O avião tocou suavemente a pista de aterrissagem do Aeroporto Internacional de São Paulo, e Laila olhou pela janela, os olhos fixos na terra distante. A sensação de estar finalmente em segurança era ao mesmo tempo reconfortante e amarga. Ela havia deixado para trás a Síria, seu lar destruído pela guerra. As lembranças da explosão que matou seus pais ainda estavam vívidas em sua mente, assim como a dor de perder tudo o que ela conhecia. Mas, ao olhar para o céu brasileiro, ela sabia que estava prestes a começar uma nova vida.
Rami, seu irmão mais novo, estava ao seu lado, ainda assustado, olhando para as pessoas que passavam apressadas pelo terminal. Eles eram estrangeiros em um país desconhecido, mas não havia mais tempo para hesitar. Eles haviam fugido da guerra, e agora, precisavam se adaptar à realidade de um novo lar, cheio de oportunidades, mas também de desafios.
Enquanto pegavam suas malas e passavam pela imigração, Laila pensava no futuro. O que aconteceria agora? Seriam bem recebidos? O medo de não se encaixar, de ser rejeitada por ser diferente, estava ali, mas ela precisava ser forte, não só por ela, mas também por Rami, que dependia dela para tudo.
No caminho até a saída, Laila viu um homem que parecia estar à procura de alguém. Ele estava olhando em volta com um ar preocupado. Quando seus olhos se cruzaram, Laila sentiu uma sensação estranha, como se algo estivesse prestes a mudar.
O homem se aproximou com um sorriso amigável, mas cauteloso. "Laila?", ele perguntou, sua voz baixa, mas firme.
Laila sentiu seu coração acelerar. "Sim, sou eu", respondeu, tentando esconder a surpresa. Ela não esperava ser recebida por alguém tão logo, mas naquele momento, tudo parecia possível. O homem estendeu a mão e se apresentou. "Sou Jamil. Um amigo de sua família. Estou aqui para ajudá-los."
Laila e Rami seguiram Jamil até o carro, o silêncio confortável entre os três, mas repleto de perguntas não ditas. O Brasil era grande, e o futuro, incerto.
Ao chegarem à casa que Jamil havia arranjado para eles, Laila se sentou na cama, olhando as ruas movimentadas lá fora. Pensava na vida que havia deixado para trás, nos amigos, na família, no som da língua árabe, e sentia um vazio imenso. Mas ela sabia que não podia se permitir desmoronar. Ela havia sobrevivido à guerra, e agora precisava sobreviver à solidão.
No dia seguinte, Laila e Rami começaram a se adaptar ao novo lugar. Jamil se mostrou prestativo, ajudando-os a encontrar comida, roupas e se acostumar com a nova cidade. Mas havia algo diferente nele. Algo que Laila não conseguia identificar. Quando ele falava sobre a vida no Brasil, seus olhos ficavam distantes, como se tivesse um segredo que não queria revelar.
Laila não sabia, mas esse segredo começaria a afetar a todos eles. O destino, que os unira de forma inesperada, os levaria a enfrentar muitos desafios juntos, onde o amor e a luta pela sobrevivência se misturariam de formas inesperadas.
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O sol da manhã brilhava forte sobre São Paulo, iluminando as ruas movimentadas e o caos típico da cidade. Laila estava na cozinha, preparando o café enquanto Rami se sentava à mesa, brincando com os poucos brinquedos que trouxe da Síria. Ele parecia alheio ao novo ambiente, perdido em seu próprio mundo. Laila sorria para ele, tentando manter a calma, mas dentro de si sentia uma mistura de ansiedade e tristeza. Tudo parecia tão diferente.
Na noite anterior, depois de chegarem à casa, Jamil os havia deixado sozinhos, prometendo voltar no dia seguinte para ajudá-los a se instalar. Ele mencionou rapidamente que tinha compromissos, mas que ficaria à disposição sempre que precisassem. Laila sabia que ele estava sendo gentil, mas algo em seu jeito de agir lhe causava uma sensação desconfortável, como se houvesse algo que ele não estava dizendo.
Enquanto preparava o café, Laila tentava se concentrar nas tarefas cotidianas. Ela sabia que precisava de um emprego, algo para começar a se estabelecer, mas o idioma era uma barreira. A saudade de sua terra, da família, dos amigos que deixara para trás, pesava em seu coração. Ela se perguntava o que aconteceria com ela e Rami. Como seria a vida deles no Brasil? O que encontrariam em um país tão distante e diferente?
Foi quando a porta da sala se abriu, e Jamil entrou com um sorriso caloroso, como sempre. Ele estava vestido de forma simples, mas elegante, e sua postura trazia uma confiança tranquila.
