𝙰𝚟𝚒𝚜𝚘 𝚊𝚘 𝙻𝚎𝚒𝚝𝚘𝚛:
𝙾𝚕á! É 𝚞𝚖 𝚙𝚛𝚊𝚣𝚎𝚛 𝚝𝚎𝚛 𝚟𝚘𝚌𝚎 𝚊𝚚𝚞𝚒. 𝙳𝚎𝚜𝚍𝚎 𝚓𝚊, 𝚐𝚘𝚜𝚝𝚊𝚛𝚒𝚊 𝚍𝚎 𝚊𝚟𝚒𝚜𝚊𝚛 𝚚𝚞𝚎 𝚎𝚜𝚝𝚎 𝚕𝚒𝚟𝚛𝚘 𝚊𝚋𝚘𝚛𝚍𝚊 𝚝𝚎𝚖𝚊𝚜 𝚜𝚎𝚗𝚜𝚒𝚟𝚎𝚒𝚜, 𝚒𝚗𝚌𝚕𝚞𝚒𝚗𝚍𝚘: 𝚜𝚎𝚡𝚘 𝚎𝚡𝚙𝚕𝚒𝚌𝚒𝚝𝚘, 𝚞𝚜𝚘 𝚍𝚎 𝚍𝚛𝚘𝚐𝚊𝚜, 𝚌𝚘𝚗𝚜𝚞𝚖𝚘 𝚍𝚎 𝚋𝚎𝚋𝚒𝚍𝚊𝚜 𝚊𝚕𝚌𝚘𝚘𝚕𝚒𝚌𝚊𝚜, 𝚌𝚛𝚒𝚖𝚎𝚜, 𝚕𝚒𝚗𝚐𝚞𝚊𝚐𝚎𝚖 𝚍𝚎 𝚋𝚊𝚒𝚡𝚘 𝚌𝚊𝚕𝚊𝚘 𝚎 𝚙𝚒𝚊𝚍𝚊𝚜 𝚍𝚎 𝚌𝚞𝚗𝚑𝚘 𝚜𝚎𝚡𝚞𝚊𝚕.
𝚃𝚊𝚖𝚋𝚎𝚖 𝚚𝚞𝚎𝚛𝚘 𝚍𝚎𝚒𝚡𝚊𝚛 𝚌𝚕𝚊𝚛𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚝𝚘𝚍𝚘𝚜 𝚘𝚜 𝚗𝚘𝚖𝚎𝚜, 𝚎𝚗𝚍𝚎𝚛𝚎ç𝚘𝚜 𝚎 𝚜𝚒𝚝𝚞𝚊ç𝚘𝚎𝚜 𝚙𝚛𝚎𝚜𝚎𝚗𝚝𝚎𝚜 𝚗𝚊 𝚑𝚒𝚜𝚝𝚘𝚛𝚒𝚊 𝚜𝚊𝚘 𝚏𝚛𝚞𝚝𝚘 𝚍𝚊 𝚖𝚒𝚗𝚑𝚊 𝚒𝚖𝚊𝚐𝚒𝚗𝚊ç𝚊𝚘. 𝚀𝚞𝚊𝚕𝚚𝚞𝚎𝚛 𝚜𝚎𝚖𝚎𝚕𝚑𝚊𝚗ç𝚊 𝚌𝚘𝚖 𝚊 𝚛𝚎𝚊𝚕𝚒𝚍𝚊𝚍𝚎 𝚎 𝚖𝚎𝚛𝚊 𝚌𝚘𝚒𝚗𝚌𝚒𝚍𝚎𝚗𝚌𝚒𝚊.
𝚂𝚎𝚓𝚊𝚖 𝚖𝚞𝚒𝚝𝚘 𝚋𝚎𝚖-𝚟𝚒𝚗𝚍𝚘𝚜 𝚊 𝚎𝚜𝚜𝚊 𝚓𝚘𝚛𝚗𝚊𝚍𝚊 𝚕𝚒𝚝𝚎𝚛𝚊𝚛𝚒𝚊 𝚎 𝚊𝚙𝚛𝚘𝚟𝚎𝚒𝚝𝚎𝚖 𝚊 𝚕𝚎𝚒𝚝𝚞𝚛𝚊. 𝙽𝚘𝚜 𝚟𝚎𝚖𝚘𝚜 𝚗𝚘𝚜 𝚊𝚐𝚛𝚊𝚍𝚎𝚌𝚒𝚖𝚎𝚗𝚝𝚘𝚜!
