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A Cor do Meu Céu

O peso do céu

...A vida de Lua, uma garota de 15 anos, era como um fio desfiado, prestes a se romper a qualquer momento. Com seus cabelos cacheados longos e negros, que pareciam capturar a luz do sol em cachos rebeldes, ela carregava uma beleza que era ao mesmo tempo simples e impactante. Seu rosto, de traços delicados e pele cor de ébano, era marcado por uma expressão de determinação que contrastava com a dureza do mundo ao seu redor. Lua sonhava em ser modelo de passarela, um sonho que parecia tão distante quanto as estrelas que ela observava à noite, deitada no telhado de sua casa humilde....

...A casa de Lua ficava em uma comunidade vulnerável, onde as ruas de terra batida e as casas de madeira precárias contavam histórias de luta e resistência. Seus pais, catadores de reciclagem, passavam a maior parte do tempo nas ruas, carregando sacos pesados de materiais recicláveis. Quando não estavam trabalhando, estavam no bar, afogando as frustrações em copos de cachaça. Lua cresceu aprendendo a cuidar de si mesma desde cedo. Ela cozinhava, limpava, lavava suas roupas e ainda corria atrás de tudo o que precisava para a escola, tudo isso com apenas 15 anos....

...Na escola, Lua enfrentava um mundo que parecia conspirar contra ela. As piadas racistas e os olhares de desdém eram parte de sua rotina diária. "Olha só, a 'neguinha' da sala veio hoje", zombava um colega, enquanto outros riam. Lua apertava os lábios e seguia em frente, segurando as lágrimas que insistiam em brotar em seus olhos. Até mesmo alguns professores parecem ignorar ou, pior, reforçar o preconceito. "Lua, você precisa se esforçar mais se quiser passar de ano", dizia uma professora, com um tom de voz que mais parecia uma acusação do que um incentivo....

...A única pessoa que parecia estar ao seu lado era Carla , sua amiga de 17 anos. Carla era uma figura contraditória na vida de Lua. Parda, de cabelos lisos e bem cuidados, ela tinha uma personalidade arrogante e invejosa, mas, de alguma forma, as duas haviam criado um laço de amizade. "Lua, você precisa parar de ligar para o que eles dizem", Carla dizia, enquanto ajustava o colar que brilhava em seu pescoço. "Eles só têm inveja de você." Lua sabia que Carla nem sempre era sincera, mas naquele momento, suas palavras eram um conforto....

...Uma tarde, após mais um dia difícil na escola, Lua subiu ao telhado de sua casa, como fazia sempre que precisava pensar. O céu estava pintado com tons de laranja e rosa, e o sol se despedia do dia. Ela olhou para o horizonte, imaginando um futuro onde poderia caminhar em passarelas, com todos os olhares voltados para ela, não por desprezo, mas por admiração. "Um dia", sussurrou para si mesma, "eu vou sair daqui e mostrar a todos do que sou capaz."...

...Enquanto o sol se punha, Lua sentiu uma mistura de dor e esperança. A vida era dura, mas ela não estava disposta a desistir. Cada insulto, cada olhar de desprezo, era apenas mais uma razão para lutar por um futuro melhor. E, sob a mesma lua que iluminava sua comunidade, Lua prometeu a si mesma que nunca deixaria seus sonhos se apagarem....

...---...

...No dia seguinte, na escola, Lua encontrou Carla no corredor. "Oi, Lua! Você viu o novo garoto que chegou na escola? Ele é lindo!", Alice disse, com um brilho nos olhos....

...Lua sorriu timidamente. "Não vi, Carla. Estou mais preocupada com a prova de matemática."...

...Carla revirou os olhos. "Sério, Lua, você precisa se divertir mais. A vida não é só estudar e sonhar."...

...Lua olhou para Carla, com uma expressão séria. "Para mim, é. Eu não tenho escolha."...

...Carla suspirou, mas não respondeu. Ela sabia que, por trás daquela determinação, havia uma garota que carregava um peso muito maior do que qualquer um delas poderia imaginar....

O resgate no Beco

...A manhã começou como qualquer outra na comunidade. O sol ainda tentava se impor sobre o céu nublado, e o ar carregado de umidade prometia um dia abafado. Lua desceu as escadas estreitas e íngremes que ligavam sua casa à rua principal, segurando com firmeza a alça de sua mochila surrada. Seus cabelos cacheados estavam amarrados em um rabo de cavalo alto, mas alguns fios teimosos escapavam, dançando ao vento. Ela caminhava rápido, como sempre, tentando evitar os olhares e os comentários que pareciam persegui-la desde que se entendia por gente....

...Mas naquele dia, o destino parecia ter outros planos....

...Enquanto ela passava por um beco estreito, três garotos surgiram do nada, bloqueando seu caminho. Eram rostos conhecidos, mas não amigos. Um deles, mais alto e com um boné virado para trás, deu um passo à frente, um sorriso malicioso estampado no rosto....

..."Onde você pensa que vai, 'neguinha'?" ele zombou, enquanto os outros dois riam, como se aquela fosse a piada mais engraçada do mundo....

