Em 1924, a cidade de Velkan é um labirinto de neblina, segredos, conspirações e maldições. Envolta em arquitetura gótica e ruas tortuosas, a cidade vive à beira de uma transformação: enquanto a aristocracia decadente se agarra ao passado, fábricas vomitam fumaça no céu e gangues disputam o controle do submundo.
A cidade é cheia de rumores, fofocas e desaparecimentos estranhos, tornando-a ainda mais sombria para os moradores que vivem nessa região. Dizem que, nas colinas, vive uma família de bruxos que praticam feitiçaria usando sangue de pobres inocentes. A família Voss é famosa na região.
Enquanto há uma família de bruxos, existe outra família pertencente à realeza: os Willians, cujos antecedentes possuem o sangue real do antigo rei Arthur Willians. Essa família é conhecida pelos homens herdarem os olhos azuis profundos e cabelos negros brilhantes do rei Arthur, sendo considerados belos por sua aparência imponente.
Robert Willians chamava a atenção das jovens de Velkan. Dizem que seus olhos azuis encantavam as moças com apenas um olhar penetrante. Seus cabelos negros e seu corpo atlético transmitiam confiança, deixando claro seu status de jovem mais atraente da cidade.
Além da beleza, Robert era muito bom nos estudos e nos esportes, sendo capitão do time da prestigiosa Escola Florença. Entretanto, havia outra figura de destaque nessa escola: Samantha Voss, uma garota sombria, considerada uma bruxa por muitos.
A Escola Florença realizava, ao final de cada ano, um baile de inverno, evento aguardado ansiosamente pelos alunos, que escolhiam seus parceiros para a ocasião. Robert nem precisava se esforçar para encontrar uma parceira; as jovens lhe enviavam presentes e chocolates em busca de serem escolhidas. No entanto, até mesmo Samantha se apaixonou pela beleza daquele jovem rapaz.
No final da aula, Robert pegou seus pertences para retornar à sala e arrumar seu material. Ao virar-se, foi surpreendido por Samantha, que, muito tímida, colocava algumas mechas de seus cabelos ruivos atrás das orelhas. Suas bochechas estavam rosadas, e seus olhos desviavam sempre que encontravam os de Robert.
— Você aceita ir ao baile comigo? — perguntou Samantha.
Robert ficou sem reação. Samantha, então, entregou-lhe uma carta e colocou um besouro em suas mãos.
— Que nojo! — exclamou ele, jogando o besouro no chão.
Samantha rapidamente pegou o inseto e o protegeu em suas mãos.
— Calma, Tutu, eu te peguei! — disse ela.
Robert ficou incrédulo com o que acabara de presenciar.
— Não me diga que isso é seu bichinho de estimação? — perguntou ele.
— Sim, algum problema? — respondeu Samantha, ajeitando os óculos que teimavam em escorregar pelo pequeno nariz.
— Sempre ouvi os outros alunos sussurrando sobre você ser esquisita, e agora vejo que eles tinham razão — debochou Robert, esbarrando nela antes de se dirigir à saída.
— Pare agora! — gritou Samantha.
Robert assustou-se ao ouvir os gritos da garota e, ao se virar, viu lágrimas em seus olhos.
— Eu ainda não entreguei a carta! Eu gosto muito de você e quero que vá comigo ao baile! — exclamou Samantha.
Robert deu alguns passos para trás, confuso com toda a situação. Olhou para a carta, pegou-a e jogou-a no chão.
— Já se olhou no espelho? Não me importo que goste de mim, mas eu nunca sairia com uma bruxa. Eu sou da realeza, não me misturo com a ralé! — disse ele friamente.
Samantha ficou incrédula. A fúria em seus olhos assustou Robert.
— Você vai se arrepender pelo resto da vida! Eu te amaldiçoo! Você sempre ficará de quatro por toda mulher que fizer chorar, igual a um gato! — praguejou ela.
Após o ocorrido, Robert não conseguiu dormir. Assustado, correu para o quarto dos pais e contou-lhes tudo o que havia acontecido. No dia seguinte, seus pais foram até a escola e, ao chegarem, depararam-se com uma cena horrível que jamais esqueceriam. Samantha estava enforcada em uma árvore perto do estacionamento e, perto de seu corpo, havia uma carta.
Dias depois, a família de Robert descobriu o conteúdo da carta: "Você nunca vai me esquecer!"
— O que uma criança de 8 anos saberia sobre a sua própria vida?
