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Lágrimas da Loba Perdida

Capítulo 1: A Sombra na Lua

O vento gelado da noite sussurrava pelos galhos das árvores densas, carregando o som de risos amargos e palavras cortantes. A pequena clareira no centro do território da Alcateia das Sombras Eternas estava repleta de olhares duros, todos voltados para a mesma figura: Eira.

Ela estava ajoelhada na terra fria, os cabelos castanhos desgrenhados caindo sobre os olhos, enquanto seu pai, o alfa Ulrich, caminhava em círculos ao seu redor como um predador avaliando sua presa.

— Você não é digna de carregar o nome desta alcateia, Eira! — rugiu Ulrich, a voz ecoando como um trovão. — Desde aquele dia, você não passa de uma vergonha.

Os murmúrios de aprovação dos membros da alcateia picavam como espinhos. Eira sentiu o peito apertar, mas não levantou os olhos. Ela sabia que não adiantava. Eles nunca a escutariam.

— Eu... — começou, a voz falhando, mas foi cortada.

— Silêncio! — rugiu sua mãe, Katerina, de braços cruzados, os olhos brilhando de desprezo. — Você deveria agradecer por ainda estar viva.

O som de risos cresceu ao redor dela, enquanto seus irmãos mais velhos cochichavam entre si, trocando olhares de escárnio. O coração de Eira batia forte, e pela primeira vez, ela olhou ao redor. Ninguém viria em seu socorro. Ninguém nunca vinha.

Mas então, como se a lua tivesse decidido intervir, o ar ao redor da clareira mudou. Um uivo poderoso rompeu a noite, silenciando risos e cochichos. Todos se voltaram para a figura que emergia das sombras.

Rowan, o alfa da Alcateia do Eclipse Prateado, avançava com passos firmes. Seus olhos prateados eram como lâminas, cortando cada um que ousasse encará-lo. Ele não veio sozinho; dois de seus beta o seguiam de perto, mas era claro que ele comandava o espaço.

Ulrich deu um passo à frente, o rosto endurecido numa expressão de falsa cortesia.

— Rowan, você chegou mais cedo do que esperávamos. Vamos para o salão, onde podemos discutir os detalhes da aliança.

— Não, Ulrich — respondeu Rowan, a voz grave, mas controlada. Ele olhou para Eira, ainda ajoelhada, e então voltou-se para o alfa. — Parece que há algo acontecendo aqui que precisa de mais atenção.

— Um assunto interno da minha alcateia — respondeu Ulrich, com um tom seco.

Rowan deu um passo adiante, ignorando completamente o tom de Ulrich. Ele parou diante de Eira, estendeu a mão e falou, com uma voz baixa, mas firme:

— Levante-se.

Eira hesitou, os olhos arregalados. Ninguém nunca havia estendido uma mão para ela antes.

— Eu disse, levante-se.

Ela finalmente aceitou a mão dele, e quando se colocou de pé, sentiu o peso da terra e do desprezo da alcateia se afastar, mesmo que por um momento.

— Rowan, eu não lembro de ter convidado você para interferir nos meus assuntos familiares — disse Ulrich, tentando manter o controle.

— Não estou interferindo — Rowan respondeu, os olhos ainda fixos em Eira. — Estou observando. E o que vejo não é digno de um alfa que busca uma aliança.

Ulrich estreitou os olhos, mas antes que pudesse responder, Rowan continuou:

— Eu vim aqui por um acordo. E agora estou oferecendo outro. Levo esta jovem comigo para minha alcateia, sob minha proteção.

A clareira ficou em silêncio absoluto.

— Ela é um fardo para você, não é? — Rowan acrescentou, a voz carregada de ironia. — Então, considere isso um presente que eu estou disposto a aceitar.

Ulrich riu, um som seco e sem humor.

— Você quer levar essa inútil? Está falando sério?

— Tão sério quanto estou sobre essa aliança — respondeu Rowan, os olhos frios como gelo. — Sem ela, não há acordo.

Ulrich ficou em silêncio por um momento, olhando para a esposa, que assentiu discretamente. Ele então se virou para Rowan e falou:

— Que seja. Leve-a. Ela não significa nada para nós.

Rowan sorriu de canto, mas não disse nada. Em vez disso, ele virou-se para Eira, que olhava para ele com uma mistura de confusão e esperança.

— Você é mais forte do que eles imaginam — sussurrou ele, antes de se afastar. — Vamos.

Enquanto Eira seguia Rowan, com os olhos da alcateia ainda fixos nela, ela percebeu algo que nunca havia sentido antes: liberdade.

Capítulo 2: O Primeiro Dia na Alcateia do Eclipse Prateado

Capítulo 2: O Primeiro Dia na Alcateia do Eclipse Prateado

O vento cortante da noite dava lugar à luz suave da manhã quando Eira cruzou os portões da Alcateia do Eclipse Prateado. O território era vasto, coberto por uma floresta densa que cercava uma imponente mansão de pedra cinza. As paredes altas pareciam quase tocar o céu, transmitindo poder e segurança, mas também intimidando Eira.

