Capítulo 1: Uma Vida que Mudou em Segundos
Eu nunca fui de aventuras. Aos 23 anos, minha vida era uma sequência bem planejada de dias na escola onde ensinava literatura para o ensino fundamental e noites dedicadas à minha pós-graduação. Minha rotina era tranquila, sem grandes surpresas. Até aquele dia.
O consultório da Dra. Sílvia Costa não parecia diferente de todas as outras vezes que eu estive lá. Era apenas um check-up de rotina. Sentada na sala de espera, com o formulário preenchido no colo, balancei o pé nervosamente. Nada de mais, dizia a mim mesma, só mais um exame.
“Helena Almeida?”
Levantei-me e segui a recepcionista até o consultório. Lá estava a Dra. Sílvia, uma mulher de sorriso acolhedor e olhos atentos. Ela me cumprimentou com simpatia e começou a revisar meu prontuário enquanto conversávamos sobre meus históricos médicos.
“Tudo tranquilo, Helena? Algum desconforto ou algo que queira relatar?”
“Não, tudo normal. Só a consulta de rotina mesmo.”
Ela assentiu e me direcionou para a sala de exames. Eu sempre confiei nela. Era profissional, atenciosa, nunca me deu motivo para suspeitar de nada. Então, quando me pediu para relaxar e fechar os olhos, obedeci sem questionar.
Mas algo parecia diferente. Não consegui identificar o quê, mas saí daquele consultório com um peso estranho no peito.
Uma semana depois, comecei a notar os sinais. O cansaço extremo foi o primeiro. Depois vieram as náuseas e uma estranha vontade de comer doces, algo que eu nunca tive. No início, achei que era estresse, mas quando minha menstruação atrasou, fiquei alarmada.
Um teste de farmácia foi o suficiente para mudar tudo. Duas linhas apareceram no visor, e meu coração quase saiu pela boca. Grávida? Como isso era possível?
Eu sou virgem.
A princípio, achei que o teste estava errado. Comprei outro. Depois mais dois. Todos deram positivo. Meu corpo tremia enquanto sentia o peso da situação. Precisava de respostas, e só havia uma pessoa que poderia me dar: a Dra. Sílvia.
No consultório, entrei na sala de exames com uma mistura de ansiedade e raiva. Ela me atendeu com a mesma simpatia de sempre, mas quando mencionei o teste de gravidez, sua expressão mudou.
“Helena, isso não é possível… você disse que é virgem, certo?”
“Sim!” Minha voz saiu mais alta do que esperava. “Eu não entendo o que está acontecendo. Como eu poderia estar grávida?”
Ela pediu para fazer um ultrassom imediatamente. Eu estava hesitante, mas não tinha outra escolha. Durante o exame, ela confirmou o que o teste já havia mostrado: havia um embrião crescendo dentro de mim.
A sala ficou em silêncio por alguns segundos até ela soltar um suspiro pesado.
“Helena, preciso te contar algo… algo terrível.”
Meu estômago se revirou. “O que foi?”
Ela hesitou antes de continuar. “Houve um erro no procedimento… Eu estava sob efeito de álcool naquela consulta.”
“Que tipo de erro?” perguntei, com a voz tremendo.
“Eu… usei uma amostra de esperma congelada durante o exame. Foi uma troca de procedimentos no laboratório.”
Por um momento, achei que não tinha ouvido direito. Meu mundo girava.
“Você está dizendo que me inseminou sem o meu consentimento?”
Ela assentiu, lágrimas nos olhos. “Sim. Foi um erro terrível, e eu sinto muito. Já tomei medidas para me responsabilizar, mas precisava contar isso a você.”
Minhas mãos tremiam, e senti as lágrimas brotando. “De quem é… essa amostra?”
Ela olhou para mim, pálida. “Vicente Neves. Ele é um oficial do exército. Major das Forças Especiais.”
Voltei para casa em choque. Não sabia nada sobre aquele homem além do que a Dra. Sílvia disse.
Vicente Neves. Um nome que parecia tão distante da minha realidade.
Fiquei imaginando quem ele era. Como ele reagiria quando soubesse? Mas eu não queria conhecê-lo. Não queria nada disso.
Minha vida já estava de cabeça para baixo. Como eu lidaria com o fato de estar grávida de um estranho? Não havia respostas, só mais perguntas.
A Dra. Sílvia me garantiu que ele seria informado, que tudo seria resolvido de forma legal. Mas, naquele momento, tudo o que eu queria era ficar sozinha e tentar entender o que estava acontecendo comigo.
Eu era virgem, professora, estudante de pós-graduação. Agora, estava prestes a me tornar mãe de uma criança que veio ao mundo pelo erro de outra pessoa.
