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Meu Tio

Capítulo 1

© 2025 Naira Sousa. Todos os direitos reservados.

Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação da autora ou usados de maneira fictícia. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou falecidas, eventos ou locais reais é mera coincidência.

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em um sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio — eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro — sem a permissão prévia e expressa da autora, exceto nos casos previstos em lei para citações breves em resenhas e críticas.

A violação dos direitos autorais é crime previsto na Lei nº 9.610/98 e está sujeita a penalidades civis e criminais.

...🥵 Félix Norton 🥵...

...🥵 Maya 🥵...

 ° Felix Norton ... 🖋️

Observar Maya sempre foi um pecado que me condenava.

Desde o momento em que ela atravessou o portão da minha mansão já sendo uma bela moça, segurando uma mochila pequena demais para o peso que parecia carregar, algo dentro de mim mudou. Naquele instante, eu sabia que minha vida nunca mais seria a mesma. O sorriso dela iluminava o que havia de mais escuro em mim, e isso me aterrorizava.

Os anos se passaram e, diante dos meus olhos, Maya deixou de ser aquela menina ingênua. Cada traço infantil deu lugar a uma mulher de beleza estonteante e força sutil. Ela se tornou um vício, uma presença inebriante que fazia meu mundo girar ao seu redor. A cada dia, o abismo entre quem eu deveria ser para ela e quem eu me tornava crescia.

Eu sempre fui seu guardião. Desde o começo, Maya foi colocada sob minha responsabilidade, como se eu fosse a pessoa certa para cuidar dela agora. A ironia disso não passa despercebida. Não sou digno da pureza dela, mas ainda assim, nunca permiti que nada ou ninguém a ameaçasse.

"Você é responsável por ela agora, e você sabe do que estou falando, faça o que é melhor para ambos — disse meu irmão, antes de dar o último suspiro naquele leito de hospital, com uma seriedade que não deixava espaço para dúvidas. E eu fui. Muito mais do que qualquer um poderia imaginar.

Maya nunca questionou a forma como eu sempre estive ali para ela. Não entende por que sou tão protetor, tão vigilante. Talvez nunca tenha se perguntado por que seu destino sempre foi atado ao meu. Para ela, sou o tio que esteve ao seu lado quando o mundo desabou. Para mim, ela é muito mais do que uma sobrinha ou alguém para proteger.

Cada homem que se aproxima é uma ameaça. Cada sorriso que ela dá para alguém que não sou eu é como uma provocação ao caos dentro de mim. Não importa o quanto eu tente me convencer de que estou sendo apenas protetor. A verdade é que minha necessidade de tê-la ultrapassa qualquer limite aceitável.

Ela acha que eu a vigio porque me preocupo. Que imponho limites por amor fraternal. Mas a realidade é muito mais sombria. Não é só preocupação, e não é apenas amor. É uma obsessão tão profunda e insana que me faz questionar se há algo de humano em mim.

Eu a quero. Sempre quis. Desde o momento em que a vi. Ela ainda não entende isso, mas entenderá algum dia.

Ela é a luz que me guia e a escuridão que me devora. Não há escapatória para mim. Nem para ela. Porque, no fundo, Maya pertence a mim. Não importa o que aconteça, ela é e sempre será minha.

...Capítulo 1 .... ✍️...

° Maya 🪷

Eu sempre fui uma garota simples, alguém que viveu de acordo com o ritmo tranquilo de uma vida comum. Tinha meus pais, meu grupo de amigos e a escola, onde estava descobrindo mais sobre mim mesma a cada dia. Mas nada disso foi suficiente para me preparar para o que aconteceu.

Aos 17 anos, quando ainda estava estudando e sonhando com um futuro brilhante, perdi meus pais em um acidente. Foi uma tragédia que arrancou tudo de mim. Minha vida mudou completamente, e com ela, minha sensação de segurança, minha estabilidade, meu chão. Eu me vi sozinha, com um futuro incerto pela frente.

Foi então que meu tio Felix entrou em cena. Ele me acolheu, me ofereceu um teto e tudo o que eu precisava para recomeçar. Eu deveria ser grata — e sou. Ele me deu uma casa, me cercou de conforto e garantiu que eu nunca sentisse falta de nada. Mas essa proteção veio com um preço: sua presença constante, sufocante, em cada detalhe da minha vida.

