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Herdeiros do Destino

Herdeiros do destino

Capítulo 01:

Acontecimento do passado

Adeus, meu amor

Lívia

O dia era frio e cinzento. O inverno rigoroso castigava Curitiba, e Lívia, perdida em sua dor, sentia as pálpebras inchadas de tanto chorar. Um turbilhão de pensamentos não deixava sua mente descansar, enquanto as lembranças do último ano lhe roubavam o sono.

Um ano antes

— Por favor, Lívia, me ouça... Você sabe que eu te amo. Aquilo não foi nada, foi só um vacilo. Ela não significa nada para mim! — Isaque implorava, com os olhos desesperados.

— Por favor, digo eu. Vá embora! Saia da minha frente! Eu nunca mais quero te ver — respondeu Lívia, a voz trêmula era de dor e raiva.

— Não faça isso, meu amor! Não me expulse da sua vida!

— Eu não estou te expulsando, Isaque. Foi você quem me tirou da sua. Desapareça!

— Lívia, não fale assim... Eu te amo...

— Você destruiu a minha vida e os meus sonhos. Não quero mais ouvir sua voz. Nunca mais!

— Nosso amor não pode acabar assim! O casamento é semana que vem!

— Que amor, Isaque? Acabou. Você me traiu! Onde há amor nisso? Fique com aquela mulher!

Essas foram as últimas palavras de Lívia para Isaque. Em prantos, ela desceu as escadas do prédio após pegá-lo na cama com sua prima e sócia, uma semana antes do casamento.

"Eu nunca imaginei que passaria por isso...", murmurou entre soluços, tentando enxugar as lágrimas incessantes.

O relacionamento de cinco anos parecia perfeito. Tudo estava pronto para o casamento, mas acabou em segundos. Descendo os degraus daquele prédio, sentiu as paredes a sufocarem. As lembranças insistiam em atormentá-la: o dia em que conheceu Isaque, com seus cabelos claros impecavelmente penteados, olhos verdes penetrantes e um sorriso cativante. Ela o amou intensamente, algo que não sentiu nem mesmo por Rafael, seu primeiro amor de infância.

Mas agora, tudo estava em ruínas.

— Meu nome é Lívia. Tenho 29 anos, 1,64 m, cabelos castanhos levemente ondulados que caem um pouco abaixo dos ombros. Não sou magra nem gorda, estou no meio-termo. E essa é a minha história.

O avião decolava rumo a São Paulo. Enquanto olhava pela janela, o céu cinzento parecia refletir sua alma. A viagem de uma hora era um escape de Curitiba, das memórias e da dor que a sufocava. Rafael, seu melhor amigo, seria sua única âncora.

Dias atuais

Na cafeteria de uma movimentada rua paulistana, Lívia tomava o último gole de café quando ouviu os gritos eufóricos de Rafael:

— Lívia, você não vai acreditar! Olha isso! — Ele corria em sua direção, agitando um jornal nas mãos.

— O que foi, Rafael? Que alvoroço é esse? — perguntou, confusa.

— Eu passei! Eu passei!

Incrédula, Lívia puxou o jornal das mãos dele. Rafael sentou-se à sua frente, acendeu um cigarro de cravo e deixou a fumaça se dissipar pelo ar.

Com as mãos trêmulas, ela leu a notícia. Lá estava o nome dele na lista de aprovados no concurso para agente federal. Um misto de felicidade e alívio tomou conta dela. Eles haviam estudado juntos, virado noites em claro.

— Estou tão feliz por você, Rafael! Você merece isso mais do que ninguém!

— Obrigado, Lívia. Eu não teria conseguido sem você.

— Teria, sim.

Antes que pudesse dizer mais, Rafael a abraçou e a girou no ar, eufórico. Lívia sorriu, lembrando-se da longa amizade que compartilhavam desde a infância, Rafael com seus olhos castanhos intensos, cabelos negros como carvão e traços marcantes, era seu porto seguro.

A tragédia que marcou a vida de Rafael — a morte de seu pai diante de toda a família — havia moldado quem ele era. Ele trabalhou duro, sustentou os irmãos e a mãe, e agora alcançava seu objetivo de entrar para a Polícia Federal, determinado a descobrir a verdade por trás da morte do pai.

— Você conseguiu, Rafael! Agora você pode buscar justiça!

— É só o começo, Lívia. A hora de mudar as coisas chegou.

Ali, entre sorrisos e lembranças, Lívia sentiu um pequeno fio de esperança em meio à tempestade que era sua vida.

 

herdeiros do destino

Capítulo 02

Almas Massacradas

Ravi

Acontecimento do passado

A chuva não cessa neste entardecer de outono. Mais uma vez, o inverno instalou-se na vida do jovem Ravi. Hoje, seu coração está tão escuro quanto naquele fatídico 8 de julho. Mais uma vez, sua alma foi arrastada para a escuridão. Ele escuta o padre pronunciar palavras de pesar, mas os sons chegam distantes, vazios. Seus olhos já não conseguem mais chorar; as lágrimas secaram, e em seu peito ele sente apenas a ausência do que um dia foi um coração pulsante.