Deitada na minha cama naquela noite, olhei para o teto e me perguntei se algum dia minha vida voltaria a ser normal.
As horas seguintes foram um borrão. Eu andava de um lado para o outro no pequeno apartamento, tentando processar o caos em que minha vida havia se transformado. Minha mente estava inundada por pensamentos que se atropelavam: como eu explicaria isso à minha família? Aos meus colegas de trabalho? Eu sequer queria continuar com essa gravidez?
Mas então, uma nova onda de ansiedade me atingiu. Vicente Neves. Quem era ele de verdade? A Dra. Sílvia havia dito que ele era major das Forças Especiais, mas isso não significava nada para mim. Será que ele ficaria furioso? Será que me acusaria de ter planejado tudo isso?
Eu não queria conhecê-lo. A ideia de olhar nos olhos do homem que, sem saber, era o pai biológico do bebê que eu carregava, me deixava apavorada. Ele era um estranho completo, alguém que jamais faria parte da minha vida se não fosse pelo erro grotesco da Dra. Sílvia.
Sentei no sofá e abracei minhas pernas, sentindo o vazio da sala ao meu redor. Por mais assustador que fosse, uma pequena parte de mim já começava a se conectar àquele bebê. Eu não sabia como, mas sabia que precisava protegê-lo, mesmo que a situação fosse absurda.
O som do meu celular me tirou dos pensamentos. Era um e-mail da Dra. Sílvia. Ela informava que entraria em contato com Vicente em breve, garantindo que ele fosse informado antes que a história viesse a público.
Fechei os olhos e respirei fundo. Mesmo sem querer, sabia que minha vida agora estava ligada à de Vicente. Mas, pelo menos por enquanto, eu queria manter essa distância. Não estava pronta para encarar um homem que, de repente, tinha tanto poder sobre o meu futuro — e o da criança que crescia dentro de mim.
Capítulo 2: A Verdade à Mostra
Eu deveria saber que segredos nunca ficam enterrados por muito tempo. Minha intenção era manter tudo discreto, pelo menos até eu entender o que realmente queria fazer com a minha vida e com aquela gravidez inesperada. Mas, aparentemente, o universo tinha outros planos.
Dois dias depois da confissão da Dra. Sílvia, tudo desmoronou. Acordei com meu celular vibrando incessantemente na cabeceira. Mensagens de amigos, ligações de números desconhecidos e notificações de redes sociais explodiam na tela. Com o coração acelerado, abri a primeira mensagem:
“Helena, é verdade? Você tá grávida daquele major famoso?”
Minha cabeça girou. Antes que eu pudesse processar, abri o navegador e vi as manchetes.
"Erro médico leva a professora de 23 anos a engravidar de Major das Forças Especiais."
"Major Vicente Neves envolvido em escândalo de inseminação acidental."
"Gravidez não consentida: o drama da professora e o erro da médica."
Minha garganta secou. Como aquilo havia saído? Só eu, a Dra. Sílvia e, teoricamente, Vicente sabíamos do ocorrido. Senti uma onda de raiva misturada com desespero. Agora, o mundo inteiro sabia.
Vestindo a primeira roupa que encontrei, corri para o consultório da Dra. Sílvia. O prédio estava cercado por jornalistas. Luzes de câmeras piscavam em minha direção quando saí do táxi, e perguntas eram gritadas de todos os lados.
“Helena, como você se sente com isso?”
“Você já falou com o Major Neves?”
“Pretende processar a médica ou o pai da criança?”
Ignorei todos e entrei no prédio, tremendo da cabeça aos pés. Na recepção, a secretária me olhou com uma expressão de pânico.
“Helena, a Dra. Sílvia está esperando você na sala dela.”
Fui direto para o consultório. Encontrei Sílvia sentada atrás de sua mesa, com o rosto abatido. Ela parecia ter envelhecido dez anos em dois dias.
“Como isso veio a público?” perguntei, tentando controlar a raiva em minha voz.
“Helena, eu não sei. Fizemos de tudo para manter sigilo, mas alguém no laboratório vazou as informações. A mídia pegou o caso como se fosse um escândalo nacional.”
Afundei na cadeira em frente a ela, sentindo o peso do mundo sobre mim. “E Vicente? Ele já sabe?”
Ela assentiu, hesitante. “Eu o informei ontem, mas… bom, ele não está lidando bem com isso.”
Antes que eu pudesse perguntar o que ela queria dizer, meu celular vibrou novamente. Uma mensagem de um número desconhecido apareceu na tela:
“Precisamos conversar. Agora. Vicente.”
