O mundo é dominado por um sistema de hierarquia baseado no poder mágico. A magia é comum, mas seu domínio é desigual. O nível de magia de uma pessoa determina sua posição social: os magos mais poderosos controlam os reinos e as riquezas, enquanto os magos fracos ou os sem magia são relegados a uma vida de servidão e miséria.
No entanto, a magia não é apenas uma questão de poder: ela é ligada a “oráculos” – artefatos antigos que escolhem os que têm maior afinidade com determinados tipos de magia. O poder de uma pessoa é medido pela sua afinidade com esses oráculos e pela força de sua magia. As magias dominantes variam entre elementos como fogo, água, vento, terra, e até magia espiritual ou mental. Aqueles que não conseguem dominar a magia são considerados "não dignos" e são marginalizados.
Sistema de Magia - "Os Oráculos e o Fluxo Arcano"
Definição Básica do Sistema
A magia neste mundo é a força vital que permeia tudo ao redor, algo que pode ser moldado, manipulado e usado de acordo com a afinidade do indivíduo com os "Oráculos" — objetos, artefatos ou entidades antigas que são fontes de poder. Cada pessoa nasce com uma conexão única com um desses Oráculos, mas a força dessa conexão varia.
Esses Oráculos não são apenas artefatos físicos; eles são também representações espirituais ou manifestação de forças primordiais, ligados ao próprio tecido do universo. Quem tem uma afinidade mais forte com um Oráculo tem maior capacidade de manipular as energias mágicas e, por consequência, uma posição de poder na sociedade.
Tipos de Magia
A magia é dividida em várias escolas de poder baseadas nos elementos e forças naturais, e cada uma delas possui suas próprias características e formas de aplicação.
Magia Elemental:
Fogo: Magos do fogo são conhecidos pela destruição e pela velocidade. Eles podem criar chamas, controlar o calor e manipular o fogo para ataques devastadores ou para aquecer vastas áreas. Sua habilidade está associada ao poder destrutivo e à paixão.
Água: Magos da água são conhecidos por sua flexibilidade e adaptabilidade. Eles podem controlar rios, tempestades, nevoeiros e até curar feridas ao manipular fluidos. Sua habilidade está associada à fluidez, calma e purificação.
Terra: Magos da terra têm a habilidade de manipular rochas, areia, plantas e metais. Sua magia é mais defensiva e resiliente, com o poder de criar barreiras impenetráveis ou terraformar o ambiente ao seu redor. Sua habilidade está ligada à estabilidade e à força.
Vento: Magos do vento têm controle sobre o ar e os fluxos de energia invisíveis. Eles podem criar tornados, manipular correntes de ar e controlar a velocidade. Sua habilidade está associada à liberdade e à agilidade.
Magia Mental ou Psíquica:
Magos psíquicos possuem poderes que afetam a mente. Eles podem manipular memórias, ler pensamentos, controlar mentes mais fracas e até se comunicar telepaticamente. Sua magia é associada ao controle e à percepção.
Magia Espiritual:
Esta é uma forma de magia que conecta o mago ao "Fluxo Arcano", uma rede energética que atravessa todas as coisas no universo. Magos espirituais podem se conectar a almas passadas, invocar entidades poderosas, ou até manipular o equilíbrio entre vida e morte. Essa magia é muito rara e muito temida, pois envolve forças que estão além da compreensão humana.
Os Oráculos
Cada Oráculo está vinculado a um tipo específico de magia. Eles não são apenas artefatos ou objetos; são representações de essências poderosas. Os Oráculos podem se manifestar como:
Cristais: Pedras ou cristais raros que emitem energia mágica. Eles são a chave para desbloquear o potencial mágico de uma pessoa.
Códigos Ancestrais: Livros antigos ou inscrições que possuem o poder de transferir conhecimento mágico através de leitura ou rituais.
Entidades: Espíritos ou seres antigos que concedem poderes aos magos. Esses seres podem comunicar-se com seus "escolhidos" e guiar sua jornada mágica.