Naquele dia, ao ver o caixão de seu pai descer à terra, Ravi derramou sua última lágrima. E foi nesse instante que uma promessa feita no leito de morte do pai veio à sua mente, como uma chama acesa em meio à dor:

"Papai, eu prometo que vou encontrar aquele cretino que tirou a mamãe de nós. Vou fazê-lo pagar por tudo. Vou fazer justiça. A morte dela e do meu irmão não vai ficar impune. Eu te prometo: vou nos vingar."

Cinco anos antes

8 de julho de 1999.

Naquela tarde de inverno, o frio era intenso. O vento soprava cortante, enquanto a garoa insistente encharcava a terra e castigava as plantações. Ravi observava com pesar os campos devastados pelo clima, puxando seu cavalo pelo cabresto, quando ouviu gritos de desespero vindos da casa grande.

Aquela casa branca de fazenda jamais sairia de sua memória. Lá ele viveu tanto os melhores quanto os piores anos de sua vida. Era ali que morava sua família: seu pai, sua mãe e seu irmãozinho de dois anos. Apesar dos desafios, tinham uma vida boa, até que tudo desmoronou naquele fatídico dia.

Os gritos ecoavam pela propriedade. Era a voz do pai de Ravi. Ele correu o mais rápido que pôde. Não havia obstáculo que pudesse detê-lo naquela tarde. Ao chegar na entrada da fazenda, viu uma caminhonete saindo em disparada. Dentro da casa, o chão estava manchado de sangue. O cheiro metálico e amargo daquele momento ficou gravado em sua alma.

Seu pai estava caído, chorando. Ravi nunca o tinha visto assim. Um homem antes forte, viril, parecia agora destruído. O ombro do pai sangrava devido a um ferimento de bala. Ravi, aos 14 anos, sentiu o chão desabar sob seus pés ao ver seu herói naquele estado. Ele gritava pela mãe enquanto corria desesperado pela casa, mas não havia resposta.

Com um esforço sobre-humano, Ravi socorreu o pai e o levou ao hospital, sentindo-se grato por ele ter o ensinado a dirigir tão jovem. No hospital, um médico o tranquilizou, dizendo que o pai sobreviveria. Porém, o alívio durou pouco. Pouco depois, a polícia chegou para conversar com o pai de Ravi.

Do lado de fora do quarto, o jovem esperou por horas. Quando finalmente pôde entrar, encontrou o pai abatido, triste, e sem o brilho de outrora. Com voz trêmula, ele contou ao filho que um homem chamado Antônio Porto Rico havia invadido a fazenda em busca de vingança por uma dívida antiga. Esse homem havia atirado nele e levado sua mãe e seu irmão como reféns.

Mais tarde, Ravi soube que, durante a fuga, Antônio sofreu um acidente na estrada. O carro pegou fogo, e sua mãe e irmão morreram queimados. A dor de seu pai era palpável. Ele nunca mais foi o mesmo. Começou a beber, afundando-se em sua própria miséria. Ravi perdeu as contas de quantas vezes teve que buscá-lo nos bares da cidade.

Com o tempo, as terras foram abandonadas. Tudo que tinham parecia ter morrido junto com a mãe. Como sua avó costumava dizer: "Quando o alicerce cai, toda a casa desaba."

E assim, o mundo de Ravi veio abaixo. O vazio e o silêncio que dominaram a casa enfiavam a faca da dor cada vez mais fundo em seu coração.

Tempos Atuais

Ravi Santorini, agora com 41 anos, passou décadas amargando sua juventude em busca do homem que destruiu sua família. Cinco anos após perder sua mãe e seu irmão, seu pai também faleceu. Ravi reuniu o que restava de forças, vendeu as terras valiosas da família e deixou apenas a fazenda aos cuidados de sua tia. Partiu para Curitiba, onde comprou novas terras e abriu uma exportadora de soja.

Com o tempo, Ravi prosperou. Seu pai lhe ensinara tudo sobre o plantio e exportação de soja, e ele utilizou esse conhecimento para construir um império. Tornou-se o maior exportador de soja do país, com filiais espalhadas por todo o território e negócios internacionais.

No entanto, nem sempre a trajetória foi de sucesso. Anos atrás, Ravi sofreu um golpe milionário de um contador de confiança, que desviou uma quantia considerável da empresa. Ele precisou vender quase tudo para cumprir contratos e pagar indenizações, reerguendo-se com uma nova razão social. Foi nesse momento que decidiu seguirpara São Paulo, fixando-se no interior.

Apesar de sua fortuna e conquistas, Ravi nunca conseguiu encontrar Antônio Porto Rico. Era como se o homem tivesse sido engolido pela terra. Ainda assim, ele nunca desistiu. Recentemente, seu detetive trouxe uma notícia que reacendeu a chama da vingança:

"Senhor Santorini, estamos no caminho certo. Esse homem que entrou no país recentemente é, sem dúvida, Antônio Porto Rico."

herdeiros do destino

Capítulo 03

Estranhos

Ravi

— Tudo o que eu esperei... — resmungou Ravi, cerrando o punho.

