ninguém confie em você, a única coisa que te resta é pegar sua filha e levá-la a um lugar tranquilo para morrer, você não tem opção - diz tão friamente que eu gostaria de quebrar algo na cabeça dele.
- Não importa o que diga, vou te processar, farei com que todo mundo saiba que você é um médico maldito que deixa seus pacientes morrerem por dinheiro, não vou parar até que te tirem a licença médica e você vá para a cadeia - gritou a jovem cheia de impotência.
- Preciosa, faça o que fizer, nunca ganhará de seu pai, não esqueça que ele e eu somos íntimos amigos e me apoiará em tudo, então não se iluda porque não conseguirá nada, só ficará como uma jovem louca que só quer tirar dinheiro de mim.
- Você e meu pai vão me pagar, eu juro - disse antes de virar para a porta.
- Tenho uma proposta que pode ajudar a curar sua filha - disse e em meu desespero pela saúde de minha filha me fez frear de golpe e virar para vê-lo.
- Estou ouvindo - digo e ele sorri maliciosamente, acho que não deveria ter ficado.
- Veja, vou ser sincero, você me parece uma garota muito linda e extremamente sensual, a qual eu adoraria ter embaixo de mim gritando de prazer, seja minha amante e pagarei todas as despesas médicas de sua filha e te ajudarei com seu pai, estou te dando a melhor solução para sua vida, só tem que ser minha puta.
A raiva que senti naquele momento não posso explicar, como um homem que me viu crescer, já que ele e meu pai são íntimos amigos, me oferece algo assim? Era nojento, jamais me comportaria como uma prostituta, tenho dignidade e valores, já encontrarei outra maneira de salvar minha pequena.
Sem dizer nada, caminhei coquetemente até onde ele estava sentado, ao ver minha intenção sorriu satisfeito e se pôs de pé acomodando seu nojento pacote dentro de sua calça, quis vomitar, mas continuei em meu plano, cheguei até ele e com um sorriso rodeei seu pescoço com meus braços, o muito degenerado quis me beijar, mas nesse momento com todas as forças que tinha levantei meu joelho direito e lhe dei o golpe de sua vida em sua virilha, o nojento médico caiu no chão de joelhos e eu sorri satisfeita.
- Você é um homem nojento, jamais me deitaria com você.
- Pois então vá se despedindo de sua linda filhinha - disse entre arquejos de dor.
Saí furiosa daquele escritório, me sentia totalmente destruída animicamente, não entendia por que a vida se empenhava em me causar tanto dano se eu jamais matei nem uma mosca...
...Sofia...
Corri até o banheiro mais próximo e lavei meu rosto com água fria, devia encontrar uma solução com urgência, tinha ouvido falar de alguns lugares onde compram sangue, sempre fui uma garota muito saudável e atlética, antes de engravidar costumava correr quilômetros, era campeã nacional de ginástica rítmica e muito boa nadadora, talvez pudesse vender um pouco do meu sangue e assim pagar os médicos para atender minha princesa, deveria ir averiguar o quanto antes, mas primeiro queria ver como está minha menina.
Saí do banheiro e subi os dois andares pela escada, ao chegar à área de terapia intensiva me deparei com a porta aberta, entrei de imediato encontrando uma horrível situação, duas doutoras ou enfermeiras, a verdade é que com o cansaço e a dor de cabeça que tinha nestes momentos já não conseguia distingui-las bem, estavam no quarto retirando todos os aparelhos que minha filha tinha colocados.
- O que pensam que estão fazendo? Deixem-na - disse irritada\, tentando afastar uma delas da minha menina.
- Senhora\, antes de mais nada\, acalme-se - ordenou uma das enfermeiras ou doutoras\, a outra nem me registrou e seguiu com o que estava fazendo.
- O que estão fazendo? Por que estão fazendo isso com ela?
- Senhora Zambrano\, repito\, sinto muito\, acredite que sinto muito\, mas temos ordem de dar alta obrigatória à sua filha\, ela não pode mais permanecer aqui\, vamos aplicar uma injeção que a fará acordar em questão de alguns minutos ou\, no máximo\, meia hora e depois deve levá-la - senti um nó na garganta ao ouvir isso.
- Mas ela vai ficar bem? - perguntei com lágrimas nos meus olhos.
- Ela vai ficar bem\, é uma menina forte\, o perigo já passou\, enquanto não voltar a ter febre\, tudo estará bem\, daremos alguns analgésicos e algo para manter a temperatura baixa\, mas recomendamos que a leve a um especialista o mais rápido possível - falou-me finalmente a outra mulher que me tinha ignorado até agora\, consegui ler no bolso do seu jaleco o nome de Elena Vera e que era médica pediatra.
- Por favor\, precisamos que espere lá fora - pediu-me a outra enfermeira.
- Não\, por favor\, quero estar com minha filha - implorei-lhes.
- Senhora\, não seja teimosa\, serão apenas alguns minutos\, depois poderá estar com sua filha todo o tempo que desejar.
De má vontade saí do quarto, uma vez no corredor encostei-me à parede e deixei-me cair no chão chorando desconsoladamente, sentia-me tão cansada, só Deus sabe como lutei durante estes anos para criar minha pequena sozinha.
Estava perdida na minha miséria quando diante dos meus olhos apareceu um lenço branco, seguido de uma mão que me incentivava a levantar, levantei a vista e com os olhos ainda turvos pelas lágrimas divisei diante de mim um homem muito atraente, mas mais velho, que se encontrava parado em frente a mim com sua mão estendida para me ajudar a levantar.