Loci Mágicos: Locais sagrados ou regiões específicas onde a magia é mais concentrada, como montanhas místicas ou ruínas de civilizações antigas. Aqueles que são capazes de se conectar com esses loci podem acessar poderes divinos.
A afinidade de um mago com seu Oráculo define seu poder. Alguns nascem com uma afinidade muito forte com um Oráculo, enquanto outros podem ter uma conexão fraca ou até mesmo nenhum Oráculo, sendo considerados "sem poder".
Classificação dos Magos
A sociedade do novo mundo classifica os magos com base em seu nível de poder e sua afinidade com os Oráculos. Essa classificação define não apenas o status social de um mago, mas também sua riqueza, privilégios e direitos. A classificação é feita por um sistema de ranks:
Rank 1 (Iniciante): Magos que possuem uma conexão mínima com seu Oráculo. Eles têm pouco poder e podem apenas manipular as energias básicas de seu elemento ou força. Eles vivem em classes baixas e são frequentemente vistos como fracos.
Rank 2 (Aspirante): Magos com habilidades mais desenvolvidas. Eles são mais respeitados e podem começar a realizar feitos significativos, mas ainda estão longe dos magos mais poderosos. Eles estão entre as classes médias.
Rank 3 (Veterano): Magos de alto nível, com grande controle sobre suas habilidades. Eles são respeitados e têm uma posição considerável na sociedade. Podem influenciar grandes decisões e são frequentemente servos da nobreza.
Rank 4 (Elite): Magos poderosos, próximos do auge de suas habilidades. Eles são parte da classe alta e possuem controle absoluto sobre seus poderes. São frequentemente governantes ou conselheiros de reinos.
Rank 5 (Mestre Supremo): Apenas alguns poucos magos alcançam esse nível. São os magos que podem manipular forças divinas ou espirituais e têm controle sobre a própria essência do universo. Eles são vistos como semi-deuses, com habilidades praticamente infinitas.
O Último Suspiro
Ayla estava sozinha. A fria noite cobria sua pequena e frágil figura com um manto de escuridão, e o vento cortante sussurrava promessas de abandono. Seu corpo, cansado e marcado pelas dificuldades de uma vida de abandono, tremia sob o frio que lhe roubava o calor. Não havia mais forças para lutar, para procurar por um lugar seguro. Ela sabia que o fim estava próximo.
Desde que fora deixada para trás, ainda uma criança, Ayla havia aprendido que o mundo não era um lugar gentil para quem não tinha nome, quem não tinha ninguém. Crescera em orfanatos que a tratavam como um número, e quando não pôde mais suportar o abuso e as humilhações, ela fugiu para as ruas. Sobreviveu ao lado de outros órfãos, mas a traição sempre esteve ao seu redor. Amigos se tornaram inimigos, e promessas de ajuda se transformaram em golpes traiçoeiros.
Ayla confiou, mais de uma vez, nas pessoas erradas. Quando pensou que finalmente tinha encontrado uma família, uma promessa de segurança, a traição a derrubou. O falso amor, a falsidade que permeava a vida dela, havia sido seu fim.
Agora, no leito de um campo sombrio, à beira da morte, Ayla olhou para as estrelas. Elas pareciam tão distantes, tão inatingíveis. Era como se o universo, que nunca teve piedade dela, estivesse finalmente a ignorando. O último suspiro escapou de seus lábios, sem dor, sem arrependimentos. Ela fechou os olhos pela última vez, um sentimento de perda profunda preenchendo seu peito.
Mas, ao invés de encontrar o descanso eterno, Ayla acordou. Não em uma cama suave ou em um lugar tranquilo, mas em um mundo completamente diferente.
