...🩸 Luci Melius 🩸...
...🩸 Draven Valerius 🩸...
Adormecido por séculos nas profundezas de uma montanha esquecida, Draven Valerius, um vampiro milenar, desperta quando uma gota de sangue humano interrompe seu longo e sombrio sono. Antigo, poderoso e marcado por um passado de traição, ele emerge em um mundo moderno, estranho e acelerado, mas suas memórias permanecem intactas. Entre elas, está Lucianna, a mulher que uma vez ele amou, e que o condenou à morte com uma estaca enfiada no coração.
Agora, Draven vive entre os humanos, escondendo sua verdadeira natureza por trás de uma fachada impecável. Determinado a se vingar, ele arma um plano cuidadoso para se aproximar da família Mellius, uma tradicional linhagem da alta sociedade. Por meio de atos calculados de bondade, Draven conquista a confiança dos Mellius e se torna o noivo ideal para Luci, a jovem herdeira da família.
Mas Luci Melius, não é uma simples mortal. Ela é a reencarnação de Lucianna, embora não tenha nenhuma lembrança da sua vida passada, e menos ainda da culpa que carrega aos olhos de Draven. Para ela, o noivo parece ser o homem perfeito: amoroso, atencioso e protetor. Para Draven, porém, ela é o centro de sua vingança, alvo de uma fúria acumulada por séculos. No entanto, Draven não contava que não poderia matá-la, pois suas vidas estão ligadas.
Existir é uma ironia. Acordar para uma vida que já me foi roubada é um insulto às leis do tempo e da mortalidade. Meu nome é Draven Valerius. Tenho, ao todo, 438 anos, embora pareça que esses séculos não me pesam mais do que as últimas horas. Minha morte, no entanto, me acompanha como uma maldita sombra.
Lucianna. Até hoje, seu nome se enrola na minha língua como veneno. Ela era minha mulher, minha promessa de eternidade, e também minha execução. Uma bruxa, na minha vida passada, sussurrou que Lucianna me apunhalaria com uma estaca durante o crepúsculo, quando eu estava mais vulnerável, meu corpo ainda não completamente imerso nas trevas. A justificativa? Não me atrevo a acreditar no que ouvi. Ciúmes? Ambição? Uma mentira da bruxa? Não importa. O resultado foi o mesmo: a escuridão, a traição, e eu sinto o gosto amargo de tudo isso.
A morte não é como dizem, uma passagem para outro plano, mas um estado de espera, um limbo de sensações. Eu fiquei ali, no fundo da caverna, um cadáver impecável, minha carne intacta, mas incapaz de se mover. Eu esperava algo. Um toque, um som, qualquer coisa que me trouxesse de volta. E foi isso que aconteceu.
Ele era apenas um humano, um jovem curioso e, talvez, desajeitado. Tropeçou nas pedras ao explorar minha caverna, cortando a mão ao cair. Uma gota de sangue caiu nos meus lábios, uma fração de segundo antes de ele perceber minha existência. Foi o suficiente. A corrente da vida reacendeu-se em mim como fogo em madeira seca. Meus olhos se abriram, minha fome rugiu. O pobre coitado fugiu antes que eu pudesse alcançá-lo, e, por alguma misericórdia, ou talvez fraqueza minha, o deixei ir, me alimentando apenas de um cervo, que consegui capturar na floresta, mesmo com poucas forças.
Agora, aqui estou eu, revivido, reintegrado ao mundo humano, vivendo entre eles, caminhando pelas ruas iluminadas por neon e vagando pelas mansões de vidro e mármore como se fosse um deles. Minha casa temporária, uma mansão que adquiri com os antigos truques vampíricos de manipulação e hipnose, é grandiosa, mas fria, como um mausoléu moderno. Ela é funcional, protege, disfarça, e me permite planejar.
E, neste momento, meu plano tem um único foco: casar com Luci ou Luciana, não importa o nome, são a mesma pessoa.
Ela vive. Descobri isso após meses de investigação. O tempo não parece ter tocado sua beleza cruel. Ela vive com seus pais, uma família respeitável que acredita que sou apenas um homem bondoso e culto, alguém disposto a ajudar.
E o irônico de tudo isso, é que Lucianna veio como humana, ela não é mais uma vampira, se fosse, eu reconheceria assim que coloquei os olhos nela. Será que ela veio como humana, para pagar pelo que fez? Coitada! É uma mera humana frágil, fraca, que vai sofrer bastante, sentirá as dores desse mundo e morrerá como uma maldita humana.