...*coloque aqui a data que você começou a ler*...
...𓇢𓆸...
...Amanda Reis...
...Antony Portela...
...
24 de abril
— Parabéns pra você, nessa data querida...
Não é que eu não gostasse de aniversários, mas estar atrás de uma mesa, com todo mundo cantando “Parabéns pra Você”, me obrigava a usar aquela cara de sem graça. Não tinha como fugir disso.
Era meu aniversário de 37 anos, e eu tinha acabado de chegar do trabalho. A festa, supostamente surpresa, foi arruinada pelo monte de carros estacionados em frente à minha casa, algo impossível de ignorar. Mesmo assim, fingi que não tinha notado e entrei, interpretando bem o papel de surpreendido.
— Meu filho, você é como vinho: quanto mais velho, melhor. — Mamãe disse com um sorriso orgulhoso, me puxando para abaixar e beijar minha bochecha.
— Obrigado, mamãe.
— Feliz aniversário, Tony. — Minha irmã Larissa me abraçou apertado.
— Obrigado, Larissa. E como está esse rapazinho? — Toquei a barriga de sete meses dela com cuidado.
— Chutando muito, cada dia mais forte.
Os cumprimentos continuaram. Até meu irmão mais velho, Roger, veio de Campinas para o meu aniversário. Ele é caminhoneiro, dois anos mais velho que eu, casado com a Sabrina e pai do Samuel. A casa estava cheia, como sempre acontece em ocasiões como essa.
Peguei uma latinha de cerveja e me sentei ao lado da piscina. Não a usava com frequência, mas fazia questão de mantê-la limpa. Enquanto observava o reflexo das luzes na água, senti um tapinha no ombro. Era David, meu parceiro de trabalho. Ele já tinha trocado o uniforme por roupas casuais e parecia confortável no ambiente.
— Você sabia? — perguntei, rindo, mas incrédulo. — Cara, você não me contou nada!
— Sua mãe me mataria se eu contasse. Mas, pelo jeito, não foi exatamente uma surpresa, né?
— Não mesmo. — Ri, levando a latinha à boca.
Conforme as horas passaram, o ambiente ficou mais descontraído. Eu me limitei a duas latinhas, consciente de que meu trabalho é imprevisível, mesmo sem ter plantão no dia seguinte. David, por outro lado, não economizou.
— Nada como piscina, mulher bonita e uma Amstel gelada. — Ele declarou, erguendo a latinha como se brindasse com o universo.
A essa altura, minha mãe já tinha se recolhido, deixando na área externa apenas eu, David, Roger, Sabrina e algumas primas. Peguei um pedaço de queijo e mastiguei devagar, tentando amenizar o gosto da cerveja na boca.
Sou um homem reservado. Meu trabalho exige isso de mim. Lido com bandidos todos os dias e, por isso, proteger minha família sempre foi a prioridade. Mesmo em momentos de descontração como esse, nunca desligo completamente. Afinal, o mundo lá fora não para, e meu dever nunca tira férias.
.........
24 de abril
Eu amava meu aniversário. Sempre amei. Mas, esse ano, algo parecia diferente. Era meu aniversário de 27 anos, e minha família fez questão de reservar a mesa mais cara do restaurante mais luxuoso de São Paulo para celebrar. Meu pai, juiz respeitado, e minha mãe, uma engenheira renomada, estavam radiantes. Já Gael, meu noivo, um advogado brilhante, parecia tudo menos o parceiro ideal.
Tínhamos brigado antes de sair de casa, e o sorriso que antes surgia naturalmente nos meus aniversários agora era apenas fachada. Os presentes caros, os elogios exagerados, as palavras bonitas... tudo me irritava profundamente. Mas eu precisava manter as aparências.
