A história começa em outro mundo, onde existem magia, reinos, criaturas mágicas e deuses. O mais poderoso de todos, o Deus do Trovão, chamado Storm, percebe que sua vida nesse mundo se tornou repetitiva.
De repente, sua empregada, Verônica, entra no salão e diz:
— Meu rei, seu jantar está pronto.
Storm, de olhos fechados, responde:
— Tá bom, já estou indo.
Verônica o observa por um momento e pergunta:
— Meu rei, há algo lhe incomodando?
Storm suspira e responde:
— Sim. Minha vida nesse mundo é sempre a mesma coisa. Tenho que participar de guerras, impedir seres malignos e resolver problemas de outros reinos. Tudo isso é cansativo e repetitivo… Eu não quero mais viver assim.
Verônica, surpresa, pergunta:
— Então, o que deseja, meu rei?
Storm abre os olhos e diz:
— Quero recomeçar minha vida do zero. Vou reencarnar em outro mundo.
Ainda surpresa, Verônica questiona:
— Mas, meu rei, você pode recomeçar sua vida aqui. Por que escolher outro mundo?
Storm sorri levemente e responde:
— Porque esse mundo que escolhi, apesar de ter um nível de poder muito baixo, é especial. Há coisas novas e interessantes que quero experimentar.
Verônica abaixa a cabeça em sinal de respeito e diz:
— Eu entendo sua escolha, meu rei.
Storm então se levanta e ordena:
— Verônica, como minha última ordem como seu rei, prepare uma reunião para anunciar minha reencarnação.
— Entendido, meu rei.
Após a reunião, Storm começa a brilhar e, pouco a pouco, seu corpo desaparece. Ele então reencarna como um bebê no Japão, na cidade de Tóquio, recebendo o nome de Hakari Mikami, filho de um casal japonês.
E assim sua nova vida começa…
Depois de 16 anos, Hakari já tem 16 anos. Ele está dormindo em seu quarto quando, de repente, uma garota entra correndo e pula em cima dele.
— Acorda, irmãozão! Tá na hora de levantar! — diz animadamente.
Essa garota é Ayane, a irmã mais nova de Hakari.
Ainda sonolento, Hakari resmunga:
— Já acordei, maninha… Agora sai de cima do seu irmãozão.
Ayane cruza os braços e responde com um sorriso travesso:
— Só saio quando você levantar!
Hakari suspira e argumenta:
— Mas eu só consigo levantar se você sair de cima de mim...
Depois de alguns segundos, Ayane finalmente decide sair. Hakari se senta na cama e se espreguiça.
— Ah, quase esqueci! — diz Ayane. — Papai e mamãe saíram mais cedo para uma reunião de trabalho. Eles pediram para você cuidar de mim hoje!
Hakari boceja e responde:
— Entendi… Então vai tomar banho logo. Temos que ir para a escola.
Ayane sorri e coloca as mãos na cintura.
— Eu já tomei banho! Quem precisa se apressar agora é você.
Hakari suspira novamente.
— Certo… Mas você já tomou café da manhã?
— Não! — responde Ayane, inflando as bochechas. — Papai e mamãe não tiveram tempo, então pediram para você preparar algo pra mim!
Hakari passa a mão no rosto, resignado.
— Tá bom, tá bom… Me espera. Primeiro, vou tomar banho.
Ele segue para o banheiro, toma um banho rápido e veste seu uniforme escolar. Ao voltar, pergunta:
— O que você quer para o café da manhã?
— Omelete! — responde Ayane animada.
— Certo.
Hakari prepara o omelete e serve para a irmã. Após dar a primeira mordida, Ayane sorri satisfeita.
— Onii-chan faz o melhor omelete do mundo!
Hakari ri levemente, e assim sua manhã comum continua…
Ayane olha para o relógio e avisa:
— Onii-chan, já tá na hora de irmos para a escola!
Hakari, ainda se alongando, pergunta:
— Você pegou suas coisas?
— Peguei, sim! — responde Ayane com confiança.
Hakari cruza os braços e pergunta:
— Então cadê sua pasta?
Ayane congela por um instante, ficando visivelmente envergonhada.
— E-Espera só um pouco…
Ela corre de volta para seu quarto, pega a pasta e volta apressada.
Hakari a encara com um olhar cético.
— Agora podemos ir?
— Podemos! — responde Ayane, sorrindo.
Os dois saem de casa e começam a caminhar em direção à escola. No meio do caminho, Ayane olha para o irmão com um sorriso travesso.
— Irmão, você já tem uma namorada?
Hakari fica surpreso com a pergunta e desvia o olhar, corando levemente.
— Isso não é da sua conta!
