As conversas animadas se transformaram em sussurros, e todos, aos
poucos, voltaram a seus afazeres. A música, que havia desvanecido a um
zumbido, parou, e pela primeira vez, desde que entrei na sala, deixei que um
sorriso deslizasse pelo meu rosto.
Esta noite seria o caos.
A Noite do Diabo não era apenas um trote.
Era
algo especial.
Não somente porque eles haviam escolhido novos jogadores de
todas as turmas, os levariam para um lugar desconhecido, zoariam com eles e os
deixariam bêbados, mas pelo que fariam depois...
Os Cavaleiros tocariam o
terror na cidade como se aqui fosse o playground deles.
No ano passado, com a ausência deles, tudo havia sido tedioso, mas todo mundo sabia o que aconteceria esta noite. A começar de agora, no estacionamento, onde os caras e algumas garotas se enfiariam em seus carros,
sem sombra de dúvidas.
Peguei o lápis de volta e respirei rapidamente enquanto balançava meu
joelho direito para cima e para baixo.
Eu queria ir.
O calor em meu peito estava começando a se dissipar, e minha cabeça,
que parecia mais aérea que tudo há um minuto, estava aos poucos se assentando
no lugar.
Em mais um instante eu me sentiria do mesmo jeito de sempre antes
que ele entrasse na sala:
comum,
fria
e insignificante.
Depois da aula, eu iria para casa, veria como minha mãe está, mudaria
de roupas, e iria passar um tempo na casa dos Crist; uma rotina que começou
logo depois da morte do meu pai.
Algumas vezes eu ficava para jantar, e em
outras voltava para casa para comer com a minha mãe se ela estivesse disposta.
Então iria para a cama, tentando não me preocupar com o fato de um
irmão tentar me colocar para baixo mais um pouco, enquanto me recusava a
aceitar o que havia sido despertado dentro de mim, sempre que o outro estava
perto.
Risadas e uivos se fizeram ouvir do lado de fora das janelas, e eu
hesitei, fazendo meu joelho parar de balançar.
Foda-se.