— E como presente para a melhor noiva do mundo, o amor da minha vida, a minha princesa, eu não poderia deixar de dar algo à altura — anunciou Gael, puxando minha cintura e depositando um beijo calculado na minha têmpora.
Ele me entregou uma pequena caixinha, e eu abri, revelando um colar de diamantes que provavelmente custava milhões. Uma peça deslumbrante, sem dúvida, mas absolutamente impraticável. Nunca usaria algo assim nas ruas de São Paulo. Sabia que aquele presente não era para mim, e sim para alimentar o ego e o status dele.
— Você é um homem incrível, Gael — minha mãe comentou, admirada. — Agora possem para a foto, vai!
O fotógrafo contratado apontou a câmera para nós, e o flash iluminou o ambiente. Gael apertou minha cintura com força, aquele gesto possessivo que já não me fazia sentir segura, mas sim sufocada. Assim que a foto foi tirada, me afastei, fingindo normalidade, e me sentei novamente.
Ele se acomodou ao meu lado, com aquele sorriso ensaiado, enquanto eu encarava meu prato, sentindo o peso de um futuro que não parecia mais tão brilhante quanto aquele colar.
Algumas horas depois, estávamos no carro, mas o caminho não levava à nossa casa. Não, nem mesmo se ele estivesse pegando um atalho aquele era o trajeto certo. Meu coração começou a bater mais rápido, como se tentasse me alertar de algo que minha mente ainda não conseguia processar.
— Pra onde estamos indo? — perguntei, tentando manter a voz firme, mas sentindo o coração vacilar.
— Para minha casa em Cunha — respondeu, seco.
Minha casa. A casa que compramos juntos, ele agora chamava apenas de "minha casa". Minhas têmporas latejavam, e o salto que eu usava parecia uma tortura.
— Eu não quero ir. Quero ir pra casa — insisti, a voz carregada de exaustão e um fio de desespero.
— Estamos indo pra casa, Amanda — ele retrucou, impaciente.
— Não. Por favor, Gael, vamos voltar.
— Cala a boca! — ele gritou, socando o volante com força. — Vamos pra Cunha, e ponto final. Agora fica quieta aí.
Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, quentes e incontroláveis. Me encolhi no banco, o corpo tenso, os punhos cerrados para não ceder ao pânico. Pelo retrovisor, notei um carro atrás de nós. Não era comum haver trânsito naquela estrada àquela hora da noite, mas minha mente estava tão tomada pela raiva e pela confusão que não consegui prestar muita atenção.
Duas horas depois, o carro parou diante da nossa casa em Cunha. Ele saiu primeiro, batendo a porta com força, enquanto eu ainda tentava processar a situação. Assim que destravei o cinto, Gael abriu a porta do meu lado, me puxando com brutalidade.
— Gael, calma! — protestei, mas ele não deu ouvidos.
No movimento brusco, minha bolsa caiu no chão, espalhando alguns itens. Tentei recolher o que pude, mas ele me puxou antes que eu conseguisse pegar tudo. Segurei o celular e os cartões com mãos trêmulas, sentindo que, mais do que nunca, precisava de um plano. E rápido.
.........
Obs: já começamos pelo fato de os dois fazer aniversário no mesmo dia né kkk
Estacionei meu carro em uma das vagas do estacionamento da delegacia. Saí, acionando o alarme e ajustando os óculos escuros no rosto. Passei pela entrada reservada para policiais, onde não precisávamos deixar aparelhos eletrônicos que travassem a porta. Essa entrada especial era essencial devido ao porte de armas.
Cumprimentei os colegas no caminho e subi as largas escadas que levavam ao segundo andar. O elevador estava ali, mas, convenhamos, não era a melhor opção para um policial que precisa estar sempre em forma.
— Bom dia, bom dia, meninas. — Entrei na sala onde Rhiana e Bruna escreviam na lousa as tarefas do dia.
— Bom dia, Antony — responderam em uníssono, sem tirar os olhos do quadro.
— O que temos para hoje? — David perguntou ao entrar na sala logo atrás de mim.