Felix sempre foi um homem misterioso. Desde que cheguei à mansão Norton, percebi que ele era diferente de qualquer pessoa que eu conhecia. Ele era reservado, intenso, e parecia carregar nos ombros um peso que eu não conseguia compreender. Ele nunca me deixou fazer nada sozinha, sempre me supervisionando como se o mundo fosse um lugar perigoso demais para mim. E talvez, aos olhos dele, realmente fosse.

Agora, aos 22 anos e na reta final do meu curso de Letras, eu ainda sinto essa vigilância. Ele diz que faz isso por amor, por preocupação. Mas, às vezes, parece ser algo mais. Como se ele tivesse um motivo maior, algo que ele não quer compartilhar comigo. Sempre me perguntei o que o leva a agir assim, a me tratar como se eu fosse algo a ser protegido a qualquer custo.

Um dos momentos mais marcantes dessa dinâmica aconteceu na faculdade. Eu havia começado a sair com um rapaz gentil, alguém que me fazia rir e parecia respeitar meu espaço. Por um breve momento, achei que tinha encontrado alguém com quem poderia compartilhar algo verdadeiro, algo meu. Mas isso acabou antes mesmo de começar.

De repente, ele parou de falar comigo. Evitava até me olhar nos corredores. Tentei entender o que havia acontecido, mas ele nunca me deu uma resposta clara. Até que os rumores começaram a circular: Felix havia falado com ele. Não uma conversa casual, mas algo que o deixou assustado o suficiente para se afastar completamente de mim.

Nunca soube o que foi dito naquela conversa, mas o impacto foi claro. Felix, com sua presença imponente, tinha deixado claro que ninguém deveria se aproximar de mim. Quando questionei, ele apenas disse que aquele rapaz "não era bom o suficiente". Era sempre assim, como se ele soubesse algo que eu não sabia, como se visse perigos onde eu via possibilidades.

Às vezes, me pergunto por que Felix age assim. Ele nunca foi casado, nunca vi qualquer sinal de um relacionamento em sua vida. Meu pai costumava dizer que ele estava sempre viajando para tratar de negócios. Quando eu tentava ouvir sobre esses tais "negócios", a conversa mudava rapidamente. Felix sempre foi um enigma, e, apesar de toda a sua proteção, sinto que ele esconde algo, um segredo que tem a ver comigo.

E então, há momentos em que me pergunto: por que ele me protege tanto? Por que parece tão disposto a afastar qualquer pessoa que tente se aproximar de mim?

Não sei se um dia terei essas respostas. Mas o que sei é que viver sob a sombra de Felix é ao mesmo tempo um alívio e uma prisão. Ele é minha âncora, minha segurança, mas também o peso que carrego todos os dias.

Capítulo 2

° Maya 🪷

O sol já havia se posto, e a brisa da noite trazia um frescor que parecia combinar com a minha animação. Eu estava na piscina, deixando a água morna relaxar meus músculos enquanto observava o céu escuro acima de mim.

O som de uma notificação no meu celular me tirou daquele momento de relaxamento. Peguei o aparelho, que estava descansando na espreguiçadeira ao lado, e vi uma mensagem de Laila.

Laila: Amiga, vai rolar uma festa incrível na casa noturna Moonlight hoje! Você PRECISA ir. Passo daqui a pouco. Não aceito um não como resposta, hein!

Respondi a Laila:

"Vou tentar ir! Te aviso quando estiver pronta.

Um sorriso se abriu em meu rosto. Era exatamente o tipo de convite que eu precisava. Meu coração acelerou com a ideia de finalmente fazer algo fora do ordinário. Eu sabia que Tio Felix jamais aceitaria isso se soubesse a verdade, então uma estratégia rápida tomou forma na minha cabeça.

Saí da piscina apressada, secando o corpo enquanto pensava no que dizer. Vesti meu roupão e voltei para o quarto, onde comecei a procurar o que vestir. Se eu dissesse que estaria com amigas confiáveis, Felix poderia ceder. O importante era ser convincente.

Escolhi um vestido preto curto, de alças finas, justo o suficiente para realçar minhas curvas, mas discreto para parecer "seguro" aos olhos dele. Enquanto ajustava o tecido em frente ao espelho, senti uma pequena pontada de culpa. Mas ela logo foi substituída pela empolgação de fazer algo por mim, algo que eu realmente queria, longe do olhar seguro de tio Félix.

Com o plano traçado, desci as escadas. Felix estava na sala, como sempre, mergulhado no celular, mas levantou o olhar assim que ouviu meus passos. Seus olhos percorreram minha figura com aquela mistura de proteção e desconfiança que eu já conhecia tão bem.