Ah, como os enganei? Ganhei sua confiança com um jogo cuidadoso. Fui o salvador na hora certa, aparecendo como uma sombra de generosidade quando mais precisavam. Eles me convidaram para jantares, confiando em mim seus problemas e sonhos.
Lucianna, por outro lado, é diferente. Seus olhos parecem me reconhecer às vezes, mas ela nada diz. É como se a vida tivesse apagado qualquer memória de quem fui, ou de quem ainda sou. Ela age com cortesia, mas há algo por trás de suas palavras doces, algo que me faz acreditar que ela não é tão inocente quanto aparenta, ou estou enganado?
O bom, é que agora estou noivo dela. Não porque deseje reviver qualquer tipo de amor, não, o amor é uma tolice da qual me curei séculos atrás. Este noivado é uma armadilha, um palco para minha vingança. Vou destruí-la, como ela me destruiu. Vou usar suas fraquezas contra ela, seus medos e sua vida passada.
Mas a vingança exige paciência e sutileza. Eu me tornei um mestre nisso. Nos jantares de família, sou o genro perfeito. Elogio seus pais, compartilho histórias de viagens fictícias, mostro compaixão. Lucianna me observa, talvez desconfiada, talvez encantada demais, por eu ser um homem muito perfeito. Mas ela nunca me questiona.
É curioso, este jogo de máscaras. Caminhar entre humanos sem que percebam quem realmente sou é quase uma arte. Eles não sabem que o homem de terno impecável e sorriso polido esconde dentes capazes de lhes tirar a vida. Eles não percebem que o brilho nos meus olhos não é paixão, mas um reflexo da eternidade que me cerca.
Por vezes, penso se Lucianna ainda guarda em si aquele mesmo olhar de traição que me derrubou no passado. Por vezes, questiono se minha vingança será tão doce quanto imagino. Mas há algo deliciosamente tentador em jogar este jogo, em me aproximar dela, em fingir que sou apenas um homem apaixonado.
Na noite em que pedi sua mão, seus pais me aplaudiram, radiantes. Lucianna sorriu, seu olhar preso nos meus. Às vezes, eu tinha a vontade de matar os seus pais, e hipnotizá-la para fazer ela confessar tudo o que fez. Mas não importa. A armadilha está montada, e terei tempo para isso.
Ainda me lembro de como minha vingança começou a tomar forma. Quando despertei naquela caverna, minha fome era insaciável, um cervo não foi o suficiente. Por dias, vaguei pelas florestas próximas, caçando pequenos animais para recuperar minhas forças. Quando finalmente cheguei à civilização, percebi que o mundo havia mudado, mas os humanos não. Eles continuam tolos, previsíveis, movidos por desejos tão simples que chegam a ser vergonhosos.
Por isso foi fácil manipular os pais de Lucianna. Uma dívida aqui, um acidente evitado ali. O destino se mostrou generoso ao colocá-los em meu caminho.
Lucianna é minha. Não como esposa, mas como algo muito mais precioso: um inimigo a ser vencido. Quando eu terminar, ela saberá quem eu sou. Saberá que Draven Valerius não é apenas um homem, mas um espectro de sua traição passada, o homem que a amou com todas as forças, o homem que ela matou friamente. Quando esse dia chegar, farei ela reviver tudo que passei, farei ela ver com os próprios olhos a traidora que ela foi.
Minha vida é a mesma rotina e pequenas surpresas. Aos 27 anos, sou professora de História em um colégio particular bem conceituado. Sempre amei o passado e as histórias que ele carrega, talvez porque, de alguma forma, ele pareça mais vivo e tangível para mim do que para outras pessoas. É engraçado como muitos consideram o estudo da História algo tedioso, mas, para mim, ela é fascinante.
Meus alunos não compartilham completamente do meu entusiasmo, mas gosto de desafiá-los. Hoje, por exemplo, estávamos mergulhando em lendas antigas, mitos sobre lobos e vampiros que, segundo alguns estudiosos, têm raízes muito mais profundas do que contos de fogueira. Eles pareciam atentos, ou ao menos fingiam interesse, enquanto eu desenhava no quadro uma linha do tempo de mitologias, e explicava alguns casos mostrados no data show. E eu consegui prender a atenção deles.
Minha vida fora da sala de aula é simples. Amo minha profissão e estou animada porque as férias estão próximas. Terei tempo para relaxar, talvez viajar e organizar meus pensamentos, que têm sido estranhamente tumultuados ultimamente. Parte disso, sem dúvida, tem a ver com ele.