— Muito trabalho. — Rhiana apontou para a lousa. — Temos uma vistoria nesse local aqui e, depois, cada dupla vai patrulhar em uma viatura.
— Tá, mas e... — comecei a falar, mas o delegado entrou na sala e cortou a conversa.
— Mudança de planos. — Ele anunciou, ligando o projetor, enquanto Marlyn conectava um pen-drive ao notebook.
— Mas chefe... — Rhiana tentou questionar, mas ele ergueu a mão, pedindo silêncio.
Logo, a imagem de um casal apareceu projetada na parede. O homem era alto, magro, com traços familiares. Ao lado dele, uma mulher extremamente bonita, com um sorriso forçado que parecia tão falso quanto uma nota de trinta reais.Já tinha visto eles em algum lugar antes. Ah, claro, ele e ela são amigos de David.
— Esses são Gael e Amanda Levistons — começou o delegado. — Desapareceram na noite de anteontem. Era aniversário de Amanda, e o casal jantou em um restaurante caro antes de saírem, supostamente, para casa. Porém, não chegaram lá. Amanda é filha do juiz Sérgio Reis, e Gael, filho do empresário Arnaldo Levistons. Precisamos agir rápido.
— misericórdia. – David murmurou.
— Sequestro? — Bruna levantou a hipótese.
— Tudo indica que sim — confirmou o delegado, com firmeza. — Vamos começar investigando a partir do ponto A. Uma equipe irá para a casa dos noivos, outra para o restaurante, e outra ficará aqui rastreando as câmeras de segurança.
A sala ficou em silêncio por um momento enquanto assimilávamos a gravidade do caso. Eu não sabia por que, mas algo me dizia que essa investigação seria mais complicada do que parecia.
Fechei a porta da viatura e me acomodei atrás do volante. Eu, David e a equipe da perícia iríamos até a casa onde o casal morava, em busca de qualquer pista que pudesse nos levar até eles. O silêncio inicial foi quebrado por David, que parecia refletir sobre algo.
— Cara, eles estavam passando por umas broncas — comentou, olhando pela janela.
— Que tipo de broncas? — perguntei, mantendo os olhos na estrada.
— Gael não sabe valorizar a mulher que tem. Eles brigavam muito. Nem dei as caras no aniversário dela, que foi no mesmo dia do seu, porque ouvi dizer que tinham discutido feio. Soube disso porque o assunto rolou no nosso grupo de farra.
— Mas eles não são noivos? — questionei, franzindo a testa.
— São. Mas, você sabe, nem todo homem sabe respeitar a mulher que tem — David respondeu com um tom sério, quase frustrado.
Chegamos à casa e, logo na entrada, encontramos os pais dela. Estavam arrasados, com expressões de desespero que deixavam claro o quanto estavam sofrendo. Após breves palavras e algumas perguntas, começamos a trabalhar.
Enquanto a perícia cuidava das áreas comuns, subi até o quarto do casal. O lugar tinha um ar de organização que parecia quase frio, moderno. Examinei os porta-retratos dispostos em uma estante, cada foto mostrando momentos aparentemente felizes. Mas, com o que David havia dito, comecei a me perguntar quantas dessas memórias eram genuínas.
Abri gavetas e explorei o closet, onde a maioria das roupas eram femininas. Saltos, vestidos impecavelmente organizados e bolsas de grife enchiam o espaço. O que chamou minha atenção, no entanto, foi a ausência de alguns itens masculinos, como se algo tivesse sido retirado às pressas.
Eu não sabia exatamente o que procurava, mas uma sensação incômoda me dizia que essa casa escondia mais do que aparentava.
— Detetive? — uma voz feminina me chamou.
— Sim, Michele? — respondi, me aproximando da perita.
— Olha isso — disse, entregando-me alguns papéis. — São documentos de uma propriedade em uma cidade vizinha.
Peguei os documentos e os analisei com atenção.
— Ele tem várias casas espalhadas pelo Brasil. É um empresário do ramo imobiliário — comentei, folheando as páginas.
Antes que pudesse processar melhor as informações, o rádio no meu cinto guinchou.