O primeiro choque foi a luz — não a fraca luz de uma lâmpada de rua, mas uma luz suave e acolhedora, como se o próprio amanhecer estivesse com ela. E então, o cheiro: o ar estava fresco, limpo, e o aroma de flores exóticas invadia suas narinas. O som que antes era de desespero, de solidão, agora era substituído por um ambiente pulsante, cheio de vida. O som dos pássaros, o farfalhar das árvores e até o murmúrio distante de águas fluindo.
Ayla tentou se mover, mas sentiu como se sua mente ainda estivesse atordoada. Ela não sabia onde estava, mas logo percebeu que estava deitada em uma cama simples, em um quarto rústico. O teto parecia de madeira antiga, as paredes de pedra. Havia um suave calor emanando da lareira no canto. No momento em que se sentou, uma sensação de estranheza a tomou: ela estava em outro corpo, em outra realidade. Algo havia mudado. Ela não se lembrava exatamente de como chegou ali, mas algo dizia que ela não estava mais no mundo que conhecia.
O som de passos se aproximando a tirou de seus pensamentos. A porta se abriu, e uma figura apareceu — uma mulher de cabelos castanhos e sorriso gentil. Ela usava roupas simples, mas havia algo em sua presença que transmitia cuidado.
“Você acordou, minha filha. Estava preocupada, você passou por tanto, mas agora está em casa.”
Ayla olhou para ela, sem saber o que dizer. Ela se sentia confusa, perdida, mas ao mesmo tempo, algo em seu peito parecia se acalmar com as palavras da mulher. Era como se, finalmente, ela tivesse encontrado alguém que a via não como um peso, mas como alguém importante.
A mulher se aproximou e se sentou ao lado de Ayla, segurando sua mão com ternura.
“Meu nome é Luna, sou sua mãe. Você foi encontrada nos arredores da aldeia, desacordada. Não sabemos de onde você veio, mas você é nossa filha agora.”
Ayla, em choque, sentiu uma onda de emoções a invadir — o conforto daquela mulher, a certeza de estar em um lugar seguro. Mas também, uma dúvida angustiante: ela sabia, no fundo, que não era sua mãe. Mas a sensação de pertencimento, de ser finalmente amada, a fez hesitar. Algo novo brotava em seu coração, uma faísca de esperança, mas também um medo profundo, como se todo esse carinho fosse um sonho passageiro.
“Eu… eu não sei quem sou”, Ayla disse, sua voz baixa e trêmula, “Eu… eu não me lembro de nada.”
Luna sorriu suavemente, apertando a mão de Ayla.
“Tudo bem, filha. Você está entre os nossos agora. Aqui, nós cuidaremos de você.”
O que Ayla não sabia era que ela havia renascido em um mundo completamente diferente, onde a magia era a força vital, a chave para tudo. Cada pessoa era julgada e classificada com base em sua habilidade mágica. Status, riqueza, poder — tudo era determinado pelo controle da magia. E, embora Ayla fosse filha de uma família humilde, ela começaria a perceber que o amor e a acolhida que recebera tinham um peso muito maior do que ela imaginava.
Este novo mundo, com suas complexas regras e sistemas de poder, começaria a revelar-se para Ayla conforme ela crescia. E, com o tempo, ela descobriria que sua verdadeira origem e seu poder, ainda oculto, poderiam mudar não apenas o destino dela, mas o destino de todos ao seu redor.
Ayla não sabia que sua história estava apenas começando. Que a jovem órfã abandonada e traída de um mundo sem magia havia se tornado alguém muito mais importante no novo mundo, onde a magia, e o seu seu poder determinam tudo
Os dias seguintes foram como uma névoa para Ayla. Acordava e adormecia sem saber ao certo o que estava acontecendo ao seu redor. Havia o conforto do carinho de Luna, a mulher que se dizia sua mãe, mas algo dentro dela se recusava a aceitar plenamente a ideia de que ela finalmente havia encontrado um lugar seguro. Mesmo assim, os cuidados da família nova lhe davam uma sensação de paz que Ayla nunca conhecera.
