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O Peso de Nossas Histórias

Apresentação

"Algumas histórias mostram-nos o mundo como ele é, outras nos fazem observar o mundo de uma maneira que nunca imaginamos."

Não me recordo onde li ou vi uma frase como essa, e é justamente essa transformação que busco oferecer em cada uma das minhas palavras.

Sobre a Obra – O Peso das Nossas Histórias

O PESO DAS NOSSAS HISTÓRIAS é mais do que um livro. Esta obra convida você a mergulhar em um universo repleto de dilemas e dores que tocam o coração e desafiam a mente.

Se esta história o tocar, curta e comente. Sua voz tem poder, e ela transforma a experiência da leitura em algo ainda mais especial. Vamos, juntos, construir um universo de sentimentos, questionamentos e descobertas em O PESO DAS NOSSAS HISTÓRIAS.

^^^Boa leitura!^^^

^^^Atenciosamente, Syl Gonsalves!^^^

PERSONAGENS

Alifer, 15 anos, é um adolescente cuja alma carrega o peso de um mundo que muitas vezes lhe parece cruel e indiferente. Sua introspecção é uma barreira contra os ventos impiedosos da vida, mas também uma armadura que o protege, mesmo quando parece estar em sua maior fragilidade.

Criado em um ambiente marcado por abusos e negligência, Alifer aprendeu desde cedo a buscar forças nas pequenas coisas: no silêncio das tardes chuvosas, nas palavras de consolo que ele mesmo inventa, nas memórias que tentam resistir ao tempo. Fã de Harry Potter.

Will, 18 anos, é o irmão mais velho de Alifer e, no início, se apresenta como a personificação da crueldade e do abandono. Longe de ser um protetor ou modelo a ser seguido, ele é a fonte das feridas mais profundas de Alifer, liderando o bullying e perpetuando as dinâmicas destrutivas em casa. Seu comportamento frio e agressivo parece justificar-se pela dureza da vida que viveu, mas sua insensibilidade só aprofunda o sofrimento de quem mais deveria amar.

Claudia, 40 anos, é uma mulher marcada pela fragilidade emocional e pelas cicatrizes de uma vida repleta de frustrações não resolvidas. Mãe de Alifer e Willian, sua instabilidade psicológica se reflete em seu comportamento imprevisível e nas atitudes de descaso em relação aos filhos. Em vez de ser um porto seguro, Claudia é uma presença distante e muitas vezes ameaçadora, cuja raiva e desamparo transbordam para dentro de casa, criando um ambiente de constante tensão e medo.

Sua postura fria e autoritária, mais voltada para controlar do que para acolher, reforça a sensação de abandono emocional que Alifer sente diariamente. Claudia parece incapaz de demonstrar qualquer forma de empatia ou carinho, optando, muitas vezes, por descontar suas frustrações e suas próprias decepções nos filhos. Ela é uma mulher perdida, que busca consolo na rigidez, tentando manter a aparência de força, enquanto por dentro se desintegra, sem saber como lidar com suas próprias inseguranças.

Ao invés de proporcionar o suporte que seus filhos precisam, Claudia se torna uma figura opressora, amplificando a sensação de solidão e impotência de Alifer. Suas palavras, muitas vezes cortantes e impiedosas, são como lâminas que cortam mais fundo do que qualquer ação física poderia. E, embora em momentos raros haja uma sombra de arrependimento em seu olhar, Claudia parece prisioneira de um ciclo que ela mesma não consegue quebrar.

Ela é, na verdade, uma mulher que, apesar de seu poder de causar dor, também carrega sua própria dor invisível, sem saber como transformá-la em algo que possa curar ao invés de ferir. A indiferença e o autoritarismo que ela impõe são, na essência, uma fachada que esconde o medo de enfrentar sua própria vulnerabilidade e de reconhecer as consequências de suas escolhas.

Jorge, 48 anos. O padrasto de Alifer, uma figura autoritária e abusiva que exacerba o tormento do garoto. Sua presença representa o ápice da violência e da opressão na vida do protagonista.

