O sol se punha lentamente no horizonte, pintando o céu com tons dourados e rosados enquanto Sn arrumava suas coisas na sala. A casa estava mais silenciosa do que o normal, com a ausência do seu pai, que partira para os Estados Unidos semanas antes. Ela se acostumara à ideia, mas não podia negar que sentia falta da presença dele, dos jantares em família e das conversas sobre tudo e nada.

Foi então que a porta da frente se abriu, e uma figura familiar entrou. JK. O melhor amigo de seu pai. O homem que sempre foi uma espécie de tio para ela, mas que, de algum modo, sempre parecia distante, como se sua presença fosse uma sombra no fundo de sua vida. Mas hoje, ele estava ali, e algo parecia diferente. Ele tinha os olhos cansados, como se estivesse carregando o peso de uma responsabilidade que não tinha escolhido, mas que agora era sua.

"Oi, Sn", ele disse, com a voz suave, mas firme. "Como você está?"

Ela olhou para ele, tentando esconder a surpresa. Não que fosse incomum ele aparecer, mas algo no tom de sua voz parecia mais... pessoal. Como se ele estivesse ali para mais do que apenas cumprir uma obrigação.

"Estou bem", ela respondeu, sorrindo de canto. "Só arrumando algumas coisas. O que aconteceu? Seu voo foi atrasado?"

JK deu um leve sorriso, mas havia algo de pensativo em seus olhos. "Não, nada disso. Eu só... senti que deveria vir antes. Seu pai me pediu para ficar com você até ele voltar. Eu sei que não vai ser fácil, mas vou estar aqui para o que precisar."

Sn assentiu, tentando entender a estranheza da situação. Ela sempre soubera que JK era alguém importante para sua família, mas nunca tivera uma convivência mais próxima com ele. Agora, sem seu pai por perto, ela começava a perceber o quão vazio estava aquele espaço na sua vida.

"Você não precisa se preocupar tanto, JK", ela disse, tentando aliviar a tensão no ar. "Eu me viro bem sozinha."

Ele olhou para ela por um momento, e Sn sentiu um peso nos olhos dele, como se estivesse avaliando suas palavras com mais cuidado do que o normal. "Eu sei", respondeu ele, de forma calma, "mas o fato é que você não vai estar sozinha. Eu vou estar por aqui."

Sn hesitou por um instante, sem saber o que dizer. JK sempre fora uma presença distante, alguém que ela respeitava, mas que nunca teve muita intimidade. Contudo, agora, à medida que ele entrava mais em sua vida, ela começava a ver algo que nunca tivera a chance de perceber antes.

Ele realmente estava ali por ela. Não apenas como amigo de seu pai, mas como alguém que se importava. E isso, de alguma forma, a deixou desconfortável. Não porque fosse algo errado, mas porque seus sentimentos por ele, que sempre foram de respeito, começaram a mudar. De maneira inexplicável, ela sentia uma conexão com ele que não conseguia ignorar.

"Acho que você tem razão", ela disse finalmente, quebrando o silêncio que se instalou entre eles. "Será bom ter sua companhia por aqui."

E assim, os dias seguintes passaram. JK estava mais presente do que nunca, ajudando com a rotina diária, supervisionando os deveres de Sn e, aos poucos, sendo um apoio silencioso em sua vida. Mas a convivência, que inicialmente parecia algo simples, foi se tornando algo mais complexo.

Sn percebeu que estava começando a prestar atenção em JK de uma maneira diferente. Quando ele sorria, ela notava cada detalhe. Quando ele a olhava com aqueles olhos calmos, ela sentia algo dentro de si mexer. Sentimentos que ela nunca imaginara começaram a surgir, confusos e inusitados.

E, sem que ninguém percebesse, algo que parecia ser uma simples promessa de amizade estava se transformando em algo que poderia mudar tudo.

O que aconteceria quando seu pai voltasse? Será que JK e Sn conseguiriam lidar com o que estava acontecendo entre eles? O destino, de alguma forma, parecia estar agindo de maneira curiosa, ligando suas vidas de uma forma que nem eles poderiam compreender.

Mas por enquanto, só havia uma coisa que era certa: a presença de JK estava mudando a vida de Sn de uma maneira que ela não poderia mais ignorar.

E aquele só era o começo.

Os dias passavam mais rápido do que Sn imaginava. A presença de JK, inicialmente um lembrete constante da ausência de seu pai, começou a se tornar algo que ela secretamente apreciava. Ele não era apenas o amigo leal e confiável de sempre; havia algo diferente no modo como ele interagia com ela agora.