Ayane ri e provoca:
— Haha! Então meu irmãozão não tem uma namorada! Que pena, eu sinto dó de você.
Hakari suspira e retruca:
— Se continuar falando besteira, da próxima vez que papai e mamãe saírem, eu não vou cuidar de você!
Ayane dá de ombros e responde, divertida:
— Meu irmão simplesmente não sabe aceitar a verdade…
Hakari revira os olhos, enquanto sua irmã continua rindo.
Hakari entra na sala de aula e segue direto para seu lugar habitual: a última carteira, perto da janela. Ele olha para o céu e pensa consigo mesmo:
"Essa vida é muito melhor do que a minha passada... Mesmo sendo simples, é muito mais tranquila."
Enquanto ele reflete, uma figura chamativa se aproxima. Aki Hanazawa, a garota mais rica e popular do colégio, decide sentar-se ao lado dele.
As aulas seguem normalmente até que, em um momento oportuno, Aki deixa sua borracha cair de propósito.
— Opa! Deixei minha borracha cair… Hakari, você pode pegar para mim, por favor?
Por dentro, Aki já imagina a cena: "Ele vai dizer ‘Sim, senhora Aki! Eu farei tudo que você quiser, até mesmo me tornar seu servo!’"
No entanto, sua expectativa é destruída quando Hakari simplesmente responde:
— Não.
Aki pisca algumas vezes, surpresa.
— O que você disse?
Hakari suspira e repete calmamente:
— Eu disse que não. Sua borracha caiu perto de você, então pode pegá-la sem problemas.
Antes que Aki possa responder, o sinal do almoço toca. Enquanto os alunos começam a sair da sala, Aki permanece sentada, olhando para Hakari com as bochechas levemente coradas.
— Ele é... diferente. — murmura para si mesma.
Durante a aula de educação física, Hakari se prepara para o primeiro teste: medir sua força física usando um dinamômetro manual.
"Preciso me segurar..." — ele pensa, reduzindo sua força ao mínimo possível.
No entanto, ao puxar o dinamômetro, o ponteiro vai direto para o máximo.
A professora arregala os olhos, surpresa.
— Uau! Não é normal um aluno alcançar o valor máximo... Como você conseguiu isso, Hakari?
Hakari, sem demonstrar nervosismo, responde com um sorriso tranquilo:
— Ah, eu faço muito exercício físico e como bastante verdura.
Por dentro, porém, ele pensa: "Na verdade, é só minha força de Deus do Trovão..."
Em seguida, chega a hora do teste de velocidade, onde os alunos devem dar uma volta na pista da quadra. Quando chega sua vez, Hakari começa a correr e, em apenas três segundos, já completa o percurso.
Todos ao redor ficam boquiabertos.
— O quê?! Como ele fez isso?!
— Hakari, o que você anda comendo?!
Hakari dá de ombros e solta outra desculpa:
— Eu corro bastante no meu tempo livre.
Os colegas ainda murmuram entre si, impressionados, enquanto Hakari pensa consigo mesmo: "Preciso tomar mais cuidado para não chamar tanta atenção..."
Na hora da saída da escola, Hakari observa Aki atravessando a rua. De repente, ele percebe algo alarmante: um caminhão em alta velocidade se aproxima perigosamente dela.
Sem pensar duas vezes, Hakari ativa sua supervelocidade, avançando até Aki em um instante. Ele a segura nos braços e a protege, virando seu corpo para que suas costas fiquem de frente para o impacto. O caminhão bate com força em Hakari, amassando a parte da frente do veículo.
O som do impacto ecoa pela rua. Todos ao redor ficam paralisados, chocados com o que acabaram de testemunhar.
Aki, ainda tremendo, olha para Hakari, completamente surpresa.
— Você… está bem? — Hakari pergunta, sua voz calma apesar da situação.
Os olhos de Aki se arregalam ao notar que a frente do caminhão está destruída.
— Como você ainda está vivo?! Essa batida poderia ter nos matado!
Hakari, sem demonstrar preocupação, responde com um sorriso tranquilo:
— Eu como muita verdura.
Aki o encara, sem acreditar no que ouviu.
— Mas por que você me salvou?
Hakari suspira e responde de maneira simples:
— Seria cruel da minha parte apenas ficar parado assistindo uma colega perder a vida.
O rosto de Aki fica vermelho na mesma hora.
Nesse momento, a diretora da escola aparece, alarmada.
— O que aconteceu aqui?!
Um dos alunos se adianta e responde, ainda impressionado:
— Hakari salvou Aki de um acidente… e ele sobreviveu à batida do caminhão!
A diretora fica boquiaberta, sem palavras.