— Antony, QAP? — a voz de Rafael, outro policial, ecoou pelo canal.
— QAP, Rafael. Pode falar.
— Descobrimos que o casal possui uma casa em Cunha. Parece que costumavam ir para lá nos finais de semana.
— QSL — confirmei, encerrando a comunicação.
Com os documentos em mãos, desci as escadas rapidamente. Encontrei David no andar de baixo, conversando com os pais de Amanda, que pareciam cada vez mais angustiados. Fiz um gesto chamando-o para vir até mim.
— Sabe onde fica exatamente a casa em Cunha? — perguntei em tom direto.
— Sei. Fica a umas três horas daqui.
— Então vamos. Não podemos perder tempo. — Apressado, caminhei em direção à viatura, enquanto David me seguia.
— Alguma viatura no QAP? — a voz feminina ecoou pelo rádio, com urgência. — Todas as viaturas disponíveis, sigam para Cunha. O último trajeto registrado do carro do casal indica que seguiram pela BR na direção da casa deles.
Peguei o rádio rapidamente enquanto acelerava.
— QTI, a caminho — respondi, apertando o volante com mais força e pisando fundo no acelerador.
.........
Tradução de Códigos Policiais:
QAP: Significa "na escuta" ou "pronto para receber mensagens".
QSL: Indica "entendido" ou "compreendido".
QTI: Quer dizer "a caminho" ou "em deslocamento para o destino indicado".
Acordei sentindo minha cabeça latejar. Onde eu estava? Pisquei algumas vezes, tentando ajustar minha visão ao ambiente ao meu redor. O chão molhado pela chuva estava frio contra a minha pele, e o som dos pássaros ecoava de forma quase assustadora na vastidão daquela mata.
Sentei-me devagar, sentindo meu corpo pesado e trêmulo. Foi então que vi a arma ao meu lado, reluzindo sob a luz fraca que escapava das nuvens carregadas. Meu coração disparou, o medo se instalando. Abracei o próprio corpo em busca de conforto, mas tudo o que senti foi o tecido úmido e frio contra minha pele.
Olhei para o céu, agora ameaçando mais chuva, e senti uma lágrima quente escorrer pelo meu rosto. O que tinha acontecido? Por que eu estava ali?
Levantei-me trêmula, dando um passo em falso. Meu pé tropeçou em algo e, antes que pudesse me equilibrar, caí de joelhos no chão. Olhei para trás, assustada, e vi... um corpo.
Meu coração parou. Era Gael.
Um grito silencioso ficou preso na minha garganta. Levei as mãos à boca, horrorizada, tentando processar o que via. Meu estômago revirou, e o pânico tomou conta de mim.
Eu... eu fiz isso? Olhei para a arma novamente. Ela estava ali, ao meu lado. Meus dedos tremiam só de pensar em tocá-la.
Levantei-me às pressas, tropeçando em meus próprios pés enquanto me afastava do corpo. Minha respiração estava descompassada, meus pulmões pareciam não conseguir absorver ar suficiente. Comecei a caminhar sem direção, a vasta floresta à minha frente parecendo um labirinto sem saída.
O som da chuva se intensificava, e o vento fazia as árvores balançarem de forma ameaçadora. Meu coração martelava no peito enquanto sentia o desespero me consumir. Então, esbarrei em alguém.
— Ei! Tome cuidado! — a voz feminina foi firme, mas carregava uma preocupação evidente. Seus olhos me examinaram rapidamente, e sua expressão mudou para alarme. — Você está bem? Precisa de ajuda?
Recuei, assustada, me esquivando de seu toque. Não podia confiar em ninguém. Não sabia o que tinha acontecido, mas sabia que algo estava muito, muito errado.
Sem responder, virei e comecei a correr. As lágrimas agora desciam em torrentes, misturando-se com a chuva que começava a cair com força. Minha visão ficava turva, minha cabeça girava.
O céu escurecia rapidamente, mas não era só isso. Tudo ao meu redor parecia se apagar. Minhas pernas fraquejaram, e o mundo à minha volta foi se tornando um borrão até que a escuridão tomou conta de mim.