Draven Valerius entrou na minha vida de maneira inesperada. Nos conhecemos há pouco mais de um ano, em uma festa beneficente organizada por meus pais. Ele surgiu como uma figura imponente, mas gentil, com aquele sorriso reservado e uma calma quase perturbadora. Não consigo explicar o que senti ao vê-lo pela primeira vez. Foi como se o mundo ao nosso redor tivesse ficado em silêncio.
É estranho admitir isso, mas sinto como se já o conhecesse de alguma forma, de algum lugar ou tempo distante. Sempre que nossos olhares se encontram, uma sensação de déjà vu me invade. Por vezes, é reconfortante; em outras, é inquietante. Como se houvesse algo que eu deveria lembrar, mas que está enterrado em algum canto esquecido da minha mente.
Ele é atencioso e incrivelmente dedicado aos meus pais. Meu pai, sempre cauteloso com os homens que se aproximam de mim, rapidamente o aceitou. Minha mãe o adora, quase como se o visse como o genro ideal. E eu… bem, me apaixonei. Não sei dizer se foi rápido ou gradual, mas algo nele é irresistível. Há uma profundidade em Draven que me intriga e me prende, mesmo que, às vezes, eu sinta que ele esconde algo.
Mas agora, aqui estou, no meio da sala de aula, contando histórias para meus alunos.
— A lenda dos vampiros e lobos remonta há tempos imemoriais — comecei, com minha voz ecoando pelo ambiente. A sala estava repleta de murais sobre períodos históricos, mapas antigos e estantes cheias de livros que davam à sala uma atmosfera acolhedora e quase mística. — Alguns acreditam que os vampiros e lobos sempre foram inimigos naturais, enquanto outros dizem que eles partilham uma origem comum. Em certas culturas, o vampiro era um espírito guardião que se transformava em lobo para proteger seu território.
Um aluno levantou a mão.
— Mas vampiros são reais, professora?
Sorri, ajeitando os óculos no rosto.
— São lendas, mas lendas muitas vezes têm um fundo de verdade. Talvez os vampiros, como os conhecemos, sejam apenas a interpretação exagerada de algo que realmente existiu.
— Então eles poderiam existir? — outro aluno perguntou, com olhos brilhando de curiosidade.
— Talvez — respondi, misteriosa, enquanto desenhava no quadro a silhueta de um lobo e de um homem. — O que importa não é se eles existem, mas o que as histórias deles nos dizem sobre quem somos.
A conversa continuou até o toque do sinal. A campainha anunciou o fim da aula, e os alunos começaram a guardar suas coisas, agradecendo rapidamente antes de saírem. A sala ficou silenciosa novamente. Suspirei, guardando meu material e apagando o quadro, quando percebi alguém entrando.
Era a nova diretora, a senhora Veronique Vahl. Nunca tinha falado diretamente com ela antes. Era uma mulher alta, de postura impecável e olhos tão escuros que quase pareciam negros. Algo nela me deixava inquieta, embora eu não pudesse explicar exatamente o porquê.
— Professora Mellius? — sua voz era baixa, mas autoritária.
— Sim, sou eu — respondi, virando-me para ela enquanto terminava de guardar meus livros na bolsa.
— Eu queria parabenizá-la pelo trabalho que vem fazendo. Tenho ouvido bons relatos sobre suas aulas — ela disse, aproximando-se com passos firmes, suas mãos para trás da costa.
— Ah, obrigada — respondi, um tanto surpresa. — É sempre bom ouvir que o trabalho é apreciado.
Ela parou ao lado de minha mesa, os olhos percorrendo a sala como se analisasse cada detalhe.
— Sei que não tivemos a oportunidade de conversar antes. Meu nome é Veronique Vahl. Cheguei recentemente e estou me familiarizando com a equipe.
— Bem-vinda ao colégio — disse com um sorriso educado. — Espero que esteja se adaptando bem.
— Estou, sim. Mas confesso que sua sala me chamou atenção. Vampiros e lobos, professora? Não é um tema típico para uma aula de História, por mais que o assunto seja divertido de estudar.
Dei um pequeno riso.
— É uma abordagem para engajar os alunos. Tento conectar lendas com períodos históricos para torná-los mais curiosos.
— Interessante… — ela murmurou, mas havia algo no seu tom que me fez sentir como se estivesse sendo avaliada. Seus olhos se fixaram em mim, e por um momento, senti um arrepio.