Luísa, 28 anos. Professora dedicada e empática, que percebe os sinais de sofrimento de Alifer. Ela é uma das poucas pessoas que tenta genuinamente ajudá-lo e compreendê-lo.

Nico, 18 anos. Amigo de Willian e participante inicial das violências contra Alifer. Com o tempo, começa a perceber o impacto de suas ações e se esforça para mudar. Esconde um grande segredo sobre quem é.

Camilo (Milo), 19 anos. Amigo de Willian e participante inicial das violências contra Alifer. Com o tempo, começa a perceber o impacto de suas ações e se esforça para mudar. Sempre pronto para agir, se vê sem saber como sair de um problema.

Doug, 18 anos. Amigo de Willian e participante inicial das violências contra Alifer. Com o tempo, começa a perceber o impacto de suas ações e se esforça para mudar. Apesar da cara de inocente, já viveu coisas que até deus dúvida.

Tom, 18 anos. Amigo de Willian e participante inicial das violências contra Alifer. Com o tempo, começa a perceber o impacto de suas ações e se esforça para mudar. Só quer tranquilidade e focar nos estudos.

Doutoras Juliana (clínica geral), 34 anos e, doutora Rafaela (psicóloga), 32 anos.

Salete, 46 anos. Assistente social.

Capítulo 1

POV: Alifer

Quando li Harry Potter pela primeira vez, logo no início me identifiquei com ele. Não com a parte mágica e bonita da história. Porém, com toda a tragédia e dor da narrativa. Embora eu tivesse meu próprio quarto e não dormisse sob as escadas, eu ainda me sentia em um confinamento. Diferentemente do Harry eu não tinha um Rony ou uma Hermione, nem um Hagrid, Dumbledore ou menos um Snape. Tudo o que eu tinha era um Malfoy como irmão, minha mãe era uma mistura do Voldemort com comensais da morte e os tios do Harry.

Enfim, minha vida é um inferno: agressões mais diversas em casa, por parte da mamãe e do marido dela, meu padrasto. Bullying e mais violência na escola por parte do meu irmão e dos amigos dele. Ao menos ele não deixava que os outros alunos me enchessem o saco, afinal esse era o papel dele e daqueles babacas dos amigos.

Em alguns momentos, para não dizer em todos, me pego pensando: por quê algumas pessoas precisam sofrer tanto? Ok, tem pessoas que sofrem de outras coisas, violência, enfermidades, porém não dá para ficar medindo sofrimento, certo? O fato é que desde que me entendo por gente minha vida é sofrimento atrás de sofrimento, como eu disse anteriormente, é a própria personificação do que dizem ser o inferno.

Não lembro ao certo como as coisas chegaram a esse ponto, o que fiz de tão errado contra o universo, só sei que estou no meu limite. Parece drástico falar isso, considerando a minha idade, mas é exatamente isso. Eu tenho me imaginado na beira de um abismo e basta eu mover milimetricamente os meus pés para a frente que vou cair. Isso me apavora e me reconforta ao mesmo tempo. Cinquenta e um por cento de mim não vê sentido em continuar com uma existência tão deprimente como a minha; entretanto, os outros quarenta e nove por cento, querem acreditar que ainda possa haver algo de bom para mim.

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O alarme toca, mas estou tão cansado que até o som irritante me faz adormecer novamente. Não demora muito para o som irritante se tornar um eco distante enquanto eu me afundo no sono, até ser abruptamente acordado com a minha mãe jogando as cobertas que estavam sobre mim no chão e, em seguida, jogando o resto de seu café sobre a minha barriga. Felizmente, o café estava morno.

— Vamos, seu inútil. Olha a hora! Nem pense em sair para o colégio antes de cumprir com tuas obrigações.

Depois desse bom dia gentil e carinhoso da minha mãe, ela saiu. Eu me levantei, tirei a camiseta molhada com o café e vi a marca vermelha que se formou na minha barriga onde o café atingiu. “Tomara que não forme bolhas ou vou estar com mais problemas”, pensei suspirando enquanto me preparava para cumprir minhas obrigações matinais antes da escola.