Rowan caminhava ao lado dela, seus passos firmes contrastando com os dela, hesitantes. Atrás deles, os dois betas que sempre o acompanhavam, seus irmãos Kael e Lirian, observavam a recém-chegada com curiosidade.

Kael, o mais velho, tinha uma presença calma, com cabelos escuros como a noite e olhos tão profundos quanto os de Rowan. Já Lirian, o caçula, trazia um toque de leveza, com um sorriso discreto e cabelos castanhos claros que brilhavam sob o sol.

— Bem-vinda, Eira — disse Kael, sua voz suave e calorosa.

Lirian deu um sorriso amistoso, tentando aliviar o peso da situação.

— Não se preocupe. Rowan é rígido, mas não morde... na maioria das vezes.

Rowan lançou um olhar de advertência para o irmão mais novo, mas não pôde evitar um leve sorriso antes de olhar para Eira.

— Ignore-os. Vamos entrar.

Quando passaram pela entrada principal da mansão, Eira foi recebida por uma mistura de calor e grandiosidade. O salão principal era decorado com móveis robustos, uma lareira enorme e tapeçarias que contavam histórias antigas da alcateia. Apesar da beleza, Eira não conseguia deixar de sentir que não pertencia àquele lugar.

Ela parou por um momento, apertando o casaco contra o corpo enquanto seus olhos percorriam o ambiente.

— Está tudo bem? — perguntou Rowan, parando ao lado dela.

Eira hesitou antes de responder, sua voz baixa.

— É só... estranho. Tudo isso.

Rowan assentiu, entendendo o que ela não conseguia colocar em palavras.

— Não precisa se apressar. Este lugar será seu lar, mas você pode levar o tempo que precisar para se adaptar.

Kael se aproximou, cruzando os braços.

— Você vai perceber que aqui as coisas são diferentes. Não seguimos as mesmas... tradições que outras alcateias.

Lirian riu baixinho.

— Traduzindo: ninguém vai te julgar por coisas que você não fez.

Eira levantou o olhar, surpresa com a gentileza nas palavras deles. Não estava acostumada a isso.

— Obrigada — murmurou, sem saber exatamente como reagir.

Rowan gesticulou em direção a uma escada larga que levava aos andares superiores.

— Vou te mostrar onde você vai ficar.

---

O quarto que Rowan escolheu para Eira era amplo e acolhedor, com janelas que ofereciam uma vista deslumbrante da floresta. O ar estava impregnado com o aroma de madeira e algo mais... algo que a fazia se sentir segura, embora não quisesse admitir.

Eira olhou ao redor, os dedos passando pelos lençóis macios da cama. Ela se virou para Rowan, que estava parado perto da porta, observando-a.

— Por que você está fazendo isso? — perguntou ela, sua voz quase um sussurro.

Rowan cruzou os braços, mas seus olhos estavam suaves.

— Porque ninguém mais fez.

Eira abaixou o olhar, as palavras dele ecoando em sua mente. Era verdade, mas ainda assim era difícil acreditar que alguém pudesse querer ajudá-la sem esperar algo em troca.

— Eu... não sei o que dizer.

Rowan deu um passo à frente, mas manteve uma distância respeitosa.

— Não precisa dizer nada agora. Só descanse.

Antes que ela pudesse responder, Kael apareceu à porta, batendo levemente na madeira.

— Temos algumas coisas para resolver, Rowan. A reunião com os conselheiros é daqui a uma hora.

Rowan suspirou e assentiu antes de olhar para Eira uma última vez.

— Estarei no salão principal se precisar de algo.

Eira acenou com a cabeça, sentando-se na beira da cama. Quando Rowan saiu, Kael ficou parado na porta, olhando para ela.

— Ele pode ser um pouco intenso, mas é um bom alfa. Confie nele.

Antes que ela pudesse responder, Kael se foi, deixando-a sozinha no quarto.

---

Mais tarde, quando a noite caiu, Eira se encontrou em um momento ainda mais estranho. Rowan insistiu que ela jantasse com ele e seus irmãos na sala de jantar, algo que nunca havia experimentado antes.

— Então, Eira — começou Lirian, servindo-se de uma fatia generosa de carne —, já está pensando em como vai ocupar seu tempo por aqui?

Ela olhou para ele, surpresa com a pergunta.

— Eu... não sei.

Rowan interrompeu, sua voz firme, mas não rude.

— Você não precisa se preocupar com isso agora. Apenas se concentre em descansar e se recuperar.

Eira queria protestar, mas o olhar de Rowan a fez parar. Não era um comando, mas um lembrete de que ela não precisava carregar o peso do mundo sozinha.

Depois do jantar, Rowan a acompanhou de volta ao quarto. Ele hesitou antes de sair, como se quisesse dizer algo.

— Eu vou ficar no quarto ao lado. Se precisar de algo... qualquer coisa, me chame.

Eira assentiu lentamente.

— Obrigada.

Quando ele finalmente saiu, Eira se deitou, puxando o cobertor até o queixo. O calor da cama era estranho, quase desconcertante, mas, pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu uma fagulha de esperança.