— Aonde você vai, vestida dessa forma? — ele perguntou, direto, sem rodeios.

— Laila me chamou para uma festa pequena. Só algumas amigas da faculdade, nada grande. Achei que seria bom pra mim sair um pouco. — Falei com a voz mais casual que consegui, embora meu coração estivesse batendo rápido.

Ele arqueou uma sobrancelha, claramente analisando minhas palavras.

— Que amigas são essas? — Ele insistiu, cruzando os braços.

Respirei fundo, mantendo o tom confiante.

— Laila, Clara e outras meninas do nosso grupo. São todas confiáveis, tio Felix. Você sabe que eu não faria nada imprudente. Afinal, estou indo muito bem na faculdade e estou quase concluindo.

Um silêncio pesado pairou no ar enquanto ele me observava. Eu sabia que ele queria dizer algo mais, talvez até me proibir de ir, mas parecia estar lutando contra isso.

— Está bem. Mas volte cedo. E me mande mensagens quando chegar e quando sair dessa festa.

Eu sorri, tentando parecer despreocupada, embora por dentro estivesse radiante com a pequena vitória.

— Pode deixar, tio. Obrigada! — corro até ele, e deixo um beijo na bochecha. Faço isso no impulso.

Subi de volta para o quarto e terminei de me arrumar. O vestido estava perfeito, e a maquiagem que fiz destacava meus olhos de um jeito que me fazia sentir poderosa. Escolhi um par de saltos discretos, mas elegantes, e finalizei com um perfume suave, mas marcante.

Quando terminei, Laila já havia estacionado o carro na frente de casa. Desci rapidamente, tentando evitar mais perguntas de Felix.

— Cuidado, Maya — ele disse antes que eu saísse.

— Sempre — respondi com um sorriso tranquilo.

Entrei no carro de Laila e me acomodei no banco do passageiro. Ela olhou para mim com um sorriso travesso.

— Você tá deslumbrante! seu tio realmente deixou você sair assim?

— Eu tive que ser criativa, mas sim. — Dei de ombros, rindo.

— Bem, a noite é nossa. Vamos fazer valer a pena! — Laila acelerou o carro, e eu senti uma onda de adrenalina enquanto nos afastávamos.

A música alta e as luzes da cidade piscando pela janela aumentavam minha expectativa. Pela primeira vez em muito tempo, eu estava vivendo algo para mim.

Hoje, seria diferente. Hoje, eu seria livre, como qualquer uma jovem solteira.

Já na boate, a música pulsava alto, invadindo meus sentidos. Laila e eu chegamos à festa em grande estilo. As luzes vibrantes refletiam nas paredes e o ambiente exalava energia. Tanta gente junta, dançando, bebendo, rindo. Eu queria me sentir parte disso, mesmo que fosse apenas por uma noite.

Laila foi logo me puxando para o centro da sala, onde se juntou com alguns caras. Eu a segui, um pouco relutante, mas tentando aproveitar a noite como uma jovem normal. Eles nos ofereceram bebidas, e eu aceitei. A princípio, foram apenas alguns goles, mas a cada risada e cada comentário engraçado, as doses começaram a se acumular.

Laila, sendo Laila, não demorou muito para desaparecer. Ela sempre foi mais ousada que eu, e já estava num canto mais privado com os dois homens. Eu, por outro lado, permaneci com um garoto que havia ficado ao meu lado desde que chegamos. Ele era bonito, com olhos escuros que pareciam me estudar de perto. Mas eu sabia que não queria me envolver. Não era certo, ainda mais com o álcool correndo pelas minhas veias.

— Você está linda — ele comentou, inclinando-se para mais perto. Senti o calor do seu corpo, e ele não parecia intimidado pelo meu silêncio.

— Obrigada — murmurei, minha voz soando arrastada.

O mundo ao meu redor começou a girar. Estava muito bêbada, tão bêbada que mal conseguia manter os olhos abertos. Quando senti as mãos dele deslizando para a minha coxa, o instinto falou mais alto.

— Não, não quero. — Afastei suas mãos, mesmo com dificuldade, e sai dali cambaleando pelo meio da multidão.

Eu precisava de ar, de espaço. Minha visão estava turva, e meu estômago começava a dar sinais de que não aguentaria mais. Antes que pudesse chegar a um lugar mais calmo, tropecei perto da entrada da porta e tudo ficou pior. Vomitei, sem querer, em alguém que estava parado bem ali.

