O despertador tocou às seis em ponto, quebrando o silêncio do pequeno apartamento. Beatriz abriu os olhos devagar, sentindo o peso da rotina em seus ombros. A claridade tímida do amanhecer atravessava a cortina fina, iluminando as paredes descascadas do quarto modesto.
Ela se espreguiçou, tentando afastar o cansaço. As noites mal dormidas eram comuns desde que começara a enviar currículos para todas as empresas que encontrava. O celular ao lado da cama piscava com notificações de redes sociais, promoções de lojas que ela não podia pagar e um lembrete de contas vencidas.
Respirando fundo, ela se levantou e caminhou em direção à cozinha. Sua mãe, Maria, já estava de pé, preparando café. O aroma forte se espalhava pelo ambiente simples, mas acolhedor.
— Bom dia, mãe. Dormiu bem? — Beatriz perguntou, pegando uma caneca lascada no armário.
— O de sempre, filha. A coluna reclamou a noite toda — Maria respondeu, massageando as costas com uma expressão de dor disfarçada por um sorriso. — E você? Nervosa com as entrevistas?
— Tentando não ficar. Mas não é fácil. — Beatriz tentou soar confiante, mas sua voz tremeu um pouco. — Se eu não conseguir algo logo, não sei como vamos fazer com as contas.
Maria a olhou com ternura, seus olhos castanhos refletindo uma mistura de orgulho e preocupação.
— Você sempre foi determinada, Bia. Vai conseguir. Tem que acreditar.
Beatriz sorriu de volta, tentando absorver a confiança que sua mãe depositava nela. Sentia um nó no estômago só de pensar na possibilidade de mais uma rejeição.
O som estridente do telefone quebrou o momento de silêncio. Beatriz gelou, seus olhos fixos no aparelho que vibrava na mesa. Ela sentiu o coração acelerar enquanto estendia a mão trêmula para atender.
— Alô? — Sua voz saiu quase num sussurro.
— Olá, aqui é Clara, do departamento de recursos humanos da Ferraz Inc. Estou falando com Beatriz Mendes?
Beatriz arregalou os olhos, tentando controlar a respiração. Era uma das empresas mais prestigiadas do país. Ela mal acreditava que tinha recebido um retorno.
— S-sim, sou eu.
— Gostaríamos de convidá-la para uma entrevista amanhã às 9h. Você estaria disponível?
— Claro! Estarei lá! — A resposta escapou antes que pudesse se conter.
— Ótimo. Anote o endereço e procure por mim na recepção. Tenha um bom dia.
— Obrigada! — Beatriz desligou, ainda atordoada.
Maria a observava com curiosidade.
— Quem era?
— Mãe... eu consegui! Uma entrevista na Ferraz Inc.! Amanhã! — A empolgação de Beatriz era palpável.
Maria cobriu a boca com as mãos, seus olhos brilhando com lágrimas de alegria.
— Minha filha... isso é incrível! Você vai conseguir, eu sei que vai!
Beatriz abraçou a mãe, sentindo a emoção crescer. Aquela era a chance que ela tanto esperava. Podia ser o início de uma vida diferente para as duas.
Mas ao soltar o abraço, um frio percorreu sua espinha. Ela sabia que teria que impressionar ninguém menos que Enzo Ferraz, o dono da empresa. Um homem conhecido por sua frieza e perfeccionismo implacável.
E, por mais que estivesse determinada, não conseguia evitar o medo do fracasso e de não conseguir ajudar sua mãe.
Beatriz, 22 anos, é uma jovem de cabelos pretos e longos, que caem em ondas suaves sobre seus ombros. Seus olhos castanhos são profundos e expressivos, refletindo sua determinação e sonhos. Com um rosto delicado e traços marcantes, ela possui uma beleza natural, sem esforços.
Criada em um bairro humilde, aprendeu desde cedo o valor do trabalho duro. Inteligente e resiliente, Beatriz sempre equilibrou estudos e trabalhos temporários para ajudar sua mãe, Maria, que a criou sozinha após o abandono do pai.
Apesar das dificuldades, ela nunca perdeu o brilho nos olhos nem o desejo de conquistar um futuro melhor. Sua personalidade forte é acompanhada de um coração gentil, capaz de enfrentar qualquer obstáculo com coragem.
Essa é Beatriz: uma mulher determinada a transformar sua história.