Meus olhos se encheram de lágrimas quando Brendo me encarou com uma expressão feroz.
— Ela está chorando! — disse Marcos em tom de zombaria, rindo da minha situação.
— Está com medinho! — Brendo fechou o punho e veio na minha direção. Fechei os olhos com força.
— Brendo! Solte-a agora! — gritou a Freira Gabriela.
Abri os olhos de susto e, sem pensar, saí correndo dali com toda a minha força. Não olhei para trás, apenas corri, como um gato assustado. Ouvi a freira me chamar, mas não me importei. Eu era pequena, uma garota de 8 anos que sabia muito bem o que enfrentaria dentro de um orfanato. Então, eu entendia o suficiente sobre a vida para saber quando fugir.
Corri até chegar à velha figueira. Aquela árvore sempre me intrigava: seus galhos grossos, quase como braços estendidos, pareciam me convidar para um esconderijo. Olhei para o alto e vi o céu azul e nuvens enormes, que pareciam algodão-doce. Os raios dourados do sol atravessavam as folhas da figueira, criando desenhos de luz e sombra no chão. Fiquei contemplando a árvore por um tempo e, depois de suspirar profundamente, tomei uma decisão.
— Anna! — falei para mim mesma, batendo levemente nas minhas bochechas, que com certeza estavam vermelhas. — Vou subir! Quero explorar o mundo lá de cima!
Olhei para os lados e, depois de me certificar de que ninguém estava por perto para me impedir, decidi aceitar o desafio. Comecei devagar, testando a firmeza do tronco. Com minhas mãos pequenas, agarrei as rugas da casca como se fossem degraus mágicos. Meu coração batia rápido, não de medo, mas de pura excitação. Subir era mais difícil do que eu imaginava, mas cada galho conquistado me fazia sorrir mais. A cada passo, sentia o vento ficando mais fresco e o mundo lá embaixo se afastando, como se eu estivesse entrando em um universo secreto só meu.
Quando finalmente alcancei um galho alto o suficiente para me sentar, ofegante, olhei ao redor e senti algo que nunca havia experimentado antes: liberdade. Lá do alto, eu podia ver o jardim inteiro e até as montanhas ao longe. As flores do quintal pareciam pintinhas coloridas no chão, e os telhados das casas vizinhas, que antes me pareciam tão grandes, agora eram minúsculos. Eu me senti poderosa, como se fosse dona daquele pedaço do céu.
A brisa balançava suavemente os galhos ao meu redor, e eu fechei os olhos por um instante, ouvindo o som das folhas sussurrando segredos que só eu podia entender. Quando abri os olhos novamente, senti uma curiosidade avassaladora. “O que mais existe para ver?”, pensei. De lá, conseguia imaginar o mundo inteiro para além daquelas árvores, além das ruas, talvez até mesmo além do horizonte. Subir naquela árvore não era apenas uma aventura — era como descobrir uma nova forma de ver a vida.
Fiquei ali por um bom tempo, sentindo-me leve como um pássaro. Eu sabia que teria que descer e enfrentar Brendo, aquele garoto estúpido, mas, por enquanto, nada disso importava. Lá em cima, eu era apenas eu mesma — uma menina com sonhos grandes, uma exploradora em seu próprio reino secreto.
— Miau!
Olhei para trás e vi um gato assustado. Notei o medo nos seus pequenos olhos e senti que devia protegê-lo. Aproximei-me com cuidado, mas, quando cheguei perto, ele cravou suas garras na minha mão. A dor foi aguda e imediata.
— Eu odeio gatos! — gritei, segurando minha mão dolorida.
E foi assim que comecei a odiar os gatos.
Estou nervosa. Respiro fundo, tentando me acalmar, mas o nervosismo toma conta de mim. A ansiedade é evidente. Balanço as pernas incessantemente, enquanto minhas mãos insistem em ter autonomia. Olho ao redor, observo pessoas indo e vindo pelo corredor. Na cadeira ao lado, minha bolsa repousa; embaixo dela, o envelope contendo toda a documentação exigida pelo concurso.
Finalmente fui chamada para exercer o cargo pelo qual tanto me esforcei. Este é meu mérito, minha conquista. Uma moça sai da sala de Recursos Humanos e caminha em minha direção. Meu coração acelera.
— Anna Lacerda? — ela chama.
— Sim. — Levanto-me rapidamente da cadeira.
— Por favor, me acompanhe.
