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A Última Esperança

início - Simples vida no campo

17:30 - Fim de tarde / Pré-anoitecer

12/04/2032

O sol se põe lentamente, tingindo o céu com tons alaranjados e violeta. Darius está do lado de fora de sua casa simples, curvado sobre um pequeno canteiro improvisado. Suas mãos firmes, acostumadas ao peso de armas, manejam a terra com cuidado surpreendente enquanto ajusta as plantas que crescem ali.

Ele pega um balde de metal que repousa ao lado do canteiro e segue em direção ao rio próximo. O caminho é estreito, cercado por árvores esparsas e arbustos. Cada passo é marcado pelo som abafado de suas botas contra a terra úmida.

Ao chegar no rio, Darius ajoelha-se, enchendo o balde com água cristalina. Ele observa o fluxo por um momento, perdido em pensamentos, mas logo se levanta, ajustando o peso do balde em uma mão e retornando para casa. Dentro da casa, a simplicidade reina. A pequena cozinha e a sala compartilham o mesmo espaço. No canto, uma geladeira antiga vibra baixinho. Ele despeja a água em recipientes que estão no interior e separa algumas frutas e legumes que trouxe do abrigo para sua sobrevivência.

O ambiente é silencioso, exceto pelo som distante do vento lá fora e do gotejar de uma torneira no banheiro. Darius senta-se em uma cadeira próxima à janela, observando o escurecer, enquanto a sombra da noite começa a engolir os últimos vestígios de luz. Ele levanta-se e ascende a luz.

Os olhos fixos no horizonte escuro, onde o brilho laranja do sol desapareceu por completo. Um suspiro profundo escapa de seus lábios. Ele move-se com a precisão de alguém acostumado a controlar o próprio corpo.

Na esquina oposta da sala, um saco de areia pendurado balança suavemente, marcado por anos de uso. Darius caminha até ele, girando os ombros e alongando os braços. Ele ajusta as faixas nos punhos, apertando-as com cuidado, e assume sua posição de luta.

O primeiro golpe é firme, um direto que faz o saco balançar violentamente. A sequência segue com chutes precisos, cotoveladas brutais e joelhadas rápidas. Cada movimento é executado com força e técnica, mas há algo mais: uma intensidade quase visceral. Seus golpes parecem carregar anos de raiva contida e uma necessidade de manter o controle.

O som abafado dos impactos enche a pequena casa, ecoando como um tambor solitário. O suor escorre pela testa de Darius, pingando no chão, mas ele continua. Seu ritmo acelera, os músculos gritam em esforço, mas ele não para. É como se estivesse lutando contra algo invisível – memórias, dores ou talvez contra si mesmo.

Depois de um tempo, ele desacelera, respirando fundo, cada expiração pesada. Finalmente, para. Ele apoia as mãos nos joelhos, inclinando-se, enquanto gotas de suor caem de seu queixo.

Ainda recuperando o fôlego, Darius vai até o banheiro. O espaço é apertado, com um chuveiro simples e paredes desgastadas pelo tempo. Ele liga a água, que cai gelada sobre sua pele, fazendo ele sair do sistema simpático para o parasimpatico Darius fecha os olhos, permitindo que a sensação o traga de volta ao presente. A água leva embora o suor, mas não os pensamentos que o atormentam.

Ao sair, com os cabelos úmidos e a toalha em volta do pescoço, ele encara o espelho acima da pia. Seus olhos encontram seu próprio reflexo – cansados, sérios, mas determinados. Ele solta a toalha, seca o rosto e sai do banheiro, pronto para encarar mais uma noite de solitude.

E assim, o ciclo recomeça.

Darius sai do banheiro, o ambiente ao seu redor ainda reverberando a calma que a água trouxe. Ele pega um copo de vidro simples, repleto de água fresca da geladeira, e leva até os lábios, bebendo em goles longos, como se a água fosse a única coisa que conseguisse acalmá-lo. O som do líquido sendo engolido preenche o silêncio da casa, antes que ele coloque o copo de volta na bancada e olhe ao redor mais uma vez.

A casa parece ainda mais silenciosa à noite, sem os sons naturais do dia, sem a agitação que ele tem quando está ocupado com o trabalho no abrigo ou treinando. Ele se move até a cama simples, o colchão mais velho, mas suficiente para seu descanso. Acolhe-se sob o cobertor, os lençóis rasgados nas bordas, mas nada que o incomode. O ambiente é familiar, sem conforto de luxo, mas confortável de um jeito solitário.