— Vocês dois estão bem?!
Hakari apenas acena com a cabeça.
Depois de um tempo, ele retorna para casa, como se nada tivesse acontecido. Enquanto isso, Aki permanece parada, olhando para suas mãos, ainda sentindo o calor do toque de Hakari.
"Quem é o Hakari… ou melhor, o que é o Hakari?" — ela se pergunta, confusa.
Então, ao colocar a mão sobre o peito, percebe algo estranho. Seu coração bate mais rápido que o normal.
"O que é esse calor que estou sentindo?"
FIM.
O mordomo de Aki chegou à escola e dirigiu-se diretamente à diretora.
— Boa tarde, diretora. Vim buscar a senhorita Aki.
A diretora, com um semblante sério, assentiu.
— Antes de levá-la, precisamos conversar sobre um incidente que aconteceu hoje.
O mordomo franziu a testa, preocupado.
— Um incidente? O que aconteceu?
Os dois seguiram para a sala da diretoria. Assim que se acomodaram, a diretora começou a explicar:
— Durante a saída, a senhorita Hanazawa quase foi atropelada por um caminhão em alta velocidade.
O mordomo arregalou os olhos.
— O quê?! Ela está bem?
— Sim, ela saiu ilesa. Mas há algo que me intriga...
O mordomo manteve o olhar atento.
— O que exatamente?
A diretora respirou fundo antes de continuar.
— O motivo pelo qual ela está bem é um aluno chamado Hakari Mikami. Ele a salvou no último instante, usando o próprio corpo como escudo.
O mordomo ficou em silêncio por um momento antes de perguntar:
— O que quer dizer com "usou o próprio corpo como escudo"?
— Quero dizer que ele envolveu Aki com os braços e virou as costas para o caminhão. O impacto deveria tê-los matado... Mas, de alguma forma, Hakari não sofreu sequer um arranhão. Para piorar, a parte da frente do caminhão foi completamente destruída.
O mordomo ficou boquiaberto.
— Isso... Isso não faz sentido.
A diretora assentiu, cruzando os braços.
— Exatamente. E é isso que me preocupa.
A diretora ajeitou os óculos e encarou o mordomo com um olhar firme.
— A senhorita Hanazawa está na enfermaria da escola. Apesar de não ter sofrido ferimentos visíveis, achamos melhor garantir que está realmente bem.
O mordomo soltou um suspiro aliviado e fez uma leve reverência.
— Entendo. Agradeço por cuidarem dela. Com sua permissão, irei me retirar.
— Claro. Nos vemos amanhã.
O mordomo assentiu e saiu da sala, fechando a porta atrás de si.
A diretora permaneceu sentada por alguns instantes antes de se levantar e caminhar até a janela. Cruzando os braços, ela deixou seu olhar vagar pelo pátio da escola enquanto seus pensamentos começavam a se encaixar como peças de um quebra-cabeça.
Aquele garoto… Hakari Mikami…
Ela se lembrou da primeira vez que notou algo estranho sobre ele. Durante a aula de educação física, Hakari havia segurado o dinamômetro manual e, sem esforço aparente, fez o ponteiro chegar ao máximo. Para alguém com um físico normal como o dele, aquilo era simplesmente impossível.
E então veio o teste de velocidade. Ele deu uma volta completa na pista da quadra em apenas três segundos.
Três segundos.
Isso está além dos limites humanos…
A diretora apertou os lábios, sentindo um arrepio percorrer sua espinha.
E agora, esse incidente com o caminhão.
Hakari não apenas salvou Aki no último momento, mas resistiu ao impacto direto do veículo em alta velocidade. Mais do que isso… a parte da frente do caminhão foi destruída, enquanto ele saiu ileso.
Ela franziu a testa.
— Hakari Mikami… — murmurou para si mesma.
Seria apenas coincidência? Ou ele estava escondendo algo?
A diretora não sabia a resposta, mas uma coisa era certa: aquele aluno não era comum.
Assim que Hakari abriu a porta de casa, foi recebido pelo som animado da voz de sua irmã mais nova.
— Mamãe! O Hakari chegou! — Ayane gritou entusiasmada, correndo pela sala.
Hakari suspirou e tirou os sapatos perto da entrada, sem entender o alvoroço.
— O que tá acontecendo agora?
Ayane cruzou os braços e ergueu o queixo com um olhar triunfante.
— Não é óbvio? Você salvou a vida de uma garota hoje! Minha amiga me mandou uma mensagem contando tudo sobre o seu ato heroico!
Hakari coçou a nuca, sem dar muita importância.