Era em momentos de silêncio, quando o mundo ao seu redor parecia parar por um instante, que as memórias começaram a voltar.
Primeiro, foi uma visão vaga: um orfanato frio e distante, o som abafado de outras crianças, todas com olhos vazios, iguais aos seus. Depois, uma cena mais clara: a dor física e emocional de ser rejeitada, jogada à própria sorte, sempre acreditando que algum dia alguém a acolheria. Mas nunca foi assim. A dor se tornava cada vez mais intensa. Lembranças de momentos em que a confiança fora quebrada, de promessas feitas e traídas, de mãos estendidas apenas para puxá-la de volta para o fundo. A pior de todas as traições foi a de alguém que ela chamara de amigo, alguém que ela havia protegido e acreditado, mas que a deixou para morrer, sem hesitar, sem remorso.
Quando a última memória tomou conta de sua mente, Ayla estremeceu, seu peito apertado por uma dor antiga, mas que agora se misturava com a sensação de impotência.
Aquela era a sua vida anterior — cheia de perdas, de erros, de falhas. Uma vida onde ela fora deixada para trás, ignorada, sem ninguém para chamá-la de importante. Uma vida que terminou com a solidão. Sozinha, em um mundo que nunca teve piedade dela.
Mas agora… algo era diferente. Ela sentia em seu interior uma força que nunca imaginara possuir. E, à medida que as memórias de sua vida passada invadiam sua mente, Ayla sentia uma resolução crescer em seu coração.
Ela não iria ser mais uma. Não iria ser esquecida novamente. Ela se recusava a ser apenas uma sombra no fundo da história deste novo mundo. Algo dentro dela, algo profundo e visceral, dizia que ela não deveria se perder nas memórias de seu sofrimento. Ao contrário, essas memórias deveriam ser a base da sua força. Ela não seria uma pessoa a ser descartada, uma vítima das circunstâncias. Ela era mais do que isso.
“Eu não vou ser mais uma lembrança esquecida.” Ayla murmurou para si mesma, com os olhos fechados, os punhos apertados.
Ela não sabia exatamente como esse mundo funcionava, ou como poderia alcançar o poder que desejava, mas algo lhe dizia que suas habilidades, suas memórias e seu sofrimento seriam suas maiores armas. Era hora de mudar. Era hora de deixar para trás a órfã desprezada que um dia fora e se tornar alguém que seria lembrada. Alguém que, após sua morte, ainda deixaria um legado.
A magia… Ayla sabia, com a certeza de quem já experimentou a dor da perda, que a magia era o caminho para seu renascimento completo. Ela não tinha escolha a não ser dominar essa arte, fazer da magia a chave para sua transformação. No mundo onde estava agora, onde o poder de uma pessoa era medido pela força de sua magia, ela precisaria ser forte — não apenas para sobreviver, mas para deixar sua marca.
Aos poucos, Ayla começou a perceber que o poder mágico desse novo mundo não era tão simples quanto parecia. Embora tivesse uma base de poder menor por nascer em uma família de classe baixa, a magia era fluida, complexa, algo que poderia ser moldado e cultivado com o tempo e dedicação. Cada pessoa, dependendo de seu talento e treino, poderia alcançar níveis surpreendentes de poder.
Mas o mais intrigante para ela era algo que se enraizou em sua mente enquanto tentava entender o funcionamento do mundo. A magia não era apenas uma habilidade a ser adquirida; ela estava conectada ao próprio ser da pessoa, ao seu espírito, ao seu interior. Era uma manifestação do que alguém representava, das escolhas que fazia e dos laços que formava.
Ayla percebeu que não poderia simplesmente aprender feitiçarias ou encantamentos como se fosse uma mera ferramenta. Para dominar a magia, ela teria que entender a si mesma — e o que a magia representava em sua vida.
Ela olhou para o céu, onde o sol começava a se pôr, tingindo tudo com um tom dourado. Aquele era o primeiro dia de sua nova vida, e ela não ia deixá-lo escapar.