Ele se deita de costas, os olhos fixos no teto. O olhar profundo reflete o cansaço, mas sua mente não está pronta para o descanso. Sua respiração se torna mais lenta, mas não está livre dos pensamentos.

O primeiro pesadelo começa com um flash – a imagem vívida de uma explosão. A terra treme sob seus pés, o som das armas e gritos misturados. O cheiro da pólvora e sangue impregna o ar. O suor e o medo em seus rostos, a dor excruciante de saber que não pode fazer nada. Ele se vê, mais jovem, em meio ao caos de uma missão que falhou, ouvindo os gritos dos civis mortos, o impacto do erro fatal de uma pessoa. Darius, imerso no fracasso, observa a morte de seus próprios familiares.

Ele fecha os olhos, tentando afastar as imagens, mas o cenário se repete, mais real a cada segundo. O rosto da traíra com seu sorriso autoconfiante antes do desastre, aparece, agora deformado pela culpa que Darius carrega. Ele tenta avançar, mas as pernas estão pesadas, como se a terra estivesse puxando-o de volta. As explosões ressoam, mais altas, mais devastadoras.

A sensação de impotência o sufoca enquanto ele grita em silêncio. Ele vê o corpo de seu pai, o olhar vazio de quem não pôde mais protegê-lo. Vê o rosto de sua mãe, também, com a tristeza estampada, e sente o peso de todas as promessas não cumpridas.

Darius acorda de sobressalto, o peito arfando com a intensidade da lembrança, o suor escorrendo pela testa e pelos braços. O quarto parece mais escuro do que antes, a noite profunda e inabalada pela turbulência que ele carrega em si. Ele não sabe quanto tempo passou, mas o que importa é o medo, o peso das imagens, o grito silencioso de algo que não consegue mais evitar.

Com uma mão trêmula, ele passa pelo cabelo molhado de suor e fixa o olhar na parede à sua frente. Seus olhos, perdidos, buscam algum ponto fixo no vazio, algum reflexo que o traga de volta à realidade. O silêncio da casa parece esmagá-lo, as sombras ao redor da cama são mais profundas e ameaçadoras do que qualquer coisa que ele tenha enfrentado. Cada respiração é um esforço, cada batida do coração ecoa em sua cabeça.

A memória da missão fracassada, a explosão, o rosto... os corpos de seus pais. Todos os rostos dos mortos, aqueles que ele não conseguiu salvar, voltam para ele com a força de um soco. Mas ele sabe o que fazer. Ele se levanta da cama, as pernas fracas e pesadas, como se o peso do passado ainda estivesse sobre seus ombros. Caminha até a cozinha de passos firmes, mas lentos, evitando o eco dos próprios pés, o som da solidão. Ele vai até a pia e pega o copo. Enche-o com a água da geladeira, e a sensação fria do líquido contra seus lábios traz um alívio temporário.

Ele bebe com pressa, mas com o cuidado de não se engasgar, e após, ele bebe mais um pouco, mas com calma... É como se fosse a única coisa que poderia deixá-lo mais vivo, mais presente. A água desce devagar, preenchendo o vazio momentâneo, e, por algum motivo, ela parece apagar um pouco da sensação de sufocamento que tomava sua garganta.

Darius coloca o copo de volta na pia, as mãos agora mais calmas. A respiração ainda irregular, mas um pouco mais controlada. Ele olha pela janela, a noite ainda está lá fora, silenciosa, mas a tranquilidade que ele sempre procurou parece mais acessível agora. Ele retorna para a cama, o colchão quebrado e simples, mas seu corpo já cansado de lutar contra o passado. Se deita com mais cuidado, os olhos agora mais pesados, e, talvez, pela primeira vez naquela noite, ele sente uma leveza que não sentira antes. O pesadelo foi apenas um fragmento, um fantasma, e ele tem a chance de repousar.

Aos poucos, o peso de seus músculos, ainda tenso, começa a se diluir. Ele puxa o cobertor até o queixo, fecha os olhos e, por um momento, ele se perde na escuridão da noite. Não há explosões, não há gritos, nem rostos. Apenas o silêncio acolhedor da casa simples e solitária. Ele respira mais uma vez, profundamente, e finalmente encontra um espaço onde seu corpo se entrega ao descanso.

Com sorte, ao menos essa noite seria tranquila.

O dia começa para Darius com o sol já alto, invadindo lentamente o pequeno quarto através da janela suja. Ele acorda de um sono mais profundo, mas ainda cansado, as marcas da noite passada não completamente apagadas de sua mente. Ele olha para o relógio ao lado da cama. São 08:16. Sem pressa, se levanta da cama com movimentos silenciosos, como se ainda estivesse em sintonia com a calma da madrugada.