Desde que eu fiz uns oito anos, se tornou minha obrigação matinal arrumar a casa antes de sair para a escola. Arrumar as camas, lavar a louça do café, colocar a roupa para lavar, mas como eu fazia isso durante a noite, de manhã eu só tinha que passar e dobrar. Céus como eu odiava isso. Mas não tanto quanto eu odiava outras coisas. Como perdi a hora, estava atrasado e teria que fazer todas essas coisas em vinte minutos e ainda correr para chegar a tempo da primeira aula ou a mamãe ia me bater por ter me atrasado para a aula.

“Inferno!”, fiquei repetindo mentalmente enquanto arrumava as camas, lavava a louça do café e corria para passar as roupas. Quando olhei o tamanho da pilha de roupa, só consegui pensar “é hoje que ela me mata”. Passei algumas peças que eles, minha mãe e meu padrasto, poderiam querer usar e corri pegar a minha mochila.

Felizmente não encontrei nenhum dos dois e saí o mais rápido que consegui. A escola ficava cerca de dois quilômetros da minha casa e era um trajeto que eu normalmente fazia em meia hora, considerando que meu corpo vivia dolorido. Hoje, no entanto, eu não teria o luxo de ir devagar, pois faltava apenas doze minutos para o portão ser fechado.

Enquanto eu corria pelas ruas com meu corpo protestando a cada novo passo, eu sentia vontade de chorar. Eu só queria parar. Parar de correr, parar de apanhar, parar de respirar… A cada respirada parecia que uma faca me atingia e rasgava meu peito de dentro para fora.

Parecia que quanto mais eu corria, menos saia do lugar. Claro que, o fato de que a minha última refeição decente foi feita a uns quatro dias atrás não me ajudava em nada. Parecia que eu iria desmaiar a qualquer momento e uma parte de mim torcia para que isso acontecesse ou que meu coração parasse de bater. Sei lá, eu só queria parar.

...ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...

Nota: A expressão "POV" significa "ponto de vista" e serve para mostrar quem está narrando.

Capítulo 2

Depois do que pareceu uma eternidade, enxerguei a fachada do colégio. Olhei a hora no relógio que estava no meu pulso — sim, eu usava relógio igual alguém da idade das pedras, porque minha mãe decidiu que eu não tinha direito a ter nada — e, eu tinha dois minutos para entrar. Nem acreditei que tinha conseguido chegar lá e ainda estava vivo. Convenhamos que o termo “vivo” possa soar meio forte, eu estava mais para um zumbi do que para um ser humano.

Corri até o banheiro que para a minha sorte não tinha ninguém e fui até uma cabine, troquei de camiseta para ver se disfarçava o odor de suor, ajeitei as mangas da camiseta — sempre camiseta de manga longa — para esconder qualquer possível marca que não devesse aparecer. Sentei-me no chão da cabine, abracei meus joelhos e só fiquei lá. Nem chorar eu conseguia mais.

Vasculhei a minha mochila para ver se eu achava alguma coisa para comer e para a minha sorte — ou não — encontrei uma pequena maçã quase em decomposição. “Meu estômago já está doendo mesmo…”, pensei, enquanto dava uma mordida na parte que parecia menos estragada. Assim que senti o gosto podre, instintivamente, me inclinei para vomitar, porém eu não tinha muitas alternativas e me forcei a comer aquela maçã estragada.

Escovei os dentes rapidamente e estava indo para a sala quando vi o grupinho do meu irmão vindo na minha direção. “Hoje não, por favor!”, implorei mentalmente. Mas foi em vão. Eles bloquearam o meu caminho.

— Está com pressa, maninho? — dava para ver o sarcasmo e o desprezo na expressão dele.

Tentei forçar uma passagem entre dois amigos do meu irmão, mas também foi inútil e ainda tive que aturar aqueles dois me apalpando. Para ajudar, os efeitos colaterais de comer a maçã podre estavam começando a aparecer e parecia que eu iria vomitar em cima deles. Na hora, eu não consegui decidir se isso seria algo bom ou não.

Eu devia estar mal mesmo, porque o meu irmão mudou o tom.