...Lua tentou contorná-los, mas eles se moveram rapidamente, cercando-a. O coração dela acelerou, e uma sensação de pânico começou a tomar conta de seu corpo. Ela olhou ao redor, procurando por alguém que pudesse ajudá-la, mas o beco estava vazio, como se o mundo tivesse decidido ignorar sua existência naquele momento....

..."Deixa eu passar", ela disse, tentando manter a voz firme, mas o tremor era perceptível....

..."Ah, ela fala!", o garoto do boné riu, enquanto os outros se aproximavam ainda mais. "Por que você não vem com a gente? A gente só quer conversar."...

...Lua sentiu as mãos dele agarrando seu braço, e o pânico se transformou em desespero. Ela tentou se soltar, mas a força dele era maior. Os outros dois garotos riam, como se aquilo fosse um jogo, enquanto a arrastavam em direção a uma casa abandonada no fim do beco....

..."Para! Me solta!" ela gritou, as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. "Alguém, por favor, me ajuda!"...

...Mas ninguém apareceu. As pessoas que passavam pela rua principal pareciam não ouvir, ou talvez preferissem não se envolver. Lua sentiu o chão sumir sob seus pés enquanto era arrastada, sua mente inundada de medo e desespero....

...Foi então que uma voz firme ecoou pelo beco....

..."Oi! O que vocês pensam que estão fazendo?"...

...Os garotos pararam, surpresos, e Lua aproveitou o momento para se soltar, caindo de joelhos no chão. Ela olhou para trás e viu Arthur, o motoboy mais admirado da comunidade, parado no meio do beco, seu olhar fixo nos garotos como se fossem insetos insignificantes....

..."Ah, é você, Arthur", o garoto do boné disse, tentando parecer despreocupado, mas a voz dele traía um pouco de nervosismo. "Isso não é da sua conta."...

..."Tudo aqui é da minha conta", Arthur respondeu, avançando em direção a eles. "Agora, vão embora antes que eu faça vocês se arrependerem de terem nascido."...

...Os garotos trocaram olhares hesitantes, mas a postura de Arthur era intimidadora. Eles sabiam que não valia a pena enfrentá-lo. Com um último olhar de desdém para Lua, eles saíram do beco, murmurando insultos baixinho....

...Arthur se ajoelhou ao lado de Lua, que ainda tremia e chorava. Ele colocou uma mão gentil em seu ombro, e ela se virou para ele, seus olhos cheios de medo e gratidão....

..."Você está bem?" ele perguntou, sua voz suave, mas cheia de preocupação....

...Lua não conseguiu responder. Ela apenas balançou a cabeça, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Arthur não hesitou. Ele a pegou no colo com cuidado, como se ela fosse feita de vidro, e a carregou até o final do beco, onde a rua principal começava....

..."Você está segura agora", ele sussurrou, enquanto ela se agarrava a ele com força, como se ele fosse sua única âncora em um mar de caos....

...Quando ele a colocou no chão, Lua finalmente olhou para seu rosto. Seus olhos castanhos eram profundos e cheios de uma serenidade que ela nunca tinha visto antes. Ele era mais bonito do que ela imaginava, mas naquele momento, sua beleza era o que menos importava. Ele a salvou....

..."Obrigada", ela conseguiu dizer, sua voz ainda trêmula....

...Arthur sorriu levemente, mas sua expressão era séria. "Você não precisa agradecer. Só fica longe desses becos sozinha, tá bom?"...

...Lua assentiu, ainda abalada. Foi então que Carla apareceu, correndo em sua direção....

..."Lua! O que aconteceu?" ela perguntou, seus olhos se movendo rapidamente entre Lua e Arthur....

...Arthur se levantou e olhou para Carla. "Você é amiga dela?"...

..."Sim", Carla respondeu, ainda confusa....

..."Então cuida bem dela hoje. Ela vai precisar de todo o apoio que puder ter", ele disse, sua voz firme, mas gentil....

...Carla assentiu, ainda sem entender completamente o que havia acontecido, mas decidiu não fazer mais perguntas naquele momento. Ela ajudou Lua a se levantar, enquanto Arthur observava, seus olhos ainda cheios de preocupação....

..."Vamos", Carla disse, colocando um braço ao redor dos ombros de Lua. "Vamos pegar o ônibus."...

...Enquanto as duas se afastavam, Arthur ficou parado, observando Lua. Havia algo naquela garota frágil e corajosa que o tocara de uma maneira que ele não conseguia explicar. Ele não estava procurando por um relacionamento, mas naquele momento, sentiu algo que não sentia há muito tempo: uma conexão....

...Lua, por sua vez, ainda estava tremendo, mas o calor do abraço de Arthur e a segurança que ele transmitia ficaram gravados em sua memória. Ela não sabia o que o futuro reservava, mas naquele momento, sentiu que talvez, apenas talvez, o céu não fosse tão distante assim....