O cheiro do pão com carne de coelho já está no ar, uma simples refeição que ele prepara em poucos minutos. As mãos de Darius, experientes e precisas, cortam a carne, o pão escuro e o queijo simples. Ele mastiga em silêncio, como faz todos os dias. Não há necessidade de palavras, apenas o som da comida sendo saboreada e a leve sensação de que o corpo precisa do sustento para os próximos desafios.

Após terminar, Darius se dirige à parte de fora da casa, onde mantém sua espingarda, ainda cuidadosamente encostada a um canto. Ele pega a arma com a confiança de quem a conhece bem, ajustando-a aos seus ombros com naturalidade. A caça de hoje não será fácil, mas ele não sente o peso da tarefa. Seu olhar está atento, focado no horizonte, onde a floresta e seus arredores parecem ser um mistério que ele decifra com precisão.

Saindo de sua casa simples e indo em direção à floresta, Darius se move de forma discreta, seus passos são quase silenciosos, o que é essencial. A luz suave da manhã se infiltra pela copa das árvores enquanto ele avança. Ele observa, atento aos movimentos ao seu redor, seus sentidos aguçados em alerta. Os coelhos são rápidos, mas com sua experiência de caçador, ele sabe como se aproximar.

Ele encontra a primeira presa, um coelho adulto que pastava despreocupado a uma distância razoável. Darius se aproxima com calma, os olhos fixos no animal. Ele respira profundamente e, em um movimento rápido e preciso, aponta a espingarda. O disparo é silencioso, mas mortal. O coelho cai no chão, a morte rápida e sem dor. Darius se aproxima e verifica, certificando-se de que está morto antes de guardá-lo em uma mochila improvisada. Ele se prepara para continuar sua caça.

A floresta está quieta, e Darius sente uma sensação de tranquilidade, como se estivesse sozinho no mundo, com a natureza em seu controle. Ele caça por mais algum tempo, encontrando três outros coelhos, cada um com sua carne magra e útil para sua sobrevivência. Ao todo, ele coleta quatro coelhos adultos, os colocando cuidadosamente em seu saco.

Darius volta para a clareira onde deixa os animais pesados. Ele coloca um por um na balança improvisada que fez com um pedaço de corda e um pedaço de madeira. Cada coelho pesa cerca de 2 a 3 kg, uma boa quantidade de carne para o que ele precisa. Depois de verificar o peso, ele começa a preparar os animais. Com uma faca bem afiada, Darius abre cada coelho com habilidade, separando a carne boa da que não pode ser aproveitada.

Ele monta sua barraquinha simples mais perto da cidade, uma estrutura feita de lona e cordas, e começa o trabalho de vender a carne para os poucos que passam. As horas se arrastam, mas Darius não se importa. Ele conhece esse trabalho, conhece a rotina de vender as peças, oferecendo o que pode para conseguir um pouco de dinheiro e garantir a sobrevivência por mais alguns dias. O sol começa a baixar lentamente, e ele sabe que já passou cinco horas ali.

Quando o trabalho de venda termina, ele arruma tudo, levando as sobras para casa. No caminho de volta, ele decide que é hora de caçar uma presa mais pesada, algo que exija mais precisão e força. Ele se dirige para uma área mais aberta onde costuma caçar cervos. O vento é seu aliado enquanto ele se aproxima do que parece ser um cervo adulto, com sua pelagem marrom e os chifres imponentes. Darius se prepara e, com um disparo certeiro, a presa cai. O cervo não tem chance.

Ele leva o animal para casa, onde já sabe o que fazer. Com a mesma precisão que demonstrou na caçada, Darius começa a cortar o cervo. A carne é densa e pesada, e ele sabe que boa parte dela será guardada para a semana. Ele separa as melhores peças, limpando a carne com rapidez, tirando o máximo proveito de cada pedaço.

Com tudo já separado, Darius pega alguns pedaços para o consumo imediato e outros para armazenar. Ele vai para o canto onde improvisou seu pequeno local de treino. Ali, com pesos que conseguiu arranjar ao longo do tempo e objetos pesados, ele começa a sua rotina. O treino é intenso, uma mistura de força e resistência, com seu corpo ainda marcado pelo desgaste das caçadas e pelo peso de sua própria vida.