Sigo-a até a sala. Meu coração está inquieto. Entro e vejo outras pessoas atendendo candidatos. A moça indica um lugar para eu me sentar. Entrego o envelope com minhas mãos ligeiramente trêmulas, enquanto ela analisa os documentos.
— Você é a primeira a trazer toda a documentação certinha! — ela comenta com um sorriso sereno.
Esbanjo um sorriso de alívio.
— Aqui está a documentação que você precisa assinar. Leia tudo com calma e preencha corretamente. — Ela me entrega os papéis e completa: — Qualquer coisa, é só me chamar. Estarei ali na impressora.
— Obrigada! — murmuro, envergonhada pelo meu nervosismo evidente.
Começo a ler cada documento com atenção e preencho todas as informações solicitadas. Por fim, escrevo uma carta à mão sobre o cargo que irei exercer. Finalmente sou uma servidora pública — e efetiva! Sinto uma alegria profunda. Penso em como a freira Gabriela ficaria orgulhosa de mim.
Cresci em um pequeno orfanato administrado por freiras. Nunca fui adotada, então não havia pessoas que esperassem muito do meu futuro. Deixar a cidade de Velkan e vir para Nova Alvorada, aos 18 anos, foi um grande passo. Vim para estudar psicologia e encarar um mundo novo. Agora, recém-formada aos 23 anos, estou conquistando meu primeiro cargo público. É uma vitória imensa.
— Anna, terminou? — A moça se aproxima novamente, sentando-se ao meu lado.
— Sim. — Entrego os papéis preenchidos.
Ela analisa os documentos com cuidado e sorri.
— Parabéns, Anna! Você passou em primeiro lugar!
— Obrigada! — Respondo com um brilho nos olhos.
— Agora você será a psicóloga da Unidade de Saúde Santo Agostinho. Eles estão sem psicólogo há meses. Espero que faça um ótimo trabalho. — Ela me entrega um envelope menor. — Apresente isso na unidade.
— Muito obrigada!
Antes de sair, não resisto.
— Sei que é repentino, mas vou comprar uma casa financiada ainda hoje! — Minha empolgação a faz rir.
— Para isso, vou precisar comprovar renda e efetivação. Pode me ajudar com isso?
— Claro! Vou providenciar os documentos.
Saio da prefeitura caminhando nas nuvens. Meu alívio é indescritível. Estou na Avenida do Sol, a principal via da cidade, cheia de árvores, comércios e restaurantes. O Banco Brinford está logo à frente. Antes de atravessar o semáforo, faço uma oração fervorosa para Santo Antônio, pedindo por aquela casa que visitei dias atrás.
A casa é média, com dois quartos, sala conjugada com cozinha, banheiro e varanda. Recém-construída, está novinha em folha.
— Santo Antônio, dê uma forcinha divina para eu conseguir meu lar!
Entro no banco com uma esperança renovada.
Três Meses Depois
Minha casa é exatamente como imaginei. Pequena, mas cheia de charme e aconchego. Logo na entrada, uma varanda espaçosa recebe os visitantes. Decorei-a com vasos de plantas: samambaias, begônias e uma pequena trepadeira que cresce ao redor da grade.
A porta principal leva diretamente à sala, que é integrada com a cozinha. Pintei as paredes de um tom claro para ampliar o espaço e coloquei almofadas coloridas no sofá cinza, dando um toque de alegria. Na cozinha, armários brancos e uma bancada de madeira deixam o ambiente moderno e funcional. Um pequeno pôster com a frase “Cozinhar é um ato de amor” decora a parede.
Os quartos são simples, mas acolhedores. Meu quarto tem uma cama de casal com roupa de cama floral, uma prateleira cheia de livros e uma escrivaninha onde trabalho à noite. O outro quarto ainda está vazio, mas penso em transformá-lo em um espaço de leitura ou até um quarto de visitas.
O banheiro é pequeno, mas bem iluminado. Decorei com toalhas verdes e um vaso de bambu da sorte no canto da pia. O chuveiro é elétrico, e às vezes o barulho da água caindo me traz uma sensação de calma.
Finalmente, o quintal é o meu lugar favorito. Não é muito grande, mas tem espaço suficiente para uma rede e um pequeno jardim que começo a cultivar. Plantei manjericão, hortelã e alecrim. Durante as tardes, adoro sentar na rede com um bom livro, ouvindo os sons do bairro.
Minha casa representa mais do que apenas um lar. Ela é a prova da minha determinação, da minha jornada. Cada canto reflete meu esforço e minha esperança. Aqui, sinto que finalmente encontrei meu lugar.
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