"Eu vou fazer meu nome ser lembrado, não importa o que eu tenha que passar para isso. Vou aprender, vou crescer. E nada vai me impedir de ser forte."
Com uma determinação renovada, Ayla se levantou da cama, pronta para enfrentar os desafios que a aguardavam. Ela estava preparada para começar sua jornada de poder, a jornada que, ao final, a tornaria uma lenda.
Cena: O primeiro uso de magia de Ayla
Era um dia comum na pequena casa da família de Ayla. Luna estava na cozinha, cortando legumes para o jantar, enquanto Kael afiava sua espada no quintal. Ayla, com apenas oito anos, brincava com uma velha pedra mágica que seu pai usava para treinos. A pedra brilhava fracamente quando tocada, mas era apenas um objeto inofensivo para canalizar energia em feitiços simples – algo que Ayla, teoricamente, não deveria ser capaz de fazer.
— Mamãe, o que essa pedra faz exatamente? — perguntou Ayla, curiosa, segurando o objeto entre os dedos.
Luna olhou para ela rapidamente da cozinha, enxugando as mãos no avental.
— É só uma pedra mágica, querida. Seu pai a usava para treinar quando começou a estudar magia. Não faz nada se você não souber como usá-la.
Ayla franziu o cenho e olhou para a pedra novamente. Havia algo nela que parecia... familiar, como se chamasse por ela. Ela apertou a pedra entre as mãos e fechou os olhos, sentindo uma estranha energia pulsar.
Do lado de fora, Kael entrou na casa, carregando um balde de água, e parou imediatamente ao ver Ayla sentada no chão, com as mãos brilhando em um tom dourado.
— Luna! — ele exclamou, derrubando o balde no chão.
Luna correu para a sala, seu coração disparando ao ver Ayla completamente imóvel, mas cercada por uma aura dourada. O brilho da pedra parecia fluir diretamente para as mãos da menina.
— Ayla! — Luna chamou, correndo até ela. — Largue isso agora, querida!
Mas antes que Ayla pudesse responder, a energia se intensificou, e um pequeno feixe de luz dourada disparou da pedra, atravessando o teto e iluminando a sala inteira. Quando tudo voltou ao normal, Ayla abriu os olhos, confusa, mas serena.
— O que foi isso? — perguntou ela calmamente, olhando para os pais.
Kael estava atônito, mas logo um sorriso surgiu em seu rosto.
— Você acabou de usar magia, Ayla. Isso... isso foi incrível!
Luna, no entanto, não compartilhava da empolgação. Ela segurou os ombros da filha, analisando-a como se procurasse algum sinal de que estava ferida.
— Isso não deveria ser possível! — ela murmurou, olhando para Kael. — Crianças não despertam magia antes dos treze anos. Algo está errado.
Kael ajoelhou-se ao lado de Ayla, ignorando a preocupação de Luna. Ele segurou a pedra mágica e a entregou de volta à filha, o sorriso em seu rosto crescendo.
— Isso não está errado, Luna. É extraordinário! Ayla, você é incrível. Você sabia o que estava fazendo?
Ayla balançou a cabeça.
— Não... Eu só senti algo... dentro de mim. Como se eu precisasse deixar sair.
Luna suspirou, levantando-se e cruzando os braços.
— Isso não é algo que devemos encorajar, Kael. Ela é só uma criança. Não sabemos o que pode acontecer se ela continuar mexendo com magia sem entender os riscos.
Kael levantou-se também, colocando uma mão no ombro da esposa.
— Luna, eu entendo seu medo, mas olha para ela. Ayla tem um dom raro. Não podemos simplesmente ignorar isso.
Luna passou as mãos pelos cabelos, visivelmente preocupada.
— E se ela perder o controle? E se isso colocar todos nós em perigo?
Kael voltou a olhar para Ayla, que observava a pedra mágica em suas mãos com curiosidade, mas sem medo. Ele sorriu novamente e virou-se para Luna.