.........
— Atenção, todas as viaturas. — A voz feminina soou clara no rádio, com um tom de urgência. — Recebemos uma ligação de Cunha. Uma mulher foi vista andando desnorteada pela estrada. Descrições: cabelos castanhos, baixa, pele clara, mas estava suja de barro, vestindo um vestido vermelho e descalça.
A mensagem ecoou dentro da viatura, e meu coração acelerou. Olhei para David ao meu lado, que apenas assentiu, já entendendo o que precisávamos fazer.
— Pode ser ela. — murmurei, engatando a marcha e pisando fundo no acelerador.
— Se for, temos que chegar rápido. Com a chuva e o vento forte, ela pode estar em perigo. — David ajustou o cinto, seu olhar fixo na estrada à frente.
A chuva, que antes era apenas uma garoa leve, começava a ganhar força. O vento balançava as árvores, e as folhas rodopiavam pelo asfalto molhado. As condições estavam se tornando cada vez mais complicadas, mas isso não diminuiu minha determinação.
— Estamos a quanto tempo de distância? — perguntei, mantendo os olhos na estrada enquanto ultrapassava um caminhão.
— Quarenta e cinco minutos, talvez menos se continuar assim. — David olhou o GPS rapidamente antes de voltar a atenção para o rádio, que continuava a transmitir atualizações.
O silêncio dentro da viatura era tenso. A cada quilômetro percorrido, minha mente tentava montar as peças do quebra-cabeça. Amanda estava desaparecida, e agora tínhamos uma pista concreta. Mas o que a tinha levado a essa situação? E onde estava Gael?
— Se ela está andando pela estrada... — David começou, mas parou, deixando a frase no ar.
— Pode estar fugindo de alguma coisa. Ou de alguém. — completei, apertando o volante com mais força.
O clima pesado parecia refletir a urgência da situação. Cada minuto contava. E, no fundo, eu só tinha uma certeza: encontrar Amanda era apenas o começo de algo muito maior.
O barulho das sirenes se misturava ao som da chuva que agora caía com força. Assim que chegamos ao local indicado, várias viaturas já estavam estacionadas ao longo da estrada de terra que levava à casa do casal em Cunha. Policiais vestindo capas de chuva andavam de um lado para o outro, lanternas iluminando o chão enlameado e as árvores ao redor.
Estacionei a viatura e saí rapidamente, sentindo o vento gelado bater no rosto. David fez o mesmo, ajustando o capuz do casaco enquanto olhava ao redor.
— Detetive Antony, vocês demoraram! — Um dos policiais se aproximou, falando alto para superar o som da chuva. — Encontramos o carro deles, mas ainda não há sinal de Amanda ou Gael.
— Onde está o carro? — perguntei, tentando ignorar o frio que começava a se infiltrar pela roupa.
— Lá, na entrada da propriedade. — Ele apontou para um sedã preto estacionado de qualquer jeito, com uma das portas ligeiramente aberta.
Caminhamos até o veículo, a chuva tornando o percurso ainda mais difícil. O carro estava claramente abandonado, com marcas de pneus indicando uma freada brusca. David abriu a porta do motorista e examinou o interior com cuidado.
— Não há sinais de luta aqui dentro, mas também não há pertences. — Ele olhou para mim. — Nenhuma bolsa, nenhum celular... Nada.
Olhei ao redor, tentando entender o que poderia ter acontecido. A casa ficava a poucos metros dali, imponente no meio do nada, mas com um ar sofisticado sob o céu cinzento.
— Já verificaram a casa? — perguntei ao mesmo policial que nos recebeu.
— Sim, senhor. As portas estavam destrancadas, mas ninguém foi encontrado lá dentro. Os peritos estão vasculhando o local agora.
— Vamos dar uma olhada. — Falei, acenando para David me seguir.
Caminhamos até a casa, passando por policiais que seguravam lanternas enquanto verificavam a área ao redor. Assim que entramos, a sensação de abandono ficou ainda mais evidente. O silêncio era quase ensurdecedor, interrompido apenas pelo som da chuva batendo nas janelas.
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