— Bom, professora Mellius, espero que possamos trabalhar juntas em breve. Parece que temos mais em comum do que você imagina.
— Mais em comum? — perguntei, confusa.
— Ah, não se preocupe. Com o tempo, você entenderá — ela disse, dando-me um sorriso antes de sair da sala.
Fiquei parada por um momento, tentando decifrar o que acabara de acontecer. A diretora era definitivamente uma figura curiosa, e suas palavras deixaram mais perguntas do que respostas.
Sacudi a cabeça, tentando afastar os pensamentos enquanto terminava de guardar minhas coisas. Peguei minha bolsa e saí da sala, caminhando pelos corredores que agora estavam praticamente vazios.
Entrei no meu carro no estacionamento da escola, liguei o motor e comecei o trajeto para casa. Enquanto dirigia, minha mente voltou para Draven e para a diretora Veronique. Duas figuras que pareciam tão diferentes, mas que despertaram em mim o mesmo tipo de inquietação.
O caminho para casa era tranquilo, com ruas arborizadas e poucas pessoas circulando. Quando finalmente estacionei em frente à minha casa, respirei fundo antes de entrar. Precisava de um banho e de um pouco de silêncio para processar os acontecimentos do dia.
alguns dias depois….
Alguns dias se passaram, e agora tudo está em movimento. O casamento — ou, como prefiro pensar, o ato final de uma peça cuidadosamente ensaiada, está cada vez mais próximo. Não há recuo, nem margem para erros. Cada detalhe precisa ser perfeito, assim como minha máscara precisa permanecer intacta diante de todos, especialmente de Luci.
A mansão Mellius está em ritmo. Há floristas entrando e saindo com cestas cheias de rosas-brancas e vermelhas; decoradores ajustam os tecidos de seda que enfeitarão o salão de recepção; e o som de músicos afinando seus instrumentos ecoa ao longe. É um espetáculo, um retrato do luxo que a família Mellius tanto preza, e, ao mesmo tempo, um palco para a minha vingança.
A cada passo que dou pelos corredores da mansão, vejo reflexos do que será uma cerimônia luxuosa. Não que eu me importe com a grandiosidade, mas ela serve ao propósito. Um casamento assim distrai, enfeitiça os sentidos e dá a ilusão de perfeição.
Enquanto caminho até o salão principal, sou interceptado por Claire Mellius, a mãe de Luci. Ela está radiante, como sempre, e sua preocupação com cada mínimo detalhe é quase admirável.
— Draven, querido, você viu os arranjos da entrada? Tenho certeza de que o dourado é muito mais elegante do que o prateado, mas o decorador insiste no contrário, e já Luci optou pelo dourado, mas eu quis perguntar a você também.
— Concordo com você, minha sogra. O dourado combina perfeitamente com a sofisticação da família Mellius — respondo, sorrindo com a mesma cordialidade que ela espera de mim.
— Sabia que você concordaria! Sempre tão atencioso… — Claire suspira aliviada, e volta a coordenar os preparativos.
A cada conversa com ela, me lembro do quanto foi fácil ganhar sua confiança. Ela é tão idiota. Claire Mellius enxerga em mim o genro ideal, o protetor que sempre quis para a filha. Irônico, considerando o que planejo.
Já o pai de Luci, Edward Mellius, é uma figura mais reservada, mas igualmente manipulável. Ele valoriza ações mais do que palavras, e foi isso que usei contra ele. Ajudar em uma negociação complicada aqui, resolver um problema financeiro da sua empresa ali, e pronto: conquistei sua aprovação.
Mas minha mente está sempre em Luci.
Há algo nela que me puxa para o passado. Sua presença parece acender memórias que, por mais que eu tente sufocar, ainda queimam. A maneira como seus olhos se perdem em pensamentos, como se ela estivesse tentando decifrar algo sobre mim, é desconcertante. Não deveria ser assim. Sou o caçador, o mestre do jogo, e ela, a presa. Mas Luci Mellius tem uma presença que perturba minha precisão. Tentei várias vezes ler seus pensamentos, mas não consigo, é estranho. Nesse caso, ela terá que ceder algum dia, terá que me permitir entrar em seus pensamentos.
Esta manhã, enquanto discutíamos os convites de casamento, ela me olhou de uma forma que me fez hesitar por um instante. Foi apenas um segundo, mas foi suficiente para me lembrar de quem ela é. Ou melhor, de quem foi.