Meus olhos fixaram no nome como se ele fosse uma bomba prestes a explodir.
Quando cheguei em casa, ainda nervosa com o encontro com a Dra. Sílvia, o som de passos firmes ecoando pelo corredor do meu prédio me chamou a atenção. Olhei para trás e vi um homem alto, de postura rígida, caminhando em minha direção. Ele vestia calça jeans e uma camiseta preta que deixava claro que passava boa parte do tempo treinando. Seus olhos verdes, intensos, estavam fixos em mim.
Era ele.
“Helena?” Sua voz era grave, autoritária, como se estivesse acostumado a dar ordens e ser obedecido.
“Vicente.” Respondi, quase em um sussurro.
Ele parou a poucos passos de mim. Era ainda mais intimidador pessoalmente. Tentei manter a calma, mas senti meu coração disparar. Não por atração, mas pelo nervosismo.
“Podemos conversar?” ele perguntou.
Eu hesitei por um momento, mas assenti, destrancando a porta do meu apartamento e o convidando para entrar.
Ele analisou o espaço rapidamente, como se estivesse em uma missão. Eu podia sentir a tensão no ar.
“Eu sei que você não pediu por isso,” ele começou, os olhos fixos nos meus, “mas, agora que aconteceu, precisamos decidir como lidar com isso.”
Fiquei em silêncio por um momento. Havia tantas coisas que eu queria dizer, mas nenhuma parecia certa.
“Eu ainda não sei como lidar com isso,” admiti. “Minha vida virou de cabeça para baixo. Eu nem queria que você soubesse, pelo menos não ainda.”
Ele franziu o cenho. “Você realmente achou que poderia me excluir dessa situação?”
“Eu não estou tentando te excluir, Vicente,” respondi, minha voz ficando firme. “Mas isso também é sobre mim. Sobre o que eu quero. E até agora, eu nem tive tempo de pensar.”
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos escuros. “Eu entendo. Não pedi por isso também. Mas já que aconteceu, quero deixar claro que estou disposto a assumir minha parte.”
Aquilo me pegou de surpresa. Não esperava que ele fosse tão direto.
“E como exatamente você pretende fazer isso?” perguntei.
“Primeiro, vamos tirar essa médica de circulação,” ele disse, o tom ficando mais frio. “Já entrei em contato com meus advogados. O que ela fez foi criminoso.”
Concordei com a cabeça, mas aquilo não resolvia tudo.
“E quanto a nós?” perguntei, hesitante. “Como você acha que vamos lidar com essa situação?”
Ele ficou em silêncio por um momento, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.
“Eu não sei ainda,” ele admitiu. “Mas quero garantir que você e essa criança tenham tudo o que precisam. E isso inclui meu apoio.”
Eu respirei fundo. Era muita coisa para processar de uma vez.
“Eu preciso de tempo,” disse, tentando manter minha voz firme. “Minha vida está um caos agora, e eu não sei como vou lidar com tudo isso.”
Vicente assentiu, seus olhos suavizando um pouco. “Eu também preciso de tempo. Mas saiba que estou aqui, Helena. Não vou fugir dessa responsabilidade.”
Enquanto ele saía do meu apartamento, senti uma mistura de alívio e incerteza. Minha vida estava longe de voltar ao normal, mas pelo menos agora eu sabia que não enfrentaria tudo sozinha. Mesmo que isso significasse lidar com um homem como Vicente Neves.
Capítulo 3: O Peso da Decisão
Depois da conversa com Vicente, passei a noite inteira em claro. Ficar cara a cara com ele tinha tornado tudo ainda mais real. Ele não era apenas um nome em um relatório médico ou o rosto estampado nas manchetes. Ele era um homem de verdade, com uma presença avassaladora que parecia preencher qualquer espaço em que entrava.
Mas, mais do que isso, ele era o pai do bebê que eu carregava. Um bebê que eu ainda não sabia se estava pronta para ter.
Na manhã seguinte, decidi que precisava de ajuda para lidar com tudo isso. Liguei para minha melhor amiga, Júlia, e pedi que ela viesse ao meu apartamento. Júlia era do tipo que não fazia rodeios, e eu sabia que ela me daria a dose de realidade que eu precisava.
“Helena, você tá me dizendo que, de repente, você tá grávida de um major das Forças Especiais por causa de um erro médico? Isso parece coisa de novela mexicana!” Júlia exclamou assim que terminei de contar tudo.
“Eu sei! E agora a história tá em todos os jornais. Minha vida virou um espetáculo público.”
Ela balançou a cabeça, incrédula. “E o tal do Vicente? O que ele disse?”