Ele faz alguns exercícios de cardio, sentindo a respiração ofegante, mas constante. Suores escorrem pelo rosto enquanto ele aperta o passo e continua a se mover com determinação. Cada exercício parece mais difícil, mas ele sabe que precisa disso, precisa se manter forte e preparado, em corpo e mente.

Após o treino, ele entra, vai ao banheiro e toma um simples banho. O som da água caindo em seus costas e depois chão, quebra o silêncio da casa simples e quieta. Após isso, ele sai, e vai preparar a refeição com delicadeza e se senta para comer, a comida simples, mas reconfortante. O gosto da carne fresca do cervo com um pingo de salada e arroz, preenche a boca, e por um momento, ele sente que, ao menos por agora, a luta pela sobrevivência é vencida. Mesmo assim, Darius sabe que o trabalho nunca para. A rotina não muda. E, ao final do dia, ele se prepara para o que vier pela frente.

Após um dia de caçada e treino, Darius se dirige até a pia da pequena cozinha, limpando cuidadosamente o que usou. O som da água batendo contra os utensílios é quase o único som que quebra o silêncio do ambiente. Ele limpa cada pedaço de carne, cada faca, com uma precisão que reflete sua disciplina. Quando tudo está em ordem, ele vai até a geladeira, pega mais um pouco de água e a beba lentamente, sentindo o frescor que acalma seu corpo após o esforço físico.

Ele respira fundo, sente a tensão do dia começar a ceder e, com isso, vai em direção à cama. A casa está escura, as sombras projetadas pelas poucas luzes que ainda restam. Deita-se lentamente, esticando o corpo cansado, mas ainda com os músculos pulsando por conta do treino. Fecha os olhos.

Por um momento, parece que o descanso está próximo. Mas, como tantas vezes antes, o sono não chega em paz. As imagens começam a invadir sua mente.

A explosão repentina, a fumaça densa no ar, o som surdo da destruição. E então, o rosto sorridente, maligno em sua cara. A risada baixa, abafada pelo som do fogo e da dor. O fogo. Sempre o fogo. A sensação de impotência. As pessoas caindo, sem poder fazer nada.

Ele se agita na cama, a respiração acelerada. A visão do campo devastado, a sensação do corpo sendo jogado contra o chão. A dor de perder algo que ele jamais imaginou que perderia. Ele se vira de um lado para o outro, os olhos fechados com força, tentando afastar as imagens, mas elas continuam. O rosto se estampa em sua mente, sem remorso, sem arrependimento.

O suor começa a cobrir seu rosto. Ele sente o peso do que perdeu, o peso do que não pode mais mudar. O cheiro de morte ainda paira no ar, mesmo agora, anos depois.

Ele levanta rapidamente, suado, ofegante, a mente em turbilhão. Vai até a janela, respira fundo, e olha para a noite lá fora. As estrelas, a calma do mundo lá fora, contrastam com o caos em sua mente. Ele passa a mão no rosto, tentando trazer-se de volta ao presente.

Após alguns minutos, sente-se mais calmo, embora o peso da lembrança ainda seja forte. Bebe mais um pouco de água e se deita novamente, agora com um pouco mais de controle sobre sua respiração e mente.

Com sorte, ele finalmente consegue dormir, o pesadelo recuando para um canto distante de sua mente, ao menos por enquanto. A noite se arrasta silenciosa, e a madrugada começa a se aproximar, trazendo consigo a promessa de um novo dia.

Os dias de Darius são regidos pela rotina simples e repetitiva de sobrevivência. Ele não tem horários ou compromissos fixos, mas suas ações seguem um padrão flexível, adaptando-se conforme as necessidades diárias.

Durante a semana, ele dedica boa parte do tempo à caça. Ele sai de manhã cedo, antes que o sol esteja completamente erguido, para explorar as florestas ao redor de sua casa. Com sua espingarda em mãos e silencioso como uma sombra, ele caça coelhos, servos e outros animais selvagens. Os coelhos são sua principal fonte de carne, mas, sempre que possível, ele tenta capturar algo maior, como um servo, para garantir o estoque de carne para os dias seguintes.

Nos dias em que não está caçando, Darius cuida de sua plantação. As plantas são uma fonte vital de alimentos frescos, e ele passa horas todos os dias cuidando delas com zelo. A terra, que ele conhece bem, parece ser um consolo silencioso para seus pensamentos perturbados, como se a natureza fosse uma forma de ancorá-lo à realidade, longe dos demônios internos que o perseguem.