— Mas que droga é essa?! — a voz grave ecoou, carregada de irritação.

Levantei os olhos para ver um homem alto, com ombros largos e um terno impecável que definitivamente não combinava com o ambiente da festa. Ele parecia furioso, limpando a sujeira de sua camisa com gestos abruptos.

 — Me desculpe... eu não... — tentei dizer, mas as palavras saíram emboladas.

— Você tem ideia do que acabou de fazer, garota? Essa roupa vale mais do que você deve gastar em um ano! — Ele deu um passo em minha direção, os olhos queimando de raiva, e uma das mãos no alto, pronto para me dar um tapa.

Eu recuei instintivamente, sentindo meu coração acelerar. Antes que ele pudesse dizer ou fazer algo mais, uma mão firme segurou o braço do homem, interrompendo o movimento que ele fazia em minha direção.

— Eu sugiro que você pense muito bem antes de ter que levantar novamente essa mão — a voz de Felix soou fria como gelo, e fez meu sangue gelar.

— Quem diabos é você para se meter? — o homem respondeu, tentando se soltar.

— Eu sou o homem que vai quebrar cada dedo da sua mão se você tocar nela — Felix respondeu calmamente, apertando o braço do outro com mais força. — Entendeu?

O homem tentou se livrar do aperto, mas Felix não cedeu. Ele apenas inclinou a cabeça, seus olhos perigosamente estreitos.

— Eu perguntei se você entendeu.

— Está bem! Está bem! Eu entendi — o homem finalmente cedeu, sua voz agora carregada de medo.

Felix o soltou com um empurrão brusco e se virou para mim. Por um momento, o olhar frio que ele havia dirigido ao estranho suavizou ao me ver. Mas logo sua expressão endureceu novamente, e ele segurou meu braço com firmeza.

— Vamos para casa, agora!

— Tio Felix, eu... — tentei argumentar, mas ele me interrompeu.

— Nem uma palavra, Ragazza. Você não faz ideia do perigo que acabou de correr, e sem contar das suas mentiras.

Ele me puxou até o carro, deixando a confusão e o som abafado da música para trás. Meu coração ainda estava disparado, não apenas pelo susto, mas pela maneira como Felix havia enfrentado aquele homem.

No carro, o silêncio era opressor. Olhei para ele, mas seu olhar permanecia fixo na estrada. Suas mãos apertavam o volante com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. Eu queria agradecer, mas as palavras não vinham.

Capítulo 3

° Maya 🪷

Assim que chegamos em casa, Felix estacionou o carro com um movimento brusco, ignorando completamente que seus seguranças poderiam fazer isso por ele. Ele saiu sem dizer uma palavra e deu a volta para abrir minha porta. Eu já sabia o que vinha a seguir. Sua postura rígida e o olhar frio deixavam claro que ele estava furioso. Não era preciso perguntar.

Tentei descer do carro sozinha, mas minha perna mal sustentou o peso do meu corpo. Cambaleei, e antes que pudesse me equilibrar, ele segurou meu braço com firmeza.

— Você não está em condições de fazer nada sozinha — disse ele, sua voz carregada de um tom autoritário que não deixava espaço para discussão.

— Eu estou bem! — resmunguei, tentando me soltar, mas sem sucesso.

— Bem? — Ele soltou uma risada seca. — Mentiu para mim, vomitou em um estranho, quase arranjou uma briga e ainda acha que está bem?

Seu tom me irritou, mesmo que eu soubesse que ele estava certo. Algo dentro de mim queria desafiá-lo, como se isso pudesse provar que eu tinha algum controle sobre minha própria vida.

— Eu só queria me divertir, Felix! É pedir muito? — Cruzei os braços, sentindo o calor subir ao meu rosto, mas dessa vez não era por causa do álcool, mas pela forma como ele me olhava.

Ele não respondeu. Apenas suspirou pesadamente antes de se inclinar e me pegar de surpresa, erguendo-me sobre o ombro como se eu fosse um saco de farinha.

— Felix! Me coloca no chão! — gritei, batendo em suas costas, enquanto os seguranças olhavam para nós.

— Você quer fazer birra agora, Maya? Ótimo, mas vai ser dentro de casa. — Sua voz era dura, mas havia algo quase divertido em seu tom, como se ele estivesse no controle absoluto da situação.