— Ah, isso… Bom, obrigado, eu acho. Mas, sinceramente, eu só quero relaxar e jogar um pouco no meu PC gamer.
O sorriso de Ayane desapareceu instantaneamente. Uma sombra surgiu em seu rosto, e seus olhos brilharam com uma intenção assassina.
Antes que Hakari pudesse reagir, ela avançou com um movimento preciso e desferiu um chute certeiro entre suas pernas.
— Seu mal-agradecido, oni-chan! — Ayane gritou, enquanto Hakari caiu de joelhos no chão.
Ou melhor, fingiu que caiu.
Na realidade, o golpe não lhe causou dor alguma, mas ele sabia que, se não fingisse, sua irmã começaria a desconfiar.
— A-Ayane…! Isso doeu! — gemeu, segurando-se para não soltar um suspiro entediado.
Ayane bufou e virou o rosto.
— Hmph! Isso é por você agir como se salvar uma garota de um atropelamento fosse algo comum!
Hakari soltou um suspiro interno.
Irmã mais nova são uma espécie perigosa…
Ainda fingindo dor, ele se arrastou para o sofá, decidido a encerrar aquela conversa antes que Ayane resolvesse atacá-lo de novo.
Antes que Hakari pudesse escapar para seu quarto, sua mãe apareceu na sala com um olhar curioso.
— O que está acontecendo aqui? — ela perguntou, cruzando os braços.
Ayane apontou para Hakari com indignação.
— O oni-chan não demonstrou nem um pingo de gratidão pelo próprio ato heróico! Então, como boa irmã mais nova, eu o puni por ser um mal-agradecido!
Hakari, ainda fingindo sentir dor, lançou um olhar incrédulo para a irmã.
— Isso não te dá o direito de me chutar!
A mãe suspirou e balançou a cabeça, sem demonstrar o menor sinal de simpatia.
— Hakari, se você não vier comemorar seu ato heróico com a família, ficará proibido de usar seu PC gamer por uma semana.
Hakari arregalou os olhos, sentindo um arrepio na espinha.
— Espera um momento! Ela me chuta onde dói e eu que sou punido?
A mãe deu de ombros, completamente indiferente ao protesto do filho.
— Você mereceu. Quem mandou ser ingrato com a sua família?
Hakari abriu a boca para argumentar, mas percebeu que não havia escapatória. Com um olhar derrotado, ele suspirou e murmurou:
— Será que eu sou mesmo dessa família...?
Ayane sorriu vitoriosa e puxou o braço do irmão.
— Vamos lá, oni-chan! Hoje você é o herói da casa!
Hakari rolou os olhos, já aceitando seu destino. Ser um Deus do Trovão era fácil… O difícil era sobreviver à própria família.
A mesa estava farta, cheia de pratos bem preparados, e o cheiro delicioso da comida caseira enchia a sala. Hakari, ainda relutante quanto à celebração, sentou-se de braços cruzados enquanto Ayane sorria vitoriosa, animada com a "festa" para seu irmão.
De repente, a porta se abriu, e uma voz firme ecoou pelo ambiente.
— Cadê o nosso super-herói?!
Era o pai de Hakari e Ayane, um homem de postura imponente, mas sempre com um sorriso no rosto. Ele tirou os sapatos na entrada e caminhou até a mesa com um olhar orgulhoso.
Hakari, sem perder a chance de provocar, respondeu com um tom sarcástico:
— Ele está em outro país.
O silêncio tomou conta do ambiente por um segundo. Sua mãe, sem hesitar, pegou o cinto de couro do pai e bateu levemente na palma da própria mão, lançando um olhar ameaçador.
— O que você disse mesmo?
Hakari gelou.
— Eu disse que o super-herói está aqui! Bem aqui! — ele corrigiu rapidamente, erguendo as mãos em rendição.
O pai riu ao ver a reação do filho e se aproximou, dando-lhe um tapinha no ombro.
— Filhão, você salvou a vida de uma colega de classe.
Hakari suspirou.
— Eu sei, pai… mas não precisamos fazer uma grande comemoração. Um simples abraço já seria suficiente.
O pai cruzou os braços e sorriu.
— Você tem razão… mas salvar a vida de alguém não merece apenas um abraço.
Ele se sentou e pegou os talheres, encarando a refeição como se fosse um verdadeiro banquete.
— Essa noite, vamos celebrar do jeito certo. Agora, pegue seu prato, Hakari. Você pode até ser um herói, mas ainda faz parte dessa família, quer você goste ou não!
Hakari olhou para os pais e para Ayane, que sorria satisfeita. Ele soltou um suspiro resignado e pegou os talheres.
— Certo, certo… Mas se isso se tornar um evento anual, eu vou fugir de casa.