— É exatamente por isso que precisamos guiá-la. Ela não está sozinha nisso. Ayla é nossa filha, e vamos ajudá-la a entender o que ela é capaz de fazer.
Ayla olhou para os pais, hesitante.
— Eu... eu machuquei vocês?
Luna ajoelhou-se novamente e puxou a filha para um abraço apertado.
— Não, querida. Você só nos assustou. Mas não se preocupe. Nós estamos aqui para você.
Kael se aproximou, passando a mão pelos cabelos de Ayla.
— E talvez amanhã possamos treinar juntos, hein? Que tal?
Ayla olhou para ele com os olhos brilhando de empolgação.
— Sério, papai?
— Claro! Você tem potencial, pequena maga. E eu quero ver até onde isso vai.
Luna suspirou novamente, mas um pequeno sorriso se formou em seus lábios ao ver a animação de Ayla.
— Só... prometa que vai ser cuidadoso, Kael.
Kael piscou para ela.
— Eu sempre sou cuidadoso.
Luna revirou os olhos, mas riu levemente. No fundo, ela sabia que aquela era apenas a primeira de muitas surpresas que Ayla traria para suas vidas.
Naquela noite, Ayla sentou-se perto da janela do quarto, observando a lua cheia iluminar o céu estrelado. O ambiente silencioso e acolhedor era algo que ela ainda não conseguia aceitar como normal. Viver naquele mundo, com pais que a amavam e cuidavam dela, era tão diferente de tudo o que havia conhecido antes. No mundo anterior, não havia conforto, muito menos amor. Apenas sobrevivência.
"Agora é diferente," pensou ela, apertando o cobertor contra o peito. "Eu tenho uma nova chance. Não vou desperdiçar. Não cometerei os mesmos erros. Esse mundo é cruel, mas eu serei mais forte. Protegerei quem eu amo com tudo o que tenho... e para aqueles que se colocarem no meu caminho, não haverá misericórdia."
Ayla se encontrava sentada na beirada da cama, segurando o medalhão que seu pai lhe dera meses antes, com um brilho tênue iluminando seu rosto. A magia que agora corria em suas veias era quente, pulsante, viva. Um poder que ela nunca imaginou sentir tão cedo, mas que agora parecia uma extensão natural de quem era.
"Este mundo é tão diferente..." pensava, apertando o medalhão contra o peito. No mundo de onde viera, não existiam pais para abraçá-la ou confortá-la. Não havia amor, nem uma cama macia, muito menos sorrisos sinceros. Ayla tinha sobrevivido, mas nunca realmente vivido.
— Eu não vou desperdiçar essa chance — murmurou para si mesma. Seus olhos brilharam com determinação. — Não serei fraca. Não terei misericórdia com aqueles que tentarem me destruir. Mas por aqueles que amo... farei o que for necessário.
Kael e Luna ainda estavam tentando entender o que havia acontecido naquele dia. Sentados na sala, os dois se encaravam enquanto Ayla, no outro cômodo, dormia após um dia intenso.
— Você viu o que ela fez, Luna? — Kael exclamou, quebrando o silêncio, com um sorriso que não conseguia esconder. — Nossa filha despertou magia antes dos treze anos! Isso é inacreditável!
Luna, por outro lado, mantinha o semblante preocupado.
— Eu vi, Kael. E é exatamente isso que me preocupa. Ayla é só uma criança... isso é poder demais para alguém tão jovem.
Kael inclinou-se para frente, segurando as mãos da esposa.
— Eu entendo sua preocupação, mas ela é especial. Você viu como ela manteve o controle, como canalizou o poder sem hesitação. Isso não é algo comum. Precisamos apoiá-la, Luna.
— E se ela se machucar? — Luna rebateu, os olhos marejados. — E se isso a afastar de uma infância normal? Ela está crescendo rápido demais.
Kael apertou as mãos da esposa com firmeza.