Me debati o caminho inteiro até a porta, mas ele não cedeu. Pelo contrário, parecia caminhar ainda mais firme, como se quisesse me mostrar que minha resistência era inútil. Quando finalmente chegamos à cozinha, ele me colocou no chão com cuidado, mas sua expressão ainda estava sombria.

— Fica aqui — ordenou ele, apontando para uma cadeira.

Eu o obedeci, mais por cansaço do que por vontade própria. Observei enquanto ele ia até a cafeteira, pegava um pacote de café e começava a preparar uma bebida que, pelo cheiro forte, parecia ser capaz de trazer qualquer um de volta à sobriedade.

O silêncio na cozinha era pesado, preenchido apenas pelo som do café sendo preparado e pelo pulsar da minha cabeça. Ele colocou a xícara na minha frente, seu olhar sério me fixando.

— Toma — disse ele.

Dei um gole hesitante, o líquido amargo queimando minha garganta. Fiz uma careta, mas continuei bebendo. Parte de mim sabia que ele estava certo em me obrigar a fazer isso, mas outra parte odiava como ele sempre assumia o controle de tudo.

Quando terminei, coloquei a xícara na mesa e olhei para ele. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, senti suas mãos no meu rosto, deslizando suavemente para segurar meu queixo. Seus olhos me examinavam, como se quisesse se certificar de que eu realmente estava bem.

— Você está machucada? — ele perguntou, sua voz mais suave agora.

— Não — murmurei, meu coração começando a bater mais rápido.

Ele continuou a me examinar, suas mãos descendo pelo meu pescoço e depois pelos meus braços, como se procurasse algum sinal de que algo estava errado. Seu toque era quente, firme, e eu senti meu corpo congelar sob o contato de seus dedos mornos e seu olhar preocupado.

"Acorda Maya, ele é seu tio, não pode ter nada com ele" — pensei.

— Felix, eu estou bem — repeti, mas minha voz saiu fraca, quase inaudível.

Seus olhos encontraram os meus, e por um momento, tudo pareceu parar. Meu coração disparava, minha boca estava seca, e uma tensão estranha pairava entre nós. Senti vontade de me inclinar, de encurtar a distância entre nós e fazer algo que eu sabia ser completamente errado.

Mas, em vez disso, desviei o olhar e me levantei abruptamente, quase derrubando a cadeira no processo.

— Eu... preciso de um banho — disse rapidamente, tentando escapar do olhar intenso dele.

Ele não me deteve, mas sua presença parecia seguir cada passo que eu dava. Subi as escadas e entrei no banheiro, trancando a porta atrás de mim. O reflexo no espelho me mostrou alguém que eu quase não reconhecia. Meu rosto estava corado, e meus olhos, apesar do cansaço, estavam brilhando de uma forma que eu não entendia completamente.

— É só a bebida — sussurrei para mim mesma, tentando me convencer.

Mas uma parte de mim sabia que não era só isso. Havia algo em Felix, algo que sempre esteve lá, mas que eu nunca quis admitir. Ele não era apenas meu tio, irmão do meu pai. Ele era um homem, com todas as qualidades e defeitos que isso trazia. E, por mais que eu tentasse ignorar, havia uma parte de mim que se sentia atraída por ele, e isso não é de agora.

Eu desliguei a água e me encostei na parede fria do banheiro, tentando afastar esses pensamentos. Felix era minha família. Ele era o único que eu tinha. E, por mais que meu corpo parecesse ignorar essas barreiras, minha mente sabia que aquilo não era certo.

Depois de algum tempo, voltei para o quarto, evitando qualquer encontro com ele. Deitei na cama, mas o sono não vinha. As memórias daquela noite continuavam passando pela minha mente, desde a festa até o momento em que senti suas mãos em mim.

Aquele toque... era errado pensar nisso, não era? Suspirei, fechando os olhos e tentando ignorar a confusão que Felix despertava em mim. Talvez, com o tempo, esses sentimentos desaparecessem. Talvez eu estivesse certa em culpar a bebida.

Fechei os olhos e tentei dormir, mas minha mente estava inquieta, fervilhando com pensamentos sobre a noite. A música da boate, as luzes piscando, o cheiro de perfume misturado ao álcool... Era tudo tão diferente do que eu estava acostumada, tão distante da rotina previsível que Felix insistia em manter.

Virei-me de lado, abraçando o travesseiro, mas a ansiedade não me deixava em paz.

Tentei controlar minha respiração, imaginando o som das ondas do mar, um truque que minha mãe me ensinou para acalmar a mente. Aos poucos, meu corpo relaxou, e acabei dormindo.

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