Em outros dias, ele se dedica ao treino físico. O treino de golpes, como Muay Thai, é constante, mas não segue um horário fixo. Dependendo de como se sente, ele treina seus golpes no saco de areia ou realiza um treino de resistência e força. O treino físico serve como uma válvula de escape para a frustração e tensão acumulada durante o dia, além de ser essencial para manter-se em boa forma para a caça e a sobrevivência.

Após o treino, Darius toma um banho simples e se alimenta, geralmente carne, arroz e salada, quando há. A alimentação não é extravagante, mas é suficiente para mantê-lo vivo e com energia. Ele costuma terminar o dia com mais trabalho em sua casa ou uma caminhada até a cidade para comprar itens necessários, como arroz, sempre mantendo o mínimo de contato com outras pessoas. Sua interação com o mundo exterior é limitada, e ele prefere a solidão.

Quando o sol se põe e a noite cai, Darius se recolhe. Ele costuma se deitar cedo, mas os pesadelos o atormentam todas as noites. Às vezes, ele acorda no meio da noite, suado e inquieto, mas, após algum tempo, retorna ao sono. Ele tem momentos de paz, quando observa o luar pela janela, tentando se acalmar antes de voltar a dormir.

A semana de Darius passa em um ciclo de caça, trabalho e treinamento, com o peso do passado sempre o acompanhando, mas ele mantém a rotina, como se fosse uma forma de sobreviver não apenas fisicamente, mas também mentalmente. A solidão é sua companheira constante, e a vida, embora simples e repetitiva, é a única que ele conhece.

Devastação

...23 de Agosto de 2032 – Um Dia de Transformação ...

O sol já iluminava a casa simples de Darius quando ele abriu os olhos. Ele avistou o relógio marcando 9:47 da manhã. Ele se sentou na cama, respirando profundamente enquanto encarava o teto. Ele logo pensou: "Oh... Desconforto na minhas costas... Dormi de mal jeito mesmo! Droga... Ok. Ok.", logo ele levantou-se e se alongou, movendo os braços e pernas de maneira lenta, virando o tronco, fazendo flexão de quadril e tronco sem flexionar as pernas tocando o pé, preparando o corpo para mais um dia.

Logo depois, ele foi para seu treino. Em jejum, começou com o físico: Fazendo vácuo, abdominais e prancha. Após, ele foi treinar um pouco de peito com supino e flexões e depois tríceps, levantamento de pesos improvisados feitos de pedaços de metal. Suas respirações fortes ecoavam pela casa enquanto gotas de suor começavam a se formar em sua testa. Após terminar o treino físico, ele se posicionou diante do saco de areia que ele havia movido para varanda e começou a treinar e melhorar seu golpes básicos. Seus punhos atingiam o saco com precisão e força, cada golpe carregando a frustração de um homem que há muito tempo conhecia o sofrimento. Quando olhou o relógio novamente, viu que já eram 11:08 da manhã.

Ele foi até a cozinha e preparou uma refeição simples: carne de coelho que havia guardado, arroz fresco e feijão que havia comprado a dias atrás. Adicionou um pouco de salada colhida da sua plantação. Sentou-se na mesa, silencioso, mastigando devagar, observando a luz do dia atravessar as cortinas da pequena janela. Aquela era sua rotina, e embora simples, trazia uma certa estabilidade à sua vida. Ele pensava: "Tranquilidade... Apenas... Tranquilidade..." Era óbvio que ele não estava tranquilo. Seu passado, mesmo nesses momentos calmos, o atormentava. Uma desgraça.

Depois de comer e apreciar sua refeição, Darius levantou-se e pegou sua espingarda e saiu para caçar. O dia estava calmo, o vento soprava leve entre as árvores enquanto ele caminhava com passos cuidadosos e tentando ser os mais silenciosos. Ele era um caçador habilidoso, movendo-se silenciosamente pela floresta, ele com sua concentração, ouviu barulhos e logo já observou de onde vinha o som... Sim, ele pensou: "Achei!". Quando menos esperavam, morte. 3 tiros, 3 servos. Missão rápida, fácil e simples. No final da tarde, conseguiu capturar três servos adultos. Satisfeito, ele os levou a sua casa simples, e com simplicidade ele preparou ali mesmo, em sua pequena e simples cozinha. Com maestria, separou as carnes boas das partes inutilizáveis, armazenando cuidadosamente o que poderia usar e vendendo o restante com alguns andarilhos que para sorte dele, estavam passando ali perto.

Já cansado, Darius voltou para casa, lavou o rosto e decidiu descansar na varanda.