Maria, 45 anos, é uma mulher de aparência cansada, mas com um sorriso caloroso que ilumina seu rosto. Seus cabelos castanhos, já começando a mostrar alguns fios grisalhos, são sempre presos em um coque simples. Os olhos castanhos, semelhantes aos de Beatriz, carregam a sabedoria de quem enfrentou muitas batalhas na vida.
Trabalhadora incansável, Maria faz o possível para sustentar a casa sozinha desde que o pai de Beatriz as abandonou. Ela assumiu o papel de mãe e pai, fazendo pequenos trabalhos como costureira para garantir que nada faltasse à filha. Apesar das dificuldades financeiras, nunca deixou que Beatriz sentisse a falta de amor e apoio.
Maria é uma mulher de fé inabalável e uma força silenciosa. Sempre acreditou que, com esforço e honestidade, a filha poderia alcançar seus sonhos. Seu maior orgulho é ver Beatriz lutar por um futuro melhor, e seu maior medo é que o mundo possa quebrar o espírito forte da filha.
O sol mal havia surgido no horizonte quando Beatriz abriu os olhos. O despertador ainda não tinha tocado, mas o hábito de acordar cedo já fazia parte dela. Do pequeno quarto, podia ouvir o movimento de sua mãe na cozinha. O aroma do café fresco se espalhava pelo apartamento modesto, despertando lembranças da infância.
A vida nunca foi fácil para Beatriz. Crescer em um bairro humilde moldou seu caráter e lhe ensinou o valor de cada conquista. Seu pai as abandonou quando ela tinha apenas cinco anos, deixando Maria com o desafio de criá-la sozinha. Desde então, Beatriz assistia à luta diária da mãe para colocar comida na mesa, conciliando trabalhos como faxineira e costureira.
Ela se levantou da cama e se olhou no espelho. Os cabelos escuros estavam bagunçados, mas seus olhos mostravam determinação. Nada no mundo a faria desistir dos seus sonhos.
— Bom dia, filha. — Maria sorriu ao vê-la entrar na cozinha. — Fiz café fresquinho. Hoje é um dia importante, né?
— É sim, mãe. A entrevista na Ferraz Inc. pode mudar tudo. — Beatriz tentou esconder a ansiedade, mas sua voz tremia.
Maria a observou com um olhar terno e orgulhoso.
— Você merece essa oportunidade. Ninguém trabalha tão duro quanto você.
Beatriz sorriu e se serviu de uma xícara de café.
— Se eu conseguir esse emprego, vai ser a nossa chance de sair dessa vida apertada. — Ela olhou ao redor do pequeno apartamento, com paredes desgastadas e móveis simples, mas impecavelmente limpos graças aos esforços de sua mãe.
— Não importa onde a gente more, desde que estejamos juntas. — Maria segurou a mão da filha. — Mas eu sei que você quer mais. E você merece.
Beatriz sentiu um nó na garganta. Ela queria dar uma vida melhor à mãe, que sacrificou tanto para criá-la.
— Eu vou conseguir, mãe. Não posso falhar.
Maria acariciou o rosto da filha.
— Você nunca falhou, Beatriz. Cada batalha que você enfrentou te fez mais forte. E, não importa o que aconteça hoje, eu já sou a mãe mais orgulhosa do mundo.
A conversa trouxe à tona memórias da infância. Beatriz se lembrou das vezes em que acordava de madrugada para ajudar a mãe a costurar roupas para as vizinhas. Lembrava-se também das tardes em que estudava na mesa da cozinha, enquanto Maria trabalhava incansavelmente. Foi assim que aprendeu a equilibrar os estudos com trabalhos temporários para ajudar nas despesas de casa.
— Você se lembra de quando eu vendia doces na escola para juntar um dinheirinho? — Beatriz riu, nostálgica.
— Como eu poderia esquecer? Você era minha pequena empreendedora. — Maria riu junto. — Nunca se deixou abater pelas dificuldades. Sempre encontrou um jeito.
Beatriz assentiu, sentindo uma pontada de saudade daqueles tempos difíceis, mas simples.
— Você me ensinou a nunca desistir. A lutar por tudo o que quero.
— E essa é a sua maior força, minha filha.
Beatriz terminou o café e suspirou fundo.
— Tenho que me arrumar. Não posso chegar atrasada na entrevista.