— Luiz Henrique, de onde ele está vindo?

— Do Canadá. Pelo que parece, ele veio de mudança. Transferiu todos os seus negócios para cá — respondeu Luiz Henrique.

— Ele veio sozinho?

— Não, senhor. Estava acompanhado da esposa e dos filhos.

— Quero saber tudo sobre ele, a mulher e os filhos.

— Sim, senhor...

Ravi encarou Luiz Henrique com determinação, e um brilho sombrio nos olhos.

— Enfim, vou vingar minha família.

Ele pegou o telefone e ligou para sua secretária.

— Madrinha Rosana, traga os papéis da reunião.

— Sim, filho, já estou indo — respondeu Rosana, do outro lado da linha.

Lívia

Sentada na pequena sala do modesto apartamento, Lívia trocava de canal sem conseguir se concentrar. A angústia martelava em seu peito. Embora o tempo tivesse passado, a mágoa do término do noivado ainda era uma ferida aberta.

Já faz um ano que ela chegará a São Paulo. Trabalhar na recepção de um hotel era um tormento diário; detestava o emprego. Constantemente, questionava-se sobre por que não conseguia deixar aquele luto interminável para trás. Seu chefe era insuportável, e as palavras de Rafael frequentemente a assombram: ele não entendia como ela podia aceitar aquele trabalho e abandonar sua carreira e seus sonhos por causa de um homem como Isaque.

Mas a verdade era que ela ainda não estava pronta para seguir em frente. Suspira profundamente e se joga no sofá, perdida em seus pensamentos. O som do telefone interrompe seu devaneio. Era Rafael.

— Alô? Lívia? Me encontra no café da esquina. Preciso conversar com você — disse ele, direto.

— Me dá cinco minutos. Você está bem?

— Sim, estou. Só quero tomar um café com você antes de você ir para o trabalho.

— Tudo bem, estou indo.

Lívia saiu apressada, atravessando a correria incessante da cidade. Ao chegar ao semáforo, parou impaciente, observando os segundos no farol diminuírem de 10 a 0. Então, sua atenção foi atraída por um Volvo que se aproximava lentamente. Quando o carro quase parou, seu coração disparou. Era Isaque. Ele estava tão lindo quanto ela se lembrava.

Ele também parecia surpreso ao vê-la. Lívia respirou fundo, agradecendo quando o semáforo abriu. Andou o mais rápido que pôde até chegar ao café, tentando manter a calma.

— Lívia, o que aconteceu? Parece que viu um fantasma — disse Rafael, preocupado.

— Rafael... Eu acho que vi o Isaque.

— Como assim? Claro que não! O que ele estaria fazendo em São Paulo?

— Não sei, mas era ele.

— Não, não era. Você está louca. Esquece esse cretino. Vamos tomar um café. Lívia, você está tremendo! Pelo amor de Deus, não deixa aquele bastardo interferir na sua vida de novo.

— Estou tentando, Rafael, mas é difícil.

— Não vamos falar mais dele. Eu te chamei aqui porque tenho uma proposta para te fazer. Esquece aquele infeliz. Você sabe que, há anos, tento descobrir quem matou meu pai. Agora que entrei para a polícia, consegui uma pista.

— Mas, Rafael, como você conseguiu uma pista tão rápido? O caso não estava arquivado?

— Detalhes... Eu mesmo reabri o caso. Estou investigando por conta própria. É por isso que preciso de você.

— Rafael, você está louco? Pode se comprometer seriamente. Seus superiores não vão descobrir?

— Estou tomando cuidado, Lívia. Ninguém vai descobrir. Só preciso que você confie em mim. Posso contar com você?

— Claro, Rafael. Você sabe que pode contar comigo sempre. O que eu preciso fazer?

Ele colocou uma pasta sobre a mesa. Antes que ela pudesse abri-la, perguntou:

— Do que se trata?

— Lívia, eu acessei os arquivos do caso do meu pai e encontrei essa pista. O investigador da época chegou até essa empresa, Agro e Tecnologia.

— Mas o que essa empresa teria a ver com a morte do seu pai? Ainda mais aqui, tão longe...

— Você não entende. Na época, a matriz da Agro e Tecnologia ficava em Curitiba. Eu me lembrei de ouvir meu pai discutindo no telefone uma vez. Ele repetia várias vezes que Ravi Santorini não podia descobrir algo, ou ele estaria perdido... Seria um homem morto.

Rafael fez uma pausa, encarando Lívia com seriedade.

— Descobri que o escritório do meu pai fazia a contabilidade da empresa de Ravi Santorini. Ele tinha muitos clientes, então nunca me atentei para isso antes. Mas agora estou sentindo que esse é o caminho certo. É minha única pista.

Lívia assentiu, determinada.

— O que exatamente você precisa que eu faça?

— Quero que você entre nessa empresa. Você será meus olhos e ouvidos.

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