— Draven, você está bem? — ela perguntou, sua voz doce carregando uma preocupação genuína.
— Estou. Apenas pensando em como quero que tudo seja perfeito para você, minha bela — menti, com um sorriso que ela aceitou sem questionar.
— Você é perfeito, até pensando — disse me fazendo lembrar daquela época, na qual ela também usou a mesma palavra nas vésperas do nosso casamento. A raiva cresceu em mim, mas disfarcei.
Os convites são um exemplo do perfeccionismo de Luci. Ela insistiu em papel feito à mão, com caligrafia artesanal e lacres de cera dourada com o brasão da família Mellius. É um detalhe minucioso, mas um que reflete quem ela é: uma mulher que busca significado em cada pequeno gesto, como a Lucianna da vida passada.
Enquanto Luci discute com os fornecedores no salão, aproveito para observar cada movimento dela. Sua voz é firme, mas sua postura demonstra um leve nervosismo. Um casamento arranjado não é o sonho de toda jovem, mas ela parece genuinamente empenhada em fazer tudo funcionar.
No entanto, Luci não tem ideia de que este casamento é apenas um passo em meu plano. Ela não sabe que cada sorriso meu, cada palavra gentil, é parte de um jogo, de um pesadelo. Ainda assim, há momentos em que me pergunto se deveria hesitar, se há algo a ser salvo nessa ligação que, de alguma forma, transcende o tempo.
Volto para a biblioteca da mansão, onde alguns dos papéis do casamento estão organizados. O lugar é uma obra de arte: prateleiras altas cheias de livros antigos, poltronas de couro e uma lareira imponente. Aqui, posso pensar um pouco.
Claire entra sem bater, interrompendo meus pensamentos.
— Draven, querido, esqueci de perguntar sobre as lembrancinhas! Luci mencionou algo sobre caixas de cristal, mas não sei se teremos tempo para isso.
— Deixe comigo, Claire. Vou garantir que sejam entregues a tempo. Luci merece que tudo seja perfeito — digo, mais uma vez usando minha máscara de noivo dedicado.
— Oh querido, obrigada mais uma vez!
Depois que Claire sai, pego um livro da prateleira e começo a folhear sem realmente ler. Minhas mãos param em uma página sobre tradições de casamento antigas. É irônico pensar em como esses rituais simbolizam união, confiança e amor, coisas que, neste caso, não existem.
Em um piscar de olhos, fiz o livro pegar fogo e sumir. Eu não tinha esses poderes antes, agora tenho, e é mais forte quanto meu ódio e sede de vingança.
A noite cai, e volto para minha própria mansão, após resolver o assunto das caixinhas de cristal. O silêncio me recebe como um velho amigo, dando-me tempo para refletir. Minha mansão é um contraste absoluto com a casa dos Mellius. Aqui, tudo é funcional, sem ornamentos desnecessários. Uma fortaleza disfarçada de lar.
Enquanto sirvo uma taça de vinho (um hábito que mantenho para parecer mais humano), penso nos dias que virão. O casamento será a culminação de meses de planejamento. Depois disso, Luci estará completamente sob meu controle.
Mas e se ela se lembrar? E se, de alguma forma, as memórias de sua vida passada voltarem? Seria bom atormentá-la com esse castigo, até que ela me peça para parar e se ajoelhe diante de mim, me pedindo misericórdia pela sua vidinha de merda.
Minha atenção volta para os convites que trouxe comigo da biblioteca. Folheio cada um, verificando os nomes e as confirmações. Há algo estranhamente simbólico em cada nome inscrito ali. Cada pessoa que testemunhará o casamento também será, sem saber, uma testemunha da minha vitória.
Mas mesmo enquanto escrevo essas palavras em minha mente, algo dentro de mim se contorce. Não é dúvida, nem remorso, mas uma espécie de inquietação que não consigo definir. É Luci. É o jeito como ela sorri, como confia em mim sem reservas. E como ela tem o cinismo de viver tão bem e feliz, enquanto eu estava confinado naquela maldita caverna, por longos séculos.
Vingança não deveria ser tão fácil?
Enquanto olho para a noite através da janela, uma lua cheia ilumina a paisagem. O casamento está se aproximando, e o tempo está a meu favor. Mas, no fundo, sei que as coisas nunca são tão simples quanto parecem.
Eu sou um vampiro milenar que já viu séculos de traições, guerras e mortes. E, mesmo assim, há algo em Luci Mellius que me inquieta.
Mas não por muito tempo.
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