— Vá lá e mostre quem você é. Encare tudo com essa coragem que só você tem.
Beatriz se levantou, pronta para enfrentar o dia.
— Vou fazer isso por nós, mãe.
Ela foi para o quarto se arrumar, enquanto Maria a observava, o coração transbordando de amor e esperança.
Aquela não era apenas uma entrevista de emprego. Era a chance de Beatriz transformar o próprio destino e, finalmente, alcançar o futuro que sempre sonhou.
Beatriz entrou no imenso prédio de vidro e aço da Ferraz Inc., sentindo-se pequena diante da grandiosidade daquele lugar. O saguão era luxuoso, com um lustre de cristal que cintilava no teto alto. Ela ajustou a saia modesta e respirou fundo, tentando acalmar o nervosismo.
— Com licença, eu tenho uma entrevista marcada com o senhor Enzo Ferraz. — Sua voz saiu firme, apesar do coração acelerado.
A recepcionista, impecavelmente vestida, lançou um olhar avaliador antes de abrir um sorriso profissional.
— Claro. Ele está esperando você. O Sr. Ricardo vai acompanhá-la até lá.
Um homem alto e de terno impecável surgiu ao lado dela.
— Me siga, por favor.
Beatriz seguiu Ricardo pelos corredores espaçosos. Suas mãos suavam e sua mente repassava todas as respostas que havia preparado. Ela precisava desse emprego.
— É aqui. — Ricardo abriu a porta de vidro fosco, revelando um escritório amplo com uma vista espetacular da cidade. Atrás de uma mesa imponente, Enzo Ferraz estava concentrado em alguns papéis.
Ele ergueu o olhar, e Beatriz sentiu um frio na espinha. Os olhos de Enzo eram de um castanho escuro, intensos e frios como uma noite sem estrelas. Seu rosto era perfeitamente esculpido, com uma barba rala que apenas destacava sua expressão séria.
— Senhorita Beatriz, certo? — Sua voz era grave, controlada.
— Sim, senhor. É uma honra estar aqui. — Ela tentou sorrir, mas Enzo permaneceu impassível.
— Sente-se. — Ele indicou a cadeira à sua frente sem qualquer cordialidade.
Beatriz obedeceu, mantendo a postura ereta. Seus olhos vagaram por um segundo, notando a organização impecável do escritório. Nenhum objeto fora do lugar. Nenhuma distração. Assim como o homem à sua frente.
— Você tem experiência como secretária? — A pergunta foi direta, sem rodeios.
— Trabalhei como assistente administrativa em duas empresas menores. Organizei agendas, atendi clientes e gerenciei documentos importantes. Acredito que essas habilidades possam ser úteis aqui. — Beatriz manteve o tom firme, sem gaguejar.
Enzo ergueu uma sobrancelha, como se analisasse cada palavra.
— E por que quer trabalhar na Ferraz Inc.?
— Porque é uma das empresas mais respeitadas do país. Sei que o senhor só trabalha com os melhores, e eu quero aprender com os melhores. — Ela sustentou o olhar, recusando-se a se intimidar.
Um lampejo de surpresa passou pelos olhos de Enzo, mas ele rapidamente recuperou a expressão impassível.
— Não aceito erros. Aqui, cada detalhe importa. Se você falhar, está fora. Entendido?
Beatriz engoliu seco, mas não hesitou.
— Entendido, senhor.
O silêncio pairou por um momento, enquanto Enzo continuava a encará-la, como se tentasse decifrá-la.
— Comece na segunda-feira. Ricardo lhe mostrará o restante da empresa. Agora, pode ir.
Beatriz sentiu um alívio imediato, mas manteve a compostura.
— Obrigada pela oportunidade, senhor. Não vou decepcioná-lo.
Enzo não respondeu, apenas voltou a olhar para os papéis em sua mesa, como se ela já não estivesse mais ali.
Ao sair da sala, Beatriz soltou o ar que nem percebera estar segurando. Seu coração ainda batia acelerado, mas uma determinação crescia dentro dela. Ela mostraria a Enzo Ferraz que era capaz.
Enquanto descia pelo elevador de vidro, observando a cidade lá fora, Beatriz percebeu que aquele não seria apenas um trabalho. Seria um desafio. E ela estava pronta para enfrentá-lo.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!