"Bom dia, Laila. Como estão as coisas?" Ele perguntou, se aproximando da mesa onde Rami estava sentado.
"Bom dia, Jamil", Laila respondeu, tentando esconder a apreensão em sua voz. "Estamos nos adaptando. Mas ainda é tudo muito novo para nós."
Jamil assentiu, compreensivo. "Sei como é difícil começar do zero. Mas vocês estão em um lugar seguro agora. Acredite, as coisas vão melhorar."
Laila olhou para ele, notando a sinceridade em seus olhos, mas algo ainda a inquietava. Ela não conseguia entender o porquê. Havia algo em Jamil que ela não conseguia decifrar.
"Eu trouxe algumas roupas e alguns alimentos para vocês. Além disso, encontrei um trabalho para você, Laila", ele disse com um sorriso. "Uma loja de tecidos precisa de ajuda. Eles estão procurando alguém para organizar e limpar. Eu falei com o dono e ele me disse que vai pagar bem. Se você se sentir confortável, pode começar amanhã."
Laila ficou surpresa. "Eu... eu não sei o que dizer, Jamil. Eu não esperava..."
"Não precisa agradecer. Estamos todos aqui para ajudar uns aos outros", respondeu Jamil, sorrindo de maneira calorosa, mas seus olhos pareciam esconder algo.
Após o almoço, Laila e Rami saíram para dar uma volta no bairro. O calor era intenso, mas as ruas estavam cheias de pessoas, e a mistura de sons, línguas e cheiros lhe dava uma sensação de que ela estava em um lugar estranho, mas ao mesmo tempo acolhedor. Ela olhava para as crianças brincando na rua, para os vendedores ambulantes oferecendo suas mercadorias e se perguntava se um dia ela seria capaz de se sentir parte de tudo aquilo.
"Você acha que vai dar certo, Laila?" Rami perguntou, segurando a mão dela enquanto caminhavam lado a lado.
Laila olhou para o irmão, com um sorriso suave. "Eu espero que sim. Só precisamos ser pacientes, Rami. As coisas vão melhorar, eu prometo."
Naquele momento, Laila não sabia o quanto ela estava se enganando. Ela não sabia que sua vida, a vida de Rami, e até mesmo a vida de Jamil, estava prestes a mudar para sempre.
Quando voltaram para a casa, Jamil ainda estava lá, sentado à mesa, mexendo em alguns papéis. Ele parecia ocupado, mas ao ver Laila, seus olhos brilharam com uma expressão que ela não soubera identificar.
"Eu vou sair por um tempo", disse ele, levantando-se. "Mas, Laila, quero que saiba que pode contar comigo para o que precisar. Eu... quero ajudá-los de verdade."
Laila assentiu, mas seu coração estava dividido. Ela sabia que não podia ficar esperando que as coisas se resolvessem por si mesmas. Ela precisava fazer algo por si mesma, por Rami. Mas a ajuda de Jamil parecia ser a única coisa que ela tinha por enquanto.
"Obrigada, Jamil", ela disse, a voz baixa, mas cheia de gratidão. "Você tem sido muito gentil."
"Não é nada", ele respondeu, saindo pela porta. "Nos vemos em breve."
Sozinha com Rami, Laila se sentou na cama, tentando lidar com a avalanche de emoções que a inundava. A saudade de casa, a incerteza sobre o futuro, o medo do que estava por vir. Ela se levantou e foi até a janela, olhando para as ruas movimentadas lá fora. O Brasil era estranho, mas, ao mesmo tempo, era um lugar cheio de possibilidades. Ela só precisava aprender a confiar nas novas oportunidades que surgiriam.
Mas uma coisa Laila sabia: sua luta estava apenas começando.
O sol da manhã invadiu o quarto simples de Laila e Rami, aquecendo o ambiente, mas também trazendo consigo a ansiedade. Era o dia em que Laila começaria no novo emprego, a primeira oportunidade de finalmente se estabelecer em São Paulo. Ela olhou para Rami, que ainda dormia tranquilo, e sentiu o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Não poderia falhar. Para ele, ela precisava ser forte.
Depois de tomar um banho rápido e vestir as roupas que Jamil havia providenciado, Laila sentiu uma mistura de nervosismo e determinação. O novo trabalho em uma loja de tecidos parecia simples, mas para ela representava o primeiro passo para uma vida nova, longe das memórias amargas da guerra.
Quando ela estava prestes a sair, ouviu o som da porta se abrindo. Era Jamil. Ele estava mais cedo do que o normal e, ao vê-la pronta, sorriu com simpatia.