- "Oh... finalmente um descanso." Ele se aconchega, respira fundo e tenta aproveitar o máximo do momento.  O céu estava alaranjado, com as sombras da noite começando a aparecer. Ele respirava fundo, sentindo uma estranha tranquilidade naquele momento.

Tranquilidade, era o nome.

Mas então, um som distante cortou o ar. Ele franziu o cenho, inclinando-se para ouvir melhor. Parecia o ruído de motores… aviões.

Olhou encarando o horizonte. O som ficava mais alto. Darius já sentiu ser algo serio e preocupante que poderia causar perigo a si. Logo, não muito tempo depois, ouviu a sirene da cidade, a sirene avisando para evacuar. Um calafrio percorreu sua espinha.

— "Droga… o que está acontecendo agora?" — pensou, enquanto rapidamente levantava e pegava o essencial. Preste a sair pela porta, ele ouve um simples zoombido (bom, bom, explosões de fundo), rapidamente em questão de segundos, esse simples zoombido se tonar um alto tremor altíssimo. A primeira coisa que sentiu foi o chão tremendo. Em seguida, um som ensurdecedor. O mundo ao seu redor parecia se desintegrar enquanto a onda de choque o arremessava para frente.

BOOM!

Ele voou para longe com tudo. Ele caiu com força no chão, rolando até parar próximo à cerca do jardim. Por alguns segundos, tudo o que ouviu foi um zumbido alto em seus ouvidos. O cheiro de fumaça e poeira invadiu suas narinas, visão zonza, e já ferido com o impacto no chão, Darius ficou ralado em alguns locais de seu corpo. Enquanto isso, ele lutava para se levantar.

- "Ahn?..." Darius põem a mão na cabeça, confuso, com uma certíssima ideia do que haveria de ter acontecido.

Ao se levantar, e virar-se para atrás, viu sua casa. Ou melhor, o que restava dela. As paredes estavam em pedaços, caídas no chão, despedaçados,  o telhado havia desmoronado, e tudo o que ele possuía agora não passava de entulho, escombros. Ele olhou ao redor, vendo a cidade ao longe. Prédios destruídos, fogo, muita fumaça. A destruição era total. O cheiro de queimado e perigo era forte. Ele sabia exatamente o que aquilo significava.

— "Facções… Malditos..." — murmurou, com o rosto contorcido de ódio.

Darius logo sentiu além do ódio, tamém uma enorme tristeza ao finalmente perceber que perdeu tudo... de novo. Caindo de joelhos no chão, com as mãos tremendo. Seu grito de frustração ecoou por toda a área, um grito de dor e fúria que parecia carregar todo o sofrimento que ele havia reprimido.

— "Tudo… destruído de novo! Tudo o que eu construí… Malditos!", Socando o chão fortemente dizendo com raiva sem parar:

- "DESGRAÇA! DESGRAÇA! DESGRAÇA!" Ele olha para o alto e grita:

- "DESGRAÇAA!! AAAAAAH!"

Ele socou o chão com tanta força que deixou marcas profundas na terra. Ficou ali, respirando com dificuldade, as lágrimas misturando-se ao suor em seu rosto. Após alguns minutos, levantou-se. Sua respiração era pesada, mas ele sabia que ficar parado não era uma opção.

— "Não posso... Aqui não posso... aqui..." Seu instito de sobrevivencua dizia:

"Preciso sobreviver." — pensou, enquanto limpava o sangue dos punhos feridos nos restos de sua camisa. Pegou o que conseguiu salvar, incluindo sua espingarda, e começou a andar, afastando-se dos escombros de sua antiga vida.

Ele começou a andar, mancando passava por ruas cheia de carros explodidos, postes caído, pessoas mortas no chãos, outras procurando por algum tipo de abrigo ou algo que os mantesse vivos. As únicas iluminações que havia naquela noite, era os fogos da destruíção.

Cada passo era pesado, mas sua determinação crescia a cada minuto. Ele sabia que, em algum lugar, havia um abrigo ou algo que ele pudesse ficar por um tempo para ajeitar sua vida novamente.

...Destruição. ...

Um local simples

Darius continuou seu caminho pelas ruas devastadas, com os passos pesados e o coração endurecido pela visão do caos ao seu redor. Seus olhos captavam cada detalhe: as construções em ruínas, os gritos distantes, o fogo que ainda ardia em partes da cidade. Após um tempo caminhando, ele avistou o que parecia ser um abrigo improvisado. Apesar de parcialmente destruído, o lugar ainda estava de pé, com luzes frágeis emanando de dentro, e um fluxo constante de pessoas entrando e saindo.