Suspirei, passando as mãos pelo rosto. “Ele quer assumir a responsabilidade. Disse que vai me dar apoio, mas… eu nem sei se quero isso. Eu nem o conheço, Júlia.”
“Olha, amiga, eu sei que é um absurdo o que aconteceu, mas você precisa pensar no que é melhor pra você e pra essa criança. Ele parece ser um homem decente. Talvez valha a pena tentar conhecê-lo, nem que seja pra entender quem ele é.”
Eu sabia que ela tinha razão, mas isso não tornava as coisas mais fáceis.
Nos dias seguintes, tentei retomar minha rotina, mas era impossível ignorar o burburinho ao meu redor. Meus colegas de trabalho cochichavam nos corredores, e os alunos na escola onde eu dava aula me olhavam com curiosidade mal disfarçada. Era como se minha vida privada tivesse se tornado um espetáculo público.
Foi no meio desse caos que recebi outra mensagem de Vicente.
“Precisamos conversar. Vou te buscar às 19h. Por favor, aceite.”
Olhei para a mensagem por longos minutos, hesitando. A ideia de passar mais tempo com ele me deixava nervosa, mas talvez Júlia estivesse certa. Eu precisava conhecê-lo melhor, nem que fosse para estabelecer limites claros.
Quando o relógio marcou 19h, ouvi o som de uma buzina discreta vindo da rua. Fui até a janela e vi Vicente encostado em um carro preto, seus braços cruzados e a expressão séria. Ele vestia uma camisa azul que destacava seus olhos e calças escuras que reforçavam sua postura impecável.
Respirei fundo, peguei minha bolsa e desci.
“Você não precisava vir me buscar,” falei assim que me aproximei.
Ele abriu a porta do passageiro e indicou para que eu entrasse. “Eu achei que seria mais fácil assim.”
No carro, o silêncio era quase palpável. Eu tentava pensar em algo para dizer, mas ele quebrou o gelo primeiro.
“Eu marquei um jantar em um lugar tranquilo. Prometo que não vou tomar muito do seu tempo.”
Assenti, sem dizer nada.
O restaurante que ele escolheu era discreto, com luz baixa e poucas mesas ocupadas. Ficava claro que ele havia pensado em um lugar longe de olhares curiosos.
Assim que nos sentamos, Vicente foi direto ao ponto.
“Helena, eu sei que você está assustada. Eu também estou. Mas quero que saiba que não vou deixar você passar por isso sozinha.”
Eu cruzei os braços, tentando manter uma postura defensiva. “Eu entendo sua boa intenção, mas ainda não sei como tudo isso vai funcionar. A verdade é que eu não planejava ter um filho agora. Minha vida já está complicada o suficiente.”
Ele assentiu, parecendo refletir sobre minhas palavras. “Eu também não planejava. Mas, de certa forma, isso me dá uma segunda chance.”
Franzi o cenho, intrigada. “Como assim?”
Vicente respirou fundo, olhando para as próprias mãos por um momento antes de continuar. “Eu tive um problema de saúde há alguns anos. Tive que fazer uma cirurgia, e isso me deixou estéril. Antes disso, congelei algumas amostras de esperma, pensando em um futuro onde talvez quisesse ter filhos. Eu nunca imaginei que isso aconteceria assim, mas… bom, aqui estamos.”
Senti um nó na garganta. Era muito para absorver. Ele também carregava o peso dessa situação de um jeito que eu não havia imaginado.
“E o que você quer, Vicente? De verdade?” perguntei, finalmente.
Ele me encarou com intensidade, como se escolhesse cada palavra com cuidado. “Eu quero fazer parte da vida dessa criança. Quero estar presente, ser um bom pai. E, se você permitir, quero te ajudar a passar por isso.”
Suas palavras me tocaram mais do que eu esperava. Havia sinceridade em sua voz, algo que era difícil ignorar.
Mas ainda assim, eu precisava de mais tempo.
“Eu… eu preciso pensar,” disse, minha voz quase um sussurro.
Ele assentiu, como se já esperasse essa resposta. “Tudo bem. Eu só peço que você me mantenha informado.”
Naquela noite, deitada na minha cama, fiquei pensando na conversa. Vicente não era o que eu esperava. Ele era direto, mas também parecia genuíno. Não parecia ser alguém que estava tentando se livrar da responsabilidade, mas também não estava tentando forçar nada.
Pela primeira vez desde que tudo começou, senti que talvez houvesse uma luz no fim do túnel. Eu não sabia como, mas talvez fosse possível encontrar uma forma de lidar com tudo isso — com Vicente ao meu lado, mas sem perder minha independência.
No entanto, uma coisa era certa: minha vida nunca mais seria a mesma.
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