A mesa explodiu em risadas. Mesmo contrariado, Hakari sabia que, no fundo, ter uma família assim também fazia parte do que tornava essa nova vida especial.
Depois do jantar, Hakari se levantou da mesa e olhou para sua mãe com um sorriso tranquilo.
— Mãe, deixa que eu limpo tudo hoje. Pode ir descansar, eu cuido da louça.
A mãe ergueu uma sobrancelha, surpresa com a atitude do filho.
— Você? Quer lavar a louça?
— Sim, confie em mim — ele respondeu com um olhar sincero.
Ela suspirou, tocada pelo gesto, e sorriu.
— Tudo bem, Hakari. Obrigada. Mas se eu acordar amanhã e encontrar um caos na cozinha, você vai me ouvir!
— Pode deixar, vai estar brilhando — ele garantiu.
A mãe assentiu e foi para o quarto, deixando Hakari sozinho na cozinha. Ele recolheu os pratos, copos e talheres, organizando tudo com eficiência. Em seguida, lavou a louça, secou e guardou cada item em seu devido lugar.
Após terminar, foi ao banheiro escovar os dentes e tomou um banho rápido. Saindo do chuveiro, vestiu uma roupa confortável e pegou o celular para colocá-lo para carregar.
Assim que conectou o carregador, uma faísca azul brilhou e, num instante, um estalo ecoou pelo quarto. O celular fritou na hora.
— De novo, não… — Hakari suspirou, olhando para o aparelho completamente queimado.
O barulho fez seus pais se levantarem apressados. Em segundos, eles abriram a porta do quarto.
— Hakari! O que foi isso?! — perguntou o pai, alarmado.
Hakari, já acostumado com a situação, levantou o celular chamuscado.
— Ah, só mais um dos meus celulares que fritou…
A mãe cruzou os braços, desconfiada.
— De novo? Esse já é o nono, Hakari!
O pai franziu o cenho e se coçou na cabeça.
— Eu juro que comprei celulares de marcas confiáveis, aqueles que duram anos! Será que fui enganado...?
A mãe colocou a mão no queixo, pensativa.
— Ou talvez o problema seja outro...
Hakari suou frio.
— Bom, não adianta pensar nisso agora. Melhor tentar outra marca na próxima compra.
O pai suspirou.
— É, vou procurar um modelo diferente. Mas dessa vez, sem garantia estendida!
Hakari riu, aliviado por ter escapado de mais perguntas.
— Beleza, então. Agora vou dormir. Boa noite, mãe. Boa noite, pai.
— Boa noite, Hakari — disseram os dois.
Ao se deitar, Hakari olhou para o teto, pensativo. Preciso aprender a controlar melhor minha eletricidade... ou vou acabar sem celular pelo resto da vida.
Fechando os olhos, ele finalmente se entregou ao sono, pronto para mais um dia cheio de segredos a serem mantidos.
O dia amanheceu, e Hakari acordou com o som insistente do despertador. Ele estendeu a mão para desligá-lo, mas antes mesmo de tocá-lo, o aparelho soltou uma pequena faísca e queimou instantaneamente. Suspirando, ele murmurou:
— Lá vamos nós de novo... Preciso de outro despertador.
Levantando-se, foi direto ao banheiro. Depois de escovar os dentes e tomar um banho quente, desceu para a cozinha, onde sua mãe já estava preparando o café da manhã. Assim que o viu, ela sorriu.
— Bom dia, querido. Dormiu bem?
— Sim, dormi bem — respondeu Hakari, sentando-se à mesa.
— Venha comer antes que esfrie — disse ela, colocando um prato na frente dele.
Enquanto começava a comer, Hakari hesitou por um momento antes de perguntar:
— Mãe, posso te pedir uma coisa?
— O que foi? — perguntou ela, ainda ocupada na cozinha.
— Meu despertador queimou de novo… — disse ele, coçando a nuca.
A mãe parou o que estava fazendo e suspirou, cruzando os braços.
— Hakari, esse já é o décimo nono despertador que queima. O que você anda fazendo com eles?
— Nada demais… — respondeu ele, desviando o olhar. — Mas, então, eu queria saber se posso ir ao shopping comprar outro despertador… Ah, e um celular novo, já que o meu fritou ontem.
A mãe colocou as mãos na cintura e olhou para ele com uma expressão de cansaço.
— Hakari, sério, eu não sei se esses aparelhos estão com defeito ou se você que tem algum problema elétrico…
Hakari apenas riu sem graça.
— Então, posso ir?
Ela suspirou, mas assentiu.
— Tudo bem, você pode ir, mas nada de se atrasar ou falar com estranhos, entendeu?