Ele parou por um momento, avaliando a situação. "Pelo menos há algo aqui que ainda resiste... Mas, pelo visto, não está muito longe de cair também," pensou.

Decidindo verificar, Darius entrou pela porta desgastada. Assim que cruzou o limiar, foi atingido por um turbilhão de emoções vindas do ambiente. Pessoas choravam nos cantos, outras estavam deitadas em macas improvisadas com ferimentos graves. Crianças agarravam suas mães, enquanto vozes agitadas discutiam ou pediam ajuda. O cheiro de suor, sangue e medicamentos enchia o ar, sufocante e pesado.

Ele se encostou a uma das paredes, cruzando os braços, e observou a cena em silêncio. "Facções... Sempre elas," pensou, enquanto apertava os punhos. Sentia empatia pela dor ao redor, mas não o suficiente para intervir. O peso de suas próprias perdas era uma barreira que ele não estava disposto a ultrapassar. Ele se abaixou, sentando-se no chão próximo à entrada, seus olhos analisando o local com atenção, mas mantendo-se distante emocionalmente.

Enquanto observava o caos, algo chamou sua atenção. Em meio às expressões de desespero, lágrimas e angústia, havia uma jovem médica. Ela se movia com agilidade e determinação, passando de um paciente a outro, prestando ajuda de todas as maneiras possíveis. Seu sorriso era um contraste gritante com a cena ao redor. Ela sorria para cada pessoa que ajudava, trocava palavras gentis, e, por algum motivo, parecia inabalável.

Darius franziu o cenho. "Como ela consegue sorrir assim? Como pode parecer tão otimista em meio a tudo isso? Depois de tudo o que aconteceu e vem acontecendo?" Ele não conseguia entender. Era como se ela fosse imune ao peso da tragédia ao seu redor. Ele a observou por mais alguns momentos, intrigado, mas sem se aproximar.

Enquanto ela cuidava de uma criança ferida, sua expressão era genuinamente carinhosa. Seus gestos eram precisos e sua presença parecia trazer um mínimo de alívio para aqueles ao seu redor. Aquele contraste entre o caos e a calma irradiada por ela começou a mexer com ele, mesmo que não quisesse admitir.

Ainda assim, Darius afastou o pensamento, desviando o olhar. "Não importa. O mundo é cruel... Não há espaço para sorrisos." Ele apoiou os braços nos joelhos e inclinou a cabeça para trás, respirando fundo enquanto tentava ignorar o cenário à sua frente e as emoções que começavam a surgir em seu interior.

Darius continuou com os olhos fechados, respirando profundamente enquanto lutava contra o tumulto em sua mente. As memórias voltavam com força: o som ensurdecedor dos tiros, os gritos de dor, o cheiro de sangue e pólvora. Cada cena era vívida, como se estivesse acontecendo novamente. Ele apertou os punhos, sentindo as unhas pressionarem a palma das mãos, tentando ancorar-se ao presente.

— "Droga... Isso nunca vai embora..." — murmurou baixinho, sua voz carregada de cansaço e desespero. Ele sentia o peso do mundo sobre seus ombros, um peso que parecia crescer mais a cada dia.

Ele abriu os olhos lentamente e olhou ao redor. O caos do abrigo era quase um reflexo do caos dentro dele. As pessoas choravam, algumas gritavam, enquanto outras permaneciam em silêncio absoluto, consumidas pela dor. Por um instante, ele se perguntou como ainda estava de pé, como sua mente não havia desmoronado de vez.

Mas então, seus pensamentos foram novamente interrompidos. Uma sombra se moveu perto dele, e ao virar a cabeça, viu a mesma médica. Ela estava agachada ao lado de uma senhora ferida, segurando sua mão enquanto fazia um curativo. O sorriso persistia em seu rosto, mesmo enquanto suas mãos trabalhavam rapidamente para estancar o sangramento. Ela parecia alheia ao caos, ou talvez decidida a enfrentá-lo de frente, sem permitir que ele a consumisse.

Darius observou-a por um momento, intrigado. — "Como alguém pode ser assim? Como pode encontrar força para sorrir nesse inferno?" — pensou. Ele desviou o olhar rapidamente, irritado com o incômodo que aquela visão trazia. Não sabia se era raiva, inveja ou algo mais profundo que não conseguia identificar.

Ele fechou os olhos novamente, mas dessa vez, a imagem da médica sorridente ficou gravada em sua mente. Em vez das memórias de destruição, o que veio foi a cena dela confortando a senhora. Por um breve momento, o caos em sua cabeça deu lugar a um silêncio estranho, como se algo estivesse tentando abrir caminho através da escuridão.