Naquela manhã, Sn estava na cozinha preparando café quando JK apareceu na porta, com o cabelo bagunçado e a camisa ligeiramente amassada, como se não tivesse dormido muito bem. Ele sorriu de forma preguiçosa ao vê-la.

“Você sabe que pode deixar isso pra mim, né?” Ele apontou para a cafeteira.

Sn arqueou a sobrancelha, segurando a caneca. “E perder a chance de reclamar que você só faz café fraco? Sem chance.”

Ele riu, uma risada que soava mais leve do que Sn esperava. “Bom ponto. Mas ainda acho que você gosta de implicar comigo.”

Ela apenas deu de ombros, tentando ignorar como aquele sorriso parecia mexer com ela de uma forma inesperada. “Talvez eu goste mesmo.”

Conforme os dias se acumulavam, os momentos entre eles pareciam se tornar cada vez mais significativos. No começo, eram apenas conversas casuais enquanto dividiam o jantar ou assistiam a algum filme no sofá. Mas, com o tempo, Sn começou a perceber coisas que nunca havia notado antes.

Como a maneira que JK sempre parecia estar atento a ela, mesmo nos detalhes mais bobos. Como ele ria mais quando estava por perto. E, principalmente, como ele parecia querer protegê-la, não apenas por obrigação, mas por algo mais.

Certa tarde, enquanto cuidavam do jardim juntos – uma tarefa que JK insistira em fazer, mesmo sem saber muito do assunto – Sn se pegou observando-o. Ele estava com as mangas da camisa arregaçadas, sujando as mãos na terra enquanto tentava plantar algo que ela já sabia que não iria crescer.

“Você sabe que está fazendo isso errado, né?” Sn provocou, cruzando os braços.

JK olhou para ela, fingindo indignação. “Ah, claro, agora você é uma especialista em jardinagem?”

Ela riu, se aproximando para corrigir o trabalho desastroso que ele havia feito. Mas, ao se abaixar ao lado dele, suas mãos se tocaram por um breve momento, e algo no ar pareceu mudar.

JK ficou imóvel por um segundo, seus olhos encontrando os dela. Sn sentiu o coração acelerar, mas tentou disfarçar, voltando sua atenção para o solo à sua frente.

“Eu… acho que estou atrapalhando mais do que ajudando,” ele disse, quebrando o silêncio, mas sua voz soava mais baixa do que antes.

“Isso não é novidade,” Sn respondeu, tentando aliviar a tensão com um sorriso.

Mas JK não riu como ela esperava. Ele apenas continuou olhando para ela, como se estivesse tentando dizer algo que não conseguia colocar em palavras.

Naquela noite, enquanto Sn estava em seu quarto tentando ler um livro, os pensamentos sobre aquele momento continuavam a invadir sua mente. Era como se algo tivesse mudado entre eles, algo que ela não sabia se estava pronta para enfrentar.

Do outro lado da casa, JK estava sentado no sofá, olhando para a lareira apagada. Ele sempre soube que Sn era especial – não apenas por ser filha de seu melhor amigo, mas porque havia algo nela que o fazia querer protegê-la de tudo. Mas agora, ele estava começando a perceber que essa proteção vinha de um lugar mais profundo.

Um lugar que ele sabia que não deveria explorar.

Mas, como ignorar o que começava a crescer entre eles? Como fingir que não havia algo mais, algo que estava além da amizade e da responsabilidade?

Naquele momento, ambos estavam separados por paredes, mas unidos por um turbilhão de emoções que não poderiam mais negar por muito tempo.

E, no fundo, cada um sabia que o que estava por vir mudaria suas vidas para sempre.

O som da porta da sala se abriu suavemente, e Sn entrou sem perceber o que a aguardava. Ela estava distraída, pensando na conversa com suas amigas mais cedo, e mal notou a presença de JK sentado no sofá, até que, ao levantar os olhos, viu algo que fez seu coração disparar.

Jungkook estava ali, no meio da sala, de cueca, completamente despreocupado. Seus cabelos estavam bagunçados e seu corpo relaxado, como se não houvesse mais ninguém no mundo. Ele parecia totalmente à vontade, como se fosse a coisa mais normal do mundo estar assim, ali, sem camisa, apenas com a parte inferior da roupa.