— Entendido — disse ele, levantando-se da mesa. — Prometo que não vou me atrasar nem falar com estranhos.
Hakari terminou o café da manhã e se preparou para sair, enquanto sua mãe ainda balançava a cabeça, se perguntando como o filho dela conseguia queimar tantos eletrônicos assim.
A mãe de Hakari olhou para ele, ainda preparando a mesa.
— Hakari, vai acordar sua irmã, senão ela vai se atrasar para a escola.
— Tá bom, mãe — respondeu Hakari, levantando-se da mesa e indo em direção ao quarto de Ayane.
Ele abriu a porta lentamente e se aproximou da cama dela.
— Ayane, acorda! Senão vai se atrasar para a escola!
Ayane, porém, não se mexeu. Ela estava completamente imersa no sono. Hakari suspirou e tentou de novo, dessa vez mais alto.
— Ayane! Acorda logo, menina!
Mas, mesmo com o tom mais forte, Ayane continuou dormindo. Ele olhou para ela, pensativo, e teve uma ideia.
Com um sorriso travesso, Hakari se aproximou um pouco mais e, com um toque rápido, deu uma pequena descarga elétrica em sua perna.
Imediatamente, Ayane pulou da cama, gritando alto:
— Aí! O que você fez, oni-chan?!
Hakari, sem perder o compasso, respondeu casualmente:
— Não fiz nada, só te chamei.
Ayane se levantou ainda meio zonza, passando a mão pela perna, onde sentiu o choque.
— Eu senti um choque na minha perna... Você tem algum aparelho de dar choque, né?
Hakari tentou evitar olhar diretamente para ela, fingindo que não sabia o que estava acontecendo.
— É... melhor você levantar logo, ou vai se atrasar para a escola.
Ayane o encarou com uma expressão de desgosto e frustração.
— Tá bom, tá bom! Você venceu, mas só me deixa em paz, Oni-chan.
Hakari sorriu e saiu do quarto rapidamente, fechando a porta atrás de si.
Enquanto se afastava, Ayane ficou pensando no que havia acontecido, olhando para a própria perna, tentando entender o que tinha sido aquele choque.
Após o café da manhã, Hakari decidiu que poderia usar sua super velocidade para chegar mais rápido à escola. Ele pensou que, se conseguisse chegar antes, teria mais tempo livre durante o dia. Sem ninguém por perto, Hakari olhou ao redor para garantir que não fosse visto. Com um sorriso no rosto, ele se preparou e, num piscar de olhos, atravessou quarteirões em questão de segundos, chegando rapidamente à escola.
Ele entrou no prédio, subiu as escadas e foi até a sua sala. Quando entrou, viu Aki Hanazawa sentada na mesa ao lado da sua. A garota que ele havia salvado do atropelamento estava ali, sozinha. Isso só podia significar uma coisa: ela chegou antes de todos os outros. Hakari se sentou na sua mesa, que ficava ao lado da dela.
Aki, percebendo que ele havia chegado, decidiu puxar uma conversa.
— Hakari... — ela chamou, fazendo Hakari se virar para ela.
— O que foi? — ele perguntou, curioso.
Aki parecia um pouco tímida, mas logo perguntou:
— Você tem namorada?
Hakari ficou um pouco surpreso com a pergunta, mas respondeu de forma honesta:
— Não, eu ainda não tenho uma namorada.
Aki parecia pensativa, como se estivesse ponderando algo, até que perguntou, quase gaguejando:
— H... Hakari... você... q-q-q... quer namorar comigo?
A pergunta a pegou de surpresa, mas Hakari manteve a calma.
— Não — ele respondeu com firmeza.
Aki ficou visivelmente surpresa e, com uma expressão confusa, perguntou:
— Por que não?
Hakari pensou por um momento e, com um olhar tranquilo, explicou:
— Eu não posso namorar com alguém que eu mal conheço. Acho que a gente deveria se conhecer aos poucos, entender mais um sobre o outro, para chegar a um resultado. Não dá para tomar decisões precipitadas.
Aki ficou em silêncio por um instante, pensando nas palavras de Hakari. Em sua mente, ela refletiu: Ele é mesmo diferente dos outros.
O tempo passou e as aulas começaram. Na aula de Ciências, o professor entrou na sala com um sorriso, pronto para iniciar mais uma explicação. Ele olhou para os alunos e disse:
— Bom, alunos, hoje vamos falar sobre energia elétrica.
Hakari, ao ouvir o tema da aula, sentiu uma leve apreensão. Algo dentro dele dizia que as coisas poderiam dar errado. Ele tentava manter a calma, mas não podia negar a sensação estranha.