A rotina de Arthur

...Arthur acordou antes do sol nascer, como sempre. O despertador tocou às 5h da manhã, e ele esticou o braço para desligar, evitando que o som alto acordasse sua mãe e seu irmãozinho, Lucas, que dormiam no quarto ao lado. Ele se levantou da cama, esticou o corpo e olhou pela janela. A comunidade ainda estava envolta em uma névoa fina, e o silêncio da madrugada era quebrado apenas pelo canto distante de um galo....

...Ele vestiu sua camiseta branca já um pouco desbotada e calças jeans surradas, calçou seus tênis e saiu do quarto em silêncio. Na cozinha, sua mãe, Dona Maria, já estava acordada, preparando o café da manhã. O cheiro de pão fresquinho e café coado enchia o ar, e Arthur sentiu um pouco de conforto naquela rotina matinal....

..."Bom dia, filho", Dona Maria disse, com um sorriso cansado, mas carinhoso. Ela era uma mulher de estatura baixa, com cabelos grisalhos e olhos que carregavam o peso de anos de luta, mas ainda assim mantinham um brilho de esperança....

..."Bom dia, mãe", Arthur respondeu, beijando sua testa. "Precisa de ajuda com alguma coisa?"...

..."Já está quase tudo pronto. Só falta o café", ela disse, enquanto colocava uma xícara na mesa para ele. "Você já vai sair?"...

..."Sim, tenho que pegar as entregas cedo hoje", ele explicou, sentando-se à mesa e pegando um pedaço de pão. "E o Lucas? Dormiu bem?"...

..."Dormiu como um anjo", Dona Maria respondeu, com um sorriso orgulhoso. "Ele sonhou com você de novo. Disse que você é seu herói."...

...Arthur sorriu, mas havia uma sombra de tristeza em seus olhos. Ele sabia que Lucas o admirava, mas também sabia que a vida não era fácil para um garoto de 5 anos que crescia sem um pai. Arthur fazia o possível para ser um exemplo para o irmão, mas às vezes se perguntava se era suficiente....

...Depois do café, Arthur pegou sua jaqueta e saiu de casa. A moto estava estacionada na frente, e ele a verificou rapidamente antes de ligar o motor. O ronco do motor ecoou pelas ruas vazias, e ele partiu em direção ao centro da cidade, onde começaria suas entregas do dia....

...---...

...Enquanto percorria as ruas da comunidade, Arthur não podia evitar notar a vida que começava a despertar. As crianças brincavam nas calçadas, os vendedores ambulantes montavam suas barracas, e os moradores mais velhos conversavam nas esquinas. Era um lugar cheio de vida, mas também de desafios....

...E foi em uma dessas ruas que ele viu Lua....

...Ela estava sentada no muro em frente à casa dela, com seus cabelos cacheados presos em um rabo de cavalo alto, esperando por Alice. Arthur já a tinha visto antes, mas nunca tinha prestado muita atenção. Hoje, porém, algo chamou seu olhar. Talvez fosse a expressão de determinação em seu rosto, ou a maneira como ela olhava para o horizonte, como se estivesse sonhando acordada. Ele não sabia ao certo, mas algo naquela garota o intrigava....

...Ele diminuiu a velocidade da moto, observando-a por um momento antes de seguir seu caminho. Lua parecia tão frágil, mas ao mesmo tempo tão forte. Ele se perguntou o que ela estava pensando, mas logo se lembrou de que não tinha tempo para divagações. Ele tinha entregas para fazer e uma família para sustentar....

...---...

...No final do dia, Arthur voltou para casa exausto. As entregas tinham sido mais pesadas do que o normal, e ele mal conseguia esperar para tomar um banho e descansar. Quando ele entrou em casa, encontrou Lucas sentado no chão da sala, brincando com um carrinho de plástico que Arthur havia ganhado de presente no Natal passado....

..."Arthur!", Lucas gritou, correndo em direção ao irmão mais velho e abraçando suas pernas. "Você trouxe alguma coisa pra mim?"...

...Arthur riu e pegou o irmão no colo. "Hoje não, pequeno. Mas no fim de semana a gente vai ao parque, tá bom?"...

...Lucas sorriu, mostrando os dentes pequenos e brancos. "Promete?"...

..."Prometo", Arthur respondeu, colocando-o no chão novamente. "Agora vai ajudar a mãe a arrumar a mesa para o jantar."...

...Enquanto Lucas corria para a cozinha, Arthur sentou-se no sofá, olhando para o teto. Ele estava cansado, mas sabia que não podia parar. A responsabilidade de cuidar da família pesava em seus ombros, mas ele não reclamava. Ele fazia o que tinha que fazer....

...---...

...Naquela noite, enquanto se preparava para dormir, Arthur pensou novamente em Lua. Ele não sabia por que, mas a imagem dela sentada no muro, olhando para o horizonte, não saía de sua mente. Talvez fosse porque ele via um pouco de si mesmo nela: alguém que carregava um peso maior do que deveria, mas ainda assim continuava em frente....

...Ele se deitou na cama, olhando para o teto escuro. "Um dia", ele sussurrou para si mesmo, "as coisas vão melhorar."...

...E com essa esperança, Arthur fechou os olhos e deixou o sono levá-lo....

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