— É verdade que ela é diferente, mas talvez estejamos olhando para isso do jeito errado. Talvez esse seja o destino dela. Nós não podemos protegê-la de tudo, mas podemos prepará-la.
Luna suspirou, claramente dividida entre o amor protetor e a razão.
— E se estivermos forçando algo nela?
— Não estamos forçando nada — disse Kael, suavemente. — Ayla escolheu isso. Você viu como ela estava feliz ao conjurar magia. É o que ela quer.
Nesse momento, Ayla entrou na sala, esfregando os olhos de sono.
— Vocês estão brigando por minha causa?
Kael sorriu, acenando com a cabeça.
— Não é uma briga, pequena feiticeira. Só estamos discutindo o quanto você é incrível.
Ayla corou levemente, mas não conseguiu esconder o sorriso.
— Eu prometo que vou me esforçar. Não vou decepcioná-los.
Luna olhou para a filha e suspirou novamente, aproximando-se dela.
— Tudo bem, Ayla. Mas você tem que prometer que não será imprudente. Se você vai treinar magia, quero que saiba que isso vem com responsabilidades.
— Eu prometo, mamãe! — Ayla respondeu rapidamente, abraçando-a.
Kael ergueu-se, animado.
— Então está decidido! Vamos começar seu treinamento amanhã de manhã.
Após semanas de treinamento mágico intenso com Kael, Ayla começou a notar algo. Sempre que praticava no quintal, Luna ficava por perto, observando silenciosamente com os braços cruzados. Havia algo nos olhos da mãe que Ayla não conseguia decifrar.
— Mamãe, por que você sempre nos observa? — perguntou um dia, enquanto limpava o suor da testa. — Você parece saber mais do que está deixando transparecer.
Luna arqueou uma sobrancelha, mas não respondeu imediatamente. Kael, por outro lado, riu baixo.
— Ah, pequena Ayla, sua mãe não é apenas uma dona de casa talentosa. Antes de você nascer, ela era uma espadachim habilidosa.
Os olhos de Ayla se arregalaram.
— Espadachim? Mesmo?
Luna deu um leve sorriso, mas seu olhar ainda era sério.
— Sim, é verdade. Mas deixei essa vida para trás quando me tornei mãe.
— Então por que não me ensina também? — Ayla perguntou, empolgada. — Quero aprender tudo!
Luna hesitou, mas Kael falou antes que ela pudesse responder.
— Acho que seria uma boa ideia. Você mesma disse que magia não é tudo, Luna. Ayla pode aprender ambas as artes.
Luna olhou para Ayla, vendo o entusiasmo nos olhos da filha. Por fim, suspirou.
— Tudo bem. Mas você tem que levar isso a sério, Ayla. Esgrima não é brincadeira.
Ayla assentiu vigorosamente.
— Prometo, mamãe!
Na manhã seguinte, Luna trouxe duas espadas de madeira para o quintal. Ayla, segurando uma delas, quase perdeu o equilíbrio pelo peso.
— Achei que seria mais leve... — ela murmurou.
Luna cruzou os braços.
— A espada exige força e equilíbrio, Ayla. Se você não pode controlá-la, ela será inútil para você. Vamos começar do básico.
Ayla começou a imitar os movimentos que Luna demonstrava, mas tropeçava frequentemente. Ainda assim, não desistia. Quando caiu pela terceira vez, Luna se aproximou e ofereceu a mão para ajudá-la a se levantar.
— Levantar-se é a parte mais importante — disse Luna, sorrindo levemente.
Ayla segurou a mão da mãe e se levantou com determinação.
— Eu vou aprender. Vou dominar isso.
Kael, assistindo de longe, riu enquanto cruzava os braços.
— Acho que temos uma guerreira e uma feiticeira na mesma pessoa.
Ayla sorriu para o pai antes de retornar ao treinamento.
"Eu vou proteger quem eu amo... e nada vai me impedir."
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