O professor, animado, pegou um dispositivo de medir energia elétrica — um aparelho que poderia medir a eletricidade de aparelhos ou até mesmo de tempestades. Ele o ativou, e o som agudo do aparelho começou a ecoar pela sala.
— O que está acontecendo? — murmurou o professor, percebendo que o dispositivo estava apitando de uma maneira intensa.
Ele ajustou os controles do aparelho, tentando entender o que estava acontecendo. Então, o aparelho começou a guiar o professor em direção a Hakari, com o som ficando cada vez mais alto à medida que se aproximava dele. O dispositivo apitava a cada passo, até que, ao chegar perto de Hakari, o som se intensificou ao máximo, quase ensurdecedor.
Aki, percebendo a reação do aparelho, perguntou, um pouco preocupada:
— Professor, esse aparelho está com defeito?
O professor, confuso, olhou para o aparelho e respondeu, com uma expressão séria:
— O medidor só chega a esse nível se houver uma quantidade extrema de energia elétrica, como a de um trovão...
Antes que qualquer um pudesse dizer algo, o aparelho fritou, liberando uma faísca elétrica e parando de funcionar de repente. O professor, agora visivelmente surpreso, olhou para os alunos e comentou, tentando disfarçar a situação:
— Então, acho melhor mudarmos o tema da nossa aula para algo menos... "energético".
Os alunos, exceto Hakari e Aki, imediatamente concordaram, murmurando entre si em acordo:
— Concordo!
Aki, porém, ficou com os olhos fixos em Hakari, observando-o atentamente. Ela estava confusa, tentando entender o que havia acontecido. Em seus pensamentos, ela refletiu:
Por que esse garoto é tão estranho? O que ele está escondendo?
O professor, após o pequeno incidente com o medidor de energia, pediu para que todos os alunos se dirigissem para o laboratório de química para continuarem a aula. Ao chegarem, o ambiente estava repleto de frascos e materiais científicos, e o professor, com um sorriso no rosto, pediu que formassem duplas.
— Então, alunos, façam duplas para a próxima atividade. Vamos ver quem vai trabalhar com quem.
Aki, ao olhar ao redor, notou que o único lugar disponível ao seu lado era ao lado de Hakari. Ela levantou a mão, sem hesitar, e pediu ao professor com um sorriso tímido:
— Professor, eu posso fazer dupla com o Hakari?
O professor, olhando para os dois, fez uma pausa e então, com um tom descontraído, respondeu:
— Claro, Aki, se o Hakari aceitar.
Ele virou-se para Hakari, esperando sua resposta.
Olhando para Aki, Hakari respondeu sem muita dúvida, com um sorriso de leve simpatia.
— Não vejo problema nenhum nisso.
Aki sorriu, sentindo-se aliviada, mas ainda com uma pequena insegurança. Ela olhou para Hakari com um olhar curioso e perguntou, de repente:
— Hakari, você... você acha que eu sou bonita?
Hakari, sem perceber o impacto de sua resposta, falou de maneira simples e direta, com um tom casual:
— Você é linda, como qualquer garota.
Aki, surpreendida pela resposta direta e sincera, sentiu um calor súbito se espalhando por seu peito. Sua mente ficou um pouco atordoada com as palavras dele, como se algo dentro dela tivesse se aquecido de uma maneira inesperada. Ela ficou em silêncio por um momento, absorvendo o que acabara de ouvir, enquanto tentava disfarçar a sensação de excitação que sentia.
Hakari, por sua vez, não percebeu a reação de Aki e se concentrou no que o professor estava explicando para a turma.
No final do expediente escolar, Aki estava determinada a conversar com Hakari mais uma vez. Ela havia ficado com algumas perguntas e, apesar do que tinha acontecido durante o dia, sentia que havia algo diferente nele. Quando a viu saindo da escola, não pensou duas vezes e correu em direção a ele.
Hakari estava caminhando com sua habitual postura descontraída, e Aki, com os passos rápidos, conseguiu alcançá-lo alguns metros depois. Ela estava um pouco ofegante da corrida, mas estava decidida a conversar com ele.
— Hakari! — chamou ela, sua voz cheia de uma mistura de curiosidade e um toque de nervosismo.
Hakari, que estava prestando atenção no caminho à sua frente, de repente virou para a esquerda, desaparecendo por uma rua que se estendia logo ali. Aki, que estava tão próxima dele, aumentou o ritmo para não perder a oportunidade de falar com ele.
Ela virou a esquina apressada, mas, para sua surpresa, não encontrou ninguém. O caminho estava vazio, e Hakari havia simplesmente desaparecido. Não havia nenhum sinal dele por perto, como se tivesse sumido do nada.