— Você parece péssimo, Alifer…

Willian se aproximou, a mão levantada em minha direção. Antes mesmo de entender o que ele queria, eu recuei, meu corpo agindo por conta própria.

— S-só… me deixa passar — minha voz era praticamente um sussurro, mas me surpreendi por saber que ainda sabia falar.

Não sei direito o que aconteceu, só sei que eles me deixaram passar. Enquanto eu caminhava em direção a sala de aula não pude deixar de sentir que eles ficaram me olhando.

Entrar na sala foi como passar por um portal para outro mundo. A ausência dos olhares de William e sua turma me proporcionou um alívio imenso. A tensão que me acompanhava pareceu dar uma trégua e me inclinei sobre a carteira. Depois disso, tudo o que me lembro era da professora me acordando.

— Alifer? Alifer?

A voz dela era suave e gentil.

— Você está se sentindo bem? Teus colegas me disseram que você está dormindo desde a primeira aula.

A professora Luísa era gente boa e era a única que parecia não ter desistido de mim. Ela puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado.

— Alifer, quer me contar o que está acontecendo? — Neguei com a cabeça e ela prosseguiu. — Cada dia que passa você está mais abatido…

Os olhos castanhos de Luísa me observavam com uma gentileza que me tocava profundamente.

— Eu sei que às vezes parece que ninguém entende o que a gente está passando — ela continuou, mantendo a voz calma e acolhedora. — Mas você não precisa carregar tudo sozinho. Às vezes, falar ajuda. Mesmo que seja só um pouquinho.

Pisquei algumas vezes, tentando afastar as lágrimas que ameaçavam cair. Como se percebesse, a professora Luísa esperou em silêncio, respeitando meu tempo. A sala de aula estava quase vazia, e o som distante de risadas do corredor parecia vir de outro mundo. Um mundo do qual eu sentia que não fazia mais parte.

— Não é nada… — murmurei, minha voz quase inaudível. Mas não convenci nem a mim mesmo.

— Alifer, eu tô aqui para ouvir. Sem julgamentos — ela disse, inclinando-se um pouco para frente. — Pode ser sobre a escola, a casa, ou qualquer outra coisa. Eu só quero que você saiba que tem alguém do seu lado.

Fechei os olhos por um momento, tentando reunir coragem para dizer algo. As palavras estavam presas na garganta há muito tempo, como um nó impossível de desfazer. Mas o olhar dela, cheio de compreensão e paciência, parecia quebrar lentamente as barreiras que eu havia construído.

— É difícil… — soltei, finalmente, em um sussurro.

— Eu sei que é — ela respondeu, suave. — Mas você não está sozinho. Me conta o que está doendo.

Fiquei em silêncio. As palavras estavam ali, presas em algum lugar dentro de mim, mas não consegui soltá-las. A professora Luísa não insistiu. Ela apenas respirou fundo e continuou ali, sentada ao meu lado, como se aquele silêncio fosse o suficiente por enquanto.

O tempo parecia ter parado. A sala estava vazia, as carteiras desalinhadas, e a luz fraca do fim da tarde atravessava as janelas em linhas douradas. O som distante do mundo fora da sala de aula continuava, mas ali dentro era como se estivéssemos isolados do resto.

— Tudo bem — disse Luísa, depois de alguns minutos. Sua voz era serena, sem pressa. — Às vezes, o silêncio diz mais do que qualquer palavra. Eu não vou a lugar nenhum, Alifer. Quando você quiser conversar, eu estarei aqui.

Ela se levantou devagar, arrastando a cadeira com cuidado, como se não quisesse perturbar aquele momento. Antes de sair, me lançou um último olhar, carregado de algo que parecia esperança.

— Cuide de você, tá bom? — completou, num tom quase sussurrado.

Eu apenas balancei a cabeça, sem coragem de encará-la. Quando a porta se fechou atrás dela, o vazio da sala pareceu se multiplicar. Ainda assim, algo na presença dela havia deixado uma marca. Era como se, pela primeira vez em muito tempo, alguém tivesse visto através da minha armadura — uma armadura em ruínas, diga-se de passagem. — Alguém que não tinha desistido de mim.

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