“Está pronta para o seu primeiro dia, Laila?” Ele perguntou, com um tom de voz que denotava confiança. "Não se preocupe, você vai se sair bem."
Laila tentou sorrir, mas o nervosismo ainda estava evidente em seus olhos. "Eu espero que sim. Só... não sei o que esperar."
Jamil acenou com a cabeça. "Eu entendo. Mas, como disse antes, você está em um bom lugar. Tudo vai dar certo."
Com um último olhar para Rami, que ainda estava adormecido, Laila se despediu e seguiu com Jamil até a loja. O caminho era curto, mas ela sentia como se fosse o início de uma jornada muito maior. Cada passo parecia mais pesado do que o anterior, mas, ao mesmo tempo, ela sabia que não poderia voltar atrás.
A loja era simples, com prateleiras repletas de tecidos coloridos que enchiam o ar com um perfume doce. O ambiente era acolhedor, e as pessoas que estavam lá pareciam trabalhar com um propósito. Laila foi recebida pela dona da loja, Dona Marilda, uma senhora de aparência simpática e acolhedora.
“Bem-vinda, Laila!” Dona Marilda disse com um sorriso largo. "Fico feliz que tenha aceitado o trabalho. Vamos começar com algo simples, organizando os tecidos. Aos poucos, você se acostuma com tudo."
Laila assentiu, embora o nervosismo ainda a acompanhasse. Ela seguiu as instruções da dona da loja, arrumando os tecidos e organizando as prateleiras. Aos poucos, o espaço começou a parecer mais familiar, e Laila começou a relaxar, sentindo-se mais segura no ambiente. Ela foi ganhando confiança com o tempo, embora a sensação de estar em um lugar estranho não passasse completamente.
No entanto, ao longo do dia, algo a incomodou. Alguns clientes a olhavam com curiosidade, alguns pareciam incomodados com sua presença. Laila sabia que a discriminação era algo que ela teria que enfrentar. Era o preço de ser uma estrangeira, uma refugiada. Ela tentou não se deixar abalar, mas o olhar de julgamento de algumas pessoas a fazia questionar sua decisão.
Quando o expediente estava chegando ao fim, Jamil apareceu na loja para ver como ela estava se saindo. Ele entrou com um sorriso no rosto, mas logo percebeu o cansaço nos olhos de Laila.
“Como está indo o trabalho?” Ele perguntou, se aproximando.
“Está indo bem... mas... as pessoas... elas olham para mim de uma maneira estranha, Jamil. Como se eu não fosse bem-vinda aqui.” Laila disse, a voz baixa, mas carregada de frustração.
Jamil observou-a atentamente, percebendo a dor silenciosa em suas palavras. “Eu sei que não vai ser fácil. A discriminação é uma realidade para muitos imigrantes. Mas você é forte, Laila. Não deixe que isso te afete. Aos poucos, as pessoas vão entender quem você realmente é.”
Laila olhou para ele, buscando algum conforto em suas palavras. “Eu só quero que Rami tenha uma vida melhor. Eu não quero que ele sinta isso. Não quero que ele cresça com esse peso.”
Jamil deu um passo à frente, colocando a mão suavemente no ombro dela. “Eu sei o quanto isso significa para você. Você vai conseguir, Laila. Eu acredito em você.”
Ela sorriu fraco, mas suas palavras trouxeram um pouco de alívio ao seu coração. Ela sabia que não estava sozinha, mas a luta ainda estava apenas começando.
Enquanto saíam da loja, Jamil ofereceu-lhe uma carona de volta para casa. Durante o trajeto, Laila olhou pela janela do carro, observando a cidade que parecia ao mesmo tempo tão grande e tão distante. O Brasil, com toda a sua beleza e complexidade, ainda parecia um lugar novo demais para ela. Mas Laila sabia que, aos poucos, ela encontraria seu lugar ali. Só precisaria de tempo.
Ao chegar em casa, Rami estava brincando com alguns brinquedos improvisados, sorrindo como se o mundo fosse um lugar seguro. Laila sorriu para ele, mas o peso da responsabilidade continuava a pesar sobre seus ombros.
“Como foi o seu dia?” Rami perguntou, seus olhos curiosos.
“Foi um dia bom, Rami. Um dia difícil, mas bom. Estamos apenas começando. Logo, tudo vai melhorar.”
Ela sabia que ainda havia muito pela frente, muitos desafios a serem superados. Mas, ao olhar para seu irmão, sentiu uma esperança renovada. Ela não podia falhar. Não podia.
A luta estava apenas começando, mas Laila estava pronta para enfrentá-la, com coragem e determinação.
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