Aki parou por um momento, olhando ao redor, perplexa. Ela olhou para trás, mas não conseguiu ver nada que a explicasse. "Será que ele correu?", pensou. Ela sabia que Hakari tinha um ritmo um pouco mais rápido que o normal, mas mesmo assim, ainda fazia pouco sentido. Se ele tivesse corrido, ela teria o visto por mais tempo, pelo menos a distância inicial ainda permitiria vê-lo de longe. Mas não... ele desapareceu como se fosse um espectro.
Ela ficou ali por alguns segundos, sentindo uma sensação de estranheza, com a mente girando enquanto tentava entender o que havia acontecido. Era como se Hakari tivesse simplesmente sumido, como se fosse impossível para ele se mover tão rápido sem que ela percebesse.
"Não pode ser..." Aki murmurou para si mesma, tentando entender o que ela havia acabado de testemunhar.
Hakari, com o celular novo na mão e o despertador em sua mochila, caminhava pelas ruas da cidade, imerso em seus pensamentos. Enquanto pensava sobre o que aconteceu durante o dia, algo lhe chamou a atenção: um som vindo de um beco próximo. Ele parou e olhou em direção àquela rua sombria. O som de vozes agressivas e risadas ecoava, e Hakari franziu a testa, seu instinto sempre alerta, principalmente em situações como essa.
Ele se aproximou discretamente, indo em direção ao beco, e lá, viu uma cena perturbadora: uma garota estava sendo cercada por cinco homens. Eles a pressionavam contra a parede, rindo de forma ameaçadora, enquanto ela tentava se afastar, mas não havia para onde ir. O ar ao redor estava pesado, carregado de uma energia negativa. A garota, de aparência jovem, parecia estar desesperada, seus olhos cheios de medo.
Hakari observou a cena por um momento, analisando os cinco homens. Todos pareciam confiantes, achando que tinham o controle da situação. Mas ele sabia que isso não duraria muito. Havia algo em sua expressão, algo que sugeria que ele não iria simplesmente se afastar.
Os homens não perceberam a presença de Hakari até que ele se aproximou mais. Quando um deles olhou para o lado, o viu. O homem parou por um instante, surpreso ao ver um adolescente ali, mas logo riu, achando que ele era apenas uma criança inofensiva.
— E aí, garoto, quer fazer alguma coisa? — disse um dos homens, rindo desdenhosamente.
Hakari não respondeu, ao invés disso, sua expressão se tornou mais séria. Seus olhos brilharam por um momento, um reflexo do poder que estava dentro dele. Ele sabia que precisava agir rápido. Ele não podia permitir que aquela garota fosse ferida ou pior.
Sem avisar, Hakari deu um passo à frente, seu corpo se movendo com velocidade impressionante. Em um piscar de olhos, ele estava no meio dos homens, e antes que eles tivessem tempo de reagir, ele já havia os desarmado, usando apenas uma pequena quantidade de sua força. Não havia socos nem gritos, apenas um movimento fluido e controlado.
Os homens, agora assustados, tentaram se reagrupar, mas estavam visivelmente sem condições de lutar. Hakari os desarmou mais uma vez, com um simples movimento, deixando-os perplexos. Eles estavam atônitos, incapazes de acreditar no que estava acontecendo.
— Saíam daqui antes que eu mude de ideia — disse Hakari com uma voz calma, mas firme.
Os homens, agora em pânico, começaram a recuar, com medo do que poderia acontecer se ficassem ali mais tempo. Em segundos, estavam fora de vista.
A garota, que estava paralisada de medo durante toda a cena, finalmente se soltou da parede e olhou para Hakari, ainda atônita.
— Você... você me salvou... — ela disse, a voz trêmula de gratidão e surpresa.
Hakari olhou para ela, seu semblante suave. Ele sabia que tinha feito o certo, mas ao mesmo tempo, se sentia desconfortável com os elogios.
— Não foi nada — ele respondeu, desviando o olhar rapidamente. — Só tome cuidado da próxima vez.
Ele então começou a se afastar, sentindo uma leve inquietação dentro de si. Algo parecia estar mudando dentro dele. Enquanto caminhava, ele não podia deixar de se perguntar, mais uma vez, se ele deveria realmente continuar escondendo quem era, ou se algum dia deveria revelar toda a extensão de seus poderes.
A garota ainda o observava, em silêncio, enquanto ele se afastava. Ela ficou com uma sensação estranha no peito, como se Hakari fosse algo mais do que aparentava ser.
— Quem realmente é você, Hakari? — ela murmurou para si mesma.
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