— "Não faz sentido..." — murmurou para si mesmo, abrindo os olhos mais uma vez. Ele se levantou, tentando ignorar a onda de emoções confusas que começava a surgir dentro de si, e decidiu caminhar pelo abrigo. Ele precisava de algo para distraí-lo, algo que o mantivesse longe das memórias e daquela sensação desconfortável que não sabia como lidar.

Darius continuava imóvel, os olhos fechados, tentando ignorar o caos ao seu redor e dentro de si. Mas um toque suave em seu braço o trouxe de volta ao presente. Ele abriu os olhos e olhou para o lado, encontrando uma criança pequena olhando para ele. Era magra, com roupas rasgadas e o rosto sujo. Apesar disso, havia uma expressão de curiosidade e preocupação em seu olhar.

"Tão pequena e inocente, pobre coitada", pensou Darius, enquanto endireitava o corpo e franzia a testa.

— "Hm?" — murmurou, sua voz carregada de seriedade.

A criança deu um passo para trás, sentindo um frio na barriga diante do homem imponente e de expressão rígida. Ainda assim, gaguejou:

— "Vo-você precisa de ajuda?..".

Havia medo em sua voz, mas também algo genuíno. Darius franziu ainda mais o cenho, tentando não parecer tão ameaçador. Ele respirou fundo e respondeu, com um tom calmo:

— "Não. Estou bem."

A criança hesitou, mordendo os lábios antes de perguntar novamente:

— "Certeza?..."

Darius interrompeu antes que ela pudesse terminar.

— "Saia daqui. Estou bem. Se eu precisar, eu chamo alguém."

A criança ficou em silêncio por um momento, olhando para ele com olhos grandes e inocentes, antes de acenar com a cabeça e dar meia-volta, desaparecendo entre as outras pessoas no abrigo.

Enquanto a observava ir embora, Darius se pegou pensando na simplicidade daquele gesto. Por um breve momento, a inocência da criança havia afastado o caos em sua mente. Mas, assim que o silêncio voltou, as lembranças o invadiram novamente. Ele apertou os olhos com força, inclinando a cabeça para trás enquanto murmurava para si mesmo:

— "Oh, droga... Dor... Sempre volta..."

Ele estava psicologicamente acabado. A onda de angústia parecia não ter fim, esmagando-o com a mesma intensidade de sempre. Mesmo cercado por tantas pessoas, ele se sentia completamente sozinho, preso nas sombras de um passado que não o deixava seguir em frente.

Sentado no chão frio do abrigo, o caos em volta parecia se misturar ao caos dentro de sua cabeça. O som das vozes, dos gemidos de dor e do movimento incessante começou a ficar abafado. Sua respiração se tornou curta e irregular, o peito apertando como se algo o sufocasse. Ele sentiu uma pontada de pânico crescer.

Darius se levantou rapidamente, quase tropeçando nas próprias pernas enquanto tentava sair dali. Ignorou os olhares das pessoas ao seu redor, que talvez estivessem confusas ou curiosas com sua saída abrupta. Ele simplesmente não podia mais suportar ficar naquele lugar.

Ao alcançar o lado de fora, ele inspirou profundamente, enchendo os pulmões com o ar fresco da noite. A brisa leve acariciou seu rosto suado, e ele fechou os olhos, buscando algum resquício de paz. Ainda assim, evitou ao máximo olhar ao redor. Não queria encarar a destruição, os escombros, ou mesmo a lembrança de tudo o que havia perdido.

Ele direcionou o olhar para cima, para o céu. A lua brilhava, serena e indiferente, cercada por um manto de estrelas que parecia alheio à devastação na terra. Ele focou sua mente naquilo, deixando-se envolver pela tranquilidade distante do cosmos.

Darius inspirou e expirou lentamente, tentando regular sua respiração. Aos poucos, o aperto em seu peito diminuiu. Sentiu os ombros relaxarem, como se a tensão estivesse escorrendo para fora de seu corpo.

— "Preciso manter o controle... Não posso desmoronar agora..." — murmurou para si mesmo, fixando os olhos na lua como se ela fosse sua única âncora.

Depois de alguns minutos em silêncio, apenas ouvindo o som do vento e observando as estrelas, ele finalmente conseguiu se acalmar. A batalha interna havia dado uma breve trégua. E, naquele momento, ele soube que precisava reunir forças para seguir em frente, mesmo que o futuro parecesse incerto.

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