Capítulo 3: O Contrato Sob a Lua

O amanhecer chegou frio e silencioso, envolto pela névoa que pairava sobre o território da Alcateia das Sombras Eternas. No entanto, o ar não carregava apenas a umidade da madrugada — havia tensão. A chegada de Rowan na noite anterior ainda era o principal assunto entre os membros da alcateia.

Na mansão central, Ulrich estava sentado à cabeceira de uma mesa robusta, com Katerina ao seu lado. Ambos pareciam inquietos, mas tentavam manter a aparência de força. Rowan estava para chegar novamente, e o alfa das Sombras Eternas sabia que esse encontro não seria apenas uma formalidade.

O som de passos firmes no chão congelado anunciou a chegada de Rowan. Quando a porta foi aberta, ele entrou com a mesma imponência de antes, acompanhado de seus dois betas. Nas mãos, carregava um documento cuidadosamente dobrado.

— Ulrich, Katerina — cumprimentou ele, sua voz grave ecoando na sala. — Espero que tenham descansado bem.

Ulrich levantou-se lentamente, tentando igualar a autoridade de Rowan, mas falhando em esconder o leve tremor nas mãos.

— Não estamos acostumados a visitas tão... insistentes — disse Ulrich, com um sorriso forçado.

Rowan ignorou o tom ácido e se acomodou na cadeira oposta. Ele colocou o documento sobre a mesa e o alisou com calma antes de falar.

— Sobre a aliança que discutimos ontem — começou ele, olhando diretamente para Ulrich —, acredito que podemos formalizá-la hoje.

— Formalizá-la? — Katerina arqueou uma sobrancelha, inclinando-se para frente. — Você já levou nossa filha. O que mais você quer?

— Sua assinatura — respondeu Rowan com simplicidade. Ele deslizou o contrato na direção deles. — Este documento estabelece os termos do acordo.

Ulrich pegou o contrato, mas antes de começar a ler, Rowan continuou:

— Eu sei que sua alcateia precisa de proteção. E estou disposto a oferecer isso. Mas quero deixar claro que minha aceitação de Eira ontem não foi um ato de caridade.

Katerina estreitou os olhos.

— Do que está falando?

— Falo do papel que Eira terá na minha alcateia. Ela não será uma serva, como vocês presumiram.

O ambiente ficou gelado, e Ulrich apertou os punhos.

— Então o que ela será?

Rowan inclinou-se para frente, a intensidade de seu olhar quase esmagadora.

— Minha noiva.

O silêncio que se seguiu foi cortante. Katerina foi a primeira a se recuperar.

— Isso é ridículo! Você quer se casar com... com ela?

— Quero — respondeu Rowan, sua voz inabalável. — E antes que pensem em contestar, saibam que este contrato inclui mais do que minha palavra. Ele também estabelece que qualquer tentativa de interferência por parte de vocês ou da sua alcateia resultará na anulação imediata da aliança e na absorção completa de seus territórios pela minha alcateia.

Ulrich ficou pálido, os olhos correndo pelas palavras do contrato.

— Isso é chantagem! — ele exclamou, a voz aumentando.

— Não — respondeu Rowan calmamente. — Isso é proteção. Algo que sua alcateia precisa desesperadamente. Estou oferecendo um futuro para vocês. E para Eira.

Katerina levantou-se, os olhos brilhando de raiva.

— Você não pode simplesmente...

— Posso e vou — interrompeu Rowan, levantando-se também. Ele olhou diretamente para Ulrich. — Está em suas mãos. Assine o contrato, e você não terá apenas a minha proteção, mas também a segurança de saber que Eira estará sob cuidado e respeito. Não assine, e bem... — Ele deu um leve sorriso. — Tenho certeza de que você sabe o que acontece com alcateias enfraquecidas.

Ulrich ficou em silêncio por longos segundos. Ele olhou para Katerina, que cruzou os braços, furiosa, mas nada disse. Por fim, ele pegou a caneta que Rowan estendeu e assinou o documento com mãos trêmulas.

— Excelente — disse Rowan, pegando o contrato de volta. Ele o dobrou cuidadosamente antes de se virar para os betas. — Vamos.

Quando ele alcançou a porta, Ulrich finalmente falou:

— Você cometeu um erro ao levá-la.

Rowan parou, mas não se virou.

— Talvez. Mas eu prefiro acreditar que fiz a escolha certa. Algo que você não soube fazer.

E com isso, ele saiu.

---

Eira o esperava do lado de fora, envolta em um casaco pesado que ele havia dado a ela. Quando Rowan a viu, seus olhos suavizaram, mas sua expressão permanecia firme.

— Está feito — disse ele simplesmente.

Eira olhou para ele, confusa.

— O que está feito?

Rowan parou na frente dela, seus olhos fixos nos dela.

— Você é minha noiva agora.

Eira arregalou os olhos, surpresa e um pouco assustada.

— Noiva? Mas...

— Não se preocupe — disse ele, a voz mais suave. — Eu não espero que você confie em mim agora. Mas prometo que nunca deixarei ninguém te machucar novamente.

Eira sentiu as lágrimas se acumularem, mas não as deixou cair. Pela primeira vez em anos, ela sentiu algo que havia esquecido: esperança.

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