Sn parou imediatamente, os olhos se arregalaram e seu rosto ficou de um vermelho intenso. Ela sentiu um calor subindo pela sua face e não soube o que fazer. Era como se o ar tivesse desaparecido ao redor dela. A visão de JK naquela posição, tão vulnerável e ao mesmo tempo despretensiosa, fez algo em seu peito se apertar de maneira inexplicável.

“P-Padrinho, o que você tá fazendo?” a voz de Sn saiu trêmula, quase um sussurro, e ela deu um passo atrás, sem saber se deveria sair ou simplesmente olhar para o chão. O calor em seu rosto parecia se espalhar por todo o corpo.

Jungkook olhou para cima, um pouco surpreso, mas logo um sorriso preguiçoso se formou em seus lábios ao perceber a expressão de Sn. Ele se levantou lentamente, como se estivesse sem pressa, sem pressentir o efeito que sua aparência estava tendo nela.

“Ah, eu estava só relaxando um pouco, não esperava que você voltasse tão cedo”, disse ele, casualmente, como se fosse uma explicação totalmente razoável para estar praticamente desabotoado no meio da sala.

Sn sentiu o rosto ainda mais quente, e suas mãos começaram a suar. "Mas... você... você não acha que deveria... ao menos, colocar alguma coisa?" A frase saiu gaguejando, sem conseguir expressar completamente o que estava sentindo. Ela queria dar as costas, fugir daquela situação constrangedora, mas suas pernas pareciam paralisadas.

Jungkook riu, a risada baixa e divertida. Ele sabia que estava deixando a situação mais desconfortável para ela, mas algo em seu olhar dizia que ele não estava se importando. “Desculpa, acho que me esqueci dos bons modos. Eu só... estava um pouco cansado depois do treino e não pensei que você voltaria agora.” Ele deu um passo em direção a ela, mas Sn imediatamente deu mais um passo para trás.

"Por favor, se você não se importar... eu vou, é... vou esperar no meu quarto", ela falou, com a voz mais baixa e hesitante, tentando virar de costas, mas seus pés estavam quase grudados no chão, como se o simples ato de sair da sala fosse um desafio maior do que imaginava.

Mas antes que ela pudesse se mover completamente, Jungkook a chamou, com um tom mais sério. "Ei, Sn, espera."

Ela congelou, sentindo seu nome sair dos lábios dele de maneira que parecia tão íntima, tão... diferente. Ele estava parado atrás dela, agora com a camisa vestida, mas o olhar que ela sentia nele ainda fazia seu estômago virar.

"Não precisa ficar assim, eu não queria te assustar", ele disse, suavemente, tentando de algum modo aliviar a tensão. "Eu só... esqueci que você estava em casa. Desculpa se te deixei desconfortável."

Sn olhou para o chão, mordiando o lábio. Ela ainda sentia o calor no rosto, mas uma parte de si sabia que ele não tinha a intenção de ser rude. Era só que... era difícil para ela ver o Jungkook daquela maneira, tão à vontade. Ele sempre fora o homem responsável, o padrinho que estava ali para cuidar dela, e agora... tudo parecia em conflito.

"Eu... não sei o que fazer, Padrinho", ela murmurou, sem coragem de olhar nos olhos dele. A confusão dentro dela era maior do que qualquer coisa.

Jungkook suspirou e se aproximou um pouco mais, não de forma ameaçadora, mas com um ar de sinceridade. "Está tudo bem, Sn. Só... se quiser conversar sobre isso, estou aqui, ok?"

Ela não respondeu de imediato. Ficar perto dele agora parecia algo difícil, pois o que antes parecia ser uma relação de confiança e respeito agora se via desafiada por sentimentos que ela não entendia.

"Eu vou deixar você sozinha por um tempo, se quiser", ele disse, percebendo a luta silenciosa dela. "Mas só lembre-se de que você pode contar comigo para qualquer coisa. Sempre."

Com essas palavras, ele se afastou, indo até o corredor, deixando Sn sozinha na sala, com a mente a mil. Ela estava profundamente confusa, sentindo um turbilhão de emoções contraditórias. O que havia mudado entre eles? Como tudo que parecia tão simples se tornara tão complicado de repente?

Ela sentou-se no sofá, tentando colocar seus pensamentos em ordem, mas as imagens de Jungkook, de cueca, e de como ele parecia tão calmo e seguro em sua própria pele, estavam gravadas em sua mente. Ela sabia que precisava resolver essa situação dentro de si, mas por enquanto, tudo o que ela podia fazer era respirar fundo e tentar entender o que aquele momento significava.

E sabia, no fundo, que não seria fácil.