Peguei na sua mão e levantei-me rapidamente, ao estar de pé pude observar melhor o homem, parecia ter mais de cinquenta anos, isso era certo, vestia um terno caríssimo desses que meu pai tem às dezenas, observei-o atentamente, tudo neste homem gritava dinheiro e poder.
- Uma jovem tão bela como você não deveria estar chorando - disse-me com um sorriso que em vez de me deixar nervosa ou desconfortável me deu tranquilidade?
- Tenho meus motivos - respondi enquanto limpava as lágrimas.
- Sou o senhor Romagnoli e tenho uma oferta para você que poderia solucionar todos os seus problemas econômicos - disse ele e eu olhei confusa\, quem era este nome e que classe de proposta tinha para mim? Só esperava que não fosse outra proposta indecente ou\, por mais poderoso que parecesse\, ia quebrar-lhe o nariz.
- Que classe de proposta? Não sou uma mulherzinha\, se se atrever a - minhas palavras ficaram no ar quando o homem levantou a mão algo incomodado e me fez calar.
- Muito bela\, mas não deixa falar seus mais velhos\, deveria fazer mais silêncio - disse olhando a hora no seu caríssimo relógio - Para que fique tranquila\, não sou desses homens\, poderia ser minha filha\, além disso\, sou felizmente casado - disse-me dando tranquilidade.
- Não entendo quem é você e o que quer? - perguntei algo impaciente.
- Olha\, vou ser sincero\, há um tempo te vi e achei você uma garota muito bela\, te investiguei e pelo que apurei você é uma mulher com valores\, trabalhadora\, educada\, excelente mãe\, a nora perfeita que qualquer pai quer para seus filhos - disse e eu olhei rogando que não fosse propor o que estava pensando.
- Serei rápido porque meu tempo é muito valioso\, tenho um filho um pouco rebelde que precisa assentar a cabeça\, quero propor que se case com ele e o ajude a ser um homem melhor\, a encontrar novamente seu rumo e eu em troca cuidarei da sua menina e de todos os seus problemas - disse assim como se nada\, soltei uma pequena risada que fez eco em todo o corredor.
- O senhor está louco\, senhor\, será melhor que se retire.
- Menina tola\, estou te oferecendo o paraíso para você e sua filha\, só porque sou um bom homem vou te deixar pensar um pouco\, tem dois dias para me dar uma decisão\, não creia que vou esperar muito - disse dando-me um cartão com seu número de telefone\, depois voltou a pôr os óculos de sol e foi embora assim como veio.
Fiquei como uma estúpida olhando o homem ir embora, jamais me passou pela cabeça viver uma situação tão estranha como esta, que homem mais estranho, depois do que aconteceu quando engravidei jurei nunca me apaixonar muito menos casar e este sujeito vem e pretende que aceite casar com um desconhecido? Pode ser que nestes momentos pareça tola, mas não sou, jamais cometeria semelhante loucura.
- Senhora\, já pode entrar - diz-me a enfermeira tirando-me dos meus pensamentos.
Entro correndo no quarto encontrando minha pequena já acordada, seus olhinhos estão lacrimejantes e ela parece algo pálida.
- Olá meu amor\, como se sente minha pequena fadinha? - pergunto-lhe acariciando sua bochecha.
- Sinto-me bem mamãe não chore - diz abraçando-se forte a mim quando vê que estou a ponto de romper em choro.
- Não meu amor mamãe não chora.
- Já podemos ir para casa? Não quero estar aqui - diz minha pequena fazendo um lindo e terno beicinho.
- Sim meu amor vem vamos nos vestir - digo à minha menina\, visto-a\, ajeito um pouco seu cabelo loiro e depois pego-a nos meus braços para sair do quarto.
Na recepção encontro-me com as enfermeiras e algumas doutoras que se aproximam para se despedirem e darem um pirulito de cores à minha menina, viro-me ao sentir-me observada e vejo o degenerado diretor do hospital olhando-me com malícia, sorri-me de uma maneira tenebrosa e tranca-se novamente num quarto, obrigo-me a sorrir e agradecer a todas as enfermeiras e doutoras por terem atendido tão bem minha filha e depois fomos embora.
Não tenho dinheiro para pegar um táxi então tenho que caminhar um quarteirão com minha menina nos braços até o ponto de ônibus, saco meu cartão e rogo para que não venha tão cheio, senão terei que viajar de pé com minha princesa nos braços.
Faço um sinal para o ônibus quando o vejo aproximar-se, nego com a cabeça quando vejo que vai lotado, graças ao céu um jovem cedeu-me seu assento, hoje em dia não é tão frequente estas ações, muitas vezes tive que viajar de pé até grávida, as pessoas cada vez perdem mais a empatia, muitas vezes nem sequer aos idosos ou cegos costumam dar seu assento.
A viagem foi de vinte minutos, Luna tinha adormecido então carreguei-a os dois quarteirões que restavam do ponto de ônibus até minha pequena casinha, não via a hora de chegar e poder tomar um banho com água quentinha, sentia-me tão esgotada que não havia nem um músculo do meu corpinho que não me doesse, para meu azar os problemas não terminavam aqui, ao entrar e querer acender a luz deparei-me com que a tinham cortado por demorar no pagamento, realmente eu estava urinada por um dejeto de elefantes, não sabia se tomar banho com arruda ou água benta.
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